segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sexta Cultural do TCE vai homenagear Cabral Machado

Foto: TCE.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 27/10/2016.

Sexta Cultural do TCE vai homenagear Cabral Machado.
O evento ocorre às 10h no Espaço Cultural do TCE.

Um homem de múltiplos fazeres e vasto conhecimento, cujo centenário é comemorado agora. É em torno de Manoel Cabral Machado, o intelectual de vasta obra, o mestre que ajudou a criar quatro faculdades, o político respeitado e que chegou a vice-governador, o pai e marido amoroso, o presidente fundador do Tribunal de Contas do Estado, que se realiza a próxima Sexta Cultural.

O evento especial, que acontece nesta sexta-feira, 28, às 10 horas, no Espaço Cultural do TCE, reúne uma programação à altura da importância do homenageado. Será exibido um documentário sobre a vida e a obra de Cabral Machado, dirigido pelo jornalista Pascoal Maynard. Depois, haverá o lançamento de um selo comemorativo dos Correios e uma palestra com o jornalista e acadêmico João Oliva, amigo de Cabral Machado.

Dois livros serão lançados: “Brava Gente Sergipana e Outros Bravos”, um clássico de autoria de Manoel Cabral Machado que foi reeditado pelo TCE (com o acréscimo de alguns textos de outro livro dele, “O Aprendiz de Oboé”); e “Cabral Machado – O homem, o Intelectual, o Político”, uma biografia inédita do juiz José Anselmo de Oliveira, também organizada pelo TCE.

Durante a sessão de autógrafo das obras, a manhã cultural segue com a exposição pictográfica sobre a vida de Cabral Machado e apresentação de músicas populares com integrantes da Orquestra Sinfônica de Sergipe.

TCE, Alese e ASL

A comemoração do centenário de Manoel Cabral Machado, assim como do também conselheiro José Amado Nascimento, ocorrida em agosto, são iniciativas do próprio presidente do TCE, Clóvis Barbosa de Melo, que também envolveu a Assembleia Legislativa e a Academia Sergipana de Letras. Na segunda-feira, 24, houve uma sessão especial na Alese e, no próximo dia 7 de novembro, a ASL realizará uma sessão solene em homenagem àquele que também presidiu a casa dos imortais sergipanos.

Manoel Cabral Machado nasceu em Rosário do Catete no dia 30 de outubro de 1916. Foi criado em Capela, que considerava o seu verdadeiro torrão natal. Depois de bacharelar-se em Direito na Bahia, ocupou diversos cargos na administração pública, primeiro como secretário do prefeito de Aracaju, José Garcez Vieira, passando pelo governo de Sergipe, onde foi diretor do Serviço Público no governo Maynard Gomes.

Foi secretário da Fazenda e secretário chefe da Casa Civil no primeiro governo José Rollemberg Leite; secretário da Educação no governo Celso de Carvalho e procurador geral no governo Antônio Carlos Valadares. Simpatizante do integralismo antes de tornar-se um dos líderes do Partido Social Democrático, o PSD, foi deputado estadual por três legislaturas, líder do governo Arnaldo Garcez e da oposição a Leandro Maciel e Luiz Garcia.

Chegou a vice-governador do Estado no governo Lourival Baptista. E foi conselheiro e primeiro presidente do Tribunal de Contas do Estado, em 1970, quando o órgão foi fundado. Cabral Machado presidiu o Tribunal de Contas mais duas vezes, em 1977 e em 1985.

Nas décadas de 40 e 50, ele foi professor fundador de quatro faculdades — Ciências Econômicas, Direito, Filosofia e Serviço Social —, escolas que formam o núcleo inicial da Universidade Federal de Sergipe. Já aposentado, Cabral Machado foi diretor do Departamento Jurídico do Tribunal de Justiça, de onde se retirou quando se agravou a cegueira.

Cronista, ensaísta, poeta, cientista, ficcionista e eloqüente orador, ele sempre colaborou na imprensa e no Jornal da Cidade publicou os últimos artigos, uma série sobre os primeiros conselheiros do Tribunal de Contas. Escritor de muitos livros, Cabral Machado também era membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Brasileira de Ciências Sociais.

O prolífico Manoel Cabral Machado, que com a esposa e prima capelense Lourdinha teve seis filhos, morreu no dia 13 de janeiro de 2009, aos 92 anos.

Fonte: TCE/SE.

Texto e imagem reproduzidos pelo site: infonet.com.br/noticias/cultura

Revista Cumbuca chega a 11ª edição


Publicado originalmente no site Agência Sergipe, em 26/10/2016.

Revista Cumbuca chega a 11ª edição.

A publicação proporciona uma leitura pelo mundo das artes, da cultura e incentiva a difusão de idéias com a publicação de trabalhos literários e científicos.

A revista Cumbuca é uma publicação trimestral, editada pela Editora Diário Oficial de Sergipe - Edise, criada pelo Governo do Estado. Esta edição apresenta aos seus leitores uma capa com obra de Jorge Luiz Barros e intervenção gráfica do designer José Clécio. Faz um passeio pela arte inquieta de Jorge Luiz Barros, muito bem retratada pelo jornalista Jaime Neto. Seguindo o caminho das artes, o pintor, escritor, desenhista publicitário e professor de artes, Adauto Machado, têm sua vida retratada por Mário Britto.

Nesta 11ª edição você também confere 'Sereia em pedra dura', do editor de Cultura, do Jornal do Dia, Rian Santos, que apresenta o artista visual Cirulo, um artista que é, segundo ele próprio, degenerado. Há ainda a poesia de Ieda Vilela e Danilo Sampaio.

Não poderíamos deixar de falar de um dos mais antigos grupos de teatro do Brasil, o Imbuaça. 'Os brincantes do grupo Imbuaça', têm seu universo teatral visitado por Narciso Telles. Dando continuidade a linha cênica, Chico Varella faz uma contribuição à memória do teatro sergipano.

A indelével assinatura de Fernando Faro está presente em texto assinado por Ezio Déda. Na música, o caminho da Karne Krua é longo, mas está detalhado nas páginas da Cumbuca, em texto de Adelvan Kenobi.

'Graciliano e eu', de João Augusto Gama, rememora a “luta” para prestar exame vestibular, na Faculdade de Direito, no período do Regime Militar. E desse período, 'Tortura e morte como política de Estado', de Marcos Cardoso, cita os sergipanos presos, torturados e mortos.

A revista proporciona também a Emancipação Cultural de Sergipe, em texto do historiador Samuel Albuquerque, que lembra, sob sua lupa, a fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, como melhor representatividade do processo de emancipação cultural de Sergipe. Finalizando a edição, Anselmo Oliveira apresenta o guardião da cultura sergipana, José Augusto Garcez.

Texto e imagem reproduzidos do site: agencia.se.gov.br

sábado, 29 de outubro de 2016

'Vamos à Feira?' é a nova exposição do Centro Cultural

O Centro Cultural de Aracaju fica na Praça General Valadão.
Foto: Funcaju.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 25/10/2016.

'Vamos à Feira?' é a nova exposição do Centro Cultural.
O Centro Cultural de Aracaju fica na Praça General Valadão.

Exposição que retrata a história do teatro de bonecos no Brasil é instalada no Centro Cultural de Aracaju (antiga Alfândega), unidade da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju). Intitulada “Vamos à Feira?”, a mostra representou a capital sergipana na I Feira de Teatro de Bonecos e Formas Animadas de Portugal, na cidade de Fafe.

Com texto da presidente da Funcaju, Aglaé Fonte, curadoria de Gustavo Vargas e imagens do fotógrafo Adilson Andrade, a mostra conta a história do teatro de bonecos no Brasil evidenciando a importância da feira, principalmente no nordeste brasileiro.

O cenário escolhido para os registros foi o mercado Municipal Thalez Ferraz, onde elementos como frutas típicas da nossa região, crustáceos e o próprio artesanato compõem a exposição. “A união dos bonecos do Mamulengo de Cheiroso, com todo o colorido e expressividades peculiares de nossa feira, ressaltou em imagens que evidenciaram aos olhos de todos que passaram pela exposição um pouco da nossa cultura”, explica o Assessor Especial da Funcaju, Gustavo Aguiar.

De acordo com Aglaé Fontes a exposição evidencia não somente a história dos bonecos de mamulengo, mas também toda a representação da feira em si, enquanto um espaço de compras, trocas e absorção da cultura popular. “A feira é um território popular, um espaço democrático, onde há uma diversidade de gestos e objetos. A exposição une esse local, o local onde o povo se encontra aos bonecos de mamulengo, bonecos esses que contam as histórias do povo e encantam a população”, disse.

