Série "Conhecer Sergipe": Monte Alegre de Sergipe.
Monte Alegre conta sua história
Monte Alegre: as terras que hoje pertencem a Monte Alegre, a
156 quilômetros de Aracaju, já foram de Porto da Folha, cidade colonizada por
Tomás Bernardes. Diz a tradição que o primeiro núcleo populacional que deu
origem ao povoado foi fundado no final do século XIX, em uma fazenda localizada
às margens da estrada que liga Nossa Senhora da Glória a Porto da Folha.
Conforme pesquisas da professora aposentada Valdete Alves
Oliveira - que está escrevendo um livro sobre a história da cidade - o local
onde iniciou-se a povoação era muito movimentado porque ali se encontravam os
viajantes de Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Porto da Folha.
O nome do município foi inspirado numa fazenda de Antônio
Machado Cabelê, que se chamava Monte Alegre. Ele se reuniu com outros
fazendeiros e decidiram chamar a nova povoação de Monte Alegre, porque no local
existia um pequeno monte considerado bonito e alegre. A partir daí sua fazenda
passou a se chamar Monte Alegre Velho.
Um desses fazendeiros era um baiano de Jeremoabo, o Januário
Costa Farias, que foi o primeiro habitante do município. Ele passou a viver na
região depois de ter fugido de sua cidade, obrigado pelo pai, por ser um dos
discípulos de Antônio Conselheiro e estar jurado de morte.
Sem ter para onde ir, Januário procurou o frei Doroteu, que
o encaminhou para colonizar o sertão, junto com o casal de índios Caboclinho e
Maria Ciliata. O casal montou um casebre de taipa, mas um dia a índia bebeu
demais, desmaiou e acabou morrendo por insolação.
Segundo a professora Valdete Alves, a fazenda de Januário
ficava em um ponto de muito movimento, e o pai dela, João Alves de Lima, que
morava em Porto da Folha, começou a ir nesse local para comercializar queijo e
tecido. “Meu pai sempre deixava parte de suas mercadorias com Alexandrina da
Costa Farias, filha de seu hospedeiro Januário, para que ela vendesse às
pessoas de outras propriedades vizinhas”, lembra ela.
O ambulante João Alves Lima fez um convite a Januário para
fazer um dia de feira, junto com os fazendeiros José Inácio de Farias,
Francisco Alves da Silva, João Joaquim de Santana, Manoel Ferreira de Paula e
outros.
Marcado o dia, coube ao jovem João Alves Lima trazer o padre
de Porto da Folha para celebrar uma missa e fazer uma festinha. No domingo, 1º
de janeiro de 1920, Monte Alegre teve sua primeira feira e até hoje ela
acontece aos domingos, sendo uma das maiores da região.
Após alguns meses, foram construídas as primeiras casas
residenciais e comerciais. Os primeiros comerciantes a se instalar foram João
Alves de Lima, Manoel Ferreira dos Santos, Gustavo Melo, Antônio Joaquim da
Silva e José Inácio de Farias. Este último primogênito de Januário e que muito
contribuiu para o povoamento da cidade. Doou terrenos de sua fazenda para a
construção de casas populares.
Valdete informa que outro filho de Januário, Leandro, ficou
com uma fazenda que passou a se chamar Olinda, onde havia um casarão de andar
já muito deteriorado onde na parede estava escrito Olinda, dezembro de 1641.
Dentro da casa havia vários objetos e um cadáver vestido com roupas vermelhas e
sapatos. Não se sabe ao certo, mas acredita-se que esse casarão tenha sido
construído por holandeses. Na cidade existe uma lenda que no local ainda se
encontra uma botija com um tesouro.
De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros,
Monte Alegre de Sergipe, localizado no noroeste do Estado, sempre sofreu com
longos períodos de estiagem, por isso teve um progresso muito lento. Além da
seca, os habitantes da cidade tiveram como grandes inimigos os cangaceiros,
liderados por Virgulino Ferreira, o Lampião.
