Bosco Scaffs
Bosco Scaffs viveu apenas 40 anos mas teve trrajetória marcante.
O grupo check up, criado por Bosco Scaffs,
fazia laboratórios em vários espaços.
Os atores bailarinos de Bosco Scaffs foram até
a manguezais para fazer laboratórios.
Bosco Scaffs em " O dia que sergipe se tornou independente"
no Teatro Popular de Aracaju.
Publicado originalmente no blog Pedro Carregosa, em
14.01.2011.
Bosco Scaffs, Uma trajetória de talento!
Por Tetê Nahas*
Falar de Bosco Scaffs é como falar de mim mesma. Foi este
homem, este jovem na época, que me acolheu menina como uma filha, e muito me
ensinou sobre dança, teatro e música. Sou de origem humilde, mas graças a ele
consegui vencer na vida fazendo arte.
Ele soube extrair o melhor de mim e me estimulou dando
respostas. É o meu mestre. Fui testemunha dos ensinamentos de Bosco Scaffs nos
anos 70 até 1984, quando ele voltou ao Rio de Janeiro. Comecei a trabalhar com
ele ainda pequena, por volta dos seis ou sete anos de idade, e isso durou até
os meus 18 anos. Nesse tempo, participei de montagens, mas não atuei em todas,
por causa da idade, porém aprendi com ele muito do que sei como atriz,
bailarina e cantora – artista. Além desse testemunho, fiz entrevistas com o
diretor Cícero Alberto, o os atores Izete Oliveira, Fernando Petrônio e Antônio
Vieira, pessoas que trabalharam com Bosco Scaffs e que me ajudaram na
construção dessa memória. Também contatei a sua irmã Maria Helena Mendonça e a
sobrinha, Juliana Mendonça que me passaram informações importantes.
Por não conseguir classificar a obra de Bosco Scaffs, há uma
tendência nossa, herdeiros dele, de afirmar que ele possuía uma linguagem
própria. Temos a certeza do vanguardismo dele diante de tudo o que foi feito. O
teatro de Sergipe nos anos 70 seguia uma tendência ao clássico, aos cenários
grandiosos e textos de autores consagrados como por exemplo, Gean Francesco
Guarnieri e Maria Clara Machado.
O grupo Imbuaça trouxe a proposta inovadora de fazer teatro
na rua em versos de cordel e mudou a história do teatro ergipano, passando a
influenciar outros grupos. Por sua vez Bosco Scaffs revolucionou o teatro
sergipano, ao discutir os problemas sociais, sem seguir as regras daquele
momento. Ele criava as próprias regras. Apesar de chocar, ele não tinha essa
intenção. Na verdade Bosco Scaffs queria chamar a atenção. Ele gostava de
discutir mostrando novas formas de pensar os temas e os assuntos.Tanto o
Imbuaça quanto Bosco Scaffs estiveram à frente do seu tempo e mudaram as
tendências pré-estabelecidas. Por isso ambos podem ser considerados de
vanguarda em Sergipe.
Bosco Scaffs é o nome artístico de João Bosco de Mendonça
que nasceu na cidade de Aracaju, em 25 de março de 1950.Segundo sua irmã, Maria
Helena Mendonça e a sobrinha Juliana Mendonça ele foi o oitavo em uma família
de 10 filhos. O pai era o açougueiro, Pedro Francisco de Mendonça, e a mãe, a
dona de casa Helenita Ribeiro de Mendonça. A irmã conta que desde pequeno o
Bosquinho, como era chamado pela família, demonstrou tendências artísticas. Ele
foi criado no Bairro São José, próximo ao centro da Capital e assim que
terminou o Ensino Médio foi estudar na Bahia, onde freqüentou a Escola de Belas
Artes da UFBA. Em 1979, começou a lecionar dança e teatro no Colégio Estadual
Atheneu Sergipense – um dos principais colégios públicos do Estado, responsável
pelo ensino considerado de melhor qualidade na época e responsável também por
formar importantes intelectuais sergipanos
Em suas produções Bosco Scaffs sempre se destacou por sua
irreverência e formidável dom artístico, criando diversos textos para o teatro
como ‘Assinax’, ‘As Aventuras de Jujuba’, ‘Teteca’ e texto em Cordel, entre
outros. Possuía uma postura na arte de ensinar, um brilhante ofício de
representação que encantava os alunos, colocando-os no caminho da descoberta e
do desafio estimulante.
