sexta-feira, 24 de julho de 2020

Segrase lançará e-book sobre a Comissão da Verdade


Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 24 de julho de 2020

Segrase lançará e-book sobre a Comissão da Verdade

Milton Coelho foi o primeiro ex-preso político a ser ouvido pela Comissão

Até o dia 15 de agosto próximo, Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe (Segrase), concluirá a edição do Relatório final da Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa Araújo”. Segundo o presidente da editora estatal, jornalista Milton Alves, inicialmente o relatório será disponibilizado no e-book, com acesso livre. Não há previsão para a impressão do livro conforme previa o projeto inicial da Segrase. O Relatório deverá ter cerca de 800 a 900 páginas com textos, imagens, tabelas e documentos oficiais, resultado de uma ampla pesquisa.

Milton Alves informou que o e-book trará mais de 30 depoimentos de vítimas e testemunhas da violenta repressão militar ocorrida em Sergipe no período de 1946 a 1988, quando ocorreram flagrantes violações aos Direitos Humanos. Entre os depoentes na Comissão destacam-se o ex-governador Jackson Barreto (MDB) e os ex-presos políticos Marcélio Bomfim, Wellington Mangueira e o petroleiro Milton Coelho, este último cego pelas torturas que sofreu no quartel do Exército, durante a “Operação Cajueiro”.

Criada em 2015 pelo ex-governador Jackson Barreto (MDB), a Comissão Estadual da Verdade homenageia o militante e pesquisador das ações da Ditadura Militar no Estado, jornalista Paulo Barbosa de Araújo. Em fevereiro de 1976, Paulo era correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Ele e o jornalista Milton Alves, à época correspondente do Jornal da Bahia, foram os primeiros a divulgarem as prisões efetuadas pela Operação Cajueiro. Barbosa, que também foi preso durante o golpe militar, era formado em Ciências Econômicas, foi professor de Economia da Universidade Federal de Sergipe, editor do extinto jornal aracajuano Gazeta de Sergipe e, além do Estadão, foi correspondente do Jornal do Brasil.

A Operação Cajueiro

A ditadura militar implantada a partir do golpe de março de 1964 atingiu o máximo da brutalidade em Sergipe com a Operação Cajueiro, assim cognominada pelo Exército. No dia 20 de fevereiro de 1976, uma força especial vinda da Bahia prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processando 18 deles. Os torturadores eram oriundos do temível DOI-CODI, do DOPS e da Polícia Federal e agiram em Aracaju sob as ordens do tenente-coronel Oscar Silva.

A acusação, que nem cabia a alguns deles, era de serem ligados ao proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB). A operação realizada a partir de uma tarde de 1976, véspera de Carnaval, obedecia na verdade a uma ordem nacional que era a de acabar com o Partidão, a exemplo das demais siglas clandestinas. O comandante do quartel, o coronel Osman de Melo e Silva, havia sido afastado pelo general Fiúza de Castro, um explícito defensor da tortura, que queria ver seus homens à vontade para “trabalhar”.

Texto: Destaquenoticias, com informações do blog História/UFS

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

terça-feira, 21 de julho de 2020

"O Mosquito", por Inacio Loiola


Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 18 de julho de 2020

O Mosquito
 Por Inacio Loiola*

Mosquito é quem dá vida ao personagem criado por Marcos Cardoso no livro O Anofelino Solerte. 

Uma narrativa que conta a trajetória de um garoto até sua fase adulta. A história perpassa as cidades de Salvador, Aracaju e Atalaia Nova. O apelido insignificante que o torna quase invisível, na realidade zomba da inteligência do mesmo e o torna diligente e sagaz nessa aventura recheada de experiências entre os amigos. Ele narra quase tudo que viu e viveu. Aprendeu com a vida a respeitar os diferentes, a dor alheia, pensar sobre a sua dor e assim tornar-se um personagem simples que o torna diferente e especial.

Mosquito, apelido dado pelo seu aspecto raquítico é brasileirinho que desde cedo aprendeu com o medo a se virar e perceber a hipocrisia dos adultos envolvendo a safadeza e desfaçatez que existe no mundo das aparências e hipocrisia e que ninguém consegue esquecer. Entre cenas de estupro, suicídio, casamentos, jogos e campeonatos vai tecendo a sua personalidade de filho de sergipanos criado em terras soteropolitanas. Contando os dias para voltar à Atalaia Nova para novamente encontrar a sua zona de conforto entre parentes e amigos.

As brincadeiras de índio e caubói vão acontecendo num vai e vem de histórias e apresentando seus personagens maldosos, metidos a espertos, as vezes medrosos, outros alegres, vão tecendo casos bizarros e muitas vezes sinistros. Falam dos loucos de sua cidade e de como se divertiam zoando de sua loucura. Se reuniam na casa de algum deles para outras histórias mentirosas e fantasmagóricas que ia desde o Lobisomem até o caso de certa mulher de branco que atraía os motoristas para a morte.

Ele e seus primos aprenderam com o tio Rodolfo, a tratar as mulheres. A iniciação sexual com Neide, a mulher fogosa e experiente, louca por garotos na puberdade. Essa experiência se iniciava na brincadeira com as meninas de Pera uva ou maçã, dentre elas existia sempre um galã representado na pessoa de Marinho que já era um homem e todas queriam beijá-lo. A frustração maior de Mosquito não era a de não saber beijar, mas que a garota que amava em segredo fora beijada por Marinho. Sua decepção fora tamanha e lhe rendera expurgar seus sentimentos através do primeiro poema também chamado Maçã, “desejando as maçãs por amadurecer ainda”.

Em Aracaju aprendeu a beijar, aprendeu a fazer amor de verdade e talvez tenha começado a amar. Amava Claudinha em segredo e com ela fazia amor e se sentia homem de verdade, mas foi arrebatado pela perspicácia de Eliete que lhe apresentara Baudelaire e declamou seu poema do livro as Flores do Mal. Sem compreender foi apenas ouvindo, sentindo, se permitindo. Naquela noite ele leu o poema O Bobo e a Vênus e imaginou ter compreendido o significado daquela cena muito mais do que fora ali revelado. Beijou pela primeira vez Eliete embalado pelos versos de A Megera Domada, declamado por ela, “não ensines aos lábios o desprezo, eles foram feitos para os beijos”, e o seu primeiro beijo foi inesquecível.

Dessa forma acompanhamos o crescimento do nosso herói e com ele o crescimentos das cidades de Salvador e de Aracaju, aos poucos os morros, dunas e o manguezais vão cedendo lugar para a urbanização das ruas e avenidas, com a terraplanagem e o asfalto se expandindo da zona norte para a zona sul tudo sendo tingido de negro com o asfalto que aos poucos fora apagando as suas pegadas na areia. A História da cidade se movimenta na velocidade do tempo, que vai levando também a infância e a inocência de Mosquito e de seus amigos.

Absorviam o aprendizado possível com a vivência dos acontecimentos, da educação informal. Valia mais que palavras, mais do que era dito pelos pais ou o aprendido na escola. Era sentido na pele pela dor, no sofrimento do outro. Desde cedo aprenderam que nem tudo que viam podia ser revelado aos adultos e, portanto, calavam, porque os adultos não permitiam comentários, não entendiam ou não aceitavam discussões sobre a violação de conduta, estupro, sexualidade e outros assuntos que se revertiam em verdadeiros tabus. O silêncio, o segredo ente amigos os preservava da punição e castigo.

