Osmário Santos - Memórias de Sergipe/Jornal da Cidade, em
12/12/2011.
Lourão, o seresteiro de Aracaju.
Com o timbre de voz semelhante a Nelson Gonçalves, Lourão
faz parte da história da noite de Aracaju, desde os primeiros passos como canto
de cabaré até o momento atual, onde continua a cantar em bares da orla da praia
de Atalaia.
Por Osmário Santos.
Luiz Costa Ouro nasceu em 15 de julho de 1937, na cidade de
Aracaju/SE. Seus pais: João Alves da Costa Ouro e Palmira da Costa Ouro. O pai
trabalhou como representante comercial por muitos anos e dele o filho diz que
herdou a honestidade e a coerência com os amigos. Da sua mãe, que continua com
toda lucidez a passar lições de vida, herdou o seu lado meigo e de amor à
família.
Os estudos foram iniciados no Colégio Jackson de Figueiredo.
Um tempo memorável que resultou numa sólida base de sua formação e a ter disciplina
em todas as suas ações. Fez o ginásio no Colégio Atheneu e por necessitar
trabalhar de dia foi forçado a fazer o curso técnico de contabilidade na Escola
Técnica Conselheiro Orlando. “Uma profissão que nunca exerci”.
Depois de passar um tempo longe dos livros, ingressa na
Universidade Federal de Sergipe, no curso de Direito, no ano de 1963, saindo
bacharel em 1968.
O início da vida de profissional acontece ainda rapaz, na
agência de Viação Aérea Cruzeiro do Sul, por necessidade de trabalhar. Um
emprego conquistado pelo seu pai através do amigo Nelson Mascarenhas, agente em
Sergipe da Cruzeiro do Sul. Com o primeiro emprego um período curto, em vista
de melhor proposta salarial pela agência da Varig. Considera esse tempo
divertido por desfrutar de período em que havia generosidade das companhias
aéreas em seus serviços de bordo. Como sai do balcão da empresa instalada no
centro comercial de Aracaju para trabalhar como despachante no aeroporto, era
compensado pelos comissários de bordo. “Como havia muita fartura nos aviões,
recebia boas refeições, revistas, bebidas, tudo a que o passageiro tinha
direito”.
Saindo da Varig por conseguir aprovação em concurso, passa a
trabalhar como faturista na empresa Esso. Com mais um tempo, arrenda o Hotel
Sul Americano, que era localizado na praça Fausto Cardoso, na esquina com a Av.
Ivo do Prado, hoje Assembleia Legislativa. Na vida de hoteleiro, o tempo de dez
anos. Dessa empreitada conta que foi um período que aproveitou bastante pelo
permanente contato com os hóspedes. “Foi um contato gostoso, numa época em que
em Aracaju só existia os seguintes hotéis: Sul Americano, Hotel de Rubina,
Hotel Avenida e Hotel Marozzi”.
“Na época em que a Petrobras veio para Aracaju fiz boas
amizades, não só com os engenheiros, mas com furadores de poços que se
hospedavam no Sul Americano. Foi um tempo divertido, pois escutava diariamente
muitas conversas. O hotel tinha capacidade para 40 pessoas e chegava a ser
disputado pela sua localização. Não posso esquecer de uma figura que morou por lá
por muito tempo e que gerou uma saudável convivência, onde aprendi muito com
ele. Era o intelectual Pires Wynne, que ocupava o quarto de número 1 do hotel.
Tinha um detalhe: ele não queria que ninguém limpasse o seu quarto. Tive que
fazer uma outra chave e com isso a faxineira conseguia fazer a limpeza do
quarto. Era uma fantástica figura. Imagine que ele foi comigo até um alfaiate
depois de ganhar um corte de tropical inglês e exigiu que o terno fosse feito
com o tecido pelo avesso. Ele era um amante dos discos voadores e dizia sempre
que já tinha visto em Aracaju alguns discos voadores. Era um boêmio inveterado,
frequentador assíduo dos cabarés da cidade e só andava de paletó e gravata.
Surgindo oportunidade de concurso para a Telergipe, já com o
diploma de bacharel em Direito, faz o concurso, consegue aprovação e entra na
história da empresa por ter sido o primeiro funcionário registrado. Na
Telergipe, uma história que resultou em 20 anos de trabalho. Só saiu da empresa
por aposentadoria, em 1993. Atuou como chefe da Assessoria Jurídica durante
todo o tempo em que trabalhou na empresa de telefonia. “Deixei boas amizades”.
