Historia de Itaporanga da Ajuda/SE
Itaporanga: marco de resistência
A terra do cacique Surubi e de Feslibelo Freire tem uma
marcante e bela história
Sangue, muito sangue. Por muito tempo foi o que se viu nas
terras que hoje são o município de Itaporanga d’Ajuda, a 29 quilômetros de
Aracaju. Banhada às margens do Rio Vaza-Barris, aquela cidade gerou dois
grandes líderes sergipanos. O primeiro é o cacique Surubi, que resistiu
bravamente aos ataques portugueses e holandeses. O outro é Felisbello Freire,
um dos maiores políticos e intelectuais que Sergipe e o Brasil já tiveram.
Antes que os padres jesuítas Gaspar Lourenço e João Solônio
chegassem naquelas terras, já habitavam o lugar os índios tupinambás, sob o
comando do cacique Surubi. Segundo Felisbello Freire, desde o século XVI a
região de Itaporanga já era conhecida. Itaporanga é topônimo de origem tupi, e
significa ‘Pedra Bonita’ - ita é ‘pedra’ e poranga é ‘bonita’. Por volta de
1575 os padres chegaram lá, mas a missão não foi bem-sucedida.
A partir de 1590 acontece a violenta conquista do território
sergipano e a primeira carta da sesmaria de Itaporanga foi dada pelo governador
da Bahia a Pedro de Lomba, em 11 de novembro de 1600. Curiosamente o ‘baiano’
não toma posse das terras e em julho de 1601 elas foram repassadas para Nuno do
Amaral. Ele também não tomou posse. Um ano depois, Itaporanga é entregue outras
duas vezes a Sebastião Silva, a Gaspar Amorim e a Francisco Borges. Eles também
nem chegaram por lá. Outras duas cartas de sesmarias foram dadas, mas ninguém
conseguiu ocupar.
Prefeitura de Itaporanga da Ajuda
RESISTÊNCIA DE SURUBI
A explicação confiável para a não ocupação das terras que
hoje são Itaporanga é a resistência dos índios sob o comando de Surubi. Eles
não aceitavam a escravidão e o roubo de suas férteis terras. Até quando Sergipe
foi invadido pelos holandeses, os índios resistiram. Depois da expulsão, os
portugueses voltaram à região e a identificaram como estratégica (militar e
econômica) por conta do Rio Vaza-Barris.
Apesar da resistência dos índios, Francisco de Sá Souto
Maior tomou posse efetivamente das terras de Itaporanga em dezembro de 1753. Os
índios se retiraram e formaram uma grande povoação chamada Aldeia de Água
Azeda. Francisco de Sá montou um grande engenho, o Itaporanga. Lá também
existiam grandes plantações de mandioca. No Vaza-Barris, vários portos foram
construídos para escoar a produção. No final da segunda metade do século XVIII
existiam em Itaporanga dez engenhos.
Desde o início da exploração foi erguida a Igreja de Santo
Inácio e, para alguns historiadores, a aldeia de São Paulo. Em 30 de janeiro de
1845, a povoação de São Paulo, ou Santo Inácio, é transformada em freguesia sob
a invocação de Nossa Senhora da Ajuda, ficando desmembrada da de Nossa Senhora
das Vitórias, hoje cidade de São Cristóvão. Nossa Senhora da Ajuda seria a
padroeira numa cidade de Portugal e muito cultuada pelos militares.
VILA E BRIGA POLÍTICA
Nove anos depois, já 1º de maio de 1854, a freguesia passa a
ser vila apenas com o nome de Itaporanga. O interessante é que essas duas
mudanças provocaram um racha muito grande em São Cristóvão, que perdia força, e
que acabou provocando a mudança da capital para Aracaju. Com o desmembramento
da freguesia de Itaporanga, os Liberais, comandados pelo Barão de Maruim,
conseguiram afastar os Conservadores das decisões políticas da província.
É singular a presença de Itaporanga, berço do partido
Conservador, na vida política de Sergipe. É preciso registrar a atuação do
brigadeiro Domingos Dias Coelho e Melo, que seria mais tarde o Barão de
Itaporanga, e do chefe da polícia da cidade, Antônio Dias Coelho e Melo, o
futuro Barão de Estância. Os Conservadores ou Rapinas dominaram a política de
Sergipe por 16 anos.
