domingo, 9 de outubro de 2016

Walmir Almeida: o cinegrafista da cidade.


Publicado no JC 2011 - Osmário - Memórias de Sergipe.

Walmir Almeida: o cinegrafista da cidade.
Por Osmário Santos/JornaldaCidade.Net

Mestre nas lentes atuou na reportagem fotográfica, servindo a vários governos, montando um acervo de mais de 10 mil fotos que documentavam os mais importantes lances políticos de Sergipe a partir do governo Leandro Maciel. Indignado pela falta de apoio para a necessária conservação do importante patrimônio para a memória do Estado de Sergipe, pegou uma Kombi, jogou dentro todos os negativos e na proximidade do Aeroclube de Aracaju tocou fogo em tudo, afirmando que foi o fogo mais bonito que viu em sua vida.

Cinegrafista projetou Sergipe através de documentários que eram projetados nos jornais cinematográficos nos cinemas do Brasil através da empresa cinematográfica Atlântica. Foi o pioneiro em cine jornal em Sergipe e um dos seus trabalhos agradou tanto ao presidente João Goulart, que resolveu convidá-lo para participar de sua comitiva a uma visita que faria ao Chile e Uruguai. Como o seu acervo cinematográfico esfriou a cabeça e fez doação do Cine Clube da Cidade.

Um completo atleta e a grande prova é a conquista de muitas medalhas jogando futebol e praticando ciclismo. Foi um dos pioneiros no esporte da vela e um dos fundadores do Iate Clube de Aracaju. No ar é o piloto de maior números de horas de voos que continua em ativa em Aracaju. Um piloto que já fez muitas acrobacias sem assustar a própria família, já que seus dois filhos e a mulher também pilotam.

Filho de Riachão

Walmir Lopes de Almeida nasceu no dia 26 de maio de 1930, na cidade de Riachão do Dantas, sendo filho de Francisco Lopes de Almeida e Maria França Almeida. Tudo que faz na vida é fruto das normas de conduta passada com muito rigor pelo seu pai. “Um homem íntegro, organizado, bom de conselho e amigo dos filhos”.

No Grupo Manuel Luiz, na cidade de Aracaju, com a professora Psidônia, passou a conhecer as letras, sempre acompanhado pele olhar firme de dona Carlota, diretora do grupo, que não descuidava de nenhum dos seus alunos. Uma pessoa que foi muito importante na sua vida. “Dona Carlota me marcou muito e por ela tenho uma grande atenção”. Um aluno que saía bem dos deveres e pelo esforço na aprendizagem conseguia escapar da corretiva régua nas mãos, dada pelos professores da época.

Trocou Revistas

Quando fazia o curso primário no Grupo Manuel Luiz, morava numa casa em frente ao Cinema Guarany, que funcionava na esquina da Rua Estância com a Av. Pedro Calazans. Um cinema onde tudo era possível acontecer. O proprietário do cinema era o senhor Augusto Luz, com quem Walmir mantinha um bom relacionamento. O menino Walmir só não fazia o papel de bilheteiro, mas não perdia um filme e ainda mais munido com um enorme pacote de revistas de quadrinhos para troca que funcionava nos momentos preliminares da sessão, no meio do filme quando havia um intervalo na projeção para troca de carretel e no final, quando tudo era válido em termo de troca e grana, como fim de feira.

Com 13 anos passou a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Passou a estudar pela noite deixando o dia para o emprego que conseguiu com o cunhado João Pinheiro de Carvalho, fotógrafo conhecido na cidade que, além de ter o seu estúdio, era o fotógrafo oficial do Governo de Sergipe. O estúdio funcionava na Rua João Pessoa, e não faltava o tradicional cavalinho que os fotógrafos da época usavam para as fotos infantis.

Repórter Fotográfico

Walmir revela que o cunhado João Pinheiro foi um dos primeiros repórteres fotográficos de Sergipe, tendo aprendido com ele laboratório e todos os detalhes da arte fotográfica, tendo aprendido, também, muita coisa de trabalho de repórter fotográfico. Lições tão bem aproveitadas, que Walmir ocupou a vaga do João Pinheiro no Palácio, quando ele resolveu morar em Brasília, na época da inauguração da capital do país.

O primeiro contado com a máquina fotográfica aconteceu no estúdio com aquela máquina profissional, tipo caixão que trabalhava com tripé. Chegou a trabalhar com a máquina fotográfica caixão e com magnésio. “Não tinha o flash eletrônico e íamos para a igreja numa cobertura de casamento com aquela máquina enorme. Tirava-se geralmente só uma fotografia dos noivos e outra, dependo do casamento, e do noivo com os pais”. Criança que tirava fotografia com magnésio, nunca mais queira saber de tirar foto, devido ao susto que levava. Dava aquele estouro, um clarão enorme e cobria o ambiente todo de fumaça. O cunhado na máquina e Walmir segurando e se preparando para o estrondo e receber banho de fumaça.

As fotos de casamento eram tiradas dentro da igreja sem maiores problemas, tendo até padres que faziam questão de aparecer junto com os noivos. “Ficava a casa cheia de fumaça. Certa feita, num casamento em Estância, por descuido, o magnésio ficou na bandeira da janela. Quando chegou a hora da fotografia, com a explosão, os vidros das janelas não resistiram e partiram para todos os lados, provocando uma correria e tanta. Quando foram procurar os noivos, eles estavam trancados no quarto e dali não saíram mais pra nada”.

Tempo de ginásio

Na rotina da vida, trabalhando e estudando, chegou o tempo de fazer o ginásio e Walmir passou a estudar no Colégio Tobias Barreto, que era dirigido pelo professor Alcebíades Melo Vilas Boas. No Tobias conclui o curso ginasial e secundário.

Prosseguiu os estudos fazendo vestibular para a Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe, sendo aprovado logo de saída. Não descuidava dos livros pela noite, já que o dia era dedicado ao trabalho. Assim foi levando até concluir o curso superior.

Saindo formado economista, entre a loja de discos e um emprego no antigo Condese, resolveu optar pelo comércio onde está até hoje.

No governo Leandro Maciel passou a trabalhar como fotográfico do Palácio. Aproveitava os momentos de folga para supervisionar seu primeiro estabelecimento comercial, que instalou no edifício Mayara, no 3º andar, na sala 302. Iniciou na área comercial com um pequeno estúdio fotográfico. Depois, para um espaço maior no Parque Teófilo Dantas, oportunidade que passou a comercializar discos e artigos fotográficos. Sua loja circulou por alguns pontos comerciais no Centro de Aracaju: a exemplo da loja na Rua Itabaianinha e o da Galeria do Hotel Palace até chegar ao ponto definitivo no Parque, onde continua prestando um bom serviço aos fotógrafos amadores de Sergipe, sempre com orientações e tirando dúvidas.

Gosta de ensinar fotografia

Sempre gostou de passar seus conhecimentos fotográficos para outras pessoas. Assim aconteceu com o fotógrafo do JORNAL DA CIDADE, Geraldo Santos que aprendeu com ele a profissão de tirar retrato quando ainda menino trabalhava na loja de Walmir.