Nosso herói passa por um acidente ao mergulhar num riacho, cai de mau jeito num local não muito profundo, bate com a cabeça num banco de areia. Não sente dor, mas não consegue se mover. Após ser arrastado pelas águas é resgatado pelos colegas, sofre uma lesão na coluna vertebral. Passa por tratamentos e enfrenta a depressão, chega a duvidar da existência do Todo Poderoso. Sabia da sua condição, mas tinha convicção de que estava vivo e precisava se apegar a alguma esperança, esperança de poder se movimentar normalmente. Descobre-se nessa condição mais vivo do que nunca. Como vivera intensamente, sua vida tinha sido ativa e frutífera e era feliz.

Ler sobre essa história da infância e adolescência de garotos do nordeste brasileiro nos revigora e nos faz reviver a nossa própria história. Nos faz perceber que a vida é cheia de pequenos acontecimentos e surpresas que nos fazem ou não felizes. Melhor seria aprender que se deve viver intensamente cada dia, cada momento como se fosse único, porque também somos únicos e estamos narrando a trajetória da nossa existência, escrevendo, também, a nossa própria história.

*Inacio Loiola é poeta e cronista, autor dos livros “Rabiscos e devaneios” e “Ranhuras do tempo” e servidor da UFS.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

Izabel Nascimento: ‘A magia do cordel é algo marcante...’


Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em 20 d3 julho de 2020

Izabel Nascimento: ‘A magia do cordel é algo marcante e presente na memória afetiva’

Num resumo da conversa, há motivos diversos para festejar e desafios a enfrentar também.

Em celebração aos três anos de existência da Academia Sergipana de Cordel (ASC), comemorados neste domingo, 19 de julho, Dia do Cordelista, em homenagem ao poeta João Firmino Cabral, o Jornal da Cidade conversou com a presidente da instituição, a cordelista Izabel Nascimento. Num resumo da conversa, há motivos diversos para festejar e desafios a enfrentar também. Sergipe tem peculiaridades na formação da academia literária que o tornam referência. Essa é uma ótima característica para brindar. É sobre isso e muito mais que a cordelista Izabel conversou com o JC. Boa leitura!
                              
JORNAL DA CIDADE - Três anos de Academia Sergipana de Cordel e quais são os principais motivos de comemoração?

IZABEL NASCIMENTO - Celebrar a poesia é sempre bom! Comemorar o aniversário da Academia Sergipana de Cordel (ASC), em seus três anos de existência, é também festejar a importante forma como cada poeta tem se desafiado a viver o cordel em sua trajetória. Neste período realizamos diversas ações, participamos ativamente da cena literária em nosso Estado, ampliamos a cena cordelista em Sergipe levando o cordel como pauta a espaços importantes como à Assembleia Legislativa de Sergipe, motivamos a formação de novos nomes para o cordel e todas estas ações têm sua relevância. Este trabalho “externo” da ASC nos deixa muito felizes e com o sentimento de que estamos no caminho certo. Há um trabalho “interno” sendo feito também, de igual necessidade e importância. Trata-se do fortalecimento do trabalho poético de cada um, de cada uma que compõe a ASC. Uma Academia Literária torna-se forte à medida em que seus membros se desafiam a fortalecer as suas histórias individuais no cordel, que é uma literatura de identidade. Com o olhar para o que acontece também além do que é divulgado, as razões para celebrar são ainda maiores.

JC - E quais foram e são os desafios?

IN - Os desafios são muitos, tendo em vista que uma das tarefas de quem vive o universo do cordel é defendê-lo enquanto literatura e expressão cultural. Mesmo sabendo que o cordel tem alcançado outros espaços, é possível ver que ainda há muito preconceito entranhado na forma que as pessoas enxergam o gênero. A origem “popular” que o cordel tem, sob a ótica de quem não percebe a riqueza e a genialidade que esta mesma origem proporciona, ainda retira o cordel do protagonismo literário brasileiro e, em nosso caso, sergipano. Construir um novo tempo para o cordel se faz necessário e nós somos otimistas com este caminho. Se ainda há lugares onde um poeta cordelista não é sequer considerado escritor, por outro é possível acompanhar e qualificar as discussões em diversos espaços, como nas universidades, por exemplo. O cordel é uma rede abrangente onde estão contidas não somente as pessoas que escrevem e publicam, mas também por quem escreve, quem lê, edita, revisa, vende, pesquisa. Ampliar este olhar é necessário para aprofundar as discussões e erradicar a mentalidade rasa com as quais ainda nos deparamos.

JC - De que maneira a criação e existência da ASC contribui para a preservação e continuidade da literatura de cordel?

IN - Nossas ações buscam sempre agregar. Entendemos que a Academia Sergipana de Cordel está e estará representada nos encontros literários onde cada um de seus 37 membros se fizerem presentes. Sendo assim, nos eventos literários das diversas Academias de Sergipe, ter a representação do cordel é um ponto importante a ser citado. Da mesma forma, quando cada poeta aceitou fazer parte da ASC, assumiu o papel de agregar a sua história na poesia para fortalecimento da ação coletiva. Isso ilustra que a ASC atua em várias instâncias, ações e momentos de forma representativa também. Para além das ações indiretas, realizamos diversas atividades que merecem ser citadas, a exemplo da I Feira de Cordel em Aracaju, na ocasião do nosso primeiro aniversário, um encontro maravilhoso que uniu a cena literária e a cena musical de Sergipe no Café da Gente; o Projeto Cordel no Parque, em parceria com a Casa do Cordel e a Rural do Forró, durante os tão poéticos “Domingos de Maio” no Parque da Sementeira; a palestra realizada na Assembleia Legislativa de Sergipe, durante a tramitação do Projeto de Lei que sugere à Secretaria de Estado da Educação o cordel como prática pedagógica, um debate que desejamos aprofundar; o lançamento histórico da obra Das Neves às Nuvens – I Antologia das Mulheres do Cordel Sergipano – escrito por mulheres da ASC e outras que ainda não fazem parte, mas diante na nossa visão agregadora, jamais deixariam de estar na Antologia. A nossa recente parceria com o Programa Giro Sergipe, da TV Sergipe, apresentado por Anne Samara, que há pouco mais de um mês tem apresentado poetas em declamação, sugeridos pela ASC, entre outros. Nossas ações são pensadas para quem está na Academia, mas para além disso também. Conhecemos o valor da ação coletiva e a poesia sempre nos apresenta pessoas especiais com quem podemos contar e construir este caminho da melhor forma.

JC - Em relação às demais academias do país, o que faz Sergipe despontar com potencialidade?