O Centro Cultural de Aracaju fica localizado na Praça General Valadão, no centro da capital sergipana. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 9h às 17h e aos de 8h30 às 13h. A entrada é franca. Mais informações entrar em contato através do 3214.5387

Fonte: Funcaju.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

Sergipanidade: Luiz Antônio Barreto é homenageado.

Escritor, que morreu em 2012, foi homenageado amigos e família.
Foto: Portal Infonet.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 25/10/2016.

Sergipanidade: Luiz Antônio Barreto é homenageado.
Escritor, que morreu em 2012, foi homenageado amigos e família.

Para marcar a semana da Sergipanidade, a Secretaria de Estado da Cultura preparou uma homenagem ao escritor Luiz Antônio Barreto, durante o lançamento do Projeto Sergipanidade. Na ocasião, o escritor, que morreu em 2012, foi homenageado também por colegas, amigos e familiares.

Luiz Antônio Barreto foi lembrado como uma das personalidades sergipanas que deixou suas contribuições para a cultura e memória do Estado. O tributo ao escritor, que também foi membro da Academia Sergipana de Letras, ocorre no auditório da biblioteca pública Epifânio Dória, onde professores, pesquisadores e estudantes, irão participar de mesas redondas e debates sobre as produções deixadas por Luiz Antônio.

No local, acontece também o ciclo de tertúlias, uma exposição de livros, títulos e fotografias, que marca a vida e a obra de Barreto.

Texto/foto e vídeo reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Jovem vai representar SE no Mercosul.


Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 18/10/2016.

Parlamento Juvenil.

Jovem vai representar SE no Mercosul.

Isla Dayane Andrade Santos foi escolhida após escrever projeto sobre direitos humanos em sala de aula.

Por: JornaldaCidade.Net

Isla Dayane Andrade Santos, aluna do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, é a jovem que irá representar Sergipe no Parlamento Juvenil do Mercosul.
O projeto intitulado “Direitos Humanos e Cidadania: Aprender para Exercer” foi aprovado pelo Ministério da Educação do Brasil (MEC) e chancelou a jovem como a representante do Estado nas missões nacionais e internacionais, por um mandato de dois anos.

Dayane Andrade quer que o projeto escrito por ela promova mais conhecimento sobre os direitos humanos em sala de aula, como forma de socializar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a reflexão sobre os valores humanos, a cidadania e a coletividade.

“Sempre pensei no coletivo. Preocupo-me com o que está acontecendo com o Brasil e percebo que a visão de muitos colegas está distorcida quanto aos direitos humanos. Quero provocar o debate na escola”, explica.

Isla Dayane Andrade teve a orientação do professor de sociologia, Denilson Melo. Na primeira fase, o projeto autoral de protagonismo juvenil foi inscrito e passou por uma pré-avaliação do Departamento de Apoio ao Sistema Educacional da Secretaria de Estado da Educação (DASE/ Seed), com base em critérios predefinidos pelo Ministério da Educação (MEC).

A aluna foi selecionada e defenderá o projeto na segunda fase da seleção, desta vez nacionalmente, por meio de um processo democrático eleitoral que deverá acontecer em novembro, através das redes sociais e do site do MEC.

Parlamento Juvenil do Mercosul.

O Parlamento Juvenil do Mercosul é uma iniciativa do Ministério da Educação por meio da Assessoria Internacional e da Secretaria de Educação Básica, do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), das instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, além das Secretarias Estaduais de Educação de todo o Brasil e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

O projeto busca promover o protagonismo juvenil, contribuindo para a integração regional dos jovens parlamentares que, após discussões conjuntas, acordam e recomendam a adoção de políticas educativas que promovam uma cidadania regional e uma cultura de paz e respeito à democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente.

Para ser um parlamentar, o estudante deve ser da escola pública matriculado (a) e frequentando regularmente o 1º ou 2º ano do ensino médio ou ensino técnico integrado ao ensino médio em escolas públicas da rede estadual ou federal. Além disso, é preciso ter boa atuação escolar (frequência, conduta e rendimento); adaptar-se facilmente à convivência com jovens de diferentes culturas e crenças religiosas; ter disponibilidade e autorização dos pais para realizar viagens nacionais e internacionais, todas acompanhadas pelo MEC.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Antônio Carlos Viana dribla a morte

Foto: reproduzida do site: rascunho.com.br

Publicado originalmente no site Expressao Sergipana, em 08/10/2016.

Antônio Carlos Viana dribla a morte.

Sempre digo que escrever é como adiar a morte. Por isso escrevo um diário que já tem mais de 10 anos. É uma forma de não perder o compromisso com a vida e com a escrita

De Antonio Carlos Viana, podemos esperar o rigor dos contos e do olhar sobre os contos. O autor, que faleceu na última sexta-feira em decorrência de um câncer, destruiu todos os textos inacabados. A doença, antes eliminada, voltara há apenas 15 dias.

Podíamos esperar dele, também, um elevado nível de comprometimento com a literatura. Já professor universitário, um dia ele resolveu abandonar a profissão para vender cachorro-quente na fila do SUS, em Sergipe. E isso influenciou o modo como ele olhou essa parcela economicamente oprimida da população, que protagoniza boa parte de seus contos. Em entrevistas, ele advogou a importância de o escritor conhecer a teoria literária. Mas reconhecia que isso não é estritamente necessário para compor uma boa obra.

Um dos maiores contistas contemporâneos, ele dizia não escrever romances por pura impaciência. “A fatura dos contos é mais rápida”, dizia. Começou na carreira literária com Brincar de manja (1974). Seu último livro, Jeito de matar lagartas, é de 2015. Foi mestre (PUC-RS) e doutor (Universidade de Nice, França) em teoria literária.

No texto abaixo – feito especialmente para o livro Ficcionais 2 (Cepe Editora) -, vemos um Viana que se diz salvo pela literatura. Na vida, víamos um Viana realmente diferente; antes mais sério, depois do tratamento ele passou a tirar diversas selfies no Facebook, a ser mais expansivo. Falava em começar a malhar.

A morte, a escrita e essa abertura para vida são temas que transparecem no texto que segue, um bastidor de seu livro mais recente. É uma pequena homenagem do Suplemento Pernambuco a um autor de obra relevante no cenário editorial atual.

Também vemos como Viana, no texto, fala da influência de Kafka. “Mas o livro nada tem de kafkiano”. Porém, não conseguimos deixar de pensar no fato dele ter destruído seus trabalhos inacabados. Kafka morreu jovem. Tinha destruído parte significativa de sua obra. Instruiu seu amigo Max Brod a queimar o resto, no que foi desobedecido. Viana não quis correr esse risco.

Abrimos este texto afirmando que “podemos esperar o rigor” dos contos do escritor. “Podemos”, no presente, e não no passado. Viana permanece em sua obra, continua presente.
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Jeito de driblar a morte
por Antonio Carlos Viana

Bastidores de Jeito de matar lagartas (2015).

Tenho o hábito de escrever todas as manhãs, nem que seja uma linha, um parágrafo, que vou arquivando, sem grandes pretensões. Acredito que qualquer arte depende muito de nossa insistência, de nosso trabalho duro, mesmo que a tal da inspiração nunca apareça. A arte existe contra ela. É como a educação pela pedra, “frequentá-la”. Um dia sem escrever uma linha que seja me parece um dia perdido. Sempre digo que escrever é como adiar a morte. Por isso escrevo um diário que já tem mais de 10 anos. É uma forma de não perder o compromisso com a vida e com a escrita.

Assim, quando sinto que tenho um arquivo abarrotado de possíveis histórias, abro-o e vejo quais as que podem render mais. Assim nasceram todos os meus livros, seis até agora. Nunca me sentei com a ideia: “Vou escrever um livro a partir de hoje”. Isso me deixaria tenso, e jamais chegaria a coisa alguma. Preciso fazer de conta que estou apenas me divertindo. Se der certo, ótimo. Geralmente, tem dado.

Pego apenas um possível conto por dia e começo a trabalhá-lo até sentir que dominei aquela história nascida do acaso, que pode ter como embrião apenas uma frase, tal como aconteceu com o conto A Muralha da China, que abre o volume de Jeito de matar lagartas. Eu havia escrito apenas: “Nossa mãe tinha avisado: Façam de conta que Lelo ainda está vivo, conversem com dona Irene, fiquem como se ele fosse chegar e que vocês foram lá só pra brincar com ele”. Eu havia escrito isso fazia bem uns dois anos.