O pouco que o município ainda produzia era tomado pelos
bandidos, que quando não eram atendidos, devastavam fazendas matando o gado e
muitas vezes assassinando também os proprietários (Veja box abaixo com história
sobre o Rei do Cangaço).
Monte Alegre pertenceu ao município de Porto da Folha até
1932, quando então passou a pertencer a Nossa Senhora da Glória. Em 1940, era
um pequeno povoado, com menos de 80 casas. Em 25 de novembro de 1953, com o
objetivo de incrementar o progresso de algumas regiões, a Lei estadual nº 525-A
criou mais 19 municípios, entre os quais estava incluído Monte Alegre de
Sergipe. A partir daí o povoado foi elevado à categoria de cidade.
Monte Alegre, antes mesmo de ser instalado, já aparecia como
cidade, município, distrito único e termo judiciário da Comarca de Nossa
Senhora das Dores, aprovado pela Lei estadual nº 554, de 6 de fevereiro de
1954, para vigorar até 1958. Através dessa lei, o município teve seu território
delimitado e desmembrado do de Nossa Senhora da Glória.
O município foi solenemente instalado no dia 31 de janeiro
de 1955, quando foi empossado o primeiro prefeito Antônio José dos Santos, e
constituída, também, sua primeira Câmara Municipal, composta por cinco
vereadores.
A Lei estadual nº 823, de 24 de julho de 1957, veio, porém,
alterar a situação judiciária do município, que passou a pertencer à nova
Comarca de Nossa Senhora da Glória.
Monte Alegre hoje, além da sede municipal, tem dois povoados
(Lagoa do Roçado e Maravilha) e cinco comunidades (Lagoa da Estrada, Lagoa das
Areias, Juazeiro, Uruçu e Santo Antonio). As principais festas da cidade são a
do padroeiro Sagrado Coração de Jesus, em junho, e a de São João.
A professora Valdete Alves Oliveira lembra que Virgulino
Ferreira vendia redes em Pão de Açúcar-AL e que seu pai, João Alves Lima,
estudava lá e comprava rede a ele. Algum tempo depois, Virgulino Ferreira já
era o conhecido cangaceiro Lampião, estava em Monte Alegre e foi direto à
bodega de João Alves, que era a mais sortida da cidade. “Quando ele chegou, viu
meu pai deitado em uma rede vendida por ele e começaram a conversar sobre o
passado. Lampião contou que tinha virado cangaceiro porque mataram toda sua
família. Meu pai encheu as bolsas dos bandidos de alimento e Lampião disse que
ninguém podia tocar em meu pai”, lembra ela.
João Alves Lima passou a ser o delegado de Monte Alegre e
tinha de apoiar a volante. Um dia, em 1938, ele percebeu que estavam sumindo
algumas munições e um amigo seu lhe disse que um soldado estava entregando aos
cangaceiros. Ele e outros da volante seguiram o soldado e descobriram que ele
entregava a intermediários que levavam para os cangaceiros.
Um dia a volante e o Exército seguiram essas pessoas e
descobriram que a munição foi para Propriá, na fazenda de Antônio Caixeiro. De
lá embarcou para Piranhas-AL e depois aportou em Angico, onde o bando de
Lampião estava escondido. “Por isso que Lampião e seu bando foram mortos”,
informa a professora.
Ela diz que pouco antes de Lampião ser encontrado, seu pai
prendeu o soldado que estava roubando a munição, mas depois ele mesmo foi preso
sem nem saber por que. Passou 45 dias na penitenciária de Aracaju, e quando foi
liberado, não podia voltar para Monte Alegre por causa da ameaça dos
cangaceiros de que iriam arrancar seus olhos azuis.
João Lima ficou em Nossa Senhora da Glória por algum tempo.
“O comércio da nossa família ficou abandonado e minha mãe e a gente passou
muita privação. Meu pai, que era bem de vida, morreu pobre”, lamenta Valdete
Alves.
Fonte: Cinform Municípios.
Foto: TiagoSS
Texto e fotos reproduzidos do site: skyscrapercity.com