Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA
REPORTAGEM ESPECIAL - Tanuza Oliveira
Em quase 200 anos de história, Sergipe carrega personagens
notórios, mas esquecidos pelo seu povo
►Apesar
de menor Estado, é um dos que proporcionalmente mais contribuíram com o Brasil,
destacando-se nomes como Tobias Barreto, Sílvio Romero, João Ribeiro...
Por Tati Melo - Especial para o JLPolítica
“O cidadão é a forma social do homem, como o estado é a
forma social do povo”. Esta é a uma citação de um dos maiores intelectuais que
Sergipe, nos seus quase 200 anos de existência, viu nascer em suas terras:
Tobias Barreto.
A história de um nação, de um território, de um Estado, de
um Município é escrita pelo seu povo e, com certeza, Tobias Barreto reluz entre
tantos que compuseram/compõem o povo sergipano.
Filósofo, escritor e jurista brasileiro, Tobias Barreto é
para muitos um gênio. Foi líder do movimento intelectual, poético, crítico,
filosófico e jurídico conhecido como Escola do Recife, que agitou a Faculdade
de Direito do Recife. Foi fundador do condoreirismo brasileiro e patrono da
cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras
Escritor, professor e político, Sílvio Romero foi o fundador
da Academia Brasileira de Letras e sócio correspondente da Academia de Ciências
de Lisboa
TOBIAS: MAIOR JUS FILÓSOFO
“Tobias Barreto foi sem dúvida o maior jus filósofo
brasileiro de sua época, senão o maior do Brasil até hoje. É um dos cinco
únicos brasileiros a integrar o Dicionário dos Maiores Juristas da Humanidade,
da Universidade Wolfgang Goethe, em Frankfurt na Alemanha, ao lado de nomes
como Cícero, Beccaria, Foucaut, Ihering”.
Quem expõe isso acima é o advogado Luiz Eduardo Oliva,
professor de Direito, ex-pro-reitor da Universidade Federal de Sergipe - UFS -,
membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas e estudioso da obra e do homem
Tobias Barreto.
Oliva viu, ultimamente, um injusto esquecimento da figura
ímpar de Tobias Barreto. “Não fosse o esforço monumental de Luiz Antonio
Barreto, que deixou a mais completa atualização da obra de Tobias com 10
volumes (publicados pela Editora Diário Oficial do Estado de Sergipe - Edise)”,
diz. Por isso, atualmente, está
realizado um estudo mais acentuado sobre o jus filósofo.
Tobias Barreto é um dos cinco únicos brasileiros a integrar
o Dicionário dos Maiores Juristas da Humanidade, da Universidade alemã Wolfgang
Goethe
TOBIAS E O DIREITO DAS MULHERES
Oliva explica com detalhes a importância de Tobias para a
sociedade. “Tobias foi o primeiro brasileiro a defender os direitos das
mulheres quando deputado, argumentando com veemência para a liberação de bolsas
de estudos para duas mulheres estudar medicina nos Estados Unidos, quando o
ensino superior era devotado aos homens. Destruindo o preconceito de seus
opositores que diziam que o cérebro da mulher era inferior e, portanto, não
podia estudar em curso superior, devendo-se restringir às tarefas domésticas”,
afirma Oliva.
De acordo com Oliva, as contribuições de Tobias Barreto não
param por aí. “Ele propôs a criação do Partenogógio do Recife, uma escola de
nível superior para mulheres. Naquela época, apenas existia a Escola Normal, de
nível médio”, informa.
Segundo Oliva, Tobias Barreto também foi o responsável pela
maior revolução da cultura brasileira ao modificar por completo o pensamento
brasileiro no ultimo quartel do século XIX. “E, certamente, ressoando no século
XX e diria até nos dias atuais, com a introdução do germanismo no Brasil. Antes
dele, o Brasil estava escravo à cultura francesa e portuguesa, sobretudo”,
informa.