IN - Mesmo cientes do trabalho que realizamos, de forma pioneira em algumas ações, é importante ressaltar que cada realidade se constrói a partir de suas peculiaridades também. O cordel é um universo brilhante, porém ainda há entraves que o fazem também muito competitivo em todos os lugares. Desejando mudar esta realidade, a ASC tem duas mulheres à frente: na presidência, onde estou, e na vice-presidência, com a querida cordelista Salete Nascimento. A criação da ASC com duas poetas que já estão no segundo mandato é um diferencial dentro da predominância masculina que o cordel ainda possui. Todas as coisas que fazemos são frutos da nossa experiência enquanto poetas cordelistas, mas também há muito de percepção, sensibilidade e criatividade de todas as pessoas que fazem a ACS. Somos a Academia Literária ligada ao Cordel que mais tem mulheres em sua composição. Somos 11, por enquanto. Lançamos a primeira antologia escrita 100% por mulheres. Estas características apontam que um novo está sendo trilhado para o cordel, sendo Sergipe uma referência. Este caminho visa ampliar o olhar e colocar o cordel como ferramenta essencial para a transformação a partir da valorização da Mulher Cordelista também, pois onde a mulher tem garantido o seu espaço todos avançam. Preciso reafirmar que cada Academia Literária tem seu trabalho que é sempre de muita dedicação e reconhecimento insuficiente. Mas quem o faz, sabe da missão que tem, por isso continuamos.

JC - O fato de ter uma mulher na presidência é um diferencial?

IN - Sem dúvida. Aprendemos a enxergar nossos caminhos literários como uma experiência coletiva, onde cada mulher é igualmente importante e, tendo em vista que o cordel tem uma construção histórica forjada na luta, ser uma mulher cordelista é ser de forma atemporal, uma resistência dentro da resistência. Este “diferencial” nos proporciona muitas coisas positivas na construção plural que almejamos.

JC - E isso tem incomodado tanto aqui no Estado e fora?

IN - Bastante! O machismo é uma realidade que também se expressa fortemente dentro do cordel. Há algumas semanas, o cordel brasileiro tem vivenciado um marco histórico a partir do Movimento de Mulheres Cordelistas Contra o Machismo. A campanha #cordelsemmachismo nasceu logo após um episódio de natureza machista (mais um) dentro do universo do cordel. Ministrei a primeira palestra do III Encontro de Cordelistas da Paraíba, em 27 de junho. No evento virtual, dentro do tema “O Cordel como Ferramenta de Transformação Social”, fiz um recorte histórico para denunciar o traço forte do machismo que também ocorre no cordel e dizer com isso que não podemos vislumbrar uma transformação numa poesia que ainda não reconhece, não valoriza, sequer respeita o papel e o protagonismo da mulher cordelista. Já na palestra foi possível perceber resistência em algumas intervenções feitas por quem estava nos assistindo, porém, foi num grupo de Whatsapp e numa publicação no Facebook, na semana subsequente à palestra, que um grupo de poetas cordelistas resolveu polemizar o assunto e não apenas me expor e atacar virtualmente, mas também julgar, questionar e agitar pautas hipotéticas sobre a minha vida, formação e atuação dentro do cordel. Esta não foi a primeira vez em que apresentei o tema numa palestra e isto sempre incomodou muitos homens, especialmente os que praticam atos machistas. É fato que não sou a primeira mulher a sofrer por conta deste problema. No entanto, foi a primeira vez que um grupo de mulheres se reuniu e resolveu organizar um movimento de denúncia e enfrentamento ao machismo no cordel e de ação em defesa de todas as mulheres cordelistas. Em Sergipe não é diferente! Há muito tempo nós, mulheres, passamos por situações em que somos depreciadas, excluídas, boicotadas, assediadas. Quando falamos em feminismo, a falta de entendimento conceitual de muitos, aliada à cômoda posição de privilégio que os poetas homens possuem, os fazem na maioria das vezes negar a sua condição de machista, no conceito estrutural da palavra. A magia do cordel é algo marcante e presente na memória afetiva de quem aprecia o gênero literário.

JC - O que tem sido planejado e executado na ASC durante a pandemia?

IN - Estamos realizando há quase dois meses o Projeto Vozes do Cordel, que consiste na realização de transmissões ao vivo, através do Instagram, cuja finalidade é movimentar ainda mais a cena poética nas redes sociais e contribuir para os debates e reflexões sobre o cordel, bem como promover momentos de declamação e diálogo. Nossa proposta, a partir do Vozes, é também estimular os poetas e as poetas que não têm habilidades com redes sociais a utilizar esta ferramenta que se faz cada vez mais necessária para a divulgação de nossos trabalhos. Realizar encontro de forma remota já era um pensamento nosso, antes mesmo da pandemia, tendo em vista que há mais de três anos já fazemos uso dos recursos virtuais. Com a pandemia, as plataformas se desenvolveram e as novas ferramentas tornaram muitas ações possíveis. O cordel também vai acompanhar estas mudanças.

JC - Como será marcada essa data comemorativa?

IN - Utilizaremos as formas de comunicação que nos aproximam remotamente. Faremos publicações e homenagens através da imprensa, o que desde já me faz agradecer ao JORNAL DA CIDADE pela matéria! A TV Sergipe apresentará uma edição especial do Programa Giro Sergipe homenageando o cordel e a ASC; na Revista Cumbuca número 28, a última revista na qual o saudoso jornalista Amaral Cavalcante trabalhou, sairá um artigo em homenagem ao Patrono da ASC, o poeta João Firmino Cabral (1940-2013); o Vozes do Cordel prestará uma homenagem aos nossos três anos, onde anunciaremos a publicação da I Antologia da Academia Sergipana de Cordel – Homenagem a João Firmino Cabral. Desejamos fortemente que o cordel seja um elixir que atenue as dores desta fase que o mundo enfrenta. Comemoramos mais um ano com alegria, muito orgulho da história que estamos escrevendo na pauta do tempo e com muita esperança de dias melhores para todos e todas!

Por Gilmara Costa

Foto: Divulgação

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Premiado, o Forró Caju em Casa...




Publicado originalmente no site da Agência Aracaju de Notícias, em 21/07/2020

Premiado, o Forró Caju em Casa registra média superior a 34 mil visualizações diárias

Realizado pela Prefeitura de Aracaju para fomentar a cadeia da cultura local, o Forró Caju em Casa reinventou o mais importante festejo junino da capital para se adequar às necessidades impostas pela pandemia de covid-19. Assim, 45 apresentações artísticas, selecionadas por meio de edital emergencial concebido pela Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), tiveram suas apresentações gravadas em estúdio, em formato de lives, as quais foram exibidas entre os dias 23 e 29 de junho.

Um dos termômetros para medir o sucesso da iniciativa foi a conquista do Troféu Sanfona de Ouro, na categoria Melhor Ideia. Pouco mais de 15 dias após a conclusão do evento, o número de acesso das visualizações no canal da Prefeitura no YouTube é mais uma demonstração do alcance do projeto.

Ao todo, já são mais de 274 mil visualizações, uma média superior a 34 mil por dia, número que chega muito perto do público diário do Forró Caju tradicional, quando realizado na praça Hilton Lopes. Esse resultado, contudo, significa muito mais do que apenas acesso virtual, como ressalta o presidente da Funcaju, Luciano Correia.

“É uma grande satisfação ver o alcance do Forró Caju em Casa e isso nos faz concluir uma série de questões. Primeiro, do acerto do planejamento em pensar e executar o projeto dessa forma, foi um sucesso de público e de crítica. Segundo, foi um acerto da programação e, portanto, dos artistas selecionados no edital. O que temos de melhor na cena musical aracajuana está dentro do Forró Caju e também do Janela para as Artes. Quando o público responde com essa quantidade de acesso, significa a qualidade do projeto e do conteúdo oferecido. Terceiro, nos faz concluir também que, a partir de agora, em função da pandemia, sobretudo, a política cultural vai ser revista, vai ser pensada segundo outras configurações, segundo outros modelos de funcionamento, outros modelos de produção e execução”, avalia Luciano.

