O Diabo de " Auto da Barca do Inferno"
é um dos personagens mais lembrados da Atriz.
Urânia de " Antonio Meu Santo"
é a personagem mais popular da Atriz.
Tetê também é bailarina e cantora.
Ela participou de diversos grupos como o
" Imagem" dirigido por Cícero Alberto.
Publicado originalmente no blog Pedro Carregosa, em
14/12/2010.
A Trajetória da Atriz e Bailarina Tetê Nahas
Por Osmário Santos/Jornal da Cidade.
Valdelice de Matos Santos nasceu em Aracaju, no dia 20 de
outubro de 1966. Ela foi a sexta filha do casal Jonas Xavier dos Santos e
Valderez de Matos Santos. Desde pequena recebeu o nome de Tetê Nahas.
O pai, Jonas Xavier, era de Maruim, de uma família bastante
humilde, com dez filhos. Vieram tentar a sorte em Aracaju e Jonas foi trabalhar
no comércio, mas não gostava do trabalho. Ao invés de vender, procurava passar
o tempo lendo. Foi quando se tornou pescador. Homem rude e ao mesmo tempo
sábio, passou para os filhos muitos valores de honestidade e ética.
Aos 18 anos Jonas Xavier se apaixonou pela menina Valderez,
conhecida como “Cedinha”. Valderez era a única menina em uma casa com oito
filhos, ajudava a mãe com os afazeres domésticos. Aos 13 anos de idade,
estudante do Colégio Augusto Ferraz, ela se casou com Jonas Xavier. Aos 14 deu a
luz ao primeiro filho, Givaldo de Matos Santos, falecido neste ano de 2010.
Para ajudar o marido a criar os filhos, foi trabalhar para uma família onde
permaneceu por mais de 30 anos.
Do pai, Tetê diz que herdou muito o temperamento, o gosto
pela leitura e a forma de ver a vida. “Papai era sábio. Aquele homem não nasceu
para viver nesse tempo. A casa era cheia de crianças e jovens que vinham de
toda a vizinhança para ouvi-lo falar. Culto, educado, dava verdadeiras aulas.
Era meu porto seguro, meu ar, meu chão” afirmou Tetê.
Já da mãe ela diz que herdou a aptidão artística e o amor
pelas crianças. “Enquanto Papai era minha consciência, minha segurança, mamãe é
meu impulso. Mulher guerreira, atrevida, lutadora. Mãe na essência nos deu e
nos dá ate hoje um amor incondicional. Amor como o que ela tem eu nunca vi na
vida. Ela é minha força, minha coragem, minha luta e minha fé na vida.Quisera
ter um terço da força que ela tem”, acrescentou a atriz e bailarina. Tetê
também traz uma tia paterna, Catarina Xavier, como referência. “Titia me adotou
e somos muito parecidas, ela parece muito no jeito com papai. Ajudou muito na
minha criação. por causa dela me tornei uma tia e uma irmã presente para a
minha família”, afirma.
As primeiras letras ela aprendeu na vizinhança, em uma
escolinha de uma professora do bairro Santo Antonio, onde nascera. Foi a
própria que a levou para estudar. Depois ela entrou no Colégio Castelo Branco,
onde ficou muitos anos. Lá se destacou nos estudos, nas artes e também nos
esportes. Tetê fez atletismo e ganhou diversas medalhas na época.
Um fato interessante na escola, ela nunca respondia a
chamada porque não chamavam nenhuma Tetê, mas Valdelice, seu nome. Tetê foi
registrada como Valdelice de Matos Santos, conforme vontade da mãe, mas desde
pequena é chamada de Tetê Nahas. O pai dela, senhor Jonas, queria que o nome
fosse Tetê Nahas, segundo ele Tetê significava pele e Nahas na raça e na força.
E, de fato, desde pequena, Tetê demonstrou ser dona de uma forte personalidade.
Foi nas festas da vizinhança, enquanto dançava e aprontava, que ela foi
descoberta para as artes.
