Fotos: André Moreira
Publicado originalmente no site Jornal da Cidade.Net, em
27/08/2012.
Engenhos que teimam em contar histórias.
Construções imponentes encravadas em Santa Luzia contam a
história do ciclo da cana-de-açúcar.
O ciclo da cana-de-açúcar teve grande importância para a
economia sergipana e hoje parte desta história sobrevive nas edificações
remanescentes no município de Santa Luzia do Itanhi. Reconhecendo essa
importância, percorremos o município em busca de alguns de seus antigos
engenhos que ainda nos contam histórias de outrora.
O primeiro deles encontramos à margem direita da rodovia que
corta Santa Luzia, em direção à Linha Verde. O Engenho Castelo, atual Fazenda
Castelo, construído no século XIX, chama atenção pela sua imponência e beleza.
Some-se a isso suas duas chaminés, sendo uma delas de dimensões monumentais.
Embora a fazenda se imponha ao visitante como de atividade pecuária, seu
conjunto em perfeito estado de conservação, inclusive em seu interior, é um
exemplar do que foram as grandes propriedades produtoras de açúcar em Sergipe.
Seguindo pelo mesmo caminho chegamos ao Engenho São Félix,
tombado pelo Estado, em janeiro de 1984, uma das maiores e mais preservadas
construções do gênero em Sergipe. Além do tamanho e da conservação, chama a
atenção à facilidade de acesso e a receptividade dos encarregados de cuidar da
propriedade, que abriram as portas da casa-grande para que pudéssemos apreciar
seu interior. Nele, a sensação é a de que voltamos no tempo e nos tornamos
personagens de uma história construída ao longo dos quase quatro séculos de
existência do São Félix.
A nossa busca continuou e desta vez embrenhamos pelas
estradas de piçarra da zona rural de Santa Luzia. Distando apenas dois
quilômetros da rodovia, no caminho entre o Castelo e o São Félix, está o
Engenho Antas. Segundo Loureiro (2005, p.49) no passado “o conjunto
arquitetônico era composto pelo engenho, uma capela e três casas”. Lá chegando,
vimos a grande chaminé e ao lado uma edificação em evidente processo de
arruinamento, mas com uma beleza perceptível em detalhes. Dos itens principais
ainda resistem a casa-grande e a capela erguida sobre uma pequena colina. Uma
primeira observação, ainda que a distância denota que interferências descaracterizaram
as edificações, mas, ainda assim, o que restou do conjunto e a paisagem
bucólica onde ele se encontra, estão impregnados por uma atmosfera que nos
remete às memórias daquele lugar.
A decepção desse roteiro ficou por conta do Engenho Cedro. À
sua casa-grande, Loureiro (2005, p.46) se refere como “uma relíquia sergipana
de um dos raros exemplares da arquitetura brasileira de casa-grande associada
ao engenho, integrados num único edifício”.
Certamente a casa do Cedro é, de todas por nós visitadas, a
que guardava com mais fidelidade suas características originais. Atualmente ela
está em ruínas, pois foi demolida por estar ameaçando desabar. Fato semelhante
ocorreu alguns anos antes com a chaminé do engenho, que também foi derrubada
antes que ruísse. Restou da casa-grande do Cedro, parte da sua história sob
escombros. Contudo, se houver algo que possa ser feito, remanescem do conjunto
as casas mais modestas no entorno da construção principal, que abrigam
trabalhadores da atual fazenda, o curral e os restos do maquinário do engenho
anexo a casa.
Pessoas que habitaram e fatos que ocorreram nos, ou ligados
aos engenhos sergipanos, podem ser conhecidos por meio da leitura de obras de
pesquisadores da História de Sergipe. Maria Thétis Nunes, Orlando Dantas,
Armindo Guaraná, Clodomir Silva, Fernando Soutelo, Terezinha Oliva, dentre
outros que deixamos de citar, não pela injustiça do esquecimento, mas pelos
limites deste espaço. Como ainda temos histórias para contar, vamos retornar ao
nosso ponto de partida, para que possamos explorar melhor o potencial
arquitetônico do Vale do Cotinguiba. Vamos a Maruim, Riachuelo, Divina Pastora
e Laranjeiras, encerrando nestes municípios o nosso roteiro de turismo
histórico de Sergipe.
* Colaboração: Danielle Virginie Santos Guimarães- Mestre em
Educação e professora substituta do Núcleo de Teatro da UFS.
Texto e imagens reproduzidas do site: jornaldacidade.net
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