Além dos números expressivos, o Forró Caju em Casa é uma fonte fértil para que os músicos possam colher bons frutos. Ao contrário do evento tradicional, que só era visto por quem estava no momento do show, no formato online, as apresentações estão disponíveis na interne, a qualquer tempo. Além disso, o material gravado foi disponibilizado para os músicos, muitos dos quais não teriam condições de arcar com os custos de uma produção do mesmo porte em gravadora, ou seja, um ponto a mais para o portfólio dos artistas.

“O Forró Caju em Casa fomenta a cadeia produtiva da música na capital, em um momento no qual os artistas estão sofrendo com as consequências da necessidade de distanciamento social. Além disso, leva entretenimento à população, recuperando o imaginário da nossa festa mais querida, ligada às nossas tradições rurais. Por fim, esse registro ficará disponibilizado na internet, dando visibilidade aos envolvidos, assim como registrado em uma produtora, servindo também como portfólio”, pontua o presidente da Funcaju.

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

sexta-feira, 17 de julho de 2020

PMA inicia gravações do programa Janelas para as Artes





Fotos: Marcelle Cristinne
Luciano Correia, presidente da Funcaju

Publicado originalmente no site da Agência Aracaju de Notícias, em 16/07/2020

Prefeitura de Aracaju inicia gravações do programa Janelas para as Artes

A Prefeitura de Aracaju iniciou as gravações com os artistas selecionados no edital do programa Janelas para as Artes. A iniciativa, coordenada pela Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) contempla artistas das áreas de Música, Artes Cênicas (Teatro, Dança e Circo), Literatura e Audiovisual, maiores de 18 anos, residentes e domixiliados no município de Aracaju.

O período de gravações, iniciado nesta quarta-feira (15), deve se estender até o fim deste mês, e as apresentações devem ocorrer ao longo do ano. Para as gravações, feitas em estúdio profissional, os artistas têm à disposição captação de áudio, iluminação e direção de fotografia realizadas por técnicos experientes no mercado.

Todo o processo de gravação adota os devidos cuidados para evitar a propagação da covid-19. Nesse sentido, os integrantes das bandas têm sua temperatura medida, o uso de máscara é respeitado, assim como a disponibilização de álcool em gel no local das gravações.

Os músicos da categoria Quinta Instrumental foram os primeiros a iniciar as gravações, as quais foram realizadas também nesta quinta-feira, 16. Na sexta-feira, dia 17, será a vez da categoria Artes Cênicas (Leitura Dramática). A partir de segunda (20) e terça-feira (21) gravam os artistas da categoria Aracajueiros (Música Autoral).

Já de 22 a 25 de julho gravam os artistas inscritos na categoria Som de Barzinho. A categoria Artes Cênicas (modalidade Solos) grava no dia 27, enquanto a categoria Artes Cênicas, modalidade Espetáculo, faz o registro de 28 a 31 de julho.

Além de estimular a produção de conteúdo cultural local para exibição em ambiente digital, aproximando artistas locais do público em geral, as produções irão ajudar os integrantes da cadeia artística aracajuana a enfrentar a crise econômica provocada pela covid-19.

“O projeto, assim como o Forró Caju em Casa, é de fomento às cadeias produtivas da cultura em Aracaju e vai deixar uma contribuição muito importante para o acervo da produção cultural, registrada em audiovisual nas redes digitais e disponíveis para acesso por todos os públicos de qualquer lugar e para vários usos, como na educação, com função didático-pedagógica, na pesquisa cultural, na divulgação da nossa cultura e identidade e da própria fruição e entretenimento”, avalia o presidente da Funcaju, Luciano Correia. 

Rafael Freitas, violinista do grupo Entre Madeiras, afirma que, nesse momento limitante de atuação, o edital é, de fato, uma oportunidade para que os artistas expressem sua arte e mostrem suas composições. “Levando essa obra, que é o retrato da alma nordestina, para diversos lares. Eu parabenizo a Fundação por esse projeto, que já vem com outras iniciativas relevantes, como o próprio Quinta Instrumental”, ressalta Rafael.

Essa é a primeira gravação do Entre Madeiras, que faz música de raiz. “A gente gosta muito de compor e no que a gente gravou tem muito disso, música nordestina com outras vertentes que a gente escuta e compõe. É uma oportunidade para mostrar nosso trabalho junto ao de grandes artistas da terra”, reforça Rafael.

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

terça-feira, 14 de julho de 2020

Pera irrigada é cultivada como alternativa de renda no Alto Sertão Sergipano






Fotos: Fernando Augusto

Publicado originalmente no site do GOVERNO DE SERGIPE, em 13 de Julho de 2020

Pera irrigada é cultivada como alternativa de renda no Alto Sertão Sergipano

Perímetro irrigado da Cohidro em Canindé abriga campo experimental com mais de 400 plantas, para testar viabilidade de três variedades do fruto

A pera tem se mostrado uma produção inovadora no Alto Sertão Sergipano, dando bons frutos de diferentes variedades. No Perímetro Irrigado Califórnia, em Canindé de São Francisco [infraestrutura mantida pelo Governo do Estado para fornecer irrigação e assistência técnica agrícola para 333 lotes agrícolas], chama a atenção um pequeno pomar com quase 400 pereiras, campo experimental fruto da parceria entre a Embrapa Semiárido de Petrolina-PE e a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro). A mesma cooperação de transferência de tecnologia também levou a Canindé a produção de uva, criando modelos de alternância de culturas, no perímetro, economicamente favoráveis à geração de renda para os agricultores.

Ozeias Bezerra é técnico em agropecuária e produtor rural irrigante no Califórnia. Com o convite para participar do experimento da Embrapa, enxergou na pera uma nova oportunidade de renda e melhoria da sua produção no campo. “Eu apostei na pera por ser uma cultura nova. Eu não conhecia, nem nunca tinha visto o pé da pereira, porque é uma planta que não tem tantos produtores. Eu, praticamente, sou exclusivo aqui no município. Resolvi apostar pra ter uma cultura nova, na expectativa de uma renda a mais, além do que consigo com as outras culturas que já venho trabalhando. Até agora, está sendo muito tranquilo de trabalhar, não vi dificuldades no manejo dela e dá pra ter um controle das pragas e insetos”, relata o produtor que, após a colheita no início de ano, fez uma pausa estratégica no ciclo de produção no pomar.

Ao mesmo tempo em que aplicou um tratamento fitossanitário para eliminar, com sucesso, uma doença fúngica, Ozeias quis atrasar a próxima colheita, para evitar colocar a produção no mercado em meio à pandemia e arriscar prejuízo. Agora, após induzir a quebra da dormência e a poda, que influenciam na produção, o processo de frutificação tem sido promissor e as plantas já estão florescendo. Em breve, haverá colheita nova. No pomar de 0,2 hectare, introduzido no final de 2017, há quase 400 pés de pera. A variedade Triunfo ocupa mais da metade da produção, enquanto as variedades Princesinha e Santa Maria ocupam o resto do cultivo - melhoradas e adaptadas para o clima do sertão nordestino.