O ator Douglas, vizinho de Tetê, levou-a para fazer um
espetáculo em que precisavam de uma criança. “Douglas foi um irmão mais velho,
aliás, a família dele me acolheu como se eu fizesse parte dela e fiz. Somos
irmãos, amigos, primos, escolhidos pela vida”, agradece Tetê. E foi assim que a
atriz começou suas atividades aos cinco anos, na peça “As aventuras de Jujuba e
Teteca”, de autoria do falecido diretor Bosco Scaffs, com produção do Grupo
Grifacaca, ainda nos anos 70.
Depois, seguiu no grupo teatral Check-up, onde era a
mascote, participando de espetáculos e principalmente recebendo todo o legado
do mestre Bosco Scaffs.
Então, desde pequena que Tetê se envolveu nas artes e logo
cedo começou a viajar para os festivais e se envolver com a cena artística. Como
tinha um tipo físico forte, todos pensavam que ela tinha mais idade. Bosco
Scaffs fazia espetáculos ousados como Assinax e Inri “O ato da iluminação”,
“Eu era menor de idade e ainda tinha censura, então, na
época em que os censores iam fazer os ensaios eu me escondia. Mas em cena,
ninguém acreditava que eu tinha 15, 16 anos”.
Sobre o mestre Bosco Scaffs, a palavra é gratidão: “Devo a
Bosco e a Douglas o que sou. Quem eu me tornaria se Douglas não tivesse me
enxergado ali em uma festinha e me levado a Bosco?
E ele, que tanto me ensinou, sobre o artista completo, sobre
a vida, sobre liberdade, sobre arte. Bosco Scaffs foi uma das melhores pessoas
que eu conheci, devo tudo a ele, absolutamente tudo, eu o amo”.
Paralelo ao teatro, Tetê passou a fazer dança. “Bosco sempre
dizia que devíamos ser completos, ele dançava muito bem e dava noções para a
gente, mas a gente precisava, segundo ele, se aperfeiçoar. Só que me apaixonei
pela dança e pelo teatro e me tornei bailarina também. Sempre fui muito tímida,
então o teatro e a dança juntos, era a forma de expressar aquilo que não
conseguia falar, sentir”.
Como bailarina, participou de diversos grupos de dança,
entre os quais o Grupo Raça Real e o Balé Municipal de Dança Contemporânea de
Aracaju. “Foi uma época muito rica em termos de cultura, a cena era crescente,
eram vários espetáculos, tínhamos prêmios, incentivos, festivais, era
maravilhoso, qualquer jovem se empolgava e seguia na arte, pois tínhamos
oportunidade”, explica.
Foi como bailarina que Tetê entrou na Prefeitura de Aracaju.
Foi lotada para a Escola Municipal de Artes e até hoje dá aulas de teatro.
“Nunca imaginei que fosse me tornar professora, mas é algo
que também me realizo muito. Absorvi tudo o que pude de
Bosco Scaffs e tento, como ele,
transformar a vida de algumas pessoas através
da arte”, disse Tetê. E lá se vão mais de 25 anos como professora.
Ainda nos anos 80, Tetê integrou o Grupo Imagem. O grupo
tinha a proposta de unir a dança, teatro e música e foi idealizado por Cícero
Alberto, também ex-integrante do Grupo Check-up, de Bosco Scaffs. “No Imagem
foi uma experiência fantástica, dançamos, pintamos e bordamos. É um dos grupos
de teatro mais importantes do Estado, fiz meu primeiro personagem marcante, a
Mona Lisa, em ‘Salve-se quem puder’, saudades…”, relembrou a atriz.
Paralelo ao Imagem, Tetê participou ainda do grupo Asas de
Teatro. O Asas foi dirigido pelo baiano Paulo Barros. No grupo, a artista
ganhou um prêmio como iluminadora por “A Floresta do Alinhamento”. Ela utilizou
apenas duas lanternas para fazer o espetáculo e se destacou pela ousadia e
criatividade.
Aliás, essa é uma marca presente no trabalho da atriz.