ANÔNIMOS ENTRE SERGIPANOS
“No curso de Direito da Faculdade de Direito do Recife, ele
é considerado o mais ilustre professor, a ponto da sede daquela faculdade ser
chamada “a Casa de Tobias”. E olhe que ele teve um tempo curto como lente
naquela casa, passando apenas cinco anos, completamente desproporcional à
grandeza da sua produção, reconhecida internacionalmente”, informa Oliva.
Pelo currículo, Tobias Barreto é um cidadão marcante para
qualquer Estado ou país. Mas que, para muitos sergipanos, nada significa. Ou
melhor, significa apenas o nome de um município localizado no Região Sul de
Sergipe - uma homenagem ao filho ilustre - ou o nome de uma praça localizada no
Bairro São José, em Aracaju.
Compositor, poeta, colaborador de jornais no Rio de Janeiro
e fundador do Jornal Estreia, na cidade carioca, o boquinhense Hermes Fontes
também para tantos outros cidadãos é apenas o nome de uma grande avenida da
Capital sergipana.
40 PERSONALIDADES SERGIPANAS
Assim como Tobias Barreto e Hermes Fontes, dezenas de outras
personalidades muito contribuíram para a formação e o desenvolvimento político,
social, econômico, cultural e histórico de Sergipe, e, inclusive, ajudaram
muito a construir a imagem sergipana além-fronteira. Contudo, passam para lá de
despercebidos entre os seus.
Luiz Antônio Barreto - um dos maiores historiadores que
Sergipe já teve, falecido em 2012, que sabia enaltecer sua terra - em seu
vigésimo livro publicado, “Personalidades Sergipanas”, elenca a biografia 40
ilustres empresários, políticos e intelectuais do Estado, porém, muitos dos
quais desconhecidos das novas gerações, como bem informou o historiador na
publicação.
“Personalidades Sergipanas” contempla: Tobias Barreto,
Sílvio Romero, Fausto Cardoso, Oviêdo Teixeira, José Rollemberg Leite, Ofenísia
Freire, Graccho Cardoso, José Calasans, Augusto Franco, Augusto Leite,
Constâncio Vieira, Gentil Barbosa, Orlando Dantas, Hermes Fontes, Seixas Dória,
João Alves, Luiz Garcia, Inácio Barbosa, José Alcides Leite...
Complementam a obra de Luiz Antonio Barreto: Clodomir Silva,
Leandro Maciel, Irmãos Paes Mendonça, Maria Thetis Nunes, Lauro Porto, Lourival
Baptista, Manoel Menezes, Gumercindo Bessa, Padre Arnóbio, Antonio Góes, Paulo
Barreto de Menezes, H. Dantas, Visconde de Maracaju, Julio Leite, Arnaldo
Garcez, Aníbal Freire, João Mello, Acrísio Cruz, Celso de Carvalho, José de
Siqueira Menezes.
Jornalista, crítico literário, historiador, pintor, membro
da Academia Brasileira de Letras, João Ribeiro foi um dos maiores estudiosos da
língua portuguesa
CONTISTAS, ROMANCISTAS, ARTISTAS...
Além desses 40 nomes elencados por Luiz Antonio Barreto,
claro, o próprio historiador e dezenas de outros sergipanos se destacaram em
vida, como Pereira Lobo, João Ribeiro, Gilberto Amado, Carlos Burlamaqui,
Horário Hora.
O advogado Eduardo Oliva lembra que, apesar de Sergipe ser
um dos menores Estados do país, é um dos que proporcionalmente mais
contribuíram com a ilustração nacional. Além de, claro, Tobias Barreto, ele
cita ainda: “Dentre historiadores, Laudelino Freire, Thetis Nunes;
pesquisadores, Luiz Antonio Barreto; folcloristas, Silvio Romero; sociólogos,
Manoel Bonfim; contistas, Antonio Carlos Viana; poetas, Santo Souza, Garcia
Rosa, Hermes Fontes”, elenca.
Oliva cita outros nomes sergipanos que tiveram grande projeção
nacional. “Filólogos, Laudelino Freire; críticos literários, João Ribeiro;
romancistas, Francisco J.C.Dantas, Alina Paim; artistas plásticos, Jenner
Augusto, Jordão de Oliveira; políticos, Fausto Cardoso, Lourival Fontes;
juristas, Carlos Britto; memorialistas, Genolino Amado; diplomatas, Gilberto
Amado; ensaístas, Jackson de Figueiredo”, elenca.
