50 anos do conjunto musical Los Guaranis. (2001)
Por Osmário Santos
A história de um agricultor que chegou a músico e a
trajetória do grupo musical da cidade de Lagarto
João Bosco de Oliveira nasceu no primeiro dia de janeiro de
1945, no povoado Apertado de Pedras no município de Simão Dias /Sergipe. Seus
pais: José Teles de Oliveira e Lídia Maria de Oliveira.
Filho de agricultor, do pai herdou o necessário para ter
condições de sobreviver e a ser sincero. De sua mãe aprendeu a dominar a
inquietude.
A infância foi envolvida de muito sacrifício pelo trabalho
na pequena roça de seus pais, sempre realizado na base da enxada, que ocupava
boa parte do dia, com espaço exclusivamente para as refeições e ir ao colégio
pela tarde.
Dos estudos disse que a escolaridade foi mínima, não só pelo
tempo que dedicava ao trabalho, como pela condição do ensino que recebeu no
pequeno grupo escolar do povoado onde nasceu.Mesmo assim, aprendeu o suficiente
que lhe deu condições de partir a universidade da vida, embora só tenha passado
por dois anos no curso primário.
Aos 16 anos estabeleceu um contato permanente na roça
familiar com direito a aparecer na feira de Simão Dias, como vendedor de jaca,
banana e macaxeira.
Mesmo contra a vontade de seus pais, parte de pau-de-arara
rumo a cidade de Santos / São Paulo, para residir na casa de um tio. Isso
acontece no ano de 1960.
Em São Paulo passa o tempo de dois anos. Trabalha de garçom
e numa empresa de limpeza. “ Eu era peão mesmo”. O tempo maior aconteceu
trabalhando num bar localizado na Rua Tobias Barreto.
Com mais dois anos, sentindo que a vida fora de casa era
muito dura, volta para Simão Dias a passa a viver com os pais e volta ao
trabalho de roça, com a diferença que nesta etapa passaria a ser dono da sua
plantação. Passou a dedicar-se exclusivamente ao cultivo da batatinha.
Vai juntando dinheiro e chega a ter o suficiente para
comprar um armazém na cidade de Simão Dias. Não consegue bons resultados no
comércio, perde dinheiro e se joga no trabalho por conta própria como ajudante
mecânico. “Eu tinha muito interesse de aprender a dirigir e achei o trabalho de
ajudante de mecânico, me levaria a concretizar esse desejo”.
Trabalha de borracheiro, mas não dura muito nessa profissão.
Consegue emprego na Empresa Nossa Senhora de Fátima, como cobrador de ônibus,
onde permanece de 1966 a 1967. Por motivo de doença, deixa a Fátima dedicar
tempo exclusivo à música, já como integrante do Conjunto Los Guaranis na cidade
de Lagarto, como guitarrista, já que tocava violão.
Los Guaranis já contava com três anos de atividade e foi
fundado pelos músicos da Liga Lagartense da cidade de Lagarto, com os músicos:
Osman, Foguinho, Queimadinho e Alexandre. O grupo musical começou tocando em
Lagarto e com poucas apresentações, mas, quando teve que partir para se
apresentar em outros lugares, seus integrantes tiveram que agüentar boas
broncas do presidente da Lira.
Itabaiana , Cícero Dantas, Adustina, Paripiranga, e Simão
Dias foram as primeiras cidades no roteiro musical do conjunto.
A chegada a Aracaju aconteceu na Associação Atlética de
Sergipe por indicação do então diretor Bosco Teles, que levou os músicos a se
apresentarem exclusivamente para a diretoria do clube. A iniciativa garantiu
por muitos anos contínuos contratos, principalmente para tocadas no carnaval.
Los Guaranis já chegou como orquestra e só com músicas
instrumentais. A chegada do cantor veio depois. “Alceu Monteiro, já falecido,
foi substituído por Roberto Alves, que durou cinco anos com a orquestra. “ Ele
fez muito sucesso e com ele o conjunto foi consolidado.