O restante da história era para mim um mistério, sempre é um mistério. A primeira frase de um conto precisa ter pegada, ficar retinindo por muito tempo em nossa cabeça. É só ter paciência, que o restante vem. Ao contrário do que diz Gabriel García Márquez, que, ao chegar à metade de um conto você já deve saber o final, meus contos nunca vêm inteiros na primeira escrita. A Muralha da China só foi se delineando muito lentamente. Eu não sabia a razão por que a mãe havia dito aquilo aos dois filhos. Quando descobri que era sobre a morte de Lelo e de seu pai, surgiu a ideia do quebra-cabeça, que seria contar a dona Irene a trágica notícia. Da ideia de quebra-cabeça me veio à lembrança aquele brinquedo de pequenas peças para montar. Podia ser um quadro, um monumento, uma paisagem… Pensei, então, numa muralha, pois o tempo todo os pais dos meninos precisarão transpor a muralha da alegria com que dona Irene os recebe. Eles precisarão transpô-la para dar a notícia da morte do filho e do marido num acidente de ônibus. Nada mais apropriado do que a Muralha da China. Ainda pensei em intitular o conto A mesquita azul, mas esta não tinha a mesma simbologia da muralha, que, no conto, também fica inacabada. Pensei até em dar ao livro o título de Muralha da China, mas poderiam pensar numa relação com Kafka, e o livro nada tem de kafkiano.

Quanto ao livro em si, Jeito de matar lagartas, nasceu de um modo diferente dos outros. Meu arquivo de contos já estava pedindo para ser explorado e eu não tinha nenhuma disposição para revê-los, pois vinha sendo acometido por uma estranha doença que os médicos não conseguiam diagnosticar. Para enfrentar a literatura é preciso ter boa saúde. Sentindo que ia entrar numa fase cujo final não se me descortinava nem um pouco tranquilo, eu tinha de enfrentar meus arquivos de histórias inacabadas. Tenho o péssimo habito de não gostar de reler o que escrevo. Foi quando meu primeiro leitor, o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, me pediu algo novo para ler, mas eu não tinha coragem de lhe mandar nada, porque achava que a qualidade do que eu tinha arquivado não me agradava. Não sei se essa insegurança é boa para o escritor ou para qualquer artista. Não consigo ter autodistanciamento para julgar a mim mesmo. Geralmente, minha crítica é muito negativa e paralisante. Já fiz até terapia para resolver isso. Resolveu em parte.

Àquela altura, eu não tinha nenhuma vontade de publicar mais nada, só pensava em ter um diagnóstico sobre minha estranha doença, que me fazia acordar todos os dias com uma enorme dor de cabeça e muita dor nas costas.

Enviei um conto para o Paulo, e sua resposta me surpreendeu. Ele disse que eu não precisava fazer mais nada, estava pronto. Me pediu mais outros e fui enviando os que achava que estavam mais ou menos acabados. Tenho outros três leitores de confiança além do Paulo, e, cada conto aprovado por este, eu enviava para eles. As aprovações foram se sucedendo e isso me animou a enviar cerca de 30 contos, dos quais 27 foram aprovados sem ressalvas. As ressalvas eu mesmo criava: a sonoridade das palavras, a procura da palavra exata, não só quanto ao sentido, mas também quanto ao som, a posição de cada parágrafo, a caracterização de cada personagem… Quem escreve sabe muito bem como isso nos atormenta. Sou um discípulo das teorias de Valéry. O escritor precisa sempre estar desconfiado das facilidades que muitas vezes o assaltam. Por isso, é bom ter sempre três ou quatro leitores exigentes, e muito sinceros, para não publicarmos tolices.

Quando estava com os contos escolhidos, parti para a confecção do livro. Na época, abril de 2014, eu morava em Curitiba. Apesar de doente, me tranquei 15 dias no flat onde morava e trabalhei cerca de oito, 10 horas por dia, fazendo os últimos ajustes. Só saía para almoçar e caminhar ao cair da noite. Os finais de alguns contos não me agradavam ainda, apesar da aprovação dos meus quatro críticos. No final das contas, somos, os escritores, nossos críticos mais ácidos. Quando o final de um conto não me agrada, acho que ele se destrói, por mais fascinante que seja a história contada. E havia uns três ou quatro finais que me deixavam intranquilo.

Em meados de maio, entrei em contato com Vanessa Ferrari, minha editora na Companhia das Letras, e enviei o livro para ela. Sempre fico apreensivo quando faço isso. Em poucos dias, recebi sua aprovação com algumas observações em relação a pequenas detalhes em alguns contos. Jeito de matar lagartas, título sugerido por Paulo Henriques, foi bem- recebido. Mesmo com a aprovação da editora, resolvi reler todo o livro e retrabalhar cada texto para sua edição definitiva, o que me tomou mais uma semana.

Sem esse trabalho, não há como fazer literatura ou qualquer outra arte. Essa fase final me deixa sempre supertenso, porque depois do livro lançado não há mais caminho de volta. Enviei a versão definitiva para Vanessa no final de maio, e ela me prometeu o livro para janeiro de 2015. Em outubro, fui Internado no hospital São Lucas, em Aracaju, quando recebi o diagnóstico fulminante de mieloma múltiplo. Daí em diante, eu só tinha um pensamento: “Não quero morrer antes de ver meu livro pronto”. A última revisão foi feita no quarto do hospital, meu filho André lendo conto por conto, para ver se eu ainda queria fazer alguma modificação.

Em fevereiro, recebi os primeiros exemplares de Jeito de matar lagartas, com uma capa que me tocou muito, num verde sombrio: a foto do sítio onde passei minha infância. Foi como se a espera desse livro tivesse contribuído para superar momentos tão cheios de dor e de uma rala esperança de sair daquele estado. Posso dizer que, no meu caso, a literatura ajudou a me salvar.

Texto reproduzido do site: expressaosergipana.com.br

Encontro de bandas filarmônicas ocorre em Estância

Orquestra Filarmônica (Foto: Reprodução/TV Tapajós)

Publicado originalmente no site do G1/SE., em 23/10/2016.

Encontro de bandas filarmônicas ocorre em Estância.

Evento ocorre no domingo (30) na Praça Barão do Rio Branco.
Foram convidadas 12 bandas de várias cidades sergipanas.

Do G1 SE.

No domingo (30), a partir das 15h, a Praça Barão do Rio Branco no município de Estância, distante 68 km de Aracaju, na Região Sul de Sergipe, vai ser sede do IX Encontro de Bandas Filarmônicas.

Segundo o jornalista Magno de Jesus, que organiza o evento, este ano vão participar bandas de Boquim, Simão Dias, Itabaianinha, Maruim, Arauá, Lagarto, Tobias Barreto, Santa Luzia do Itanhi, Poço Verde e Estância.

A organização também divulgou a relação com os nomes das bandas: Lira Carlos Gomes (Estância), Filarmônica Senhora Santana (Boquim), Filarmônica Senhora Santana (Simão Dias) , Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (Itabaianinha), Filarmônica Euterpe Maruinense (Maruim), Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (Arauá), Filarmônica Lira Popular (Lagarto), Banda de Música Maestro Abílio Leite (Itabaianinha), Lira Imperatriz dos Campos (Tobias Barreto), Lira Santa Cruz (Poço Verde), Banda Marcial Professor Jailton Santana (Santa Luzia do Itanhi) e Banda Marcial Vice-Prefeito Dedé (Povoado Crasto).

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/se/sergipe

Museu da Gente celebra sergipanidade diariamente

Foto: Victor Ribeiro/ASN.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 24/10/2016.

Museu da Gente celebra sergipanidade diariamente

Nesta segunda-feira, 24, comemora-se o Dia da Sergipanidade

Se a verdadeira identidade de um povo está em sua cultura, nenhum lugar é mais sergipano do que o Museu da Gente Sergipana Governador Marcelo Déda. Nele, a valorização da cultura local e a sensação de pertencimento são mote de trabalho diário. Inaugurado em 2011, fruto de uma parceria entre o Governo do Estado e o Instituto Banese, o museu celebra os traços da sergipanidade em sua forma mais genuína: do ponto de vista da cultura popular.

No espaço, a rica arquitetura do antigo Atheneuzinho mistura-se ao repente [arte baseada no improviso cantado], literatura de cordel, culinária, fauna e flora e muita interatividade. Nas palavras do superintende do Instituto Banese, Ezio Déda, além da proposta de valorização da cultura local, o espaço veio também com a proposta de descontruir e desmistificar a imagem engessada de como um museu deve ser.

“Quando se pensa em museus, o que está no imaginário coletivo é que são espaços solenes, onde o objeto está lá inacessível. Aqui não é conteudista, que você vai sentar e pesquisar profundamente o tema. O museu brinca, suscita, provoca, te faz descobrir coisas e é um marco significativo na sergipanidade, porque celebra o que há de mais genuíno, a cultura do povo. É um museu que aborda os mestres da cultura popular, as indumentárias dos grupos de cultura popular, celebra o cordel, o repente, o feirante, então é um lugar da gente mesmo”, defende o superintendente.