No palácio foram 16 anos de cobertura fotográfica, servindo a diversos governos. No governo de José Rollemberg Leite, lembra-se de um episódio interessante da sua vida de fotógrafo palaciano. “Tinha um certo deputado que não se dava bem com o governador. Numa certa tarde os deputados foram fazer uma visita de cortesia ao governador. Ele, apesar de ser da oposição, foi no meio. Coloquei minha máquina em ação e fotografei o deputado cumprimentando o governador. Ele fez de tudo para conseguir a fotografia. Me procurou e neguei, pois a fotografia pertencia ao Palácio. Um belo dia mandou me convidar para fotografar uma recepção que estava dando em seu sítio. Eu fui como profissional e, no meio de todo mundo, o deputado me elogiou pelo meu caráter e pela minha fidelidade ao governador”.

A Metralhadora

Um outro lance de Walmir aconteceu na sua estreia como cinegrafista. “Tinha comprado uma máquina de filmar e ia inaugurá-la como o governador. Os fofoqueiros e os mais ignorantes começaram a espalhar que eu estava com uma metralhadora com a finalidade de matar Leandro Maciel. Napoleão Dórea passou para o governador o que estava acontecendo e recebeu a seguinte resposta: A única coisa que Walmir pode me matar é tirando uma fotografia feia minha”.

Não participa de concurso de fotografia em Aracaju há muito tempo e guarda uma certa mágoa. “Cheguei a participar em dois concursos, mas houve uma certa marmelada e nunca mais”.

Conta que João Pinheiro de Carvalho foi o primeiro a utilizar da máquina de cinema na bitola de 16 ml para uso de reportagens sociais em Aracaju. Filmava e apresentava o filme mudo. Walmir diz que começou a trabalhar profissionalmente com cinema em Sergipe nas bitolas de 16 e 35 ml, com som, sendo o primeiro de cinejornais em Sergipe.

Cinegrafista

Como cinegrafista, seu nome e suas produções foram exibidos em quase todos os cinemas do Brasil nos jornais cinematográficos. Fundou o Cine Produções Atalaia, ideia que pintou na época do governo Luiz Garcia, diante do incentivo e apoio do secretário Junot Silveira. Imagens que foram reproduzidas não só no Brasil como no exterior. “Fiz um documentário sobre a seca. O filme foi para Porto Alegre para entrar numa campanha a fim de conseguir donativos para os flagelados da seca. Foi até assistido no Planalto, pelo presidente João Goulart, que me convidou para fazer parte da comitiva presidencial em uma viagem que ele faria ao Chile e ao Uruguai, como prêmio pelo meu trabalho. Fui e levei meu equipamento. Na volta, desci no Rio de Janeiro, preparei o filme num laboratório com edição e voz de Cid Moreira, lançando na frente do Canal 1000 e nos demais”.

“O sucesso foi tão grande que logo recebi o convite para fazer parte da ponte cinematográfica nacional, passando a ser correspondente da empresa Atlântica Cinematográfica de Severino Ribeiro, um dos maiores proprietários de cinema e distribuidor de filmes do Brasil”. Conta que alguns dos seus filmes foram exibidos na Suécia e na Itália.

Como na época não tinha televisão, o Jornal Cinematográfico passou por uma áurea fase. O público do cinema gostava da parte esportiva quando aparecia na tela os times do futebol carioca. Em Aracaju quem aparecia na tela em algum filme preparado pelo Walmir na sua documentação de bailes e eventos era prato para todas as conversas. Luiz Garcia e Lourival Baptista souberam aproveitar bem do jornal cinematográfico, mesmo recebendo algumas vaias nos cinemas de Aracaju.

Acervos

No campo de filmes, seu acervo foi doado ao Clube de Cinema. Quanto ao seu acervo fotográfico uma triste história para a memória de Sergipe. “Eu tinha guardado com todo cuidado as negativas de minhas fotos. Tentei em vários governos a organização de um arquivo e nada consegui. Então, certo dia, me chateei, peguei tudo, coloquei dentro de uma Kombi, cheguei perto do Aeroclube e toquei fogo com gasolina. Foi o fogo mais bonito que eu vi em toda minha vida”.

Aviação

A aviação é uma paixão velha. Desde o tempo de menino, quando frequentava constantemente o Aeroclube de Sergipe. De tanta aproximação com os aviões e conversas com pilotos, aos 12 anos voou pela primeira vez de carona. No ano de 1962, recebia a licença de piloto privado.

Na aviação prestou muitos serviços, fazendo taxi aéreo. “Tinha um avião ‘Cesna’ que sempre estava pronto para toda e qualquer emergência. Realizou muitos voos chamados de coqueluche: “É o único remédio realmente bom para curar uma criança que está com coqueluche”. A gente voa de manhã cedo, vai até 2.000 pés e resolvido o problema”. Nos conta que tinha um voo da coqueluche e que era realizado diariamente, como um santo remédio. Como o avião de Walmir era pequeno, só dava um doente, acompanhado do pai ou da mãe.

Na aviação muita gente doente foi deslocava para Salvador, através do avião de Walmir numa época que era o único taxi aéreo em disponibilidade na cidade. Resolveu problemas de políticos e empresários mais comprometidos com o tempo. É piloto veterano da cidade que continua na ativa, com todas as condições físicas, pois técnicas nem se fala já que detém o maior número de voos com 1.200h.

Esporte Náutico

Sócio fundador do Iate Clube de Aracaju, juntamente com Carlos Morais, Álvaro Bezerra e outros amigos, sempre se reuniam para falar de esportes náuticos, mesmo antes da fundação do clube. “Álvaro, que é pai de Thaïs Bezerra, construiu o primeiro snipe em Sergipe. O barco foi construído direitinho e deu certo. Logo em seguida, eu comprei o primeiro snipe em Porto Alegre e esse barco veio de avião”.

Um atleta por excelência de fazer inveja a Collor, pois praticava esporte em terra, mar e ar. Atuou no futebol, no remo, praticou natação, recebeu vários prêmios pelas conquistas de regatas na categoria snipe e continua sorrindo lembrando de suas vitórias. “No ciclismo, fazíamos corrida saindo da Ponte do Imperador até a Ponte da Atalaia. Numa corrida dessas, eu tinha comprado uma bicicleta famosa, a Hércules e resolvi colocar pra ferver. Sai em disparada na frente e resolvi dar uma olhada nos demais concorrentes, bem na frente da Capitania dos Portos. Quando olhei pra trás, percebi que os outros estavam distantes, me descuidei um pouco, bati num carro, perdi a corrida e a bicicleta”.

Família

Casou com Carolina Menezes Almeida, no dia 05 de setembro de 1964, e dela possui dois filhos: Walmir Lopes de Almeida Júnior, e Carlos Eduardo Menezes Almeida. A maior honra de Walmir é dizer que sua mulher e seus filhos pilotam.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
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Imagem ilustrativa.
Recorte de Jornal/Arquivo Eduardo Almeida.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Homenagem à Bráulio do Nascimento


Publicado originalmente no site Sergipe Cultural, em 03/10/2016.

Bráulio do Nascimento, presença em Sergipe
Por Beatriz Góis Dantas*

Tornou-se comum homenagear figuras ilustres da terra por ocasião do seu falecimento. Entretanto, muitos há que não tendo nascido nem morado em Sergipe merecem reconhecimento pelo trabalho realizado em benefício dos sergipanos.

Os que frequentaram o Encontro Cultural de Laranjeiras entre 1976 e 2007 lembram-se de Bráulio do Nascimento, cuja atuação como agente cultural e pesquisador marcou o campo do folclore no Brasil por mais de 50 anos e deixou em Sergipe importante contribuição no campo da cultura popular.