O agricultor planeja gerar divisas para a fruta produzida em Canindé, escoando sua colheita para outras regiões, a fim de melhorar o rendimento financeiro do pomar. “Tenho planos de expandir essa produção para os municípios vizinhos, para a CEASA. A depender do tamanho que for a colheita, acredito que o mercado local não irá comportar, por isso, penso em expandir as vendas para outras regiões”, conta Ozeias. Na parceria, a Embrapa forneceu ao produtor toda a estrutura de fertirrigação por mangueiras de gotejamento, espaldeiras, mudas e nutrientes especiais para as plantas. A Cohidro, através do perímetro Califórnia, fornece a água de irrigação e os técnicos agrícolas que prestam assistência, em cooperação com os especialistas de Petrolina, que fazem visitas periódicas aos campos experimentais em Canindé.

Técnico agrícola da Cohidro, Roberto Ramos acompanhou, desde o início, a introdução dos pomares de pera e uva no Califórnia. “A gente sabe que é uma cultura nova e fica com uma expectativa muito boa de que essa área de pera sirva como vitrine, para que os outros produtores possam observar o que está sendo feito, a maneira que está sendo cultivada e, dentro dos resultados alcançados, queiram levar para os seus lotes. Quem sabe assim, mais tarde, a gente não tenha uma área bem maior de pera aqui na região?”, torce. Para ele, a experimentação de novas culturas expande o potencial econômico do perímetro. “É uma cultura resultante de uma enxertia por borbulhia, que leva um ano e meio para começar a produzir. O sistema de irrigação é o mesmo que se utiliza na área de uva, com duas mangueiras com gotejadores, cada um com uma vazão de um litro por hora. É o modelo que vai ter uma eficiência maior para esse tipo de cultura”, conclui.

Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Zé - Um Sergipano do Brasil

Um filme de Paulo Lobo e Álvaro Rocha

quarta-feira, 8 de julho de 2020

A difícil luta pela emancipação de Sergipe


Texto publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 08 de Julho de 2020

Opinião - A difícil luta pela emancipação de Sergipe
Por Jorge Carvalho do Nascimento (Coluna Aparte)

Muitos dos estudos sobre a História de Sergipe afirmam que a Revolução Pernambucana de 1817 foi a principal causa para a criação da Capitania de Sergipe D’El Rey, em 8 de julho de 1820. Após aquela revolta, Dom João VI concedeu autonomia a três novas Capitanias: Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Neste texto defendo que o processo que separou o território de Sergipe da Capitania da Bahia é mais complexo e se coloca no contexto dos eventos vividos pelo Brasil entre a chegada de Dom João VI, em 1808, e a proclamação da Independência, por Dom Pedro I, em 1822. É necessário considerar o contexto econômico e o quadro político que levaram o rei a tomar esta decisão.

Contudo, vale a pena dizer que a revolta não se alastrou pelo território de Sergipe, distintamente do que aconteceu em outras Capitanias. Os proprietários rurais sergipanos entraram em pânico, principalmente porque a situação dos mais pobres era inquietante.

Naquele momento, Sergipe convivia com a escassez de gêneros alimentícios para os mais humildes, principalmente a farinha de mandioca, em face da seca com a qual conviveram os sergipanos em 1816. A elite local permutou com o Governo da Bahia o abastecimento dos gêneros de primeira necessidade em troca do compromisso de fornecer homens para combater os revoltosos e também montarias para a luta.

Não obstante as agruras que frequentemente se abatiam de modo intenso sobre os pobres, como as consequências da seca de 1816, a elite dos senhores proprietários de terra e dos comerciantes prosperava em Sergipe, um espaço geográfico e político que se fazia cada vez mais rico, de modo célere, desde o final do século XVIII.

Era visível a expansão de vistosos canaviais nos produtivos vales dos rios Sergipe, Cotinguiba, Vaza-Barris, Piauí e Real, onde o massapê do solo era propício ao cultivo da cana de açúcar. Da mesma maneira, o poder dos senhores de terra não conhecia limites, o que transformava o território sergipano em uma região na qual o Estado era um grande ausente e as contendas eram decididas num ambiente de muita violência. Os crimes, recorrentemente, permaneciam impunes.

Do ponto de vista político, portanto, como assinalou no relatório que fez a Dom João VI o primeiro governador da Capitania, Carlos César Burlamaqui, alguns movimentos pleiteavam a independência desde a primeira década do século XIX.O quadro de posições que tomaram os políticos brasileiros entre 1808 e 1820 é complexo e tem como pano de fundo um conflito central.

A posição dos que desejavam fazer do Brasil um Estado nacional independente em confronto com aqueles que gostariam de manter o território brasileiro na condição de colônia portuguesa, ou no máximo, aceitavam o reino unido subordinado a Portugal. Quando presentes políticos da Bahia e os que viviam e possuíam interesses no território que corresponde a Sergipe, a questão da independência de Sergipe em relação a Bahia era um dos elementos dentre os que serviam de combustível a este conflito.

O primeiro governador da Capitania de Sergipe, Carlos Burlamaqui, era português de nascimento, porém se identificava com os interesses dos brasileiros que defendiam a independência nacional. Após a sua nomeação e antes da posse pediu ao Conde da Palma, governador geral da Bahia, 100 homens para organizar minimamente uma tropa regular de segurança.

Estes homens organizariam o corpo de milícias sergipano. Requereu também as condições para fazer a defesa do litoral de Sergipe com peças de artilharia. Assinalou a necessidade de organização da Junta de Fazenda, para arrecadar e distribuir os recursos públicos.

Mal sabia Burlamaqui que não conseguiria executar seu plano e que o seu Governo duraria pouco menos de um mês. Chegou a São Cristóvão no dia 19 e foi empossado em 20 de fevereiro de 1821. A sua deposição ocorreu em 18 de março seguinte, por uma força armada vinda de Salvador com 200 homens.

Em Sergipe, já empossado, Burlamaqui garantiu a liberdade de circulação comercial e a saída das embarcações carregadas com mercadorias, passando a fiscalizar os portos da Cotinguiba, Estância e Itaporanga D’Ajuda, todos com fiscais da Fazenda, o que desagradava os senhores de engenhos produtores de açúcar. Era esse o temor dos senhores de terras que se apressaram em manifestar apoio a decisão da Junta Provisória de Governo da Bahia e tramaram abertamente para tirar do poder o governador Burlamaqui.

Os principais polos de conspiração eram as Câmaras das vilas de Santo Amaro das Brotas e Santa Luzia do Itanhy, além da próspera povoação de Laranjeiras. Alguns senhores de engenho também eram contrários a emancipação sergipana, em face dos compromissos financeiros que mantinham com banqueiros da Bahia. Recebiam de banqueiros e comerciantes lusos quanto precisavam para plantar cana e moer suas safras que ficavam hipotecadas.

Estes senhores enxergavam facilidades no fato de o governo estar distante das suas propriedades. Além da sonegação fiscal, não tinham necessidade de se submeter a nenhum outro tipo de autoridade. Cada proprietário de engenho era autoridade administrativa, política, policial e muitas vezes judiciária. A polícia e outros agentes do Estado não ousavam transpor o limite físico das terras daqueles engenhos e fazendas.

Aos interesses econômicos dos senhores de terras sergipanos se somavam os interesses dos senhores de terras da Bahia. Mantida a emancipação política de Sergipe, a Bahia deixaria de receber anualmente a vultosa soma de 120 contos de réis que arrecadava em impostos, mesmo com toda a sonegação dos proprietários rurais sergipanos.