Ezio, que também assina a restauração do prédio, diz que um dos direcionamentos do projeto – passado pelo então governador Marcelo Déda – foi de construir o que viria a ser ‘o espelho do povo sergipano’. “O direcionamento foi de criar um espaço em que o sergipano pudesse se enxergar e que o turista chegasse e entendesse o que é essa gente, quais são os elementos que nos caracterizam, traços culturais, fisionômicos, brincadeiras, modo de falar etc. O que está exposto aqui é o que tem na casa da gente”.

E ao expor o que está no cotidiano do sergipano, o Museu da Gente provoca, principalmente, nas crianças, o reconhecimento do ‘ser sergipano’. “Esse é um processo gradativo de educação, muito significativo. Especialmente nos grupos escolares. Eles veem aqui elementos do seu dia a dia, acessam equipamentos, que dialogam com o que vivenciam, e isso desperta a sensação de pertencimento, valorização. E quando essa criança sai daqui é com outro olhar”, explica o superintende.

Tal opinião é reforçada pela professora Laís Santana, que levou os alunos do 5º ano da Escola Estadual Alcebíades Paes e seus familiares, do município de Cumbe, para a sua primeira visita ao museu, como parte de um projeto lançado por ela. “Sempre desejei proporcionar momentos de aprendizagem além da sala de aula. Na minha experiência de escolarização, eu senti muito essas ausências. É um compromisso que eu tenho com meus alunos”, diz.

A professora conta que antes da visita, trabalhou em sala de aula a temática da sergipanidade. “Para conhecer o que é do outro, primeiro você tem que ter certeza da sua identidade, certeza de quem você é enquanto povo, como comunidade”.

O estudante Alejandro Ivan Santana Alves, 14 anos, diz que não conhecia o museu e que deseja visitar novamente o espaço. “É melhor do que eu tinha imaginado. Gostei de ver a caatinga, a fauna e a flora sergipana. Eu acho que esse museu mostra muito o que é ser sergipano”.

“Essa é minha primeira visita e estou gostando demais. A nossa cultura é muito linda”, declara a dona de casa Vera Santos, que participou da visita acompanhando o neto.

O Museu da Gente Sergipana, inaugurado em 26 de novembro de 2011, foi o primeiro centro multimídia do Nordeste. Em 2012, recebeu o prêmio ‘O melhor da Arquitetura’, organizado pela revista Arquitetura e Construção. Dois anos depois, entrou para a lista dos 10 melhores museus do site TripAdvisor. Prestes a completar cinco anos de funcionamento, o museu contabiliza 400 mil visitas (cerca de 80 mil ao ano).

Além do acervo permanente, o espaço recebe a cada quatro meses uma exposição nova em seu hall. A próxima exposição temporária retratará os 90 anos do prédio Atheneuzinho. O espaço realiza ainda apresentações de música, lançamentos culturais e palestras. “Cinco anos depois o fluxo de visitação se mantem, o que mostra que não foi uma obra de marketing. O Museu da Gente acaba sendo um polo de acontecimentos culturais, que vai além do acervo permanente e que faz com que as pessoas voltem inúmeras vezes”, finaliza Ezio.

O Museu da Gente Sergipana Governador Marcelo Déda funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 15h.

Fonte: Secretaria de Estado da Comunicação Social.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Igreja São Salvador de Aracaju celebra 160 anos de fundação

Foto reproduzida do site: tripadvisor.com.br

Publicado originalmente no site G1 SE., em 23/10/2016.

Igreja São Salvador de Aracaju celebra 160 anos de fundação.

Local é visitado por fieis que frequentam o comercio da capital.
Orações e uma missa de ação de graças relembrou a data.

O primeiro templo religioso católico construído em Aracaju completa 160 anos de fundação. A Igreja São Salvador fica localizada no Centro Comercial, entre as ruas João Pessoa e Laranjeiras, lugar onde foi registrado importantes acontecimentos da história da capital de Sergipe.

No ano de 2012, o templo foi declarado como Patrimônio Histórico e Artístico de Sergipe por ter sido cenário dos principais acontecimentos da capital, como a visita do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina em 11 de janeiro de 1860, marcando o início de uma visita de oito dias a então Província de Sergipe Del Rey...

Celebração.

Na manhã deste domingo (23), houve uma celebração em Ação de Graças presidida pelo arcebispo coadjutor, Dom João José Costa, e concelebrada padre capelão Diógenes Oliveira, e pelos sacerdotes colaboradores José Almi de Menezes e Geovane Bomfim Oliveira.

Uma placa foi descerrada ao final da celebração para marcar o momento de festa para os católicos da Arquidiocese de Aracaju.

Reprodução de trecho e reportagem do site: g1.globo.com/se

Biblioteca realiza exposição pelo dia do livro

No hall da biblioteca, o material está sendo exposto de forma física,
virtual e em braile, para abranger o acesso (Foto: Secult).

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 20/10/2016.

Biblioteca realiza exposição pelo dia do livro.

Abertura do evento teve roda de leitura.

Em comemoração ao Dia Nacional do Livro, 29 de outubro, a Biblioteca Pública Epifânio Dória lançou a exposição “Biblioteca Entrelinhas”, que reúne diversos livros, jornais e documentos, sobretudo sergipanos, presentes no acervo literário da instituição, além de oferecer diferentes atividades ao público. A abertura do evento aconteceu nesta quinta-feira, 20, com roda de leitura sobre o escritor Antônio Carlos Viana e participação de estudantes do 9º ano da Escola Estadual Professor Valnir Chagas.

No hall da biblioteca, o material está sendo exposto de forma física, virtual e em braile, para abranger o acesso. Entre as obras disponíveis encontram-se “Dias e Noites” do escritor Tobias Barreto e “Minha Gente”, de Clodomir Silva. Segundo a diretora da biblioteca, Juciene Maria de Jesus, essas ações buscam incentivar a leitura e garantir o acesso às diversas obras. “A nossa missão é proporcionar a todo e qualquer cidadão o gosto pela leitura. Então, nossos projetos são todos voltados para a leitura e, a partir disso, a gente está deixando todo o nosso acervo à disposição do público tanto para leitura, como para conhecimento e pesquisa”.

Para a coordenadora das rodas de leitura do projeto Proler, Rosineide de Santana, eventos como este, desempenham o papel de incentivador para os estudantes. “Os alunos vêm, recebem essas informações, escutam a leitura de grandes autores e a partir daí, a gente tem a expectativa de que eles voltem para suas escolas com mais vontade de discutir e ter acesso à leitura”, destacou.

Este papel também foi reconhecido pela estudante Raianny Santos. “É muito importante porque ensina para a gente coisas novas, dos escritores, para ajudar a gente a entender mais uma história, um livro, e assim pode ajudar muito na nossa educação”, afirmou.

Além da mostra, palestras e outras rodas de leitura vão acontecer durante todo o período da exposição, que vai até o dia 31 de outubro. Escolas interessadas em visitar e participar das atividades podem entrar em contato pelo telefone (79) 3179 – 1907. A Biblioteca está localizada na Rua Villa Cristina, s/n, Bairro 13 de Julho.

Fonte: Secult.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura

Sergipe na geografia e na história brasileira

Imagem para ilustração de artigo, postada por MTéSERGIPE.


Publicado originalmente no site SERIGY, em 24/11/2006.

Sergipe na geografia e na história brasileira.
Por Luiz Antônio Barreto.

Há na geografia e na história brasileira pelo menos três registros sobre Sergipe: o primeiro, uma ilha na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro), onde os franceses aportaram em 1555 com o propósito de fundar uma colônia, onde os huguenotes (protestantes calvinistas, perseguidos na França) pudessem estabelecer atividades econômicas; o segundo, um rio na então Capitania da Bahia, onde o governador Mem de Sá estabeleceu seu famoso engenho de açúcar, cujas terras mais tarde foram passadas para o Conde de Linhares, levando a povoação a ser denominada de Sergipe do Conde.

O terceiro, também um rio, no centro do território situado entre os rios Real, ao sul, e São Francisco, ao norte, e que deu nome às terras mais tarde conquistadas por Cristóvão de Barros. As terras de Sergipe, na verdade, eram parte do Foral da Bahia, hereditariamente entregue ao donatário Francisco Pereira Coutinho e que fracassando o sistema das Capitanias Hereditárias reverteu à Coroa portuguesa, por idenização ao herdeiro Manoel Pereira Coutinho, passando a ser conhecidas como Sergipe del Rey.