Nascido na Paraíba em 1923, fez carreira no Rio de Janeiro, para onde se mudou ainda criança. Formou-se em línguas neolatinas e interessou-se pelos estudos de folclore a partir da literatura oral. Em 1961, foi trabalhar na Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (CDFB), órgão do governo federal, do qual se tornou diretor em 1974 e permaneceu à sua frente até 1982, quando já se transformara em Instituto Nacional de Folclore. Na sua gestão, de conformidade com o projeto governamental de defesa do patrimônio cultural envolvendo as expressões populares e associando-as ao turismo, Bráulio deu ênfase aos congressos e festivais de folclore. Por outro lado, procurou reativar a rede nacional dos folcloristas criada na década de 1940, incentivando ou recriando antigas comissões estaduais, estabelecendo pontes entre os estudiosos, os grupos folclóricos e o público.

Foi nesse contexto que Bráulio se voltou para Sergipe, dando suporte institucional às demandas colocadas por intelectuais e autoridades locais. Em 1976, discutia-se um evento cultural a ser realizado em Laranjeiras. Ele, como diretor da CDFB, veio a Sergipe, onde contava com amigos como Luiz Antônio Barreto e Jackson da Silva Lima, e viabilizou a criação do Encontro Cultural de Laranjeiras, que teve a primeira edição em maio daquele ano. Esse gesto inaugural foi decisivo, sendo repetido e ampliado nos anos subsequentes, de modo que, sempre no mês de janeiro, aconteceram novas edições do Encontro promovido pelo Governo de Sergipe, pela Prefeitura de Laranjeiras e com apoio de muitas entidades, sendo capitaneado no plano local por Luiz Antônio Barreto. O evento se tornou um grande sucesso e, no corrente ano, completou 41 edições ininterruptas, com múltiplas atividades tendo como fulcro central a cultura popular.

Homem afável e muito habilidoso no trato com as pessoas, Bráulio conseguiu que alguns intelectuais, que faziam das expressões populares de cultura tema de suas preocupações e escritos, se agregassem em torno da Comissão Sergipana de Folclore (CSF) ressurgida em 1976 sob a liderança de Jackson da Silva Lima, pesquisador laureado nacionalmente com o Prêmio Sílvio Romero e trabalhador incansável que muito se esforçou para divulgar a produção cultural local, contando com o apoio de Bráulio, empenhado em ampliar as pesquisas referentes a folclore.

Ainda no I Encontro Cultural, além do Simpósio e das apresentações de grupos folclóricos, foram lançadas publicações, como o álbum de xilogravuras de Enéas Tavares e o número 4 dos Cadernos de Folclore. Este era uma versão condensada do meu livro Taieira de Sergipe, publicado em 1972, que se fazia acompanhar de pequeno disco compacto com o registro sonoro dos cantos das devotas de São Benedito. Seguiu-se a publicação do material que eu havia pesquisado entre grupos folclóricos de Laranjeiras – Chegança e Dança de São Gonçalo – sendo editados textos e discos que integravam a coleção Cadernos de Folclore e o Documentário Sonoro do Folclore Brasileiro, duas séries criadas em sua gestão e publicadas pela Campanha por vários anos. A Revista Sergipana de Folclore, órgão da Comissão estadual, da qual saíram três números (1976, 1978, 1979), também contou com o apoio de Bráulio, abrindo espaço para os pesquisadores locais. Nela publicaram Aglaé Fontes Alencar, Beatriz Góis Dantas, Jackson da Silva Lima, Luiz Antônio Barreto, Núbia Marques, Paulo de Carvalho Neto e outros.

Em Sergipe, a CDFB, sob a direção de Bráulio, também apoiou ou patrocinou cursos e jornadas realizadas em convênio com o governo, com a Comissão Sergipana de Folclore ou com a Universidade, na qual chegou a ser criada uma disciplina de folclore em 1976. Promoveu mapeamento das manifestações folclóricas sergipanas, trabalho infelizmente não publicado; possibilitou a qualificação de estudantes em cursos realizados na Fundação Joaquim Nabuco em Recife, de onde retornavam para ocupar espaços nas agências culturais do estado e do município. Significativamente, nos anos 80, há uma floração de publicações resultantes dos levantamentos e registros realizados sob o guarda-chuva dessas entidades governamentais.

A atuação de Bráulio em Sergipe, contudo, não se limitou apenas a dar suporte material e fazer a articulação de várias atividades relacionadas com o folclore. Ao longo dos anos, ele era presença cativa no Simpósio, ora como palestrante, debatedor ou moderador nas Mesas Redondas, ora como ouvinte atento e interpelante arguto entre os integrantes da plateia, trazendo sempre um ensinamento novo, ampliando o conhecimento e elevando o nível das discussões sobre os temas debatidos.

Quando deixou a direção do Instituto Nacional de Folclore (1982), órgão que substitui o CDFB e que ele ajudou a estruturar, continuou a visitar Laranjeiras anualmente. Era a figura mais querida e esperada do Encontro Cultural, do qual participou durante 30 anos. Dedicou-se a organizar a memória do evento. Em 1995, veio a lume volumoso documentário contendo dados sobre os primeiros 20 anos do Encontro. No seu texto de abertura, recuperou em linhas gerais a história do evento e fez a avaliação de sua importância para os estudos de folclore, afirmando que “não é possível falar do desenvolvimento dos estudos da cultura popular no Brasil sem passar por Laranjeiras”.

Entre 1995 e 1999, continuou como coordenador geral dos Anais do Encontro Cultural, período em que a memória do Simpósio ficou devidamente registrada em várias publicações. Anos mais tarde, quando o Encontro completou 30 anos, Bráulio, então com 80 anos de idade e uma vitalidade de fazer inveja a muitos jovens, presidiu a Mesa de Abertura do Simpósio e assinou um texto rememorativo falando das origens e incorporando os avanços dos últimos 10 anos.

Depois de 2007, Bráulio não mais voltou a Laranjeiras. Porém, mesmo ausente, seu legado continua a pairar sobre todos, e não se pode fazer alusão ao passado sem que a ele se faça referência. O Encontro Cultural de Laranjeiras foi o grande contributo que Bráulio deu a Sergipe. Ajudou a dar visibilidade aos estudos de folclore e a Laranjeiras, mas, antes de tudo, contribuiu para a continuidade/recriação de grupos folclóricos, que entram na construção da identidade local.

Por tudo isso, os sergipanos e os laranjeirenses, em particular, são reconhecidos a Bráulio do Nascimento, a quem concederam títulos de cidadania honorária. Sua morte ocorrida no Rio de Janeiro, no último dia 26, trouxe tristeza aos amigos e aos que dividiram com ele as vivências no Encontro Cultural de Laranjeiras, que ele ajudou a germinar, florescer, frutificar e hoje continua a projetar a terra de João Ribeiro no cenário nacional.

* Mestra em Antropologia Social pela Unicamp, professora emérita da UFS, membro da Academia Lagartense de Letras.

Texto e imagem reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Você sabe quem foi Ivo do Prado?


Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 03/08/2016.

Você sabe quem foi Ivo do Prado?

Ivo do Prado Montes Pires de França, militar, político e historiador (São Cristóvão/Sergipe 20.05.1860 - Rio de Janeiro/RJ 25.04.1924), teve destacada participação no movimento da Proclamação da República, exercendo diversas funções militares relevantes.