Dentre os que defendiam a emancipação estavam os pequenos comerciantes, os pequenos proprietários de terras, os taverneiros, os donos de casas de aluguel nas cidades. De um modo geral, as camadas médias urbanas. A estes se juntavam ainda os pecuaristas.

Quando Burlamaqui foi deposto, Sergipe retornou à condição de dependente da Bahia. A Carta Régia de 8 de Julho de 1820 perdeu os seus efeitos. Esta decisão foi submetida às Cortes de Lisboa, que a aprovaram em 18 de Julho de 1821. Somente os fatos que ocorreram ao longo do ano de 1822 e o aumento das tensões entre Dom Pedro e as Cortes, além da luta das lideranças de Sergipe foram capazes de garantir uma efetiva emancipação política aos sergipanos.

Após a independência, no dia 5 de dezembro de 1822, Dom Pedro I reafirmou a validade da Carta Régia de 8 de Julho de 1820. A luta dos emancipacionistas sergipanos valeu a pena.

[*] Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

História sobre Emancipação de Sergipe é contada na Alese

Foto: Júnior Ventura

História sobre Emancipação de Sergipe é contada na Alese

Por Aldaci de Souza – Rede Alese

Os 200 anos da Emancipação Política de Sergipe, comemorados nesta quarta-feira, 8 de Julho, foram destacados durante sessão remota na Assembleia Legislativa, pelo professor doutor em História e Filosofia da Educação, Jorge Carvalho do Nascimento. Ele fez um relato dos fatos registrados entre os anos de 1808 e 1822, mostrando que o processo foi longo, difícil e intenso.

Atendendo ao convite do presidente da Alese, deputado Luciano Bispo (MDB), Jorge Carvalho participou de uma videoconferência na Sala de Comissões, em que ressaltou a importância do decreto assinado por D. João VI, em 8 de Julho de 1820, tornando Sergipe independente do estado da Bahia.

Luciano Bispo lembrou que mesmo na pandemia, a data precisava ser comemorada

De acordo com o presidente Luciano Bispo, uma vasta programação foi definida para comemorar a data, mas teve de ser modificada em virtude da pandemia do novo coronavírus.

“Hoje Sergipe comemora os 200 anos de independência do Estado da Bahia e nesse momento atípico, mesmo diante das dificuldades sociais e econômicas não podemos esquecer a data.  A Assembleia Legislativa através de uma comissão de servidores vinha programando desde o ano passado, as comemorações pela passagem do bicentenário, mas o destino não quis e não permitiu. Tivemos que nos reinventar e através dos recursos de mídias sociais e da TV Alese, o Poder Legislativo prestará as devidas homenagens a Sergipe e aos Sergipanos”, destaca.

Aula

Jorge Carvalho cita nomes de defensores da emancipação

O professor Jorge Carvalho transformou a videoconferência em uma verdadeira aula sobre a História de Sergipe, passando pela Revolução de Pernambuco e por estudos divulgados em livros dos sergipanos Felisbelo Freire e de Maria Thetis Nunes.

“O Poder Legislativo está celebrando o Bicentenário da Emancipação Política de Sergipe e nada melhor do que lembrar o significado. O bicentenário registra na verdade a celebração do momento fundador desse espaço geográfico, que ganhou identidade, que imprimiu as marcas de uma cultura que nos é própria, distintiva e que podemos designar de sergipanidade”, ressalta.

Jorge Carvalho explicou que o espaço chamado de Sergipe nasceu institucionalmente como capitania do reino de Portugal.

“Se expandiu como província do Império do Brasil e se consolidou na condição de um importante estado membro da República Federativa do Brasil. Estudiosos da História de Sergipe costumam apontar a posição tomada por alguns senhores de terra, quando da Revolução Pernambucana de 1817, como sendo a principal causa para a criação da Capitania de Sergipe Del Rey, em 8 de Julho de 1820”, entende.

O professor acrescentou ser inegável a contribuição desse episódio na tomada de decisão pelo rei D.João VI, concedendo a autonomia a três novas capitanias do reino de Portugal.

“A Capitania de Sergipe, a Capitania de Alagoas e a Capitania do Rio Grande do Norte. Todas ganharam autonomia naquele mesmo período e naturalmente pela influência que teve na História do Brasil, o episódio da Revolução Pernambucana de 1817. Todavia, se a gente quiser entender porque Sergipe se separou da Bahia, esse não é um fator único”, informa.

Estratégia

Jorge Carvalho destacou que a Revolução Pernambucana parou no rio São Francisco.

“Conhecida como Revolta do Equador, ela não se alastrou pelo território sergipano e Sergipe foi muito importante na estratégia de defesa do rei D. João VI, organizada na Bahia pelo governante, o Conde dos Arcos. O brigadeiro Luiz Antônio Machado era o capitão-mor de Sergipe, que colocou em prática a estratégia do Conde dos Arcos, evitando que a Revolta de Pernambuco ultrapassasse o rio São Francisco e aqui chegasse”, diz.

Na explanação, o historiador acrescentou que o início do Século XX, em Sergipe não existia uma burguesia comercial forte que tivesse interesse suficiente para abraçar uma revolução que defendia a República.

“Nossa economia era formada principalmente pelos grandes proprietários de terra, plantadores de cana e proprietários de engenho de açúcar. Posteriormente vieram os criadores de gado e comerciantes. Diante da revolta, os proprietários de terra entraram em pânico; era uma situação inquietante, com a escassez de gêneros alimentícios como a farinha de mandioca em virtude da seca que dominou o nosso território até 1816. Com medo de que as pessoas com fome, aderissem à revolução, os produtores rurais forneceram homens e montarias à Bahia”, relata.

Estudos

O professor enfatizou que existem dois estudos que retratam a História de Sergipe: o livro de Felisbelo Freire, publicado em 1891 (História de Sergipe) e o livro de Maria Thetis Nunes, publicado no ano 2000 (Sergipe Provincial).

“Esses dois livros são importantes, mas agora no começo do Século XXI, outros estudos estão surgindo e eu gosto muito do livro sobre a independência do solo que habitamos, da professora Edna Maria de Matos Antônio, que estuda a situação de Sergipe entre 1750 e 1831”, afirma.

Poderio

Jorge lembrou que no início do século XIX era visível a expansão dos canaviais nos vales dos rios Sergipe, Vaza Barris, Cotinguiba, Piauí e Real, aumentando o poderio dos senhores de terra, transformando o território sergipano em um estado ausente, ou seja, cada proprietário de terra era autoridade máxima e os crimes eram abundantes, recorrentes e permaneciam impunes.

“Em 1809, o capitão-mor Manoel Inácio de Morais Mesquita Pimentel, enviou uma correspondência ao conde de Linhares, ministro da Guerra, dizendo que a Capitania de Sergipe Del Rey deveria se separar da Capitania da Bahia. Disse que Sergipe produzia muito, tinha um povo revoltado e uma economia rica que poderia render muito ao tesouro brasileiro. A demanda da independência de Sergipe vinha desde o Século XVIII”, entende.

Menos de 30 dias

Havia um grupo que desejava fazer do Brasil um estado que se opunha a manter o Brasil na condição da colônia portuguesa. Na Bahia eram grupos ligados aos portugueses e em Sergipe, grupos que defendiam a independência.