Corsários franceses e outros aventureiros exploravam o pau brasil e entravam em contato com os indígenas que habitavam a terra sergipana. Negros da Guiné, fugidos da Bahia, buscavam refúgio nas margens do rio Sergipe, fortalecendo os ajuntamentos livres, que mais tarde foram denominados de Santidades.

Alguns padres jesuítas estiveram no território de Sergipe, visitaram as margens do rio São Francisco e tentaram contatos com os grupamentos existentes, sem êxito, até que em 1575, o padre Gaspar Lourenço, acompanhado do irmão João Salonio, empreenderam a missa catequética, fundando missões em torno das aldeias indígenas.

O esforço dos padres da catequese não significou a ocupação ordenada das terras de Sergipe. Depois de episódios sangrentos e igualmente fracassados, a Coroa portuguesa determinou, em 1588, que fosse dada guerra aos indígenas sergipanos. No Regimento Geral do governador Francisco Giraldes estava a clara recomendação da guerra, para os fins específicos de exploração das nitreiras, para extrair o salitre, matéria prima da pólvora, abundante em Sergipe, e abertura de uma estrada que facilitasse a comunicação entre as Capitanias de Bahia e Pernambuco, passando pelo território sergipano.

Morrendo em Lisboa, antes de assumir o cargo de governador, Francisco Giraldes deixou seu Regimento para que as autoridades existentes no Brasil cumprissem a ordem do Rei. Coube a Cristóvão de Barros, conhecido sertanista, afamado comandante de tropas vitoriosas no Rio de Janeiro e em Cabo Frio, organizar e chefiar a expedição conquistadora, em dezembro de 1589. A batalha que matou e cativou milhares de indígenas, terminou no raiar do ano de 1590.

O conquistador, com o séquito de soldados e colonos, fundou no local da guerra a povoação de São Cristóvão, em homenagem a Dom Cristóvão de Moura, fidalgo espanhol, representante da Coroa espanhola em Portugal, dando ao local o fórum especial de cidade. Ao fazer do ajuntamento militar uma cidade, Cristovão de Barros deu a São Cristovão mais um título, o de 4ª cidade mais antiga do Brasil, fazendo de Sergipe del Rey uma nova Capitania, subalterna a Capitania da Bahia.

Antes de deixar o território conquistado, Cristovão de Barros doou a seu filho, Antonio Cardoso de Barros, as terras entre os rios Sergipe e São Francisco, deixando como Capitão Thomé da Rocha, com a missão de distribuir entre os soldados e colonos que participaram da guerra lotes de terra para as diversas lavouras e para criatórios de gado e de cavalos. Durante 30 anos os diversos Capitães que governavam Sergipe assinaram cartas de sesmarias, colonizando Sergipe, do sul para o norte e do leste para o oeste, ocupando os terrenos férteis das margens dos rios e as matas de Itabaiana e de Simão Dias.

Em pouco tempo partes das terras de Sergipe estavam ocupadas com grande número de currais de gado, e eram criados os melhores cavalos do Brasil, como registrou Diogo de Campos Moreno no seu Livro que dá razão do Estado do Brasil, provavelmente escrito entre 1610 e 1611. Em outras partes as roças diversificavam a lavoura, tendo a cana-de-açúcar como o principal produto agrícola, permitindo a instalação dos primeiros engenhos. O gado e açúcar estão na base histórica da economia sergipana, e foram produtos essenciais e estratégicos para o abastecimento interno e das Capitanias de Pernambuco e Bahia, que produziam para exportação.

Além dos currais de gado o século XVI deu a Sergipe as legendárias minas de prata de Itabaiana, cobiçadas por brasileiros, portugueses, espanhois e holandeses. Diversas expedições vararam o território sergipano em busca das minas de Belchior Dias Moreira, o Moribeca, e se não encontraram prata e nem ouro seguiram procurando em outras partes, minerando o salitre, e subindo pelo rio São Francisco até a região de Jacobina, na Bahia, depois até Minas Gerais, onde finalmente realizou-se o sonho de riqueza.

O século XVIII foi o século dos engenhos de açúcar, plantados nas terras pretas e gordas dos massapês, nos vales férteis do Piauí-Piauitinga, do Vaza-Barrís, e principalmente do Sergipe-Cotinguiba-Japaratuba, que deram a Sergipe uma grade produção açucareira, impulsionando o surgimento e o crescimento de povoações e de vilas, estabelecendo um comércio a partir da instalação de estruturas portuárias, trapiches, e onde floresceu a civilização sergipana. A divisão territorial em Freguesias, de administração religiosa, dava o contorno real da vida sergipana. Os vigários responsáveis fizeram, em 1757, o levantamento dos lugares, com seus nomes, situação, população, modos de vida, relacionando igrejas e capelas com seus oragos.

O século XIX, conforme a Memória sobre a Capitania de Serzipe, de autoria de Dom Marcos Antonio de Souza, de 1808, mostrava a Capitania de Sergipe com seu progresso econômico, suas vilas mais prósperas – Santa Luzia do Paagui, (hoje Santa Luzia do Itanhy), Tomar ( hoje Tomar do Geru), Lagarto, Itabaiana, Santo Amaro (hoje Santo Amaro das Brotas), Vila Nova (hoje Neópolis) e Propriá - , a situação de sua população em condições de lutar pela emancipação política. O sentimento de liberdade tomava conta de Sergipe, estimulando a formação de grupos favoráveis a desanexação do território sergipano, libertando-o da Bahia.

Em 8 de Julho de 1820 uma Carta Régia do Rey Dom João VI emancipou Sergipe, tornando-o Capitania independente, com administração própria. Forte reação dos partidários da posição subalterna de Sergipe, que pediam a reanexação do território, marcaram os anos seguintes, até a proclamação da Independência do Brasil e a organização do Império. Pedro I confirmou a emancipação concedida pelo seu pai, elevou novamente Sào Cristovão à categoria de cidade, em 1823, e com a Constituição de 1824 Sergipe já aparece como Província, podendo assim organizar sua vida administrativa e política.

O crescimento econômico, a produção do açúcar e de outros importantes ítens da pauta de exportação deu novo ânimo à Província e aos sergipanos. Os temas centrais eram discutidos nos Conselhos da Província, na Assembléia Provincial, nos jornais que começaram a circular em 1832, formando opinião pública sobre os problemas de Sergipe, dentre eles a necessidade de mudar a capital, de São Cristovão para um ponto do estuário do rio Sergipe, onde havia melhor condição para o transporte da produção açucareira.

A escolha recaiu sobre o povoado de Santo Antonio do Aracaju, antiga povoação a margem do rio Sergipe, que a partir de 17 de março de 1855, graças a Resolução nº 143, do presidente da Província Inácio Joaquim Barbosa, passou a ser a capital sergipana. A situação geográfica da nova capital permitiu ampliar os esforços do desenvolvimento de Sergipe, ampliando as relações comerciais, fortalecendo as regiões produtoras onde vicejaram atividades artísticas e culturais.

O acanhado povoado de Santo Antonio do Aracaju, núcleo inicial da cidade, não atendia aos interesses que determinaram a mudança da capital. O Governo da Província contratou os serviços de engenharia, nomeando em comissão engenheiros militares, chefiados pelo capitão Sebastião José Basílio Pirro, para construir a nova cidade, na parte baixa, junto ao leito do rio Sergipe. Era preciso, contudo, vencer as condições adversas, aterrar as áreas pantanosas, combater as febres, para construir a cidade. As doenças causadas pelos focos existentes nos pântanos e terrenos inundados, conhecidas genericamente como “febres do Aracaju”, vitimaram o próprio presidente Inácio Barbosa, que morreu em Estancia, para onde viajou em busca de tratamento.

O peão e modelo de aterragem era a praça, onde seria construído o Palácio, símbolo do Poder provincial. Da praça do Palácio (hoje Fausto Cardoso) foram planejadas as ruas, nos três sentidos – norte, sul e oeste, prevendo que a cidade pudesse avançar 1.188 metros em cada direção. Aterrar os charcos, drenar os diversos pontos de armazenamento natural de água e construir os prédios para abrigar os serviços administrativos transferidos de São Cristovão foram as prioridades dos responsáveis pelo planejamento e construção de Aracaju para ser a capital sergipana. O novo presidente da Província, Salvador Correia de Sá e Benevides, levou adiante o projeto, ampliando o trabalho com a organização portuária e os serviços de navegação a vapor. No seu discurso de 20 de maio 1856, perante os membros da Associação Sergipense, ele diz:

“A mudança, pois, da Capital arrancada da solidão para um centro de vida, foi o primeiro passo percursor de uma nova era para esta importante Província; foi o primeiro degrau que se deve conduzir ao apogeu do progresso, riqueza e consideração a que lhe dão direito a índole dos seus dóceis habitantes, a fertilidade prodigiosa do seu solo.”

