domingo, 27 de abril de 2025

Marcelo — Mais uma vez, um ribeirão de histórias

Foto do autor, Marcelo Ribeiro, ao lado da estátua de Calasans
 

Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 22 de abril de 2025 

Marcelo — Mais uma vez, um ribeirão de histórias
Por Léo Mittaraquis*

Há temas sobre os quais, erroneamente, afirma-se, de maneira superficial e aligeirada, respectivo esgotamento. Ou seja, nada mais além dizer. O fenômeno Canudos [leia-se Antônio Conselheiro] é um destes.

Decerto muito sobre o local, a carismática figura, o conflito armado, muito e muito já se falou, se disse, se escreveu.

Contudo, as múltiplas percepções, que redundam em diversas interpretações, longe de deterem o poder de dar o caso por encerrado, quando sob luz de uma mente atenta, dotada de acurado discernimento, com disposição de ir às fontes [sejam as já visitadas, sejam as até então ignoradas], capaz de produzir cuidadosa e rica narrativa, revelam lacunas e incertezas.

Por isso saúdo, com raro entusiasmo, ao escritor, pesquisador, memorialista Marcelo Ribeiro pela exaustiva, contudo, prazerosa produção literária mais recente: “Calasans e Conselheiro”.

Notório é o fato de que centenas de pesquisadores [sistemáticos ou bissextos], arvoram-se “proprietários” do fenômeno Canudos/Conselheiro. O apelo popular, a mitificação, as interpretações esdrúxulas, que tonificam este ou aquele aspecto, sem levar em consideração a cadeia de eventos anteriores e posteriores, fazem do tema terreno movediço. Passo em falso, e o discurso pode afundar sob a lama de confusos e infundados argumentos.

Marcelo Ribeiro, experiente, preocupado em chegar à verdade ou ao mais próximo dela, investigou, sopesou, comparou, confrontou, discordou, convergiu, sempre a partir da mais profunda e comprometida reflexão quanto ao fenômeno. E assim é que tem de ser.

O único senão, e eu disse diretamente ao autor, na minha humilde opinião [e é só uma opinião], é o exacerbado, por vezes encegueirado, amor por Sergipe, pelo Nordeste. Ardor quase a enquadrar-se nas qualificações duma apologia. Mas, bom frisar, é a cabruquenta regalia do autor. Estou apenas a pôr-me sibite e meter o bedelho. Marcelo demonstra, ao lado do rigor de pesquisa e construção da tese, um carinho pela memória dos acontecimentos.

Paul Ricoeur decerto sairia em defesa do autor. O fenomenólogo e hermeneuta compreende bem o poder documental das reminiscências: “Se a história tem um início distinto em termos de conhecimento, marcado por nomes famosos, Heródoto, Tucídides e fontes ainda mais antigas, seus maiores problemas, e, para ser franco, suas dificuldades, suas dificuldades vêm de muito antes dela, da memória”.

Muito bem escrito, de narrativa apaixonada [C’est l’amour!], cuidado para com as fontes. Eis algumas das melhores características da obra. Marcelo, bem o sabem seus costumeiros leitores, está longe de ser um neófito no campo das Letras, da História e da Memória. É de praxe o autor entregar ao público bons livros.

A data de lançamento ainda não está definida. Na verdade, o livro se encontra em finalização editorial. Ou seja, nem chegou ainda aos prelos.

Tive o privilégio de acessar o original, e disso me orgulho. Sem pejo, incorro em desavergonhada jactância, pois, após proceder com um texto crítico [que não é este], receber a notícia, diretamente do autor, Marcelo Ribeiro, desde que minhas mal traçadas linhas serão incluídas como posfácio.

Portanto, leitores, entendam este artiguete como a um teaser. Uma preparação do espírito dos amantes de boas obras, ante o que virá durante o segundo semestre de 2025.

Marcelo Ribeiro, sabedor de sua responsabilidade sobre o tema, demonstrou segurança, coragem e honestidade.

Além do mais, e não menos importante, é, reitero, muito bem escrito mesmo. Um refrigério para leitores atentos como eu diante de tanta coisa ruim publicada nos últimos tempos.
Ecce viri!
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Léo Mittaraquis é graduado em Filosofia, crítico literário, mestre em Educação. Mantém o Projeto "Se Comes, Tu Bebes". Instagram: @leo.mittaraquis

Texto e imagens reproduzidos do site: sosergipe com br

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