segunda-feira, 26 de abril de 2021

Correio de Sergipe ENTREVISTA Ester Fraga Vilas-Bôas

Legenda da foto: Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento  - Crédito da foto: Ascom/UNIT

Publicado originalmente no site do jornal CORREIO DE SERGIPE, em 24 de abril de 2021

“Sei da minha responsabilidade”, afirma nova imortal da ASL

Por Wilma Anjos

Nesta segunda-feira (26), às 15, a Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento assumirá, em ambiente virtual, a cadeira de número 22 da Academia Sergipana de Letras. Professora reconhecida no meio universitário, escritora e pesquisadora, a mais nova imortal do estado foi eleita com 32 votos para assumir a vacância deixada pelo acadêmico e ex-governador de Sergipe, João Alves Filho, morto em novembro de 2020. Professora Ester falou de sua trajetória até chegar a esta conquista. Confira a conversa:

Correio de Sergipe: A senhora declarou que ser imortal é um sonho realizado. Já se sente com dever cumprido ou tem muito a produzir ainda?

Ester Vilas-Bôas Carvalho: Não compreendo como dever cumprido, mas como puro prazer! Ingressar na Academia Sergipana de Letras era uma aspiração que eu nutria desde que comecei a publicar os meus livros. E agora que adentro a esta instituição, na vaga do imortal João Alves Filho, sei de minha responsabilidade em dar continuidade à produção do conhecimento e da cultura para Sergipe e para o Brasil.

CS: A iniciativa de se candidatar foi sua?

EVBC: Sim. Manifestei este sonho à amiga Maria Luzia da Costa Nascimento, escritora e membro da Academia Sergipana de Letras. Recebi dela forte estímulo, que me levou a decidir pela candidatura quando tomei conhecimento da vacância da Cadeira 22, até então ocupada pelo imortal João Alves Filho.

CS: Por razões óbvias da pandemia, sua posse será em ambiente virtual, mas parece nem isso ofuscou sua alegria, não é mesmo?

EVBC: De maneira nenhuma! Estou muito feliz e grata a Deus e a todos os meus familiares e amigos em poder compartilhar com eles esse momento tão especial em minha vida!

Este novo mundo que estamos construindo tem nos mostrado que o espaço virtual, remoto, digital, é tão concreto e real, quanto o espaço que aprendemos a denominar de físico. Temos aprendido a conviver, dar e receber carinho através das telas, dos smartphones.

CS: Sua trajetória acadêmica foi prontamente reconhecida pelos 32 votos que a elegeram para a sociedade. Já imaginava que seu nome tinha tanta projeção assim na Academia?

EVBC: Comecei a fazer contato com as acadêmicas e os acadêmicos que integram essa Casa de Cultura. E fui surpreendida com a boa receptividade que encontrei, com o ambiente favorável ao ingresso de mais uma mulher na Academia. E, com o reconhecimento recebido pela minha obra, conferido pelos nomes mais importantes das letras e da vida intelectual de Sergipe que tem assento na ASL.

Com a minha eleição, e a expressiva votação que recebi, tive a honra de perceber a quantidade de amigos que torceram pelo meu ingresso. Agradeço, portanto, a todos os acadêmicos que acreditaram na contribuição que poderei dar a esta instituição e me elevaram à imortalidade. E dirijo um agradecimento especial ao imortal e Presidente da Academia Sergipana de Letras, José Anderson Nascimento e ao imortal Jorge Carvalho do Nascimento.

CS: Entre as obras que já publicou, existe alguma que o resultado mais a satisfaça?

EVBC: Cada livro que publiquei resulta de um processo de investigação e de produção do conhecimento científico. E eles têm um sabor diferente, difícil de escolher um deles.

Dentre eles, posso destacar A Escola Americana: origens da educação protestante em Sergipe (1886-1913), resultado de minha Dissertação de Mestrado em Educação defendida em 2000, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Educar, Curar, Salvar: uma ilha de civilização no Brasil Tropical, produção de meu Doutorado em Educação, defendido no ano de 2005, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fontes para a História da Educação: documentos da Missão Presbiteriana dos Estados Unidos no Brasil, publicado no ano de 2008. Gosto muito também de duas publicações que fiz com meu parceiro de vida e de produção acadêmica, o imortal Jorge Carvalho do Nascimento – Os Camaristas: contribuição a História da Câmara Municipal de Aracaju (1855-2012); e, Fontes para a História do Poder Legislativo da Cidade de Aracaju.

CS: Entre gestão e pesquisa, em qual área de atuação a senhora se sente mais confortável e por quê?