ESQUECIMENTO E SUBALTERNIDADE
Com tantas personalidades e suas devidas contribuições a
Sergipe e ao Brasil, por quais motivos os sergipanos não valorizam suas figuras
nobres à altura das suas importâncias?
Para o professor e mestre em filosofia Cássio Murilo Costa,
atual presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju - Funcaju - existe uma
política do esquecimento e da subalternidade, colocada através de um certo
pensamento xenófobo.
“A ideia de que o Nordeste e, em especial, Sergipe, essa
geograficamente pequena faixa de terra irrigada até a sua porção mais
ocidental, por rios históricos, sobretudo o São Francisco, tem uma condição
histórica, uma posição histórica de subalternidade e, portanto, deve ser
esquecido de entrar para a história”, afirma Cássio Murilo.
INCORPORAÇÃO DAS PERSONALIDADES
“Temos centenas de mulheres e homens que são personalidades
e que são esquecidas não porque nós queremos desprestigiar, mas é porque há uma
política de esquecimento e de subalternidade, que aí os subalternizam também,
viram nomes de ruas, de logradouros públicos”, diz o presidente da Funcaju.
Na visão e Cássio Murilo, essa política do esquecimento, da
subalternidade pode ser mudada com a incorporação das personalidades históricas
pela população de Sergipe.
“Eu poderia citar aqui centenas de outros sergipanos e
sergipanas que precisam ser apropriados pelo seu povo, como parte do nosso
patrimônio, capaz de inspirar artistas, escritores, pensadores”, diz o
presidente da Funcaju.
Para o advogado Eduardo Oliva, apesar de Sergipe ser um
estado pequeno, é um dos que proporcionalmente mais contribuiu com a ilustração
nacional
APARELHO ESCOLAR
Professor de História do curso de Turismo do Instituto
Federal de Sergipe - IFS -, Amâncio Cardoso crê que os sergipanos não conhecem
suas ilustres personalidades porque o aparelho escolar, público ou privado,
geralmente, não reforça a importância dessas figuras.
“Quando apresentam aos alunos, isso é feito de forma pesada,
obrigatória”, destaca Amâncio. “Eu fiz História na UFS, por exemplo, e ninguém
me apresentou à História do Brasil de João Ribeiro, ou outra obra de sua lavra,
como a História da Literatura Brasileira. Uma lástima. Daí reputo nosso
esquecimento ou ignorância”, afirma o professor.
Para Amâncio, o laranjeirense João Ribeiro - jornalista,
crítico literário, filólogo, historiador, pintor e tradutor, bem como membro da
Academia Brasileira de Letras - foi um dos maiores estudiosos da língua
portuguesa que o Brasil já teve.
“NÃO AMAMOS PORQUE NÃO CONHECEMOS”
O professor do IFS também inclui na sua lista de grandes
sergipanos Laudelino Freire. “Incluo ele por ter organizado um dos primeiros
dicionários de nossa língua, o Português do Brasil”, explica.
Professor de história e experiente na área de história, educação
e cultura, sobretudo de Sergipe, Marcos Vinícius Melo dos Anjos também crê que
um dos pontos chaves dos sergipanos não lembrar de suas personalidades é a
Educação.
“Eu acredito que Sergipe passa por uma situação específica
no sentido de não ter sido criado um vínculo onde se ensinasse desde a escola a
conhecer o que é nosso. Não defendemos, não amamos o que não é nosso, porque
não conhecemos”, enfatiza Marcos Vinícius.
CONSTITUIÇÃO SERGIPANA
O professor Marcos explica que: “a partir do momento em que
temos uma Educação nas redes públicas, município, estado e federal, e privadas
que trabalhe conteúdos regionais, vamos estar dando o primeiro passo para
formação de uma nova geração com conhecimento”, enaltece o professor, que
também é o atual coordenador da Divisão de Material, Ensino-Aprendizagem da
Secretaria de Educação, do Esporte e da Cultura - Seduc.
