terça-feira, 23 de maio de 2017

Breve Histórico do Grupo de Teatro Sergipano Imbuaça

 Grupo Imbuaça - Teatro Chamado Cordel.

    Grupo Imbuaça - “O Auto da Barca do Inferno”.  

   Grupo Imbuaça - Senhor do Labirinto
  
  Grupo Imbuaça - A Grande Serpente.
  
   Grupo Imbuaça - A Farsa dos Opostos.
                                                     
      Grupo Imbuaça -  Isabel Santos, Atriz e produtora
Fotos reproduzidas do site: imbuaca.com.br 

Publicação originária do Blog Francisco Oliveira, em 27 de outubro de 2013.

Breve Histórico do Grupo de Teatro Sergipano Imbuaça. 

O Imbuaça surgiu a partir de uma série de oficinas realizadas em Aracaju com o patrocínio do SNT – Serviço Nacional de Teatro e Secretaria de Estado da Educação. Três professores vieram de Recife - PE para ministrar as aulas de teatro.

[...] Gilson Oliveira, José Francisco e Lúcio Lombarde desembarcaram em Aracaju, com o patrocínio do Serviço Nacional de Teatro e da Secretaria de Estado da Educação (período que ainda não havia Ministério da Cultura no país, bem como instituições culturais nas esferas estadual e municipal, mas se produzia muito). Após a conclusão das oficinas, trinta e seis jovens resolveram criar um grupo de teatro e o primeiro passo foi estudar a conjuntura política. Essa ação está relacionada ao Movimento Estudantil, já que alguns atores estudavam na Universidade Federal de Sergipe e participavam do ME. O segundo passo foi conhecer as manifestações populares e alguns dramaturgos nordestinos. O primeiro texto estudado foi “João Farrapo”, do potiguar Meira Pires, e o objetivo era a sua montagem. Nesse período acontecia o VI Festival de Arte de São Cristóvão, que tinha na sua programação a presença do Teatro Livre da Bahia, com o espetáculo de teatro de rua “Felismina engole brasa”. O impacto foi tão grande que todos decidiram seguir o mesmo caminho. (FILHO. 2010. p. 2)

No início o grupo chamava de “Aspectrus”. Dos trinta e seis participantes do grupo apenas permaneceram: Francisco Carlos, Pierre Feitosa, Maria das Dores, Maurelina Santos, Antonio Amaral, José Amaral, Cícero Alberto, Virgínia Lúcia, Gilma de Oliveira e Joseilma de Oliveira. Um ano depois, montaram a primeira peça “O Matuto com Balaio de Maxixe” e apresentaram na praça D. José Thomaz no bairro Siqueira Campos, Aracaju – SE. Nesse mesmo ano em homenagem ao embolador Mané Imbuaça, o nome Aspektrus é suprimido.Conforme autor (ano, p.), “surge o Grupo Teatral Imbuaça em 28 de agosto de 1978. Nesse mesmo ano participa do FASC – Festival de Arte de São Cristóvão/SE. Nesse período, Lindolfo Amaral já integra-se à trupe participando da montagem do espetáculo: “Teatro Chamado Cordel”, até dois mil e dois o Grupo Imbuaça participou todos os anos.

Na década de 80, o grupo apresenta várias peças: começou no ano de 1980 participa de grandes eventos nacionais. Ano depois montam vários trabalhos, só em 1982 que se destaca a peça “A Gaiola”, o grupo participa de eventos nacionais.

1986/1987 - O Imbuaça vai ao exterior pela primeira vez - Festival de Teatro e Expressão Ibérica – Porto/Portugal. Monta “Velha Roupa Colorida”, com o objetivo de levar às ruas uma discussão sobre a Constituição Brasileira.

1989 – Mariano Antônio e Valdice Teles fazem a direção de “Nu e Noturno”. Dramaturgia concebida a partir de textos de poetas sergipanos. (GRUPO IMBUAÇA, s.d., n.p.)

No ano de 1990, o grupo participou no Equador do Festival Internacional de Teatro e apresentou-se nas cidades de Portoviejo, Manta, Guyiaquil e Quito.

Em 1991 o grupo invade um prédio abandonado onde havia funcionado a  Escola Municipal Abdias Bezerra, localizado no bairro Santo Antônio que até hoje é sede do grupo através de um contrato de comodato entre o grupo e  a Prefeitura Municipal de Aracaju.

Em 1992, Clotilde Tavares, a partir de criações do grupo, faz a dramaturgia e João Marcelino a direção da peça “A Farsa dos Opostos”.

Em  1993 o grupo apresentou-se em festivais nacionais e no ano de 1994  foi a Portugal  com o Projeto Cumplicidade onde fez as cidade de Porto,  Bragança, Alijustrel, Amarante, Valongo, Castro Verde, Mertola e  Tondela.

Em 1995, o ator e diretor Mariano Antônio morre de acidente automobilístico. Nesse mesmo ano o grupo monta “Chico Rei”, texto de Walmir Ayala e direção de João Marcelino e “Mulheres de Eurípedes”, direção de Lindolfo Amaral e Valdice Teles. No Festival Internacional de Teatro de Londrina em 1996, o grupo apresentou “A Farsa dos Opostos”. Em 1997  João Marcelino dirige a peça “O Auto da Barca do Inferno”.

O Imbuaça executou um Oficina de Teatro de Rua e “A Farsa dos Oposto” foi exibida na Escola Internacional da América Latina, ambos realiados no ano de 1998.