Ousada, criativa, intensa, bastante dedicada. De 1988 até 1990 se dedica mais à
dança e à música. Participa então da banda Zé Yeddo, que cantava músicas
folclóricas. “Valfran de Brito me convidou a fazer parte desse projeto e acabei
me envolvendo muito com a música. Além dele participavam Itamar Freiras e
Eliude, Passos, pessoas queridas”, relembrou. Ela também foi backing vocal do cantor
Tonho Baixinho.
Foi em 1991 que foi convidada para o Grupo Imbuaça.
“Rivaldino Santos, muito meu amigo, tinha trabalhado comigo em outros grupos.
Foi ele o portador do convite do Imbuaça. O grupo já era célebre e eu tinha uma
carreira já consolidada. Aos 25 anos decidi me dedicar a essa nova fase de
minha carreira, fazendo teatro de rua, com literatura de cordel, uma linha de
atuação mais popular” lembra.
Foram 17 anos e seis meses no Grupo Imbuaça. “Fiz muitos
trabalhos e personagens marcantes, aprendi muito, viajei, conheci outros
países. O Imbuaça me deu muitas oportunidades. Jamais esquecerei de minha
Filismina de A Farsa dos Opostos, Das Mulheres de Eurípedes, do Diabo, de O
auto da Barca do Inferno e de Tereza, de Além da Linha D’água, escrita especialmente
para mim. Foi nesse espetáculo que nós, do Imbuaça, contracenamos com Marília
Pêra. Isso sem falar, claro, daquela que não me abandona, Urânia de Antônio Meu
Santo”, afirma a atriz, que deixou o grupo em 2008 para se dedicar mais a
família.
Urânia fez tanto sucesso que Tetê, a convite do produtor
Fernando Petrônio, desde 2003 grava uma participação especial no São João da
Gente, da TV Sergipe. Em 1992, como muitos atores sergipanos, participou de
Tereza Batista, minissérie da Rede Globo. Em 2007, gravou o filme “Orquestra
dos Meninos” dirigido por Paulo Thiago.
A estreia como diretora com o Espetáculo “Conto ou Não
Conto”, em janeiro de 2001, baseado no livro “Contos de Vida e de Morte”, de
Carlos Cauê. Não parou mais. O infantil “No Reino do Encantamento”, com a
Companhia de Teatro da Fundação Pedro Paes Mendonça, marca a estreia como
diretora em espetáculos infantis. Depois vieram os espetáculos “Andantes
(2002)”, da Companhia Usina de Teatro, Decadência (2005), da Companhia de
teatro Rota, “Sete noivas para sete irmãos (2003)”, da Companhia de Teatro da
Fundação Pedro Paes Mendonça. Tudo isso sem falar de “Nunca é Tarde(2006)” do
grupo Troteatro de Espetáculo e de “Viva, A vida em um ato” monólogo de Carlos
Cauê interpretado por Luís Carlos Reis. Um espetáculo marcante para a atriz a
“Paixão de Cristo (2000), realizada todos os anos no povoado Serra do Machado
em Ribeirópolis, que é uma produção encenada por mais de 60 atores. A atriz
também dirigiu o primeiro espetáculo infantil do Grupo Imbuaça. “O Natal da
floresta dos Ursinhos (2006)” e fez a assistência de direção e as coreografias
do espetáculo “Desvalidos (2004). Recentemente montou os musicais
“Saltimbancos”, e “O Mágico de Oz” para a Nossa Escola, o espetáculo contou com
um elenco composto por mais de 200 alunos.
“Sou muito família. Amo meus cinco irmãos, fui tia aos 12
anos e tentei ser o mais presente possível na vida dos meus sobrinhos, que
também amo de paixão. Mas ter um marido e um filho é algo indescritível.
Realmente a gente muda os valores, os pensamentos, toma decisões mais
acertadas. Agora me sinto completa”. Afirmou a atriz e bailarina que no fim do
ano se forma em artes cênicas pela UFS.
Texto e imagens reproduzidos do blog:
pedrocarregosa.wordpress.com