Segundo informações do diretor Cícero Alberto ele criou o
grupo Check up no SESC – Serviço Social do Comércio e o dirigiu durante algum
tempo.
Entre os espetáculos de Bosco no Grupo Check Up, ‘INRI – O
ato da iluminação’ e ‘Assinax’ foram os que causaram maior repercussão, nos
anos de 1982 e 1983. Naquela época havia censura e os espetáculos tinham que
ser mostrados aos fiscais, então, nós fazíamos um ensaio para a censura, mas no
momento que o espetáculo estreava, colocávamos mais coisas que não tínhamos
mostrado. Eu tinha 15 anos, e muitas vezes precisava me esconder para que os
censores não vissem que uma adolescente estava participando de peças tão
ousadas. Cícero Alberto comenta as peças:
Suas peças ‘INRI – O ato da iluminação’, ‘Original até certo
ponto’ e ‘Assinax’, geralmente eram uma colagem de quadros que ele alinhavava e
conseguia dar uma unidade sem que fosse necessária a preocupação em estabelecer
os princípios de começo, meio e fim.
Ainda de acordo com a entrevista de Cícero Alberto, já
citada, concedida à TV Sergipe, na peça ‘INRI – O ato da Iluminação’, Bosco
Scaffs contava a vida de Jesus Cristo à própria maneira. Jesus Cristo aparecia
em uma mesa de bar, jogava sinuca e dançava com Maria Madalena. A Maria
Madalena, então, se transformava em uma Pombagira. Depois disso, Bosco Scaffs
colocava os atores interpretando todos os Orixás em meio a Jesus Cristo. E no
momento da crucificação, Jesus Cristo desiste da cruz e fica em dúvida se vai
para a câmara de gás ou para a forca. E finalmente Jesus Cristo se envolve em
diversos novelos e morre.
Na concepção desse espetáculo Bosco Scaffs recorreu ao Novo
Testamento, que descreve Maria Madalena como uma discípula proeminente de
Cristo. Ela é uma das mulheres descritas como acompanhando Jesus na sua missão
terrena depois de Ele ter expulsado dela sete demônios. (Mc.16:9, Lc.8:1-3).
Já a Pombagira, é descrita como uma entidade espiritual que assiste
apenas a trabalhos de Kimbanda, (o que nas versões européias da bruxaria,
corresponde à magia negra), ao passo que muitos afirmam que Pombagira assiste
tanto á linha Umbanda (que no esoterismo europeu corresponde à magia branca),
como Kimbanda.
Izete Oliveira na mesma entrevista, afirma que ‘Assinax’ é
uma missa, e que ele resolveu nesse espetáculo contar a missa em várias
línguas, várias regiões, áreas e países. Eu me lembro que para ter acesso a
esse espetáculo as pessoas eram obrigadas a passar por debaixo de uma escada e
muitos desistiam de assistir por causa disso. Izete Oliveira lembra ainda que
depois que as pessoas entravam no hall do Teatro Atheneu eram obrigadas a
passar por cima de uma pessoa que estava deitada. Cícero Alberto diz que no hall
do teatro vários templos, católicos, budistas e espiritualistas eram montados e
a peça já começava a partir do momento que o público entrava. Tinha também um
enfermeiro tratando o público como se ali fosse um grande hospício. De fato,
Bosco Scaffs sabia como incomodar as pessoas e trazer a tona assuntos que não
se queriam discutir. E o espetáculo era resultado daquilo que ensaiávamos. Ele
não fazia oficinas, mas os ensaios da peça, já eram verdadeiras aulas.
Em 1984, com o fim do Check Up, ele passou nova temporada no
Rio de Janeiro. Segundo entrevista, com seu amigo Antônio Vieira, Bosco foi
para o Rio de Janeiro estudar na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins
Pena. Disse Antonio Vieira:
Na ocasião teve aulas com o ator Carlos Vereza, dentre outros,
e foi colega de alguns conhecidos atores como por exemplo, Kadu Moliterno.
Conheceu e conviveu com atores do grupo do teatro de vanguarda ‘Asdrubal trouxe
o trombone’ que na época iniciava a carreira com a peça ‘Trate-me Leão’ no
Teatro Rival, que era o QG dos jovens artistas da época.