A idéia do presidente era dotar as barras sergipanas, a começar pela do rio Sergipe, das condições de navegabilidade, introduzindo a rebocagem à vapor, adquirindo o rebocador Aracaju, que entrou em operação no mesmo ano, protegendo a entrada e a saída das embarcações.

Aracaju continuava em obras. Era a segunda experiência da engenharia militar brasileira. A primeira experiência foi no Piauí, quando dois ou três anos antes, foi mudada a capital de Oeiras para Terezina. Aracaju ganhava os primeiros edifícios: o da Casa de Oração São Salvador (hoje Igreja do Salvador), na esquina da rua São Salvador ( hoje Laranjeiras) com a rua do Barão de Maroim (hoje João Pessoa).

Um terreno na praça do Palácio estava destinado à construção da igreja matriz de Aracaju, mas terminou cedendo lugar ao edifício da Assembléia. A igreja catedral terminou sendo construída no centro das futuras praças Tobias Barreto e Mendes de Morais, hoje Olímpio Campos. O Palácio do Governo estava, provisoriamente, instalado na praça do Palácio, esquina com a rua da Aurora (hoje avenida Rio Branco, onde sempre funcionou a Delegacia Fiscal).

A anunciada visita do Imperador Pedro II e sua comitiva a Sergipe, em janeiro de 1860, alvoroçou a cidade. Várias obras foram feitas em função da visita imperial, como a Ponte de desembarque,(Ponte do Imperador), o Forte,ou Castelo da Praça, obra do engenheiro Pirro e destinado a dar as salvas de boas vindas, o Arco de entrada da rua do Barão, pago pelos portugueses, a Capela ao norte da praça do Palácio, além da preparação do Paço Imperial, adaptação do Palácio da Presidência da Província.

O Imperador visitou em Aracaju, ainda, os prédios da Alfândega, o Cemitério, as obras do novo Quartel para a tropa de linha, a Capitania dos Portos, as obras do novo Palácio, a Câmara Municipal, a Tesouraria Provincial, a Tesouraria da Fazenda, o Quartel da Polícia, os Correios e a repartição das Terras Públicas, as obras do Hospital, da Cadeia, das repartições do Exército, algumas delas de responsabilidade do engenheiro militar capitão Francisco Pereira da Silva e a obra da Companhia de Refinação, entregue ao engenheiro civil Pedro Pereira de Andrade, destinada a melhorar a qualidade do açúcar para comercialização. Tais equipamentos davam a melhor impressão do ritmo de trabalho para construir a nova capital de Sergipe.

O Imperador Pedro II fez uma visita sentimental, ao túmulo de Inácio Joaquim Barbosa, que à época estava na parte dos fundos da Casa de Oração São Salvador, por força da Resolução 453, de 3 de setembro de 1856. Depois de receber homenagens do clero, dos funcionários públicos, das Câmaras de vários municípios, do corpo consular, Pedro II visitou a Barra dos Coqueiros, Maroim, Laranjeiras, São Cristovão, Estancia, além das obras do canal que liga os rios Pomonga e Japaratuba e o Engenho Escurial, em Itaporanga, de propriedade de Antonio Dias Coelho e Melo. Em 1859, ao viajar pelo rio São Francisco, em visita a Cachoeira de Paulo Afonso, o Imperador Pedro II conheceu outros lugares de Sergipe, como Vila Nova (Neópolis), Propriá e Porto da Folha, incluíndo a Ilha de São Pedro.

A imagem que Pedro II levou da Província de Sergipe, e de sua capital, era certamente fiel a história que os sergipanos construíam, cotidianamente, em todas as partes do território entre os rios Real e São Francisco. Uma história de afirmação da inteligência e da tenacidade de um povo decidido a promover os avanços necessários para melhorar a vida da Província. Os dados não mentiam.

Em 1870 era criado em Aracaju o colégio Ateneu Sergipense, que funciona, ininterruptamente, até hoje. Logo depois, foi criada a Escola Normal (hoje Instituto de Educação Rui Barbosa), garantindo a escolarização dos jovens sergipanos. Àquela época, Sergipe ganhava destaque em todo o País, pela contribuição cultural de muitos dos seus filhos, como o poeta Pedro de Calasans, o filósofo Tobias Barreto, o crítico Sílvio Romero, os políticos Fausto Cardoso, Coelho e Campos, Olímpio Campos e Martinho Garcez, o filólogo João Ribeiro, dentre muitos outros vultos ilustres, com suas obras.

Em vários pontos da Província eclodiram os movimentos contra a escravidão e a propaganda republicana. Jornais, clubes, sociedades passaram a dedicar suas atenções às questões da atualidade. Vários sergipanos, militares e intelectuais, tomaram parte na campanha abolicionista e tiveram papel especial na proclamação da República. Felisbelo Freire, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Ivo do Prado, Oliveira Valadão, Pereira Lobo, Siqueira Menezes, e outros, deixaram seus nomes gravados na afirmação democrática do Brasil.

Com a proclamação da República, em 1889, Sergipe passa a Estado federado, organizando sua vida jurídica e política, elaborando sua Constituição, promulgada em 18 de maio de 1892. A expansão econômica leva à instalação de fábricas de tecidos, fazendo do algodão uma lavoura preferencial, ocupando centenas de famílias em pequenas oficinas de desencaroçamento. O ciclo do algodão ajuda Sergipe a aumentar o ritmo de desenvolvimento, em décadas seguidas, ao lado do açucar, do sal, do gado e dos produtos derivados.

Uma tragédia sacode o Estado e emociona Aracaju em agosto de1906. Fausto Cardoso, deputado federal, lidera um movimento revolucionário e depõe o presidente Guilherme Campos, irmão e representante do monsenhor Olímpio Campos, chefe oligarca que atravessou da Monarquia para a República sem qualquer cerimonia. Fausto Cardoso foi morto na praça do Palácio, que hoje leva o seu nome, por uma bala de fuzil de um soldado das forças legais, que tentavam repor o presidente deposto. A morte de Fausto Cardoso comoveu Sergipe e fez Aracaju chorar. O poeta, que dizia que “a liberdade só se prepara na história com o cimento do tempo e o sangue dos homens” tombava em defesa dos ideais democráticos e republicanos.

Os filhos de Fausto Cardoso, atribuindo a morte do pai ao monsenhor Olímpio Campos, que exercia mandato de senador no Rio de Janeiro, cumpriram a vingança e mataram o religioso, em novembro do mesmo ano. Findava no luto um confronto político, um conflito ideológico, nascido décadas antes, quando Fausto Cardoso e Olímpio Campos tomaram, no Recife onde foram estudar, posições antagônicas.

Mas Aracaju continuava o seu embelezamento, com o Jardim Olímpio Campos, com as suas novas praças e ruas. Ganhava um teatro, o Carlos Gomes (depois cine-teatro Rio Branco), e bondes, à tração animal que trafegavam pelas principais ruas do centro. As casas começavam a receber água encanada, substituíndo as águas das fontes do Mané Preto, do Anipum, dos Caboclos, da Catinga, das Quiribeiras, da Arueira, da Nação e do Tororó, que eram as mais procuradas. A modernização chegava às construções, com incentivo do Governo que isentava de impostos os tijolos comprimidos, os mosaicos, as telhas francesas, e outros materiais importados.

A década de 1910 trouxe a Sergipe a Diocese, criada em 3 de janeiro, pela Bula Divina Disponente Clementia, do Papa Pio X e seu primeiro bispo, Dom José Tomaz Gomes da Silva. No comando do executivo sergipano, o general José de Siqueira Menezes, republicano destacado e herói de Canudos, empreendia uma verdadeira revolução administrativa: a luz elétrica, o trem, o Horto Florestal e o Código Florestal, o serviço de esgotamento sanitário, a construção de grupos escolares, o monumento a Fausto Cardoso. Outros fatos marcaram a vida sergipana, como a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em 1912, a instalação do aparelho cinematográfico, em 1913, enquanto Aracaju calçava as suas primeiras ruas e praças.

Nem a I Guerra Mundial, nem a gripe espanhola impediram Sergipe de fazer a festa do Centenário de sua Emancipação Política. Uma vasta programação, dirigida pelo presidente Pereira Lobo, celebrava o feito político e espelhava a situação econômica, social e cultural do Estado. Uma missão de artistas italianos, entre os quais Belando Belandi e Oresti Gatti, estava encarregada de reformar e ampliar o Palácio do Governo, e de realizar outros serviços.

