Foto: Jadilson Simões/Equipe JC.
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 27/02/2016.
Ditadura: Marcélio pede que governo realize seminários
Ex-preso político lamentou que administração estadual não
tome iniciativa.
Por: Valter Lima/ Equipe JC.
O ex-vereador de Aracaju, Marcélio Bonfim, prestou ontem seu
depoimento à Comissão Estadual da Verdade. Ex-preso político que foi torturado
durante a ditadura militar, em Sergipe, ele defendeu, durante entrevista ao
JORNAL DA CIDADE, que o governo estadual, através da Secretaria da Educação,
realize seminários em todas as escolas públicas para apresentar aos estudantes
o que ocorreu durante o regime de exceção.
“Lamento profundamente que o governo de um resistente, de um
militante, que também foi punido pela ditadura, não tenha determinado ao seu
secretário da Educação a realização de seminários para discutir o golpe de
1964. Ontem, eu fui para a Universidade Federal falar para cerca de 500 estudantes
sobre a minha história na ditadura, durante a Operação Cajueiro. Já o fiz
também na Unit e em escolas particulares, mas nunca fui convidado, nem tenho
conhecimento de que as escolas da rede estadual tenham organizando debates para
contar este capítulo da história”, afirmou.
Marcélio pontuou que “as novas gerações precisam tomar
conhecimento do que ocorreu no País para que se organizem e evitem que um dia a
ditadura retorne a ocorrer no Brasil”. Para ele, é a “falta de informação” que
faz com que setores da sociedade e parte da juventude defendam a volta dos
militares ao poder como alternativa à crise política, econômica e moral que
está instalada no País.
“Estou contando a minha história, esse é o nosso papel. Não
carrego nem ódio nem rancor nem tenho espírito revanchista. Porque quem vence
não pode ter esses sentimentos. Eu e todos os meus companheiros somos
vitoriosos. Pois podemos passar por aqueles que nos torturaram sem vergonha,
enquanto eles não têm coragem de assumir o que fizeram. Então, a gente só vai
acabar com este sentimento de que a ditadura pode ser uma solução para o País
quando as pessoas tiverem informações suficientes do que ocorreu no País
durante aquele período”, ressaltou.
Ao comentar as duas ocasiões em que foi preso – tanto em
1964 quanto em 1976 –, Marcélio evitou detalhar como se deram as torturas.
“Precisa ter um controle emocional muito grande. Começo a lembrar não das
torturas que enfrentei, mas dos gritos dos meus companheiros sendo torturados.
Isso é muito difícil”, pontuou. Ao relatar as duas ocasiões em que foi detido,
o ex-vereador citou que os dois fatos ocorreram no mesmo local: no prédio onde
funciona atualmente a Câmara de Vereadores de Aracaju.
“A Câmara tem um significado muito grande para mim. Eu era
funcionário da Deso e fui preso em 1964 trabalhando onde hoje é o plenário da
Câmara. Depois, em 1976, quando trabalhava no cartório do segundo ofício, no
local onde hoje é a sala do presidente da Câmara, eu fui preso novamente. E a
coincidência disso é que anos depois eu me tornei vereador e passei a ser
colega de Câmara de um militar que em 1964 me prendeu”, destacou.
Comissão
Além de Marcélio Bonfim, outros presos políticos foram
ouvidos pela comissão na última semana, inclusive o governador Jackson Barreto.
Prestaram depoimento Delmo Naziazeno, Milton Alves, Carlos Alberto Menezes e
José Elias Pinho de Oliveira. No final de janeiro já haviam participado das
audiências públicas Milton Coelho, Wellington Mangueira e Bosco Rollemberg.
Cerca de 20 pessoas serão ouvidas ao todo pela comissão.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/politica