De Osvaldo Ferreira Neto.

Ivo do Prado Monte Pires da França nasceu em São Cristóvão (SE) no dia 20 de maio de 1860, filho de Deusdeti Pires da França e de Lina Leonor do Prado Montes da França. Em 1875 mudou-se para a Bahia e em janeiro de 1878 ingressou como praça no 16º Batalhão de Infantaria Motorizada (16º BI) em Natal. Transferindo-se para o Rio Grande do Sul, em 8 de março de 1884, tornou-se alferes-aluno na Escola de Cavalaria e Infantaria.

Em 1885 voltou a Sergipe e passou a servir na companhia militar fixa da província, na qual permaneceu até o ano seguinte. Em 1887 mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império, onde se matriculou na Escola Militar da Praia Vermelha, na qual foi promovido ao posto de segundo-tenente. Ainda no final de 1887 desligou-se da escola por envolvimento na chamada Questão Militar, uma série de episódios protagonizados pelos coronéis Antônio de Sena Madureira e Ernesto Augusto da Cunha Matos, que recorreram à imprensa para defender direitos que entendiam ameaçados pelo governo, que resultaram em sérias punições aos reclamantes.

Contra essas medidas, oficiais de várias guarnições se mobilizaram, em especial às gaúchas, sendo autorizados pelo comandante das armas e vice-presidente da província do Rio Grande do Sul, general Manuel Deodoro da Fonseca, que, em consequência, foi demitido de seus cargos. Na Corte, a situação provocou reuniões de oficiais, sob a liderança ascendente do major Benjamin Constant Botelho de Magalhães, professor de matemática na Escola Militar do Brasil. Depois da exclusão, Ivo do Prado matriculou-se na Escola Geral de Tiro do Rio de Janeiro, mas em 1888 foi reintegrado à Escola Militar da Praia Vermelha, onde concluiu o curso de Estado Maior de Primeira Classe.

Já em 1889 foi transferido para o Segundo Regimento de Artilharia de Campanha, teve destacada participação no movimento da Proclamação da República tornando-se secretário. Em dezembro de 1889, o Governo Provisório o colocou à disposição do Ministério do Interior e por este foi nomeado auxiliar técnico do Governador de Sergipe. Ao chegar a Aracaju, foi designado para organizar e comandar o Corpo Militar da Polícia do Estado.

Eleito deputado à Constituinte da República exerceu o mandato com dedicação e honra, de 1890 a 1894. Foi o grande pesquisador na geografia sobre os limites de Sergipe e Bahia trazendo a questão para o debate nacional. Ivo do Prado foi um dos idealizadores do Canal Santa Maria ligando duas grandes bacias hidrográficas que eram os rios Sergipe e o Rio Vaza-Barris, sendo o mentor da toponímia do canal que foi inaugurado em 1892, ano que se comemoravam os 400 anos da descoberta da América. Em razão deste fato Ivo Prado sugeriu o nome de Canal Santa Maria em homenagem a grande nau que trouxe Cristóvão Colombo à América. Posteriormente a nomenclatura do Canal vai ser dado ao grande Bairro Santa Maria e o Aeroporto de Aracaju que está nas cercanias do Canal.

Em 1895, foi nomeado professor e chefe do ensino de artilharia na Escola de Sargentos, em Realengo, no mesmo ano fundou e tornou-se redator do Jornal de Aracaju, na capital sergipana, onde serviu até 1897, quando foi extinta a referida Escola. Transferido para o Mato Grosso, serviu no 2º Batalhão de Artilharia de Posição, comandou o forte de Coimbra, montou o Laboratório Pirotécnico de Cuiabá e terminou comandando o batalhão. Em 1902, serviu na capital federal e, no ano seguinte, voltou para o Mato Grosso, por força dos boatos que corriam sobre a provável invasão de Corumbá pelas forças do General Pando. De Corumbá voltou para a capital da República, onde foi confirmado no posto de major do Estado Maior de Artilharia e chefe de gabinete da Intendência Geral do Ministério da Guerra, assim permanecendo até 20 de novembro de 1906, quando foi nomeado assistente do chefe do Estado Maior do Exército.

Durante esse período, em 1919 foi designado pelo presidente de Sergipe, José Joaquim Pereira Lobo (1918-1922), para representar o estado no VI Congresso de Geografia, realizado em Belo Horizonte. Sua missão, juntamente com Manuel dos Passos de Oliveira Teles e Lima Júnior, era discutir a delimitação territorial de Sergipe, em face da perda para a Bahia de terras situadas do lado sul e oeste da fronteira entre os dois estados. Apresentou um trabalho sobre a posição geográfica do rio Real, situado ao sul da fronteira, que mais tarde foi publicado com o título de “A capitania de Sergipe e suas ouvidorias: memória sobre questões de limites”.

Em 1921, já como general de divisão, voltou a ser eleito deputado federal pelo estado de Sergipe. Assumindo, em maio desse ano, sua cadeira na Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro, cumpriu seu mandato até o final da legislatura, em dezembro de 1923. Foi também membro da Sociedade Emancipadora Rio Branco, do Clube Acadêmico de Porto Alegre, do Clube Militar do Rio de Janeiro e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

No campo jornalístico, colaborou com os jornais Luta, Voz do Trabalhista, Lábaro, Mercantil, Século, todos do Rio Grande do Sul, e também na Folha do Trabalhador, Gazeta Oficial, Estado, Rebate, Sertanejo e A Pátria, de Mato Grosso. Publicou ainda: “A capitania de Sergipe e suas ouvidorias”, “Eu e o Dr. Leandro Maciel”, “Ao eleitorado sergipano”, “Aos meus contemporâneos e Limites de Sergipe e da Bahia”. Faleceu na capital dos Estados Unidos do Brasil que era o Rio de Janeiro em 25 de abril de 1924. Suas exéquias foram uma glorificação nacional sendo sugerida pelos seus conterrâneos que moravam no Rio a cidade que lhe homenageou como nome de uma das principais vias do bairro Campo Grande, o mais populoso da cidade maravilhosa.

Em 21 de julho de 1929 na administração do saneador o coronel Teófilo Correia Dantas assinou o decreto de lei 13 que mudou o nome da Rua da Frente para Avenida Ivo do Prado, que margeia o Rio Sergipe e passa pelo Centro e o Bairro São José. A avenida começa na esquina da Assembleia Legislativa, na Praça Fausto Cardoso e vai acabar na esquina da OAB-Sergipe (antigo casarão dos Rollemberg), na Praça Getúlio Vargas, que por muito tempo foi um dos pontos mais importantes e nobres da capital sergipana. A avenida também foi escolhida para receber a Família Real, que aportou na Ponte do Imperador 1860.

Texto e imagens reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br

Créditos fotos: 
F/1 - Divulgação.
F/2 - André Moreira

Réplica do Carrossel do Tobias, agora no Centro Cultural de Aracaju


JE 1º EDIÇÃO - Réplica do Carrossel do Tobias 
está exposta no Centro Cultural de Aracaju.

Especial Carrossel do Tobias - 100 Anos de História

Especial Carrossel do Tobias - 100 Anos de História.
Do Canal YouTube de Demóstenes Silva.
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Clique no link abaixo, para assistir o vídeo.
https://youtu.be/6P_92EPd3R8


sábado, 1 de outubro de 2016

1º Bispo - Dom José Thomaz Gomes da Silva


1º Bispo.