Um Entreposto mostrava, em Exposição especial, a produção sergipana. Um monumento a Tobias Barreto simbolizava a homenagem ao genio dos sergipanos, no centro da praça que tomaria, mais tarde, o seu nome. Os fotógrafos Leone Ossovigi, de São Paulo, Fabian, do Rio de Janeiro, e Guilherme Rogatto, italiano residente em Maceió, percorreram Aracaju e várias cidades do interior, registrando a vida do Estado e do povo sergipano. O produto do trabalho fotográfico está no Album de Sergipe, obra monumental de Clodomir Silva, e na coleção de cartões postais, comemorativos do Centenário.

Embalado pela festa cívica, Sergipe elegeu seu presidente Maurício Graccho Cardoso, sergipano que fez carreira política no Ceará, depois de passagem pela vida militar. O Governo Graccho Cardoso, malgrado ter enfrentado duas revoltas tenentistas, uma em 13 de julho de 1924, outra em 19 de janeiro de 1926, foi marcado pelo mais puro empreendedorismo. O presidente deu continuidade e ampliou as obras iniciadas por Siqueira Menezes, construiu grupos escolares, criou o Arquivo Público, fez os prédios da Intendência (hoje Prefeitura de Aracaju), tentou a criação do ensino superior, com as faculdades de Farmácia e de Direito, a primeira denominada Anibal Freire da Fonseca e dirigida pelo médico Augusto César Leite, a segunda Tobias Barreto, cuja direção Graccho Cardoso avocou para ele.

Com Graccho o Estado ganhou várias estradas, serviço de água e de esgoto, bondes elétricos, estações experimentais de algodão, orientadas pelo técnico norte americano Tomas R. Day, Instituto de Física, Instituto Pareiras Horta, para análises e vacinas, a Escola de Comércio Conselheiro Orlando, e as edições das Obras Completas de Tobias Barreto, em 10 volumes, organizadas pelo magistrado Manoel dos Passos de Oliveira Teles, o Dicionário Biobibliográfico Sergipano, de Armindo Guaraná, Minha Gente, livro de costumes de Clodomir Silva. Aracaju, naquele tempo, assistiu a chegada dos aviões e a fundação da Hora Literária, entidade cultural mais tarde mudada para Academia Sergipana de Letras, formada por 40 Cadeiras, cada uma com seu Patrono e seu fundador.

O açúcar, o sal e o algodão dominavam a economia rural, ajudados pelo gado de corte, pelo gado leiteiro, pelo arroz das várzeas irrigadas do baixo São Francisco, e por uma indústria distribuída pela capital e por vários municípios sergipanos. O banditismo, no entanto, inquietava parte da população. Virgulino Ferreira da Silva entrava e saía, desembaraçadamente, do território sergipano, visitando constantemente o sertão, onde fez amizades e era acoitado, até morrer, em 1938, na Gruta do Angico, em Sergipe. Os movimentos tenentistas da década anterior fez de Sergipe um ponto de convergência dos revolucionários de 1930, liderados no nordeste por Juarez Távora. Augusto Maynard Gomes e Eronides Carvalho assumiram, alternadamente, a chefia do Poder, como Interventores. Eronides Carvalho foi, por pouco tempo, governador constitucional, passando a Interventor, com o Estado Novo decretado em 10 de novembro de 1937 por Getúlio Vargas.

Os torpedeamentos dos navios mercantes, na costa de Sergipe, na madrugada de 16 de agosto mudaram a posição brasileira, então de neutralidade face a II Guerra Mundial. Os navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba, Arará, foram torpedeados pelo submarino alemão U-507, que saiu de Bordéus, na França, sob o comando do Capitão de Corveta Harro Schacht, diretamente para a operação nas águas do nordeste brasileiro. Centenas de mortos e feridos deram na praia sergipana, exigindo imediato socorro, dos grupos mobilizados, na mais completa solidariedade. Nas ruas, revoltada, a massa clamava por justiça, pedia a declaração de guerra e apontava estrangeiros, alemães e italianos, como responsáveis pelos torpedeamentos.

Intelectuais promoviam reuniões, organizavam sociedades, publicavam livros, tomando posição política em face das duas circunstâncias fortes: a ditadura de Vargas e a guerra. Vários jovens, homens e mulheres, aderiam à Força Expedicionária Brasileira, organizada para lutar nos campos da Itália e muitos deles voltaram cobertos de glória, como heróis nacionais. A luta política toma cores ideológicas e transformam a redemocratização de 1945 num acerto de contas eleitoral. Candidatos de diferentes partidos pedem ajuda dos comunistas do PCB, enfrentando a censura e o patrulhamento da Liga Eleitoral Católica. José Rollemberg Leite, eleito governador, funda o ensino superior com as escolas de Economia e de Química e oferece donativos do Estado as organizações que quiserem criar as Faculdades de Direito e de Filosofia. Em todo o Estado o Governo instala as Escolas Rurais, numeradas, oferecendo o curso primário no interior.

A década de 1950 coloca novamente Aracaju no centro dos interesses. A capital sergipana vai passar por uma transformação urbana profunda, com o desmonte do Morro do Bonfim, formação gigantesca de dunas, no centro da cidade. A obra é um presente de aniversário, para festejar o Centenário da mudança da capital. O ano de 1955 é todo de festas e são muitos os presentes materiais e intelectuais que Aracaju centenária recebe. Outros eventos, como o Centenário de Nascimento de Silvio Romero, atraem a atenção dos sergipanos e dos brasileiros. A modernização da cidade, a conquista de novos espaços urbanos, o agenciamento de áreas de expansão, os novos prédios timbram uma marca de arquitetura eclética, somatório de contribuições diversas, que garantem a beleza da capital.

A descoberta de petróleo, nos campos de Carmópolis, em 1963 abre novas perspectivas para a economia sergipana. Cinco anos depois, a PETROBRÁS descobre gás natural, pesquisando em lâmina d’água, na plataforma continental de Aracaju. As novas descobertas estimulam a idéia de um modelo de desenvolvimento para o Estado, fundado na exploração e na industrialização das reservas minerais – Halita, Carnalita, Silvinita, Traquidita -, que a mesma PETROBRÁS localizou e cubou, como parte do seu interesse produtor. Outros produtos e sub produtos animaram os governantes na concepção de projetos de Complexo Químico de Base, Polo Cloroquímico e outros que, lastimavelmente, não vingaram.

A criação do Banco do Estado de Sergipe, como banco de fomento, ainda no Governo Luiz Garcia, instalado no Governo Seixas Dória, pelo empresário e jornalista Orlando Dantas, demonstrava o interesse do Estado em levar adiante um novo projeto de desenvolvimento. A mobilização nacional pelas reformas de base, no entanto, foi abortada, gerando efeitos negativos para Sergipe.

Politicamente, Sergipe tem seu governador, Seixas Dória, deposto e preso em Fernando de Noronha. Mais uma vez, a ditadura faz grandes estragos entre os sergipanos, frustrando as conquistas que a luta social e política concedera. De outro lado, vários militares sergipanos, de alta patente, assumem comandos importantes, destacando o Estado, sem ajudar o seu projeto. Os governantes sergipanos aprofundam o modelo econômico e aceleram providências, lançando para a população idéias que se tornaram simbólicas para o Estado, como a construção de um porto, que valorizasse o estuário do rio Sergipe, em Aracaju.

Em 1967 foi criada a Universidade Federal de Sergipe, instalada em 1968, como um instrumento necessário ao Estado, coroando as iniciativas governamentais e da sociedade responsáveis pela criação e manutenção do ensino superior. A situação política nacional, do regime militar, parecia não atrapalhar Sergipe na sua luta pelo desenvolvimento.

O modelo de desenvolvimento estadual levou o Governo a construir o Porto de Sergipe, em mar aberto, na Barra dos Coqueiros, e a Adutora do São Francisco, captando em Propriá água do velho Chico para as indústrias, ao longo do caminho, e para o consumo da população de Aracaju. Por toda a década seguinte o Estado perseguiu seu projeto principal, sem êxito, salvo em alguns pontos como a criação da NITROFÉRTIL( hoje FAFEN), com sua unidade de amônia e uréia, e da PETROMISA, subsidiária da PETROBRÁS para minerar o cloreto de potássio da mina de Taquari-Vassouras (hoje Vale do Rio Doce).

Com o retorno das eleições diretas foi eleito governador João Alves Filho, que ao lado da manutenção do interesse na exploração dos recursos minerais resolveu enfrentar o drama das secas e das estiagens prolongadas, concebendo uma série de medidas singelas de engenharia, e projetos destinados à convivência das populações com um regime insuficiente de chuvas. As adutoras, que desde o Governo Paulo Barreto de Menezes distribuia água em regiões do Estado, e que foram permanentemente ampliadas pelos governadores José Rollemberg Leite e Augusto Franco, construindo a Adutora do São Francisco.

