Publicado originalmente no Perfil do Fadebook de Amorosa
Sergipana, 30 de maio de 2020
Adeus, minha querida amiga!
Quando Marluce, uma das melhores cantoras de forró que eu
conheci, decidiu morar em Sergipe, ela e sua família foram meus hóspedes por um
tempo, tempo suficiente para eu ser chamada por ela, como filha. Era assim que
ela me considerava. Na casa onde os recebi, lembro de Zé Rozeno com suas prosas
e dos seus filhos, todos maravilhosos. Um deles, era o que eu mais queria bem -
partiu muito jovem.
Quando este filho partiu, eu senti que um pedaço da minha
amiga havia partido também. Ali, eu tive a impressão que a vida tinha levado
dela, um sabor de alegria que seu filho lhe dava em cada abraço, cada
declaração de amor - "mãe, eu te amo! ", "Amorosa, minha mãe é
tudo pra mim ", assim ele dizia.
Ontem a noite, durante a realização do festival DendCasa,
várias coisas aconteceram ao mesmo tempo - meu celular não carregava, minha
fronte doía, eu não estava com meu físico bem porque estou a dormir pouco há
várias dias, para ver este projeto coletivo que é o DendCasa, que eu chamo em
meu interior de "Projeto do Amor" e o amor vem de Deus, enfim, o
universo queria que eu me recolhesse, e não gosto de desobedecer quando fico
assim porque considero muito os sinais - deitei e esperei a bondade do sono
cuidar da minha recomposição.
Fui despertada por minha filha Amora, me avisando de um
recado que "Marluce havia partido." Ouvir esta frase me fez ver as
mãos de Deus, misericordioso, acolhendo minha amiga.
Nesta quarentena, quebrei o protocolo e meu amor por ela foi
maior - fui visitá-la de máscara porque O Espírito me guiou para isto. Meu
último encontro com Marluce foi massageando suas pernas e ela dizendo "Foi
Deus quem mandou você aqui!", depois oramos todos de mãos dadas. Em
seguida, ela levantou, sempre com ajuda de alguém, sentou no sofá da sala e nos
despedimos. Embora tenha retornado até lá, novamente na semana retrasada,
cheguei apenas até a porta da sua casa para cumprir uma missão secreta. Lembro
de ter ido até a casa de uma vizinha dela, cuidadora, e lhe pedi para que fosse
cuidar da minha amiga, e assim aconteceu.
Por alguma razão superior ao meu saber, a lembrança que eu
teria que guardar dela, foi nosso último encontro - massageando seus pés e
pernas, e orando a Deus por sua jornada e aquele momento difícil que ela estava
vivendo - pedi ao Senhor por ela. Vendo o estado que minha amiga atravessou
durante um longo tempo, eu afirmo que a bondade de Deus a alcançou. Se havia
alguma dívida da carne, ela foi paga na carne, e seu espírito deixou a terra sem
dever nada para a carne. Os que não são espirituais não entenderão o que digo
mas, os que conhecem a Palavra, sim! Eu creio na salvação de Marluce. Eu ouvi
ela falar de Jesus com uma segurança tão grande, dizendo-me que Jesus estava
com ela, que minha alma se preocupa mais com quem fica, do que com ela que
cumpriu sua trajetória, tendo que passar pelo vale de lágrimas para ganhar a
coroa da vida.
O nosso Sergipe, o nordeste e o Brasil - que não conhece
seus verdadeiros artistas, perde uma das melhores intérpretes que eu conheci,
dona de uma voz rara, que encantava com seu canto, sempre ao lado do seu
esposo, Zé Rozeno. Viver de música neste país requer uma consciência profunda
que está numa missão. Marluce foi uma missionária da música.
Quando ganhei o Festival Canta Nordeste, no ano seguinte,
fui contratada para cantar forró em pleno carnaval de Salvador. Oito horas
cantando em um trio elétrico, sem "ôôô", mas na pegada forte dos
ritmos nordestinos, não é fácil. Eu a levei comigo, e ela me ajudou a cumprir
aqueles três dias de muito forró, na contramão do modismo da época, resistindo
como resistente é, o forró.
Não se pode falar de forró sem falar de Marluce. "Quero
ver meu bem, pra lá e pra cá, quero ver meu bem na rede se balançar"...em
seguida, a sanfona de Zé fazendo aquela sequência de notas que acordava quem
dormisse no salão. Um clássico que marcou sua carreira.
Amiga Marluce, sei que não há entregador de cartas para quem
dorme até que Jesus volte à terra para separar o que está escrito mas, tenho esperança
que no dia da salvação dos que crêem, você esteja entre os eleitos. Que todo
sofrimento que você teve que passar, seja sua coroa de vitórias espirituais em
Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador dos homens que a Ele se submete. Obrigada
por sua amizade. Que Deus console sua família e dê forças para enfrentar a dor
da sua ausência. Se combateu o bom combate, se guardou a fé, se está em Cristo,
estando vivo ou morto, a salvação lhe alcançou. Louvado seja O Nome do Senhor!
Adeus, amiga! Adeus.
Aracaju, 30 de Maio de 2020
Antônia Amorosa
06h da manhã.
Texto e imagem reproduzidos do Perfil no Fadebook de Amorosa
Sergipana
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