Dom José Thomaz Gomes da Silva (1911 a 1948 )
1873 † 1948.

Eleito no dia 12 de maio do ano de 1911. D. José Thomas Gomes da Silva, foi recebido com todas as honrarias, não só pelo clero mais pelos políticos locais e membros da sociedade. Uma explicita demonstração de como seria a estadia do bispo no Estado.

Passada as comemorações, dois dias depois, o bispo D. José Thomas Gomes da Silva deu início ao trabalho de reestruturação da Igreja local, participando, dessa forma, do projeto nacional de reforma do clero. D. José começou seu oficio fazendo as devidas nomeações para composição de sua diocese. Depois, fundou um boletim, meio pelo qual ele informava aos padres e paroquianos tudo que estava acontecendo com a igreja em nível mundial e nacional, além de informações acerca de sua administração, pois era nessa publicação que D. José Thomas fazia as devidas cobranças, tanto financeiras como espirituais e morais.

Visitas pastorais e criação de paróquias também foram atitudes importantes no tocante à ampliação dos domínios da Igreja, sem contar com a relação desenvolvida por D. José com os governantes do Estado e com os representantes da elite econômica e intelectual local. O bispo agiu como um estrategista, inseminando os preceitos da igreja em toda a sua circunscrição.

Dentre os fatos que marcaram o seu bispado está o auxilio material e espiritual dado aos estabelecimentos escolares e assistenciais, a exemplo do Instituto Bento XV, do Ginásio Nossa Senhora das Graças, da cidade de Propriá, do Colégio Sagrado Coração de Jesus, do Ginásio Patrocínio de São José em Aracaju, do Orfanato da Imaculada Conceição, do Oratório Festivo São João Bosco, fundado por Genésia Fontes, a D. Bebé, e da Associação Santa Zita, destinado a menores carentes.

Outro aspecto a ser considerado na atuação de D. José Thomaz, está relacionado à obtenção de patrimônio para a Diocese. Com a falta de subsídios do Estado, a Igreja teve que dispor de seus próprios recursos para sua manutenção. Como cada diocese tinha por obrigação se manter, a aquisição de patrimônio, era algo necessário. Daí a construção de uma Comissão composta de várias personalidades sergipanas, pessoas de posse e de cargos importantes no Estado, membros de uma elite econômica, a começar pelo presidente do Estado, o general José de Siqueira Menezes, a quem o bispo designou presidente de honra; o desembargador Zacarias Horácio dos Reis foi nomeado vice-presidente; o primeiro secretário era o coronel Antonio Gomes da Cunha Júnior; o segundo secretário, o major Luiz José da Costa Filho; e, como tesoureiro, fora designado Manoel Teixeira Chaves de Carvalho. Como procurador geral, o bispo escolheu o desembargador Antonio Teixeira Fontes. Nomes como os de Alexandre Lobão, Amintas Guaraná, major rsênio Araújo, o médico Augusto Leite, Augusto Mattos, Aurélio do Prado Vieira, Benjamin Mendonça, coronel Félix Pereira de Azevedo, Francisco C. Nobre de Lacerda, o cônego Francisco Gonçalves Lima, Guilherme Nabuco, o médico Helvécio de Andrade, Euvidio Velbo, João Antonio de Oliveira, o desembargador João Maynard, padre João Victor de Mattos, José de Araújo Cardoso, o coronel José da Silva Ribeiro, José Moreira de Magalhães, o desembargador Manoel Caldas Barreto, o professor Manoel Francisco A. de Oliveira, Nelson Vieira, o desembargador Simeão Sobral e Silvio Motta compunham o quadro de membros da referida comissão. Mas o presidente efetivo desta, era o padre Manuel Raymundo de Melo, que também fora nomeado o primeiro reitor do Seminário criado por D. José Thomas. (LIVRO DE REGISTRO DO SEMINÁRIO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, 1913-1948, p.2).

O fato, porém, que mais marcou o bispado de D. José Thomaz, foi à criação do Seminário Sagrado Coração de Jesus. Foi através dele que o bispo, efetivamente, cumpriu com a missão de ampliação dos domínios da Igreja e de reforma do clero. Através do Seminário, a Igreja local ganhou repercussão nacional e a Igreja nacional pôde contar, muitas vezes, com muitos dos seus quadros.

A criação da Diocese e a implantação de seu Seminário significaram, além da restrição do campo de atuação dos protestantes e dos espíritas, a retomada de uma certa estabilidade que parecia estar se perdendo. O Seminário, por sua vez, implantado em 1913, representou não só a manutenção e a ampliação do número de clérigos, mas uma escola que educou e “formou” muitos sergipanos.

Fonte: iaracaju.infonet.com.br/serigysite

Texto e imagem reproduzidos do site: arquidiocesedearacaju.org

Museu Histórico de Sergipe, na cidade de São Cristóvão


Museu Histórico de Sergipe, na cidade de São Cristóvão/SE.

O prédio que abriga o Museu Histórico de Sergipe,
já foi cadeia, hospital e escola.

O Conhecendo Museus desta semana apresenta o Museu Histórico de Sergipe, inaurugado em 5 de março de 1960 com a missão de salvaguardar a memória e a identidade do povo sergipano representado nos bens móveis e imóveis que compõem seu acervo. A instituição museológica é a mais antiga do estado e remonta ao século XVIII. O prédio — que já foi cadeia, hospital e escola — e o acervo desafiam o tempo, para satisfação e aprendizado do público visitante.

O rico e diversificado acervo tem a marca dos seus curadores, os irmãos Junot Silveira e Jenner Augusto. São mobílias dos séculos XIX e XX; quadros artísticos variados; bustos de personalidades sergipanas; coleções de moedas, medalhas, louças, telefones antigos que marcaram a trajetória de Sergipe desde o período colonial; além de objetos e fotos raras de personagens do cangaço e muito mais.

Outro destaque do acervo são as obras do pintor Horácio Hora (1853-1890), um dos grandes nomes do romantismo brasileiro, e coleções pessoais de personagens históricos, como o do jornalista e político Lourival Fontes (1899-1967), ministro de propaganda de Getúlio Vargas.

O Museu Histórico de Sergipe se define como “uma casa de visitas" porque recebe, além de turistas, escolas e acadêmicos; também é uma "casa de pesquisas" à medida que produz conhecimento através de suas exposições, catálogos, artigos, palestras, comunicações. Seu terceiro perfil, "casa de cidadania" ganha notoriedade a partir dos projetos socioeducativos que realiza, a exemplo do Círculo dos Ogãs, que envolve as casas de terreiros de candomblé do município de São Cristóvão.

O museu ainda apresenta novidades ao público: um auditório e salas de exposições temporárias, integradas por meio do primeiro plano museográfico da história do Museu. Graças ao projeto, a instituição deixa de ser apenas um local de exposição de peças antigas para tornar-se um espaço mais funcional e abrangente, pronto para receber visitantes interessados na história, na cultura e nas artes do estado.

Texto e imagens reproduzidos do site: tvbrasil.ebc.com.br

Necrológio Maria Lígia Madureira Pina.


Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em 13/08/2016.

Necrológio Maria Lígia Madureira Pina.