Os anos de 1980 foram igualmente dedicados à adequação das potencialidades minerais, tendo o Presidente da República José Sarney assinado Decreto definindo o Polo Cloroquímico de Sergipe, a ser implantado junto ao Porto de Sergipe. O Governo do Estado, à época sob o comando de Antonio Carlos Valadares, concluiu as obras da área do Polo, deixando-a para as próximas administrações. O retorno de João Alves Filho ao Poder dava continuidade ao esforço comum dos governantes do Estado, embora a conjuntura já não fosse a mesma. O presidente da República, Fernando Collor de Mello, com sua política econômica, freou o projeto mineral de Sergipe, tirou a PETROMISA da PETROBRÁS, tentou vender a FAFEN, e privatizou o setor, frustrando um trabalho sério e consistente, realizado pelos políticos e técnicos sergipanos.

A política do Governo Collor foi prejudicial ao Estado, paralizando as ações que vinham sendo empreendidas há décadas. Sergipe teve de buscar, nos anos 1990, novamente a sua vocação produtiva. Os projetos de irrigação, como o Califórnia, o Platô de Neópolis, e outros visaram fortalecer a produção agrícola, buscando o mercado internacional de frutas tropicais. Os gastos com o modelo industrial de exploração das riquezas minerais não trouxeram os efeitos pensados pelos administradores, e Sergipe se viu novamente tendo que elaborar um modelo de desenvolvimento, para atender à sua população.

Nos últimos oito anos o Governo do Estado se voltou para o fortalecimento das atividades produtivas, revitalizando os setores tradicionais e atraindo investimentos para novas indústrias, que foram instaladas em Aracaju e em vários municípios sergipanos. O governador Albano Franco manteve, ainda, os projetos de irrigação, atuando na região semi-árida do Estado com medidas de efeito imediato, financiadas pelo FIDA, através do programa Pró-Sertão.

Aracaju, como capital do Estado, sede do Governo, onde estão concentrados os serviços é uma caixa de ressonância dos problemas sergipanos. Obrigada a gerar boas condições de vida para a sua população, Aracaju construiu milhares de novas casas, abriu avenidas, criou bairros, mudou o modo e viver, verticalizando as moradias com condomínios espalhados pela zona sul da cidade e conquistou áreas de expansão urbana, para o sul, e de expansão industrial, para o norte, estabelecendo uma convivência mais próxima com os municípios de São Cristovão e Nossa Senhora do Socorro.

Mantendo a beleza do seu traçado, incorporando à sua paisagem as múltiplas contribuições da arquitetura e do urbanismo, a capital sergipana prepara a sua estrutura turística, como porta de entrada do Nordeste. Dotada de bons hotéis, restaurantes, e bem servida de estradas que fazem a comunicação com o resto do Estado e com o Brasil, Aracaju cumpriu em sua história a idéia original dos seus construtores, ordenando o seu crescimento a partir do peão de ordenamento inicial, que ficou conhecido como o quadrilátero de Pirro.

Texto reproduzido do site: clientes.infonet.com.br/serigysite

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Seu Antônio, o empalhador de cadeiras da Atalaia




Fotos: Anna Guimarães.

Publicado no site Expressão Sergipana, em 7 de março de 2016.

Seu Antônio, o empalhador de cadeiras da Atalaia
Por Anna Guimarães | Miss Check-in

Sem querer, acostumamos a andar com pressa, correndo aqui e ali, com pouco tempo para olhar em volta. A gente acostuma a passar sem olhar, a olhar sem perceber, a perceber sem se interessar.

Mas um dia, no stress do trânsito engarrafado, olhei para o lado e vi aquela pessoa sentada na calçada sob o sol do meio-dia, disputando com uma cadeira a pouca sombra de uma palmeira. Cuidadosamente, rendava com palha o assento de uma cadeira antiga, daquelas que via na casa dos meus avós e que as senhorinhas do interior colocavam na porta de casa para travar com os vizinhos alguns dedos de prosa.

O trânsito retomou, alguém buzinou e eu segui no meu roteiro do dia. Mas em um sábado qualquer, voltei. Parei e observei de perto o trabalho minucioso daquelas mãos, recuperando fio a fio a beleza de móveis cheios de lembranças.

Nesse dia, fui recebida com um sorriso largo e um convite para sentar. Acomodada em uma cadeira de balanço, comecei a ouvir sua história enquanto ele concluía mais uma peça. Cada mão com seu ofício!

Antônio Reis de Araújo nasceu em Recife, em 10/05/1952. De família pobre, deixou as brincadeiras da infância na periferia da cidade para, aos 14 anos, começar a trabalhar em uma fábrica de móveis no Bairro da Torre (freguesia que abrigou a primeira manufatura de algodão do Pernambuco). Ali aprendeu o ofício de empalhar cadeiras.

Aos 26 anos, contudo, entre uma cadeira e outra, descobriu o vício. Por algum tempo viveu refém do alcoolismo. Perdeu dinheiro, perambulou pelas ruas, até um dia decidir que não perderia para a ‘bebida’. Em 1978, procurou ajuda no Alcoólicos Anônimos onde, além de superar a dependência, passou a ajudar outras pessoas com seu exemplo. Tornou-se colaborador da associação, levando sua experiência para muitos.

Em 1983, em busca de uma nova vida, decidiu vir para Aracaju. De pronto, arrumou emprego na loja de móveis A Soberana, na Rua Itabaianinha, próximo ao Calçadão das Laranjeiras. Passou apenas três meses na loja e decidiu montar sua própria oficina. Alugou um pequeno ponto na Rua Santa Catarina. Trabalhava no imóvel da frente e morava em um quarto de vila, atrás do ponto comercial. Com o tempo foi se aproximando do centro da cidade. Saiu do Bairro Siqueira Campos e montou sua segunda oficina na esquina da Rua Arauá com a Rua Senador Rollemberg.

Segundo ele, trabalho não faltava, mas passou a enfrentar a concorrência de empalhadores que trabalhavam nas ruas de Aracaju. Um outro Antônio começou a empalhar cadeiras na pracinha do Iate Clube, na Av. Ivo do Prado (esse já falecido), e outro empalhador estabeleceu seu ponto na calçada da Igreja do São José. Seu Antônio diz que tinha uma boa clientela, mas precisava pagar aluguel e as despesas do imóvel. Em 1996, decidiu deixar oficina e trabalhar na rua.

Seu primeiro ponto foi na Rua Lagarto, em frente a floricultura do Seu Fenelon. Permaneceu ali por alguns anos. Nesse meio tempo, recebeu sua casa no Conjunto Orlando Dantas e, por algum tempo, manteve a oficina em casa mesmo. Mas há dez anos voltou a trabalhar na rua. “Aqui sou mais visto”, conta confiante. Conversou com o padre da Igreja Católica da Atalaia e, desde então, empalha suas cadeiras no estacionamento da paróquia, na sombra daquela palmeira, onde o encontrei, lá no início da matéria.

Nesse cantinho fez clientes e amigos. A todo instante alguém para pra puxar assunto. Um cliente passa na avenida e buzina, lembrando que semana que vem tem serviço. Não poderia ser diferente. Além de um artista da palha, Seu Antônio é uma pessoa cativante, sempre com um sorriso simpático pronto para atender quem se aproxima.

E por que eu te contei tudo isso? Muito provavelmente porque daqui a alguns anos essa profissão e esse tipo de profissional estarão extintos e eu não gostaria de carregar o peso de saber que tive a chance de conhecer um deles e não o fiz. Memória é vida!

– Quem quiser conhecer o trabalho do Seu Antonio, ele está todas as tardes, durante a semana, no estacionamento da Paróquia Bom Jesus dos Navegantes, na Av. Antonio Alves (continuação da Av. Beira Mar), no Bairro Atalaia, em Aracaju.

– Nosso personagem continua morando no Conjunto Orlando Dantas. Vive há mais de 30 anos com Dona Célia, com quem tem dois filhos, que não quiseram seguir seu ofício. Nunca mais voltou a beber, mas vai às reuniões do AA toda semana e viaja para reuniões da Associação pelo Nordeste. Orgulhoso, diz que já conheceu todas as capitais nordestinas com o dinheiro da sua palha.

– Esse post é parte do nosso projeto “POEIRA, PAREDES e HISTÓRIAS“, que tenta resgatar as histórias e memórias de Aracaju – Sergipe. Conheça a Fan Page no Facebook.

Texto e imagens reproduzidos do site: expressaosergipana.wordpress.com