Já como conjunto, Los Gauranis passou a ser presença certa
nas grandes festas de Aracaju:aniversário dos clubes sociais, festas de
formaturas e réveillon, além da boa fatia do carnaval que em Aracaju existia de
fato nos clubes sociais. Foi tocando carnaval que passou a conquistar inúmeros
títulos de melhor orquestra do carnaval de clubes em Aracaju. Animou os
célebres carnavais da Associação Atlética de Sergipe, Iate Clube de Aracaju e
do Vasco. Daí sempre teve espaço para fechar contratos. No carnaval de 2001
fechou para tocar o carnaval no estado do Maranhão.
Tocando guitarra e dirigindo o ônibus do grupo, Bosco revela
que passou o tempo de oito anos, até que passou a se dedicar a função de
empresário do conjunto musical. “ Caí na estrada, luteir muito, ralei muito e
cheguei a colocar o conjunto pela primeira vez na cidade de Salvador. Foi num
clube de periferia, mas que tinha espaço para divulgação em todas as emissoras
de Salvador e tinha raça de colocar em todas as paredes de Salvador o cartaz de
Los Guaranis, além de colocar faixas na rua.
Da presença do conjunto em Salvador, revela que hoje o
conjunto continua sendo acreditado e mais que em Sergipe. “ Hoje tocamos em
todos os clubes de Salvador, a exemplo do Iate e nos melhores hotéis a exemplo
do Fiesta, sem contar com as tocadas em congressos. Basta dizer que tocamos no
Iate Clube com Jô Soares. Também não posso esquecer de falar das inúmeras
festas que animamos no Clube Periperi. Embora de periferia, é de grande
tamanho. Em Salvador todo mês, temos quatro apresentações, sendo uma no sábado
e domingo no Periperi e mais outras duas no domingo no Clube Plataforma. Ambos
com os clubes lotados”.
Com 35 anos de atividade desde a sua fundação, o conjunto
funciona em regime de sociedade composta de sete músicos.Os quatro fundadores:
Osman, Foguinho, Queimadinho, Alexandre e mas três que chegaram em seguida:
Bosco, Joãozito e Cícero. São sete donos. Quando cheguei já encontrei o
conjunto formado em sociedade e logo passei a fazer parte da sociedade.
No momento aual Los Gauranis emplaca seu primeiro CD –
marcando os 30 anos de atividade, com o título: “ Músicas para todas as
Gerações”.
O conjunto tem espaço garantido até hoje no Maranhão, Piauí,
Alagoas, Pernambuco e Sergipe, numa fatia de mercado que corresponde a 30% em
vista que as apresentações na Bahia chegam a 70%.
Registra que foi de grande importância na vida de Los
Guaranis a presença do conjunto em programas de rádio em Aracaju e lembra
alguns deles: “ O Roteiro das Onze, apresentado pelo Gilvan Fontes e os
programas de J. Batista, Irandir Santos e outros”.
Acompanhando estrelas da música brasileira nos seus shows em
Sergipe, Bosco diz da época dos anos 60, quase sua totalidade: Wanderley
Cardoso, Jerry Adriane, Lady Zu, Kátia Cilene e chegou a tocar antese após os
show de Roberto Carlos. Fez excursão com Benito de Paula, Alcione, e Perla,
junto com Pinga pelo Nordeste”.
Faz questão de registrar que Los Guaranis faz e bonito
forró, a ponto de ter incluído algumas músicas de forró em seu primeiro CD. Só
não passou a se dedicar exclusivamente ao forró, por conta de um mercado já
conquistado ao longo de 35 anos de trabalho, mas avisa: quem desejar uma festa
só com músicas do gênero forró o conjunto faz e com repertório atual. Não é por
menos que toda a semana o grupo se reúne em Lagarto para ensaios. “A gente toca
os ritmos e colocamos nos nosso repertório. Tem um axé que é lançado e faz
sucesso, certeza que o conjunto toca. Se for pagode a gente também toca, não
desprezamos de maneira alguma as músicas orquestradas que o conjunto começou.
Agradamos até a juventude que hoje escura forró axé e pagode”. Registra que há
seis anos Los Guaranis faz o São João da cidade de Jaguacara, um dos grandes da
Bahia e que faz com o puro forró.
Publicado no JC em 21 de janeiro de 2001.
Foto e texto reproduzido do site: osmario.com.br