“Para se ter uma ideia, na constituição sergipana, o artigo
215 tem um parágrafo que diz que é obrigatório a inserção do conteúdo de
história, geografia e de literatura sergipana em todas as escolas. Mas, se você
for verificar, não vai encontrar planejamento (nas escolas)”, informa Marcos
Vinícius.
Conforme citado na reportagem “Sergipe: um Estado adormecido
à beira dos 200 anos”, publicada no JLPolítica há três semanas, consta no
currículo escolar da rede estadual material sobre a história de Sergipe,
segundo informou a Seduc, por meio da Assessoria de Comunicação. Porém, pelo
jeito, de maneira insuficiente.
Professor de História, Amâncio Cardoso crê que os sergipanos
não conhecem suas personalidades porque o aparelho escolar não reforça a
importância de tais
CONHECER O NOSSO PRIMEIRO
Para a diretora-presidente da Fundação de Cultura e Arte
Aperipê de Sergipe - Funcap -, órgão resultante da fusão entre a Secretaria de
Estado da Cultura e a Fundação Aperipê, Conceição Vieira, falta, realmente, um
ensino mais efusivo da história de Sergipe nas salas de aula.
“Precisamos conhecer o mundo a partir do nosso local
existencial. Do que adiante estudar sobre Europa, Oceania, África, se não
tratamos do nosso habitat, nosso espaço mais próximo, onde fazemos a história
acontecer? Todo cidadão, cidadã é um participe na formação da história e nada
sabe sobre o seu lugar de habitação”, diz Conceição Vieira.
O professor Marcos Vinícius lembra que, para reverter essa
situação de “amnésia” entre os sergipanos, não se pode deixar desamparadas as
gerações que já estão formadas e saíram da sala de aula.
PAPEL DAS MÍDIAS
Para ele, as mídias têm um papel importante nessa hora. “A
partir do momento em que se tem um espaço de mídia que passe conteúdo que
destaque a cultura sergipana, você já abre outro canal de diálogo com a
sociedade”, informa.
Na visão do professor Marcos, assim como muitos outros
estudiosos, o sentimento de pouco pertencimento, a escassez do “orgulho de ser
sergipano” influencia bastante nessa realidade de falta de valorização dos seus
entre os cidadãos de Sergipe.
“Ouvi no documentário “Lampião Revisitado” que em Sergipe as
pessoas não têm orgulho porque é o menor estado da federação. Então, existe
essa ideia de ser o mais simples, coitado. Mas não é isso”, afirma Marcos
Vinícius.
FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE
“Gaúchos que veem morar no Nordeste, não abandonam o
chimarrão. Tem até os centros de tradições gaúchas em todos os lugares. Quando
se fala em pão de queijo, todo mundo pensa em Minas; frevo, em Pernambuco;
acarajé, em Bahia. Sergipe não tem um elemento que unifique e simbolize como um
todo. Porém, temos vários elementos regionais. O que precisaria é fortalecer
esses elementos como representatividade no geral”, opina o professor Marcos.
A diretora da Funcap também aponta que a falta de identidade
cultural, de pertencimento do sergipano e o esquecimento da história de Sergipe
estão, estritamente, entrelaçados. “Porque não nos sentimos protagonistas da
nossa história?”, questiona.
Conceição ainda diz: “dentro da região, alguns estados são
mais atenciosos (com essa questão). Acho que Sergipe deixa um pouco a desejar.
Precisamos adentrar mais nessa concepção de conhecimento de nossa história de
vida. Precisamos fortalecer nossa identidade cultural”.
Segundo o professor e mestre em filosofia Cássio Murilo
Costa, atual presidente da Funcaju, existe uma política de esquecimento e
subalternidade em Sergipe
RENASCIMENTO NO BICENTENÁRIO
Para Eduardo Oliva, o bicentenário de Emancipação Política
de Sergipe no próximo ano é a grande oportunidade de renascer entre os
sergipanos o sentimento de pertencimento.