..."Maria Lígia Madureira Pina partiu para outra dimensão de vida em 14 de agosto de 2014, deixando um rastro luminoso na sua passagem terrena. Não precisou prestar contas ao criador, pois eram muitos os créditos acumulados na corte divina, que os portões do paraíso já estavam abertos. Nenhum porteiro a lhe cobrar credenciais... Ela sorridente entrava ouvindo a música celestial e o coro dos anjos louvando a sua chegada."

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Afirmam os estudiosos da cultura oriental que os cidadãos japoneses, de todas as classes sociais, são obrigados a se curvar diante do imperador, em sinal de subserviência e respeito. Há uma categoria profissional, entretanto, que não é obrigada a fazer esta reverência. Poderá fazê-la se quiser, em sinal de respeito, de consideração, nunca por obrigação: é a categoria dos professores. O Imperador japonês, por sua vez, não deve se curvar diante de ninguém, a não ser diante de seus mestres em sinal de consideração e gratidão. O divino imperador japonês, se curva diante de um humilde cidadão. Um humilde cidadão, mas um cidadão sábio. É essa sabedoria que se respeita juntamente com o homem que a possui. O imperador sabe que jamais teria a sabedoria necessária para governar se não fossem os ensinamentos e a orientação dos seus mestres. Para eles, numa terra onde não há professores não pode haver imperadores.

No Japão, essa valorização do mestre foi uma das responsáveis por tirar o país do caos em que mergulhou depois da Segunda Guerra Mundial. Seguindo esta política de valorização dos professores, o Japão tornou-se a segunda maior potência econômica do pós-guerra.

- Sr. Presidente, minhas senhoras e meus senhores,

estamos aqui reunidos nesta assembleia, para reverenciar, como fazem os imperadores japoneses, à memória desta grande mestra, Maria Lígia Madureira Pina, que deixou um rastro de boas ações e de realizações pelos caminhos que percorreu semeando as sementes do saber, plantadas e bem cuidadas pela dedicação da mestra que ensinou a tantas gerações. Digo mestra, senhor presidente, porque o professor é aquele que apenas ensina, e o mestre ensina e dá exemplos.

A acadêmica Maria Lígia Madureira Pina não foi apenas uma professora, foi acima de tudo uma grande mestra que soube transmitir com segurança os seus conhecimentos e mais do que isto, soube ser exemplo aos alunos e a toda a sociedade sergipana: foi exemplo de dignidade, foi exemplo de dedicação, foi exemplo de responsabilidade no desempenho das suas funções, foi exemplo de amor com sua arte literária, foi exemplo de comprometimento com as duas academias das quais participava, foi exemplo de muitas virtudes.

Dom Helder Câmara, no seu livro “Mil Razões para Viver” publicou um pequeno poema de grande significado falando sobre a virtude da docilidade, e assim ele dizia: “existem pessoas que são como cana de açúcar, mesmo que sejam esmagadas, maltratadas e feridas só sabe dar doçura”. E a Acadêmica Lígia Pina foi um exemplo de doçura. A virtude da docilidade consiste numa força magnética que atrai a todos, a vida se torna mais suave quando a pessoa age com docilidade. Não confundir doçura com fraqueza. Quem a conheceu sabe disso!

Tenho observado que as mulheres que transmitem doçura têm uma determinação e uma fortaleza de espírito inquebrantável, não se dobram nem esmorecem diante das adversidades, ao contrário, sabem enfrentá-las sem temores. Assim foi Irmã Dulce, assim foi Madre Tereza de Calcutá, assim foi D. Maria Virgínia Leite Franco, assim foi Maria Lígia Pina. Assim foram tantas mulheres que traziam a doçura no sorriso e a tempera do aço no espírito.

Maria Lígia Madureira Pina nasceu em Aracaju, em 30 de setembro de 1925. Era a única filha do casal formado por Afonso Pinna e Alexandrina Madureira Pinna. Iniciou a sua educação formal na escola de D. Carlota Sales de Campos onde aprendeu as primeiras letras e adentrou o mundo mágico dos números, dominando o manuseio da tabuada. Ali, recebeu de sua primeira professora os ensinamentos básicos, recheado de conhecimento e saber, que serviram como esteio para o desenvolvimento intelectual e o futuro aprendizado profissional. Dai, passou a estudar no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, indo posteriormente para a Escola Normal.

Já professora, graduada pela Escola Normal, tentou fugir do magistério, para atuar como comerciária, na firma Cabral Machado & Cia, tentativa esta frustrada diante da sua pouca aptidão para a prática comercial e da sua grande vocação para o Magistério e principalmente porque havia conquistado no curso do Instituto de Educação Rui Barbosa, um amadurecimento social e cultural, capaz de transmitir aos adolescentes aracajuanos, os conhecimentos obtidos naquela instituição de ensino público.

Definitivamente convencida do seu pendor para lecionar, inaugurou o seu talento e vocação para o magistério como professora autônoma, com a tarefa de dar aulas de reforço a crianças da sociedade aracajuana. Nesse tempo, preparava-se, também, para o vestibular da Faculdade de Filosofia de Sergipe, merecendo brilhante aprovação.

Graduando-se em História e Geografia, pela antiga Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, dedicou-se ao magistério por mais de três décadas, lecionando aulas de História, Geografia e Sociologia na rede pública do ensino estadual, em especial no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, Instituto de Educação Rui Barbosa, no Colégio Dom José Thomaz, Colégio Nossa Senhora de Lourdes, no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, no Colégio Tiradentes onde foi professora fundadora e recebeu homenagem da UNIT por este fato, além de outros colégios de Aracaju.

No exercício das suas funções como educadora inovou os métodos de ensino criando peças de teatro, palavras cruzadas e charadas, como formas de transmissão de conhecimento. Encenou duas peças teatrais de caráter histórico com objetivos didáticos: O Viajante do Tempo com alunos do Colégio Aplicação da UFS, em 1975; e o Ponto Ômega com alunos e professores do Colégio Estadual Atheneu Sergipense em 1979. Publicou ainda trabalhos de cunho didático a exemplo da obra Riquezas do Brasil, em 1969, “Tudo isso é Brasil”, “História do Brasil (da Colônia à Revolução de 1930)”.

No decorrer da sua carreira participou de várias bancas examinadoras e de eventos educacionais no Brasil e no exterior, valendo destacar o Curso de Sistemas Educacionais, que freqüentou em Israel, no ano de 1989.

Ademais, teve uma participação efetiva nos acontecimentos e nas instituições culturais de Aracaju, com incursões no jornalismo e na vida sindical do magistério, pois foi Presidenta do Sindicato dos Professores durante cinco anos. Foi ainda Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Associação Sergipana de Imprensa, do Conselho Estadual de Cultura, da Academia Literária de Vida, e da Academia Sergipana de Letras.

No jornalismo, a intelectual Maria Lígia Pina colaborou com suas bem elaboradas crônicas, artigos e poesias, para os jornais A TARDE, suplemento local; Arte e Literatura, suplemento da Gazeta de Sergipe; O Sergipense, do qual foi fundadora e editora; Jornal da Cidade; Letras Sergipanas, da Academia Sergipana de Letras; jornais e revistas da Academia Literária de Vida entre outros.