EVBC: Sinto-me confortável nas duas, pois o desafio é o meu combustível. Cada área tem suas dificuldades e sabores diferentes.

CS: Seu legado para Sergipe é a implementação de 3 mestrados e 3 doutorados novos na Universidade Tiradentes. Fale um pouco sobre.

EVBC: Depois que eu retornei do Doutorado em Educação (PUC/SP), em 2005, a Universidade Tiradentes deu-me oportunidade como docente e como pesquisadora. Em 2009, abriu espaço para que eu fosse gestora, permitindo que eu coordenasse a implantação do seu Mestrado em Educação. Depois, do seu Doutorado.

Em 2011, fez de mim a sua Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão. E, na Pró-Reitoria, tive a oportunidade de, junto aos colegas, liderar a implantação dos mestrados de Educação, Biotecnologia Industrial e Direitos Humanos, e os doutorados em Educação, Saúde e Ambiente e Biotecnologia Industrial. Durante minha gestão, também fui responsável pela Coordenação de Internacionalização e, os Doutorados Interinstitucionais em Educação e em Direito e o Mestrado Interinstitucional em Direito, cursos em rede com a PUC do Rio Grande do Sul, PUC do Paraná e a Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Planejo continuar na produção do conhecimento e na formação de profissionais para a Educação Brasileira. Desde o ano de 2012, sou bolsista de Produtividade em Pesquisa em Educação pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq com uma pesquisa em História da Educação Protestante. Investigo práticas de leitura através da circulação de impressos protestantes e pedagógicos entre o Brasil, Inglaterra Portugal e Estados Unidos, durante o século XIX. Estou aguardando a pandemia passar para continuar minhas viagens de pesquisa nesses países.

Continuarei lecionando nos cursos de licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes e também na rede pública de ensino.

CS: Já que falamos em legado, quais suas influências e inspirações para a carreira acadêmica e de escritora? Vieram de casa?

EVBC:  Meu maior Mestre sempre foi Jesus Cristo. Em seguida, a Profa. M.Sc. Nádia Vilas-Bôas e o Pr. Prof. Dr. Gerson Vilas-Bôas, meus pais e, o Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento, meu esposo.

O primeiro livro que me veio à mão foi a Bíblia, seguido pelo Cantor Cristão com pauta. Depois, chegaram as revistas em quadrinhos, livros de história, os métodos de Piano – Leila Fletcher, Hanon, Czerny, Bach, Bonna –, todos os romances de José de Alencar e de Machado de Assis.

CS: Sem dúvida sua persona acadêmica é imponente, mas, fora do ambiente acadêmico, quem é Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento?

EVBC:  Sou pianista da Igreja Batista Betel. Amo a música, a natureza e os animais. Amo viajar, conhecer novos lugares, pessoas, culturas diferentes. E se for de carro, melhor ainda.

CS:  Seus pais são de fora, mas você é sergipana. Fale mais um pouco sua história pessoal.

EVBC:  Meu pai é baiano e minha mãe, carioca. Conheceram-se em Recife, casaram-se e vieram morar em Aracaju, cidade que nasci.

Aos sete anos de idade, entrei no Conservatório de Música de Sergipe, inicialmente, fazendo musicalização e, depois, o curso de Piano. Aos 17 anos, eu estava estagiando, ensinando Piano e Teoria Musical e fui aprovada no vestibular para o curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Sergipe.

Posteriormente, eu e minha família fomos morar em Brasília. Enquanto morarmos lá, fui aluna da Universidade de Brasília e a pianista da Catedral de Brasília. Retornando a Aracaju, finalizei meu curso, prestei concurso público e fui aprovada em uma vaga como professora da rede pública estadual de ensino, lecionando em escolas de Ensino Médio e no Conservatório de Música de Sergipe.

Anos depois, migrei para as Ciências Humanas, fazendo o Mestrado em Educação na Universidade Federal de Sergipe e o Doutorado em Educação na Pontifícia Católica de São Paulo. Retornando de São Paulo, fui trabalhar na Universidade Tiradentes, onde estou até hoje.

CS:  Gostaria de agradecer a mais alguém por sua conquista?

EVBC:  Sinto-me feliz e grata! A Deus, aos meus pais, ao meu esposo, a minha família, aos meus irmãos na fé das 42 Igrejas Batistas Betel de Sergipe, aos colegas e alunos, de Sergipe e de outros Estados, que integram a minha trajetória!

Gratidão! Pois nesses tempos tão difíceis que temos vivido, esta conquista vem como um refrigério, um estímulo para eu nunca desistir dos meus ideais!

Texto e imagem reproduzidos do site: ajn1.com.br

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