“É um belo momento para mergulharmos cada vez mais na nossa
cultura, aprofundar o sentido da sergipanidade, pois somos um dos Estados mais
antigos do país, temos a quarta cidade mais antiga, São Cristóvão, temos uma
tradição de pensamento, somos um povo que traz uma ideia libertária, de grande
produção literária e também jurídica. É um grande momento portanto para nos
debruçar sobre nós mesmos, nossa gente, nosso passado”, reforça Oliva.
Segundo Oliva, compete aos intelectuais sergipanos, jornalistas,
e, claro, gestores públicos atuais aproveitarem os 200 anos de emancipação de
Sergipe e buscar uma espécie de renascimento da sergipanidade, a partir,
sobretudo, do estímulo ao estudo das grandes personalidades culturais
sergipanas que contribuíram não só para a cultura do Estado, mas também para a
brasileira.
DIVULGAÇÃO DOS ESPAÇOS
Quando se cria uma identificação, fortalece-se uma
identidade e, quem sabe, a tão clamada sergipanidade. É preciso refletir,
replanejar a divulgação da cultura de Sergipe nas escolas, nas mídias, nas
propagandas institucionais públicas.
“Não é pensar apenas nos nomes. As figuras de destaque são
importantes, mas que se crie situação. Pode-se estar criando prêmios de poesia,
teatro. Imagine fazer um festival de curtas só com os literatos sergipanos.
Pode-se estar divulgando os espaços públicos também”, ressalta o professor
Marcos Vinícius.
“Nós temos o Museu da Gente Sergipana, um espaço muito bom,
excelente, mas, se for feita uma pesquisa, verá que a quantidade de pessoas que
visitaram o museu, como o Museu Olímpio-Campos, ainda é uma quantidade pequena
em termos de sergipanos. Você ia para o Museu Histórico de São Cristóvão e, até
pouco tempo, no domingo, quando todo mundo visita, estava fechado”, diz Marcos
Vinícius.
Para o professor de história Marcos Vinícius dos Anjos para
reverter essa “amnésia” dos sergipanos, a educação e as mídias têm importante
papel
FORRÓ ANO TODO
O professor Marcos aponta como uma das soluções: a promoção
de rodas culturais, eventos periódicos. “Se diz na música bem pensada e bem
feita que “Sergipe é o País do Forró”, porém, tirando um estabelecimento que
tem na Orla, o Cariri, você não tem estabelecimentos, produções, realizações de
eventos quinzenais, mensais populares, abertos para pessoas, sem pagar, que
trabalhe cultura”, cutuca.
“Imagine a cada 15 dias tivesse um grupo folclórico se
apresentando na Orla e depois um trio pé de serra sergipano para as pessoas.
Você criaria uma cultura”, sugere Marcos Vinícius.
Para repensar a cultura de Sergipe, colocar todas essas
ideias em prática, a diretora da Funcap afirma que é necessário um clamor de todos,
principalmente, dos pensantes do Estado. “Não depende do Governo, Prefeituras.
Depende de todo mundo”, diz.
PAPEL DO PODER PÚBLICO
Mas, claro, Conceição Vieira não tira o corpo fora. Sabe que
é papel, principalmente, das instituições públicas reverter essa situação. “O
governamental federal, estadual e municipal, como fomentador, como coordenador
de processos, implementador de políticas sociais, quer seja educação, cultura,
precisa ter esse entendimento de que precisamos fortalecer”, afirma.
Segundo a diretora da Funcap, os sergipanos nunca terão uma
boa visão de mundo, se não entender o seu local. “Se não temos ação local
consciente, jamais poderemos dar contribuição. Ficaremos vendo assim partes,
lampejos e dando opiniões soltas”, enfatiza.
O presidente da Funcaju também não tem dúvidas que é papel
das instituições públicas, privadas, da própria sociedade, o combate
sistemático dessa política do esquecimento.