No retorno a Aracaju criou o Teatro Popular de Aracaju
(TPA), vinculado à Prefeitura Municipal, em uma época de muita luminosidade do
teatro sergipano. Ele foi convidado por Lânia Duarte, então Secretária
Municipal de Cultura. Em entrevista para esse trabalho, Izete Oliveira
descreve:
O TPA – surgiu em 1987, quando Lânia Duarte era Secretária
de Cultura do Município (atual FUNCAJU), através do projeto da divisão de artes
cênicas cuja diretora Izete Souza, disse que o teatro estava ligado ao
departamento de difusão e intercâmbio cultural. O principal objetivo era o
teatro de rua, com o objetivo de levar um espetáculo “não só se distração, mas
de conscientização, abordando temas atuais e de interesse geral”. O grupo contava
com a participação de 19 integrantes, a maioria funcionários da secretaria. O
TPA não foi criado
para competir com outros grupos, e sim para dar oportunidade
aos artistas que trabalhavam no órgão, e que normalmente, (na maioria das
vezes), deixavam a vida artística de lado por falta de tempo. O TPA foi uma
alternativa para os artistas que trabalhavam na secretaria não perderem seu
vínculo com a arte. A direção artística do grupo ficou a cargo de Bosco Scaffs,
ator, diretor e autor. Todos os trabalhos apresentados pelo grupo foram criação
do referido diretor.
Além de diretor, era ator, bailarino, compositor, escritor e
poeta. Ainda segundo seu amigo Antonio Vieira:
Bosco Scaffs estudou astrologia por conta própria,
tornando-se um astrólogo autodidata. Guardava diversos compêndios sobre
astrologia e por algum tempo teve como hobby fazer mapa astral para os amigos.
E acertava sempre. Era mais um dom que ele tinha. Era espiritualista,
acreditava em reencarnação e na existência de outras dimensões. Foi durante
longo tempo simpatizante do Espiritismo Kardecista, sem no entanto, tornar-se
seguidor do credo. Tinha uma religiosidade própria.
Faleceu com complicações decorrentes do vírus HIV em 02 de
Janeiro de 1991. O TPA foi o último trabalho do diretor.
Bosco Scaffs foi homenageado pela Câmara de Vereadores de
Aracaju, que atribuiu seu nome a antiga Rua 6, do Loteamento Parque Beira-Rio,
através da Lei 2329/95, sancionada pelo então Prefeito José de Almeida Lima em
1995.
Também foi agraciado pelo SESC – Serviço Social do Comércio,
que em 1998, instituiu o troféu Bosco Scaffs, para premiar os melhores do
teatro naquele ano.
No Memorial do Teatro Sergipano, localizado no Complexo
Lourival Batista existe uma placa em sua homenagem, de onde foram extraídas parte
das informações acima.
(* Atriz, bailarina, diretora, coreógrafa e professora de
teatro e dança).
Texto e imagens reproduzidos do blog:
pedrocarregosa.wordpress.com
Boa tarde!
ResponderExcluirNos anos setenta na COMUNIDADE BANCÁRIA PAULOVI na Rua Tirol, Freguesia de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, cheguei a conviver com a pessoa dele e cheguei também a trabalhar em algumas curtas peças não só no Salão de Festas do Condomínio como também Teatro de Rua, mas só que eu não dei continuidade e, eu voltando a morar no Bairro do Flamengo também aqui no Rio de Janeiro, perdemos contatos. Lamentável saber que essa grande figura que foi em vida umas das mais maravilhosas pessoas que eu conheci, não faz mais parte de nosso plano de vida. Eu e um amigo de nome João Pedro que na época, anos setenta, era conhecido pelo epíteto de Mineiro após bem uns quarenta e cinco anos sem nos vermos, nos reencontramos aqui pela internet através de uma amiga nossa de nome Ângela Camões e em nossa conversa citamos o Scaff e daí que hoje o Mineiro perguntou-me se eu sabia do paradeiro dele e fazendo uma varredura na Internet, cheguei até aqui e estou muito feliz em saber o quanto ele foi importante na vida de muitas pessoas inclusive a sua que começou ainda menininha a acompanhá-lo. Fique na paz e longa vida para você. Eu Guerreiro. E-mail: eddyrguerreiro@gmail.com – Facebook – Eddyr o Guerreiro.