Em 10 de maio de 1938, através de Lei 387, a vila passa a
ser cidade apenas com o nome de Itaporanga. Mas em 1944, estudiosos descobriram
que o nome da cidade estava contrariando a legislação federal que proibia a
duplicidade dos nomes das cidades. Naquele ano, Itaporanga passou a se chamar
Irapiranga. Todavia, Irapiranga durou pouco. Em 1º de janeiro de 1949, uma lei
estadual transformou o nome do município para Itaporanga d’Ajuda. Em julho de
1950, a cidade tinha cerca de 12 mil habitantes. Com a decadência da
cana-de-açúcar e do gado, Itaporanga d’Ajuda se dedicou à cultura do coco.
A luta pelo encapelado
A disputa pelo patrimônio religioso de Itaporanga teve
início com a morte do último administrador ‘legítimo’ da capela de Nossa
Senhora da Ajuda, Temóteo de Sá Souto Maior. Como seus herdeiros não podiam
assumir o cargo de administrador (mulher e pessoa menor de idade, de acordo com
a instituição jurídica estavam isentos de tais tarefas) assume então Domingos
Dias Coelho e Melo, um cidadão que havia alugado o engenho Itaporanga.
O patrimônio religioso de Nossa Senhora da Ajuda (o
encapelado) era um apêndice (parte) do engenho, e só poderia administrá-lo o
filho varão mais velho da família. O encapelado era constituído por terras,
alfaias (objetos de culto religioso, geralmente de ouro) a capela da santa
junto com a imagem e dinheiro.
Depois que o herdeiro de Temóteo, Barnabé de Sá Souto Maior,
assume a maior idade, impetra ação judicial solicitando, como herdeiro natural,
o direito de posse do patrimônio. Essa disputa judicial entre as famílias Souto
Maior e Dias Coelho e Melo se arrastou por mais de 30 anos.
Na verdade, o que estava por trás dessa disputa era o
interesse pelas terras da imagem para ampliar o cultivo da cana-de-açúcar na
região do Vale do Vaza-Barris.
História de Minha Infância
Gilberto Amado, um dos maiores intelectuais sergipanos,
escreveu ‘História da Minha Infância’ que conta um pouco de sua vida em
Estância e Itaporanga d’Ajuda. A seguir, alguns trechos do seu livro sobre
Itaporanga, publicado pela editora da UFS, com o apoio da Fundação Oviêdo
Teixeira:
“A mudança para Itaporanga, o carro de boi de esteiras,
...Chegamos à meia-noite. O cheiro de carne-seca e de bacalhau do armazém, que
era na frente da casa, invadia-nos o nariz... Estância cheirava a açúcar. Em
Itaporanga, o negro, o moleque, marcavam a fronte da paisagem, formavam o cílio
escuro da fisionomia do lugar...”
“Na sala atijolada, três bancos encostados às paredes.
Bancos altos. Os meninos, em sua maioria, ficavam com as pernas no ar. Depois
da minha entrada, puseram mais dois bancos. Na parede do fundo, encostava-se
dona Olímpia, Sá Limpa para toda Itaporanga. Era hidrópica, barriga imensa, um
baú, impando diante dela como o bombo da Filarmônica Itaporanguense...”
“Em matéria de atividade musical, Itaporanga limitava-se a
canto de pássaros, rumorejar de folhas, gemer de carro de boi, mugido, ranger
de moendas, orquestra de sapos... A filarmônica de Itaporanga só se criou
depois da primeira viagem de meu pai ao Rio, de onde trouxe instrumentos de
metal e de sopro. Para regente, mandou buscar na Estância nosso primo, o
entalhador e maestro Joãozinho Almeida... Mas a obra maior de meu pai no
terreno ‘artístico’ foi a criação do teatro. Baltazar Góis, professor e poeta,
e Manuel dos Passos de Oliveira Teles, juiz e poeta que tinha sido discípulo de
Tobias Barreto, vinham a Itaporanga para as representações...”
Felisbello Freire: orgulho de Sergipe
Um dos maiores, senão o maior político e intelectual de
Sergipe, Felisbello Firmo de Oliveira Freire, é um orgulho de Itaporanga
d’Ajuda. Ele nasceu em 30 de janeiro de 1858 e morreu no Rio de Janeiro
(Capital Federal) em 7 de maio de 1916. Foi um brilhante estudante da primeira
turma do Colégio Atheneu Sergipense. Formou-se em Medicina na Bahia e depois
voltou a Sergipe, indo trabalhar como clínico geral em Laranjeiras.