O primeiro governador de Sergipe antes da independência foi Carlos Burlamaque, um português de nascimento que se identificava com os brasileiros que defendiam a independência nacional.

A História conta que o governador Carlos Burlamaque fez uma série de exigências ao conde da Palma na Bahia, a exemplo de 100 homens para uma tropa de segurança, uma milícia sergipana, canhões e peças de artilharias, uma Junta da Fazenda para fiscalizar a produção dos engenhos e arrecadar os recursos do tesouro público, considerando a sonegação elevada.

“E ainda assinou com o conde da Palma, um pacto que transferia para a Fazenda, toda a renda que a Bahia havia auferido com os produtos de Sergipe e destacou a necessidade de uma secretaria de Governo e que viesse pra Sergipe com ele, um médico cirurgião e um farmacêutico com a sua botica. Ele não sabia que não ia conseguir executar seu plano e que seu governo ia durar menos de um mês. A Câmara de São Cristóvão o recebeu com entusiasmo, o deu um bastão de ouro em ambiente festivo, na igreja da Vitória, houve fogos de artifícios e menos de 30 dias, foi enviado uma tropa da Bahia com 200 anos para depô-lo”, relata.

O primeiro governador por Sergipe após a independência foi Manoel Fernandes da Silveira (nomeado por D. Pedro I), que destacou a sorte de ser governador de homens que nunca tinham sido governados por ninguém; uma missão muito difícil.

“Além disso, a Bahia reagia à independência política de Sergipe, pois significava para o Tesouro, a perda anual de 120 contos de reis, uma riqueza considerável no período. A mesma Câmara de São Cristóvão que recebeu Burlamaque com festa, jurou os olhos para a sua prisão por 30 dias em Salvador e depois mandado para o Rio de Janeiro. Isso fez com que Sergipe perdesse a sua autonomia menos de 30 dias da Carta Régia, colocando no lado oposto dos que defendiam a emancipação”, explica.

Defensores

Entre os que defendiam a independência de Sergipe da Bahia, estavam os pequenos comerciantes, os donos de tabernas, os pequenos proprietários, boa parte dos pecuaristas. “Era um grupo liderado por Joaquim Martins Fontes, da Vila de Lagarto e José Matheus Leite Sampaio, capitão-mor das ordenanças da Vila de Itabaiana, que lutaram com muita bravura pela emancipação, além de Bento Antônio da Conceição Matos, Pedro Cristino de Souza Gama, José Manoel Machado Araújo e o padre Antônio Fernandes da Silveira”, ressalta.

Carvalho enfatizou que institucionalmente o lugar onde se fez a maior defesa da Emancipação foi a Câmara de Vereadores de Itabaiana.

“Os parlamentares itabaianenses propuseram às demais câmaras, que se organizassem uma reunião para eleger o governador de Sergipe. No processo de emancipação haviam três grupos: um que desejava a permanência como colônia de Portugal, ligados à Bahia; um que desejava que declarasse a independência do Brasil, mas mantivesse uma boa relação com Portugal, organizando uma monarquia constitucionalista e o terceiro pretendia a independência e a implantação imediata da República. Ou seja, blocos em conflito no Brasil e em Sergipe entre 1808 e 1822”, completa.

Emancipação

No dia 5 de dezembro de 1822, D. Pedro I já imperador do Brasil decretou que a Carta Régia de 8 de Julho 1820 estaria em vigor e que Sergipe tinha autonomia e era uma das províncias do Império do Brasil. “Esse processo de luta é longo, difícil e tenso. Os sergipanos tiveram um papel importante e a gente percebe que valeu à pena a luta dos sergipanos. Com isso podemos construir essa bela pátria, essa identidade cultural e política, que nos orgulha e hoje estamos comemorando essa conquista”, afirma Jorge Carvalho agradecendo a oportunidade à Alese.

“Quero parabenizar o deputado Luciano Bispo por mesmo com a pandemia, ter assumido a responsabilidade de comemorar o bicentenário do Estado de Sergipe e a iniciativa do deputado Iran Barbosa em apresentar propositura, aprovada por todos os deputados, para que fosse definida uma programação alusiva ao bicentenário da Emancipação Política de Sergipe, ao diretor da Alese, Roberto Bispo, ao coordenador da comissão em comemoração ao Bicentenário da Emancipação Política de Sergipe, Igor Albuquerque e a Irineu Fontes, representante da Escola do Legislativo”, finaliza Jorge Carvalho.

Participações

A videoconferência contou com a participação dos deputados, que interagiram com o palestrante, a exemplo de Iran Barbosa (PT), Francisco Gualberto (PT), Goretti Reis (PSD), Maria Mendonça (PSDB), Dr. Samuel Carvalho (CIDADANIA), Garibalde Mendonça (MDB) e Zezinho Sobral (PODE), Todos elogiaram a explanação do historiador e destacaram a importância da data em comemoração à independência de Sergipe, mostrando orgulho por serem sergipanos.

Na sessão comemorativa foi exibido um vídeo da TV Alese, sobre a data, com destaque para os símbolos de Sergipe, a exemplo do hino ressaltado pela historiadora Aglaé Fontes, como o mais importante do estado. “Está na hora de o Hino de Sergipe voltar a ser cantado nas escolas, passando para os nossos alunos, a importância de ser sergipano”, entende.

Texto e imagem reproduzidos do site: al.se.leg.br

Os dois séculos em tempos de pandemia

Foto: Mário Sousa

Publicado originalmente no site do GOVERNO DE SERGIPE, em 08 de Julho de 2020

Os dois séculos em tempos de pandemia

As terras de Cerezipe entram na história nos primórdios da colonização, quando, a ferro e fogo, foram dizimados os índios, seus primitivos habitantes. Exterminados ou escravizados os gentios; em pouco tempo, entre as barras do Vaza Barris e do Sergipe, ultrapassando as serranias de Itabaiana ou seguindo, bem ao norte, o curso do São Francisco, surgiram os currais. Ao terminar o primeiro século da existência do Brasil, as povoações da Bahia e Pernambuco já eram abastecidas com o gado dos pastos de Cerezipe.  Dos primeiros engenhos, instalados nas terras de massapês, já eram enviadas à Europa uma considerável quantidade de caixas de açúcar, e aqui,  foram aumentando, continuadamente, os povoadores e os seus empreendimentos.

Cerezipe era, contudo, um apêndice da grande Bahia, mas, passado algum tempo, os aqui nascidos estariam a exigir a sua própria identidade.

Não foi fácil extrair da Corte a Carta Régia datada de 8 de julho de 1820, que atendia aos sergipanos, e dava autonomia a um Sergipe del  Rei, separado da Bahia, cuja influência política fora um permanente obstáculo  às nossas pretensões.

Mas, enfim, chegamos aos duzentos anos de vida independente. Coube ao destino que eu estivesse à frente do governo de Sergipe por ocasião dessa grande efeméride.

Coube também,  ao destino, que eu estivesse, no governo, a enfrentar a maior crise já vivida pelo nosso estado nesses duzentos anos de existência.

Havíamos programado um elenco de atividades comemorativas, entendendo que iríamos viver o momento exato para fortalecer o nosso sentimento de sergipanidade. O objetivo principal era fazer conhecer  revisitando a nossa história,  oferecendo ao nosso povo, através de variados eventos culturais, o resumo pedagógico dessa afanosa trajetória de dois séculos.

