domingo, 7 de janeiro de 2024

As Moendas: com uma fina música, de Sergipe para o mundo

Legenda da foto: Sob o aconchego do poetinha Vinicius de Moraes, as irmãs Moendas: Lina, Adi, Dina e Bel Sousa

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 29 de dezembro de 2023

As Moendas: com uma fina música, de Sergipe para o mundo

Por Mário Sérgio Félix*

Não é surpresa que na música brasileira os grupos vocais tenham tido uma participação importantíssima nos acompanhamentos das vozes principais. E continuam tendo até hoje, inclusive superando em alguns momentos essas vozes. Alguns, não. Em muitos momentos.

Como não lembrar de MPB-4 em “Roda Viva”, com Chico Buarque de Holanda? Golden Boys brilhante em “Andança”, com Beth Carvalho. Momento4, em “Ponteio”, juntamente a Marília Medalha e Edu Lobo.

A gente poderia listar aqui mais e mais exemplos de grupos vocais que deram vez - e voz - às interpretações que viraram clássicos da música brasileira.

E com um time de grandes representantes na música brasileira, Sergipe não poderia ficar indiferente a esse momento vocal da música no Brasil.

A década de 1970 tornou-se um grande exemplo de músicos e músicas que daqui nasceram e frutificaram por esse país adentro. A música vocal também nos trouxe essa maravilha.

Quatro meninas se destacam na música sergipana com brilhantismo e ousadia. As irmãs Lina, Adi, Dina e Bel Sousa se transformam no grupo Instant 4 e tornam-se artistas disputadas no cenário local. O auge se configura após a gravação do compacto “Retratos de Aracaju”, contendo composições do músico e jornalista Hugo Costa.

Diante do disco gravado, Sergipe se tornara pequeno para as irmãs que encantariam o mundo. Isso mesmo: o mundo. Como primeira parada, Salvador. Talvez para pegar fôlego e partir para o mundo.

De cara, o grupo fora contratado para cantar na casa de shows Moendas, de propriedade do empresário Thomas Silva. Em Salvador, conheceram muitos artistas nacionais que viriam a mudar a história das meninas sergipanas. Vinícius de Moraes foi um deles.

O poetinha conheceu as meninas e logo idealizou um show com elas. O Teatro Vila Velha foi o palco para apresentação com Vinicius e o show “Vinícius Sois Entre as Mulheres”. Pronto! As portas estavam abertas para as Moendas.

De Salvador, as meninas foram correndo para uma temporada na cidade de São Paulo. Os acompanhantes eram do primeiro escalão da música brasileira: Chico Buarque, Milton Nascimento. Aliás, com Milton, as meninas gravaram “Cio da Terra”, no disco “Journey to Dawn”.

Aclamado como um dos grupos vocais mais influentes da música brasileira, As Moendas fizeram participações memoráveis na televisão brasileira, a exemplo de programas em nível nacional, como Fantástico, Jornal Hoje, Hebe Camargo, inclusive com participação no programa Os Trapalhões da Rede Globo.

As Moendas também tiveram participação em trilha sonoras de novelas e filmes no cenário nacional. Pela televisão Bandeirantes, participaram da trilha sonora da novela “Rosa Baiana”, com o cantador Xangai. No cinema, participaram do filme “A Virgem dos Lábios de Mel”, juntamente com Toquinho.

A atuação das garotas não ficou somente em terras brasileiras. A Europa também teve o gostinho da apresentação delas, encantando a plateia italiana.

O reconhecimento do talento das meninas sergipanas se dá nos dois últimos discos gravados por Toquinho e Vinícius - “10 Anos de Toquinho e Vinícius” e “Um Pouco de Ilusão”.

Os discos marcam o acompanhamento vocal dAs Moendas com bastante aceitação pelo poetinha, assim como, pela crítica especializada.

O último disco gravado por Vinícius, “Um Pouco de Ilusão”, de 1980, tem uma bela peculiaridade. A música “Valsa do Bordel” -Toquinho/Vinícius - fora composta para a gravação exclusiva das meninas.

Nesse disco, Toquinho e Vinícius cantam “Escravo da Alegria”, “Por Que Será”, “Samba pra Endrigo” e mais oito sucessos, entre eles “Valsa do Bordel”, a única sem as vozes de Toquinho e Vinícius, porém com muita sonoridade dAs Moendas.

Lina Souza é professora de música pela Universidade Federal de Sergipe. Adi Souza, mora na Itália. Hugo Costa certa vez me confidenciou que Adi era - e ainda é - uma excelente baterista.

Infelizmente não consegui notícias das irmãs Bel e Dina. Vira e mexe, se reencontram e às vezes sai um single, que torna-se sem dúvida alguma em mais um grande sucesso.

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* O articulista é radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br

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