Poetisa desde a infância escreveu seus primeiros versos aos dez anos de idade. Além de poetisa foi contista, cronista, romancista e teatróloga. A poesia e a arte sempre estiveram presentes na vida da intelectual Maria Lígia Pina e ela deu uma valiosa contribuição ao desenvolvimento cultural de Sergipe. Em 20 de dezembro 1992, juntamente com as ex-colegas e amigas: Leyda Regis, Maria da Conceição Ouro Reis, Yvone Mendonça de Souza, Maria Hermínia Caldas e Shirley Maria Santana Rocha, Cléa Maria Brandão fundou a Academia Literária de Vida da qual foi presidenta até seus últimos dias. Nesse sodalício, hoje composto por 12 acadêmicas, as integrantes expõem seus talentos apresentando peças literárias, poesias, desenvolvem pesquisas voltadas para a cultura, promovem palestras, publicam revistas contendo obras das acadêmicas, além de manter um blog divulgando as atividades ali realizadas. Nesta academia há um clima de solidariedade e de convivência harmoniosa contagiantes. Após sua aposentadoria, a literatura e a Academia Literária de Vida passaram a ser a sua grande motivação e a elas dedicava grande parte do seu tempo. Não esquecia, também, a sua freqüência e participação na Academia Sergipana de Letras, onde ocupava o cargo de Vice- Presidente. Como fruto da sua atividade literária, a Acadêmica Lígia Maria Madureira Pina publicou livros de poesias, contos e história. Nos últimos dias de vida dedicava-se a concluir um novo livro de poesias, e o romance “Vida é Amor”, ainda inéditos.Trabalhava, também, na segunda edição de “A Mulher na História”, complementada e atualizada.

O primeiro livro de poesia, da Acadêmica Lígia Pina “Flagrando a Vida” não foi uma obra esculpida na pedra da imaginação. Cada um destes poemas reflete uma cena vivida, que a autora presenciou, e tocou à sua sensibilidade levando-a a sofrer e a chorar nos versos dos seus poemas, solidária aos que estão sofrendo e chorando as dores deste mundo angustiado. O contexto do livro é o social. Em quase todos os 37 poemas há sede de justiça baseado no amor e na fraternidade. A autora não aderiu aos sentimentos exacerbados dos poetas românticos que construíram sua arte poética lamentando-se ou chorando seus íntimos ais. A autora lamenta e chora as dores dos injustiçados e dos que amargam o abandono, a miséria e a pobreza. Os poemas estampados na obra poética FLAGRANDO A VIDA são flashes que a autora fixa como se estivesse fotografando a atormentada humanidade.

Em 1999 publicou o seu segundo livro de poesias: “Satélite Espião - observa a vida no planeta azul” mais que um livro de poesias é um registro de fatos ocorridos em nosso planeta. Pode-se dizer que ele é uma seqüência de Flagrando a Vida. Em Satélite Espião a autora coloca-se como um satélite artificial, munido de lentes poderosas observando e registrando as dores da humanidade, a exploração indevida da natureza, os desacertos político-sociais dos governantes, a exuberância da flora, os fenômenos celestes, etc.

Há uma coisa em comum nessas duas obras poéticas: tudo é verdadeiro. Os fatos que se transformaram em poesias foram cavados com as mãos feridas da poetisa, nas minas sombrias da realidade: desde as angustias do Nordestino flagelado pela seca, à opressão contra a mulher e a criança. É bem verdade que o Satélite Espião registra também as belezas naturais da Mãe Terra: desde as rosas, as açucenas, a laranjeira, aos resquícios do Morro de Bebé, onde amendoeiras e bananeiras dançam ao sabor da brisa.

Acolhe também nesta obra, suas lembranças de braços alongados alcançando os registros de suas andanças por outras plagas: Jerusalém, milênios de história. As Pirâmides e a Esfinge no Egito, Lourdes, Fátima, Lisboa.... Tudo observado e registrado pela sensibilidade do Satélite Espião funcionando no cérebro e no coração da poetisa que sabe transformá-las na mais pura poesia.

Lígia Pina também se destacou na área de pesquisa. É autora do livro “A Mulher na História”, publicado em 1994 – quando registra as mulheres pioneiras, que lutaram para ocupar um lugar de destaque na sociedade, dando luz principalmente, às grandes mulheres sergipanas. A partir daí, esses vultos femininos passaram a servir de tema em teses de mestrado e doutorado nas universidades sergipanas. Esse trabalho foi bem recebido e comentado no Circuito Literário Nacional e nas Universidades da Califórnia e Utah, nos Estados Unidos. Em 2008 lançou o livro “A Relíquia - Contos e Crônicas”.

As suas atividades no magistério, as realizações no mundo cultural, sua participação no MAC e a sua produção literária a credenciaram a pleitear uma cadeira na Academia Sergipana de Letras onde desejava ver coroada de êxito a sua carreira literária, recebendo o titulo de Imortal. Seu desejo se realizou, pois foi eleita para a cadeira n° 27, cujo patrono é o educador Manuel Luis Azevedo de Araujo e o último ocupante Benedito da Silva Cardoso.

Não foi por acaso que tomou posse na Academia no dia 13 de maio de 1998. Escolheu esta data por ser o Mês de Maria, mãe de Jesus, dia de Nossa Senhora de Fátima e dia da Abolição da Escravatura. Aliou seu espírito religioso, homenageando a Maria mãe de Jesus, à sua formação humanitária sempre defensora da liberdade, homenageando a Princesa Isabel que lavou, com a Lei Áurea, esta mácula que por muito tempo permaneceu atormentando a consciência de muitos brasileiros: A mancha terrível da escravidão. Foi saudada pelo Acadêmico José Anderson Nascimento, hoje presidente do sodalício, que após falar sobre as qualidades da novel acadêmica, concentrou a sua oração na análise e comentários sobre o livro “A Mulher na História” os quais transcrevemos alguns trechos mais significativos:

“A Mulher na História é um repositório de preciosas e importantes informações, pois narra toda a trajetória da mulher, desde a mais longínqua antiguidade até aos dias atuais. Nesse livro, começa por analisar as origens da discriminação da mulher a partir da função biológica, própria do sexo feminino. Os tabus que passaram de geração a geração e a sua segregação bíblica... ”. “O destaque final foi dedicado à vida e à obra das acadêmicas Ofenísia Freire, Maria Thetis Nunes, Núbia Marques, Carmelita Pinto Fontes e Gizelda Morais, escritoras, cientistas sociais, poetisas e romancistas, todas elas dedicadas, também, ao magistério e responsáveis pelo desenvolvimento moral e cultural do homem sergipano.”

No seu elogiado discurso de posse a novel acadêmica Lígia Pina evocou as 4 das 9 musas, filhas de Mnmósine – a memória - e o fez com a intimidade que tinha com: Polínia - musa da oratória - que lhe inspirou na sala de aula dando-lhe boas palavras para ministrar seus ensinamentos; Érato - musa da poesia - lírica a que lhe deu sensibilidade e talento no feitio das suas obras poéticas, Euterpe - musa da música - que harmonizou e deu paz ao seu espírito embalando-a em canções celestiais e com Clio - musa da história - que manteve a sua memória aberta para guardar os fatos e os feitos passados.