Constituímos uma comissão, dialogamos com intelectuais, artistas, empreendedores, militares, e isso nos fez traçar um roteiro de eventos que se transformariam em atração turística, e gerariam emprego e renda.

Seria uma espécie de ano de ouro de Sergipe.

Para aqui viriam grandes orquestras, grupos de teatro e  folclóricos, bandas; teríamos desfiles, shows, atividades escolares alusivas e permanentes, seminários, conferencias, lançamentos de livros, enfim, seria a festa do nosso bicentenário de independência, a festa por excelência  de exaltação a Sergipe e aos sergipanos; uma homenagem às gerações que atravessaram  o tempo, o passado a ser rememorado, também estudado, analisado com pertinência, para que, conhecendo a nossa história, pudéssemos melhor projetar o futuro.

A pandemia, essa tragédia que vive o Brasil, acabou a nossa festa, e nos trouxe sofrimento, dor, agonias.

Como ente federativo de uma República que vimos nascer, pela qual lutamos, e que desejamos vê-la sintonizada com os princípios que a inspiraram, somos partícipes e solidários, na tarefa desafiadora lançada agora diante de todos nós brasileiros. Por isso, concentrados no mesmo esforço, o nosso bicentenário que não se comemora com luzes e sons, vem sendo o ano em que os valores da gente sergipana mais intensamente estão sendo postos à prova.  Dois séculos de história nos ensinaram muita coisa, e a lição maior é a de que, quando nos dividimos em confrontos desnecessários, perdemos a perspectiva de futuro, e nos desviamos da rota para alcançá-lo.

Passada essa quadra de tormentos, lágrimas, e perdas, iremos nos retemperar, valorizar ainda mais a vida, reverenciando os que se foram, homenageando a todos que se desdobraram para amenizar a dor, preservar vidas, e ter a certeza de que, no nosso tricentenário, as crianças sergipanas,  nas escolas exemplares do futuro, debruçando-se sobre a nossa história, dirão: “ Nossos bisavós, há cem anos construíram uma bela página de solidariedade, resistência e amor; aquele vírus mortal, foi um dos últimos a causar pandemias, a matar as pessoas. Hoje, eles não mais existem, como todas aquelas outras graves doenças que causavam tantas mortes. A ciência abriu caminho para que nós, jovens do ano 2120, tenhamos uma perspectiva de vida segura e longa, por isso, poderemos assistir o quarto centenário de Sergipe, sem maiores sobressaltos “.

Agora, o que temos  pela frente,  é a necessidade de refazer o ritmo da vida, consolidar a esperança, acreditar no futuro e  voltar intensamente a tentar construí-lo, da melhor forma possível. Espero em Deus, que, como governador de todos os sergipanos, estejamos, o mais rapidamente possível empenhados na grande missão, que será recuperar o que foi perdido, e  com mais discernimento e fé, prosseguir na caminhada rumo ao PORVIR, aquela palavra chave, que está caracterizada no nosso símbolo, o balão simples sustentado por dois índios, nossos ancestrais. Aquele aeróstato, quando nem ainda se conhecia a possibilidade da dirigibilidade dos balões, era uma alusão futurista ao sonho de voar entre as nuvens.

Trabalho, realismo e sonho, são essenciais para que o Sergipe del Rey, o nosso  Sergipe, atravesse os séculos comemorando com luzes a sua existência.

Que Deus esteja com este Sergipe del Rey, com o seu povo, neste bicentenário, e nos centenários que virão.

BELIVALDO CHAGAS
Governador de Sergipe

Texto e imagem reproduzidos do site: se.gov.br

Sergipe celebra 200 anos de emancipação política

São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe

Cópia do Decreto de Emancipação Política de Sergipe, 
datado de 1820. (Fotos: Maexwlle Cristinne/Arquivo/Supec)

Publicado originalmente no site do GOVERNO DE SERGIPE, em 08 de Julho de 2020

Sergipe celebra 200 anos de emancipação política

“Comemorar o Bicentenário da Emancipação Política do nosso estado, num momento especial como estamos atravessando, é um misto de privilégio e desafio. Privilégio, porque podemos celebrar aqueles que lutaram com garra e determinação, há 200 anos, pela independência do nosso território da Bahia; desafio, pelo fato de estarmos sendo diariamente estimulado a buscar as soluções para as várias demandas que a nova realidade do nosso estado nos apresenta”. A afirmação é do governador Belivaldo Chagas, ao celebrar a principal data política de Sergipe.

“A lição que aprendemos com a história é rica em exemplos de homens e mulheres que construíram um estado vencedor, nos deixando um grande legado. É graças a estas pessoas que o 8 de julho é um marco valioso na história de Sergipe. Saberemos honrar e celebrar os nossos valorosos antepassados, que se empenharam em lutar pela liberdade e pelo desenvolvimento do nosso estado”, destacou. 

Há 200 anos, no dia 08 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817.

O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a historiadora.

Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações sergipanas pelos portos baianos.

Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados pela sociedade açucareira.

Contestação

Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia que determinavam que ela não se realizasse.

Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.

Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta Terezinha Oliva.

A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma província do Império”, diz a historiadora.

Independência econômica

A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de Salvador.  Segundo ele, a base da economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade açucareira com um grande número de engenhos em funcionamento.

“As principais lideranças políticas e econômicas eram vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na zona canavieira”, destacou.

De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de algodão causado pela guerra civil norte-americana.

A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e mais adiante a produção de fertilizantes.

Duas datas

Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se deu no dia 24 de outubro de 1836.

“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como feriado da Emancipação”, conta.

As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de Sergipe.

Sergipe celebra 200 anos de emancipação

“Comemorar o Bicentenário da Emancipação Política do nosso estado, num momento especial como estamos atravessando, é um misto de privilégio e desafio. Privilégio, porque podemos celebrar aqueles que lutaram com garra e determinação, há 200 anos, pela independência do nosso território da Bahia; desafio, pelo fato de estarmos sendo diariamente estimulado a buscar as soluções para as várias demandas que a nova realidade do nosso estado nos apresenta”. A afirmação é do governador Belivaldo Chagas, ao celebrar a principal data política de Sergipe.

“A lição que aprendemos com a história é rica em exemplos de homens e mulheres que construíram um estado vencedor, nos deixando um grande legado. É graças a estas pessoas que o 8 de julho é um marco valioso na história de Sergipe. Saberemos honrar e celebrar os nossos valorosos antepassados, que se empenharam em lutar pela liberdade e pelo desenvolvimento do nosso estado”, destacou. 

Há 200 anos, no dia 08 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817.

O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a historiadora.

Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações sergipanas pelos portos baianos.

Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados pela sociedade açucareira.

Contestação

Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia que determinavam que ela não se realizasse.

Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.

Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta Terezinha Oliva.

A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma província do Império”, diz a historiadora.

Independência econômica

A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de Salvador.  Segundo ele, a base da economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade açucareira com um grande número de engenhos em funcionamento.

“As principais lideranças políticas e econômicas eram vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na zona canavieira”, destacou.

De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de algodão causado pela guerra civil norte-americana.

A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e mais adiante a produção de fertilizantes.

Duas datas

Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se deu no dia 24 de outubro de 1836.

“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como feriado da Emancipação”, conta.

As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de Sergipe.

Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br