Foto reproduzida do Google e postada pelo blog
Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 10 de abril de 2020
A escrita de Estácio Bahia Guimarães
Por José Anderson Nascimento *
A Academia Sergipana de Letras amanheceu, hoje, surpreendida
com a notícia do falecimento do poeta Estácio Bahia Guimarães, que ocupou a
Cadeira Nº 29 do Sodalício, vítima de complicações pós-operatórias, deixando
saudades entre os seus pares, sua família e admiradores. A sua imagem estará
sempre marcada no Sodalício sergipano e nos diversos centros culturais em que
atuava, com a lembrança da sua palavra culta, participativa e solidária.
Quando o recebemos na Academia, numa Sessão Solene do
Cenáculo, realizada no dia 25 de outubro de 2001, destacamos, no nosso
discurso, as suas qualidades literárias que justificavam o seu ingresso no
ambiente literário. Para reforçar as nossas palavras, valemo-nos dos
ensinamentos do acadêmico Afrânio Coutinho, que
ocupou a Cadeira Nº 33 da Academia Brasileira de Letras, ao anotar
que “o artista literário cria ou recria
um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades
factuais . Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta.
São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de
experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da
vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida”.
Dessa estirpe bem-aventurada, emergiu o poeta homenageado,
misto de anjo e de rouxinol, revelada nas suas manifestações poéticas e nas
suas produções literárias e artísticas, pontilhadas em livros, revistas e em
jornais.
Na escrita de Estácio Bahia Guimarães é difícil escolhermos
a criação entre as suas produções literárias e criações artísticas, a que
preferimos.
Em Respingos, a sua primeira obra publicada, o poeta reuniu
uma centena de poemas, artisticamente ilustrados com os seus bicos de pena,
mostra o amadurecimento do pensador. A obra está dividida em seis partes:
respingos, marinhas, visões, eixos, temas e formas e sonetos. É uma composição
poética moderna, de maneira conjunta e integrada no seu verso a verso,
inclusive com alguns sonetos, o que não comprometem a contemporaneidade da forma
e do estilo em seu todo.
Na verdade, essa naturalidade de expressão que caracteriza o
estilo de Estácio Bahia Guimarães, sobretudo quando a construção da sua poesia
reforça, também, a unidade temática, não está, por assim dizer, diretamente
vinculada a regras acadêmicas, senão, e às vezes, com o propósito de enxertar a
esperança e o amor, como no Soneto do Amor Maior: Há em ti, um amor
maior/despontando como algo grandioso/majestoso sol a mostrar-se
luminoso/delicada lua a banhar-me em candura/Há em ti, sobretudo,/um amor
tagarela, bem falante/a sonorizar este meu viver mudo/despertando-me para um
mundo amante/Maior amor, sei eu não existe/que mais mostre o que mostra o
teu/chama eterna que tão terna se acendeu/Fazendo-me sentir leve como pluma/no
suave corpo de um colibri/ao sentir que sentes, este amor por mim.
Respingos é um livro de amor. A homogeneidade das imagens
revela imagens líricas, quase uma saudação de amor e esperança.
O conteúdo de modo geral, acentua o homem simples, sensível
e humano que procura buscar a paz, acreditando em Deus e no próximo com
veemência.
Em outro momento da sua poesia encontramos um forte
sentimento de solidão, muito característico dos poetas que, por suas vezes,
sentem-se solitários, incompreendidos na sua concepção da vida e do mundo, como
se revela no poema Solidão, onde se vê a marcante influência do poeta Mário
Cabral.
O autor foi também influenciado pelo poeta Santo Souza, com
quem mantinha fortes laços de amizade. Mostra nessa quadra poética vários
aspectos da sua poesia simbolista.
O livro “Tecidos de Arco-Íris”, é composto com poemas
repletos de ternura, reveladores do seu permanente estado de lirismo. Alguns
têm o sabor da íntima saudade como a confirmar a sua incoercível vocação
lírica.
A explosão das suas emoções está registrada nos poemas
Ternura, Passarela de Estrelas e Barco de Ilusões.
No seu último livro de poemas Pedras e Avencas, Estácio
Bahia Guimarães pura, cristalina, clara. Em seus versos livres o poeta exibe o
produto final dos seus sentimentos.
Aliás, ao apresentar uma breve resenha publicada na Coluna
Educação, de Matheus Batalha, no Jornal
da Cidade, a confreira do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, anotou:
Pedras e Avencas é o mais novo livro de poemas do poeta Estácio Bahia
Guimarães, que compôs o seu livro em duas seções, cada uma com cinco capítulos,
assim dispostos: Pedras da cidade, Pedras noturnas, Pedras das lembranças e
saudades, Pedras e reflexões e Avencas da natureza, Avencas da natureza
romância, Avencas românticas, Avenca marinha, Avencas e sonetos e Avencas
sevillanas e madrileñas, poemas líricos, românticos e cheios de ternura e de
amor. Essa coleção de admiráveis poemas está ilustrada com vinhetas coloridas e
matizadas de autoria do poeta, criadas para adornar cada página do livro, além
de reproduções de pinturas que representam movimentos das artes plásticas e
decoram as galerias de artes, produções que aguçam os olhares dos seus
espetadores, desde as épocas em que foram levadas ao publico e por ele apropriadas, diante dos momentos temáticos em
que foram concebidas, mundializando-se, como Guernica, de Pablo Picasso e o
Grito de Munch, ou sócias como Cidade, de autoria do próprio autor, ou Meninos de rua, de Florival Santos, A mulher
de azul e Cabeça de pescador, ambos do consagrado pintor sergipano Álvaro
Santos, estão no seio de outras
importantes contribuições artísticas. Nessa apreciação entre o poema e a
arte está a fotografia de Ana Clara Franco Guimarães
Pinto, ilustrando o poema Crepúsculo. Já
o poema Ciranda, está acompanhado da pintura
Brincando de roda, um exemplar da arte de Ana Maria. Pedras e avencas se
insere no campo dos mais notáveis livros de poemas cheios de lirismo, uma exemplar sonoridade, um dos
atributos indeléveis da poética de Estácio Bahia Guimarães. A fortuna crítica
está marcada nas palavras de Ana Maria
Fonseca Medina e de Carlos Britto, além do Imortal Santo Souza, todos da
Academia Sergipana de Letras, Pedras e Avencas é um livro que deve ser lido,
interpretado e divulgado como uma das joias da Literatura Sergipana.”
Além da produção poética, Estacio Bahia Guimarães
notabilizou-se como cronista, contista, jornalista e escritor, publicando o livro Justiça do
Trabalho: evolução histórica no Brasil e em Sergipe e, ultimamente, o livro
Falando dos outros e de outras coisas.
Como se vê, Estácio Bahia Guimarães se incorporou entre os
poetas e escritores contemporâneos, com uma escrita leve e repleta de conceitos
cristãos, solidários e democráticos, sempre defendendo os princípios da
cidadania e dos direitos humanos, o que dignifica a Academia Sergipana de
Letras.
* José Anderson
nascimento é presidente da Academia Sergipana de Letras