Com a música, uma história encantada iniciada no tempo em
que era menino. “Cantava em casa escondido atrás de um piano. Me lembro bem da
música: ‘Senhor da Floresta’”. Depois de cantar no banheiro da casa de seus
pais em demorados banhos, toma coragem e vai até o programa de calouros da
rádio Difusora de Sergipe. Primeiramente, uma tremedeira toma-lhe conta.
Depois, passa a ser senhor absoluto de programas de auditório das emissoras de
rádio de Aracaju.
Chegando aos 17 anos de idade, descobre a noite de Aracaju
na condição de cantor. “Era o tempo dos cabarés Miramar e o de Tefinha. Os dois
melhores daquele tempo. Depois fui cantar no Cacique Chá. Um tempo em que os
frequentadores da noite eram pessoas importantes, a exemplo do professor
Napoleão. Também tinha comerciantes destacados e de outras personalidades. Me
lembro de Campos do Cartório, professor Moura, de Economia, e do Dr. José Campos
de Souza. Era a nata da sociedade sergipana da época. Eles eram os mais velhos
e a gente no tempo de rapaz. Havia, assim, muito respeito. O cantor Nelson
Gonçalves e a cantora Ângela Maria estavam no auge. A música que mais me pediam
para cantar era ‘O Meu Vício é Você’, de Nelson Gonçalves”. Com Milé, Carlos
Rubens, Bisestenino, Saulo e Sobral, participa de um conjunto musical na
condição de vocalista. “A gente tocava nos clubes, em casas de família, em
festas de aniversário”.
Lourão cantou por alguns anos no restaurante e casa noturna
Chapéu de Couro e Tropeiro. “Aí já ganhava cachê. Não era muito, o que se paga
em Aracaju”. (risos)
Não consegue se afastar da noite de Aracaju e até hoje canta
na orla de Atalaia. “Domingo passado cantei no Travessia. Canto em qualquer
lugar e quando chego o pessoal pede que eu cante e assim faço”.
Em 1986, cantou com Nelson Gonçalves em diversas cidades do
interior sergipano e até na Casa de Espetáculos Augustu’s. “Na época em que
iniciei na música, ouvia muito Nelson Gonçalves e o meu timbre é parecido com o
dele. Sempre me pedem que eu cante músicas de Nelson, por mais que eu tente
evitar”. Por duas vezes representou Sergipe na “Voz de Ouro ABC”, concurso de
nível nacional realizado em São Paulo. “Havia um concurso e eu fui para São
Paulo em 1958 e em 1962”.
Sempre foi convidado para fazer serestas para as namoradas
de Aracaju. “Fernando Leite vinha me pegar em casa para que eu fosse cantar
para Violeta, namorada dele que depois chegou a casar. Cantava a música
‘Inamorata’, uma versão cantada por Alcides Gerardi”.
De suas famosas serestas, o lance mais interessante
aconteceu quando, a convite de Cobrinha Franco, foi cantar para a namorada
dele. “O pai dela era Portinho do Banco do Brasil e ela chamava-se Maria. Nessa
seresta me encostei ao lado do janelão e comecei a cantar uma música chamada
‘Maria’.
Quando menos esperei, o janelão foi aberto e apareceu o pai da moça.
Tomei um grande susto.
Porém, logo percebi que ele estava gostando da seresta
mais que a própria filha e tive a certeza disso quando ele mandou bebida para o
seresteiro (risos). Tudo terminou bem”.
Tem boas recordações do passado, mas diz que não tem muitas
saudades por continuar a cantar até hoje. Reconhece que não pode viver sem
música e tem certeza que nasceu para ser cantor. Não chegou a viver da música
por achar que nasceu em Aracaju. “Na época em que a gente andava de violão, era
tido como marginal, o que não ocorre hoje. Naquela época havia discriminação”.
Marcou presença no futebol amador sergipano, tendo jogado no
time de futebol do Cotinguiba na posição de zagueiro central. Jogou futebol de
salão pelos times da Associação Atlética e pelo time do Iate Clube. Também jogo
basquete.
Publicado em 28 de setembro de 1997.
Faleceu em 19/11/2011.
Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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