Segundo a diretora da Funcap, Conceição Vieira, dentro dos
eventos alusivos ao Bicentenário de Sergipe, existirão projetos voltados a
personalidades e fortalecimento da cultura
PENSAMENTOS EQUIVOCADOS
Mas mais ainda: “o poder público, o aparato estatal voltado
para um papel pedagógico, sem dirigismo, mas pedagógico de dialogar, de ajudar
a construir um sentimento de identidade que seja um sentimento de pertença, de
nos dar autoestima”, afirma Cássio Murilo.
Segundo o presidente da Funcaju, existem duas formas muitas
equivocadas de se entender Sergipe. “Ou como uma aldeota gaulesa imune a
qualquer influência externa e, por outro lado, a ideia de Sergipe como uma
republiqueta das bananas completamente permeável a tudo que nos chega”, diz.
Cássio Murilo afirma que as instituições públicas devem
entrar em cena nessa hora para desqualificar essas duas leituras, igualmente
equivocadas. “Porque há aqui material mais que suficiente. Nós temos sim uma
identidade sergipana e isso não pode ser encarada de forma xenófoba ou
ufanista. Há uma identidade e ela permeia os nossos falares, os sentidos, a
reflexão, as formas de vida”, diz.
AÇÕES DO BICENTENÁRIO
De acordo com Conceição, dentro das discussões sobre os
eventos/ações alusivos ao Bicentenário de Sergipe - há uma Comissão
Organizadora, composta por representantes de vários segmentos da sociedade -
existem projetos para rememorar personalidades sergipanas e, evidentemente,
fortalecer a cultura do Estado.
“Por que montar uma comissão já para os 200 anos? Porque é
preciso estudar, avaliar essa história e ver que perspectiva temos para frente.
Não é o Governo e nem município sozinho, mas é junto com pensadores”, informa a
diretora.
“A partir de agosto, precisaremos estar nos reunidos
mensalmente para essa grande construção, quem sabe, essa grande revisão de
prática, valorizando muito mais as datas cívicas, fazendo delas uma missão”,
afirma Conceição. “Como por exemplo, nossa maior data de Sergipe, a emancipação
política. Como fazer que não seja simplesmente um feriado que ninguém sabe o
por quê?”, questiona ela.
Dos 200 livros publicados pela Edise, segundo a editora,
houve sempre o cuidado para que se voltasse especificamente às figuras de
extrema importância do Estado
►Literatura:
importante instrumento de conhecimento das personalidades
Implantada em 2009 pelo então governador Marcelo Déda, a
Editora Diário Oficial do Estado de Sergipe - Edise -, órgão suplementar da
Empresa Pública de Serviços Gráficos de Sergipe - Segrase -, desenvolve uma
política centrada na divulgação de livros que promovam a educação, a cultura
filosófica, científica e literária e o desenvolvimento de Sergipe e, com
certeza, dará grandes contribuições para fortalecer o Estado nesses 200 anos.
“Conta-se a história de um povo a partir daqueles que em
áreas diversas marcaram em capôs político, econômico, educacional e social a
riqueza desse povo que cada um representa”, destaca o presidente da Segrase,
Ricardo Roriz.
“Já falamos com algumas pessoas que são membros da Comissão
Organizadora do Bicentenário de Sergipe e vamos trabalhar em cima de obras
importantes de pensadores sergipanos. Através da nossa empresa gráfica, podemos
reeditar e editá-las”, informa a presidente da Funcap.
OLHAR CLÍNICO DA EDISE
De acordo com a Edise, das 200 obras publicadas pela editora
ao longo de sua existência, houve sempre o cuidado e o olhar clínico para que
se voltasse especificamente às figuras de extrema importância do Estado, como
Jouberto Uchôa, Manoel Bonfim, Wellington Mangueira, Tobias Barreto, Epifânio
Dória, Ranulfo Prata, Luciano Cabral Duarte, Lourival Fontes, Paulo de Carvalho
Neto.
Para Ricardo Roriz, todas essas publicações são de extrema
importância, pois: “fortalece o nosso conceito de um pequenino território, de
dimensões geográficas restritas, como nossa querida Sergipe, para continuar
produzindo
Presidente da Segrase, Ricardo Roriz: “haverá
sempre caminhos para que a literatura se mantenha no instrumento de fazer com
que as personalidades jamais sejam esquecidas