Na sua oração acadêmica, de braços dados a Clio percorreu os caminhos que a levaram a encontrar a origem das academias e sua evolução histórica, desde o Jardim de Acádemus, no Bosque das Oliveiras, até a fundação da academia Sergipana de Letras. Devido ao nome do proprietário Acádemus, o local ficou sendo chamado de Academia. Viajando pelo tempo, passou pela Academia Francesa de Letras fundada em 1631pelo rei Luiz XIII que se tornou modelo para muitas academias inclusive a Academia Brasileira de Letras idealizada por Medeiros de Albuquerque e fundada por Machado de Assis em 1896 e finalmente chega a Academia Sergipana de Letras fundada em 1929, nos mesmos moldes da Academia Brasileira de Letras. Discorre, ainda, como é de praxe no discurso acadêmico, sobre a vida e obra do patrono da cadeira e dos seus ocupantes.

A vida da Acadêmica Ligia Pina foi uma vida farta de realizações e entrega a sua carreira literária e ao exercício das suas funções no magistério. A sociedade Sergipana não deixou de reconhecer o seu brilho e por diversas vezes demonstrou a sua gratidão homenageando-a com títulos e medalhas:

Foi homenageada pelo Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino com o título de Educador do Ano -1989; pelo Rotary Club recebeu a Medalha do Mérito Cultural à Mulher Sergipana. Recebeu Medalha do Mérito Cultural Silvio Romero da Academia Sergipana de Letras; Homenageada pela Prefeitura Municipal com a Medalha do Mérito Cultural Inácio Joaquim Barbosa e a Universidade Federal de Sergipe - UFS com o título de Professor Emérito. Recebeu o Troféu Mulher-Participação da Assembleia Legislativa do Estado. Em 2005 foi eleita através pesquisa de opinião, na sexta edição do Projeto/SESC “Mulheres do Século XX”, cujo objetivo é homenagear mulheres que tiveram um papel relevante no desenvolvimento da história da sociedade sergipana. Em 2011 recebeu a Medalha do Mérito Jornalístico “Monsenhor Fernandes da Silveira” da Associação Sergipana de Imprensa; Da Secretaria de Estado da Educação a “Medalha de Honra ao Mérito Ruy Barbosa” em 2012, por ocasião do aniversário dos 142 anos da Escola Normal.

A grande Mestra Maria Lígia Pina foi, até o ultimo suspiro, um esteio para as obras que construiu ou ajudou a construir. Sempre foi uma fonte farta não permitindo que o sol do tempo secasse a água do seu poço, que deu de beber a milhares de jovens sedentos de conhecimento; foi arvore frutífera frutificando todos os anos da sua vida o fruto da experiência amadurecido sob os efeitos de muitos outonos e jamais deixou de ser uma peça útil na engrenagem da vida. Ela se fez uma peça mais do que útil se fez uma peça necessária na Academia Literária de Vida, na Academia Sergipana de Letras, no magistério e na sociedade sergipana.

A Acadêmica Maria Lígia Madureira Pina partiu para outra dimensão de vida em 14 de agosto de 2014, deixando um rastro luminoso na sua passagem terrena. Não precisou prestar contas ao criador, pois eram muitos os créditos acumulados na corte divina, que os portões do paraíso já estavam abertos. Nenhum porteiro a lhe cobrar credenciais... Ela sorridente entrava ouvindo a música celestial e o coro dos anjos louvando a sua chegada.

Muito obrigado.

Estácio Bahia Guimarães - membro da Academia Sergipana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação Sergipana de Imprensa - no Salão Nobre da Academia Sergipana de Letras - 10/11/2014.

Texto e imagem reproduzidos do blog:
academialiterariadevida.blogspot.com.br
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Foto ilustrativa reproduzida do blog: academialiterariadevida.blogspot

Projeto de Lei de aluna do Atheneu é aprovado


Fotos: Divulgação.

Publicado originalmente no site da SEED, em 29/09/2016.

Projeto de Lei de aluna do Atheneu é aprovado na Comissão de Saúde e Segurança da Câmara Federal

Os 78 estudantes "deputados" aprovaram por unanimidade o projeto da sergipana

Por Avelar Mattos.

O Projeto de Lei que visa dar maior celeridade aos consertos e manutenções de máquinas destinadas a exames do Sistema Único de Saúde (SUS), da aluna Giulia Oliveira Pardo, do Colégio Atheneu Sergipense, foi aprovado por unanimidade na Comissão de Saúde e Segurança Pública da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Na manhã desta quinta-feira, 29, a aluna da rede estadual de ensino defendeu com louvor o trabalho. O projeto recebeu aprovação dos 78 estudantes que representam as Unidades da Federação no Programa Parlamento Jovem Brasileiro.

O próximo passo acontecerá nesta sexta-feira, 30, a partir das 9h, quando o Projeto de Lei, de Giulia Oliveira Pardo, deverá ser voltado durante a simulação de uma sessão plenária.

"Foi brilhante a apresentação da nossa aluna Giulia Oliveira. O projeto, além de ser aprovado por unanimidade, não recebeu nenhuma emenda por parte dos outros estudantes que estão representando os estados brasileiros", disse o professor Daniel Lemos, diretor do Atheneu Sergipense.

Em companhia de Denilson Lemos, professor orientador do projeto de Giulia, o diretor acompanha o desempenho da aluna sergipana na Capital Federal. "Giulia Oliveira vem recebendo elogios de todos os estudantes "deputados" por ter apresentado um Projeto de lei que irá ajudar muitas pessoas em todo o país", ressaltou.

Debate e votação

Ele lembrou que o programa simula uma jornada parlamentar em que jovens estudantes participam de debates e votações como se fossem deputados federais, com o objetivo de estimular a discussão de temas como política, cidadania e participação popular nas escolas.

O Projeto de Lei, elaborado pela aluna da rede estadual, determina que todos os equipamentos adquiridos para realização de exames do SUS tenham o processo de licitação finalizado em até 90 dias após a sua compra para futuros reparos e manutenções.

O trabalho elaborado pela aluna de Sergipe obteve a maior nota em todo o país e ficou na primeira colocação com a nota 96. Com o feito, Giulia Pardo se tornou a primeira estudante da rede estadual de ensino selecionada para representar o estado de Sergipe e os alunos sergipanos no Programa Parlamento Jovem Brasileiro.

Projeto

Baseado em dados de 2015 do Cadastro Nacional de Sistemas de Saúde do DATASUS, Giulia Oliveira Pardo descobriu que cerca de 37 mil equipamentos e máquinas destinados a exames do SUS estão fora de uso devido à falta de manutenção, a atrasos nas licitações para conserto de máquinas ou à falta de instalação.

Segundo a aluna, por meio dessa lei, os processos licitatórios com empresas para o conserto e manutenção das máquinas se darão de forma preventiva.

Nessa edição de número 13, o Programa Parlamento Jovem Brasileiro tem a participação de 78 estudantes que foram selecionados entre 1.425 inscritos. Os interessados em viver essa experiência tiveram que elaborar um projeto de lei visando melhorar a realidade do país. Essas propostas serviram de base para a seleção.

Com início em 2014, o PJB é direcionado a estudantes do 2º ou 3º ano do ensino médio ou do 2º, 3º ou 4º ano do ensino técnico, na modalidade integrada ao ensino médio.

São alunos de escolas públicas e particulares de todo o Brasil, com idade entre 16 e 22 anos, que estão vivenciando o processo democrático mediante participação em uma jornada parlamentar na Câmara dos Deputados, com diplomação, posse e exercício de mandato.

Texto e imagens reproduzidos do site: seed.se.gov.br