Era um defensor intransigente do abolicionismo e defendia a
Democracia. Fantástico jornalista, organizou o Partido Republicano e foi um dos
responsáveis pela instituição da República no Brasil. Em 21 de novembro de 1898
foi nomeado como primeiro governador de Sergipe no novo regime. Ficou no cargo
até 17 de agosto de 1890. Criou o serviço público. Depois foi eleito deputado à
Assembléia Constituinte e fez a reorganização dos Estados. Foi reeleito
deputado por cinco vezes.
Sua capacidade era tanta que foi nomeado como ministro da
Fazenda e como secretário de Negócios Exteriores. Era músico esforçado. Chegava
a fazer concertos e saraus. Foi um excelente historiador. Trabalhou como
redator de “O Porvir”, “O Horizonte”, “O Republicano”, “Jornal do Brasil”,
“Gazeta da Tarde”, “Folha da Noite” e de vários outros. Entre as principais
obras estão: “História Constitucional da República dos Estados Unidos do
Brasil”, “História da Cidade do Rio de Janeiro de 1500 a 1900”, “História
Territorial Brasileira”, “História de Sergipe”, etc.
Outros grandes nomes nascidos em Itaporanga d’Ajuda são os
professores e grandes intelectuais Baltazar de Araújo Góis e Genolino Amado,
além de Antônio Dias Coelho e Melo, o Barão de Estância.
Mais História
Segundo opinião generalizada o Município se ergue em terras
outrora dominadas pelo chefe indígena Surubi. O núcleo demográfico, à margem
direita do rio Vasa Barris, teve sua origem na segunda metade do século XVI.
Gaspar Lourenço, padre da Companhia de Jesus, aí fundou aldeia de catequese e
edificou a igreja de Santo Inácio, seguida da de São Paulo, mais próxima do
mar. A desconfiança indígena, gerada pela ganância dos colonizadores
interrompeu, até 1590, a conquista da terra, que se vinha processando
pacificamente.
Longo foi o período de lutas entre portuguêses e indígenas,
perdurando, inclusive, durante a ocupação holandesa. Em conseqüência, somente
em 1845, a povoação atingiu categoria de freguesia, sob a invocação de Nossa
Senhora da Ajuda de Itaporanga.
O Município surgiu em 1854, passando a sua sede à vila e
muito mais tarde à cidade sempre com o topônimo de Itaporanga, vocábulo de
origem tupi que significa pedra bonita (ita-pedra, poranga-bonita).
Em 1944, atingido pela legislação federal que proibia
duplicidade de nomes, passou a se chamar Irapiranga por determinação do
Decreto-lei estadual n.° 533. A partir de 1.° de janeiro de 1949 adotou a
denominação de Itaporanga d'Ajuda por força da Lei estadual n.° 123.
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Itaporanga, pela lei
provincial nº 135, de 30-01-1845.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Itaporanga,
pela lei provincial nº 383, de 1005-1854, desmembrado de São Cristovão. Sede na
vila de Itaporanga. Constituído do distrito sede.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o
município é constituído do distrito sede.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de
31-XII-1936 e 31-XII-1937.
Pelo decreto-lei estadual n.º 377, de 31-12-1943, revogado
pelo decreto-lei estadual nº 533, de 07-12-144, o município de Itaporanga
passou a denominar-se Irapiranga.
No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948 o
município de Irapiranga ex-Itaporanga é constituído do distrito sede.
Pela lei nº 123, de 01-01-1949, o município de Irapiranga
passou a denominar-se Itaporanga d' Ajuda.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município de
Itaporanga d' Ajuda é constituído do distrito sede.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.
Alterações toponímicas distritais
Itaporanga para Irapiranga alterado, pelo decreto estadual
nº 377, de 31-12-1943, revogado pelo
decreto nº 533, de 07-12-1944.
Irapiranga para Itaporanga d'Ajuda alterado pela lei estadual
nº 123, de 09-01-1949.
Referencia:
Fonte: IBGE - pagina visitadas 02/04/2010.
Foto e texto reproduzidos do site:
achetudoeregiao.com.br/se/Itaporanga_d_ajuda/historia.htm