Foto: Noel Lino
Publicado originalmente no site f5news, em 08/04/2012.
Artesanato molda Santana do São Francisco/SE.
Cerca de 70% da população sobrevive dos trabalhos em
cerâmica.
Por Mirella Mattos
Quem vê a grande quantidade de placas indicando a confecção
de artigos de cerâmica na Rua São José, na cidade de Santana do São Francisco,
até se admira com tantas opções. Entretanto, o logradouro não é o único reduto
do artesanato local, uma vez, essa atividade se constituiu na maior fonte de
renda do município.
Conforme dados fornecidos pela secretária de Turismo, Paloma
Lima, cerca de 70% da população tira seu sustento da cerâmica e com maestria.
Prova disso é que todos os artesãos visitados pela equipe de reportagem do
portal F5 News quase não dispunham de peças em seus ateliês para a
comercialização, uma vez que já estavam destinadas às encomendas, tanto para
lojas de artesanato como para atravessadores.
Ao mesmo tempo em que a venda quase que total dos artigos é
vista como algo positivo, demonstra também as perdas sofridas pelos artesãos,
que acabam vendendo suas peças a preços incompatíveis com o trabalho, deixando
grande parte dos lucros para os intermediários.
Uma solução visada pelo prefeito do município, Ricardo
Roriz, a fim de diminuir as desigualdades e a desvalorização dos trabalhos, é
promover a profissionalização da atividade.
As barreiras atribuídas pelo próprio sistema parecem nada
significar para os profissionais que seguem a carreira em um misto de vocação e
necessidade. A trajetória da maioria deles é similar, começando a carreira em
ateliês de outros parentes através da função de ‘candango’, uma espécie de
aprendiz, até estarem preparados para gerenciar seus próprios negócios.
Foi assim que Wilson de Carvalho, mais conhecido na região
como Capilé, começou a sua trajetória. Hoje um dos artesãos mais requisitados
da área, é um dos poucos a fazer peças únicas, exclusivas, como também os
presépios em tamanho natural. “Comecei como candango dos meus primos e hoje
faço peças melhores do que as deles”, diz.
Questionado sobre os motivos que o levaram a se destacar na
arte, Capilé revela sempre ter tido essa busca. “O que me faz me destacar dos
outros artesãos é a minha determinação, minha procura por algo a mais. Todo
mundo aqui na comunidade se especializou em vasos e moringas, e tudo a um valor
irrisório. Eu vi na necessidade razão para criar algo diferente”, esclarece e
acrescenta que um presépio completo, a depender do tamanho e quantidade de
peças, pode custar até R$ 7 mil.
Cangaceiros
Outro que passou a investir em um nicho diferente do
experimentado pela grande fatia de artesãos foi José Soares de Melo, o
Juquinha. Atualmente ele se dedica quase que exclusivamente ao feitio de
cangaceiros. “Faço outras peças, mas a minha especialidade mesmo é o
cangaceiro. Fabricamos ao dia cerca de 20 dessas unidades”, declara.
Tradição
Exceção à regra, seu Nonô, que há 60 anos atua como artesão,
entrou no ramo já adulto e aprendeu o processo por observação. “Quanto tinha 21
anos me interessei por cerâmica depois de ver um vizinho meu fazendo”, conta.
O idoso afirma já ter mantido a meta de fazer 200 moringas
por dia durante anos, antes mesmo do advento do motor elétrico nos ateliês. “Já
fiz mais de 200 moringas por dia e vendia muito. Na época eu empurrava a roda
com o pé, hoje com o motor é mais fácil”, explica e garante que mesmo aos 81
anos tem disposição de sobra para trabalhar.
“Há pouco tempo eu caí tentando colocar umas peças no forno
e quebrei o fêmur. Fiquei mais de um mês na cama agoniado sem poder levantar e
agoniado por não poder trabalhar. Enquanto tiver condições vou continuar
trabalhando, não pretendo parar nunca”, finaliza.
Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br
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