1999 – Primeira montagem teatral feita no Brasil  sobre a vida e obra do artista sergipano Artur Bispo do Rosário. O espetáculo “Senhor dos Labirintos” encanta o país. Com dramaturgia do paranaense Mauricio Arruda Mendonça e direção de João Marcelino. Os críticos cariocas reverenciaram a peça durante a temporada realizada no mês de junho no Teatro Nelson Rodrigues. O grupo participa na cidade de São Paulo da montagem de “Além da Linha D’água” com as participações de Marília Pêra, Quinteto Violado, Grupo de Aboiadores de Serrita/PE e Grupos do Movimento da Quixabeira/BA – Direção de Ivaldo Bertazzo.

2000 – Começa um trabalho social através da arte com crianças do bairro Santo Antônio - teatro, música, dança, e muita brincadeira.

2002 - Participação em festivais, remontagem do espetáculo “Antônio Meu Santo” com a direção de Lindolfo Amaral. O grupo celebra os seus 25 anos com a realização de um Seminário sobre Teatro de Rua no Brasil com as participações de: Amir Haddad/RJ, IloKrugli/SP, Paulo Flores e Tânia/RS, Nelson Brito/MA, Waneska Pimentel/AL, Fernando Peixoto/SP, Márcio Meireles/BA, Fernando Augusto/PE, dentre outros. Nasce o Projeto Mané Preto, patrocinado pelo BNDES, oferecendo oficinas de teatro, música e dança para crianças e adolescentes do bairro e arredores.

2003 - Montagem de “A Dança dos Santos” - texto e direção de Valdice Teles e participação dos atores convidados Pierre Feitosa e Isaac Galvão.

2004 – Montagem de “Desvalidos” - dramaturgia concebida por Ivan Cabral inspirada na obra do escritor sergipano Francisco Dantas com direção do paulista Rodolfo Garcia Vasquez. Embarca no projeto Caravana FUNARTE de Teatro/NE - Fortaleza, Guaramiranga/CE; São Luís/MA e Riachão do Dantas/SE.

2005 – Falece a atriz Valdice Teles. Implantação do Ponto de Cultura “Nosso Palco é a Rua” com o patrocínio do Ministério da Cultura - projeto de formação técnica em teatro para 40 adolescentes. Ingressam oficialmente no grupo Iradilson Bispo e Manoel Cerqueira.

2006 - Pequenas participações em eventos e rearrumação da casa. Montagem “Natal na floresta dos ursinhos” - texto de Lindolfo Amaral e Manoel Cerqueira, direção de Tetê Nahas, cenário e figurino de Iradilson Bispo, produção de Isabel Santos. Elenco: alunos do Ponto de Cultura “Nosso Palco é a Rua” e as participações de Luciano Lima e Rita Maia.

2007 - Montagem do auto natalino “Tá Caindo Fulô” com alunos dos projetos sociais, texto e direção de Iradilson Bispo.  Montagem do primeiro espetáculo infantil do grupo, “O Palhaço e a Bailarina”, da obra dos escritores Antônio Carlos Viana e Sônia Maria Machado.

2008 - Os alunos continuam em cena com “Comadre Caetana”, dirigido por Lindolfo Amaral, “O Martelo de Deus”, “A Hora da Estrela” e a remontagem do auto natalino “Tá Caindo Fulô”, com direção de Iradilson Bispo. Realização da Mostra Brasil de Teatro de Rua com as participações de grupos sergipanos: Boca de Cena, StultiferaNavis, Imagem, Mamulengo de Cheiroso, São Gonçalo, Reisado do Marimbondo e de outros Estados: Alegria, Alegria/RN, Joana Gajuru/AL, Ta na Rua/RJ, Teatro que Roda/GO, Falos e Stercus/RS. (ibidem, s. d., n. p.)

Em 2009, Rivaldino Santos e Lizete Feitosa fizeram uma participação na remontagem de “Senhor dos Labirintos”, dirigido por Lindolfo Amaral.

Em 2009 Iradilson Bispo dirige “O Mundo Tá Virado. Tá que vai ou não vai. Uma banda pendurada a outra em breve cai”.

2010 – Montagem de “A Grande Serpente” do potiguar Racine Santos com direção de João Marcelino.

2011 – Participação no projeto do SESC/ Palco Giratório - o grupo faz 71 apresentações em 16 Estados brasileiros e o Distrito Federal com os espetáculos “Teatro Chamado Cordel”, “A Grande Serpente” e “O mundo tá virado...”

2012 - Imbuaça 35 anos. Remontagem, através do Prêmio Artes de Rua- MINC/FUNARTE, de “A Farsa dos Opostos”. Texto de Clotilde Tavares, direção João Marcelino.

2013- O grupo é contemplado com o prêmio Funarte de Tetro, Myriam Muniz, para circulação e montagem de espetáculos.
                   
2013 – O grupo viaja para São Paulo com “A Farsa dos Opostos” e participa do Circuito Cultural Paulista  e Virada Cultural 2013.  (ibidem, s. d., n. p.) Participa do 9º  Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória e pela primeira vez apresenta-se no TOBIARTE-SE.

2013- A atriz Izabel Santos, uma das fundadoras do grupo imbuaça, deixa o grupo depois de 33 anos de atividades no grupo.
                            
2014- Apresenta o espetáculo a Grande Serpente, circulação nordeste, com a direção teatral de João Marcelino. Percorrendo os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

Hoje o grupo Imbuaça está com três espetáculos em seu repertório: A Grande Serpente, A Farsa dos Opostos e o Mundo Tá Virado. Continua ministrando aulas de teatro as terças e quintas em sua sede e conta com uma equipe de 12 pessoas para realização dos seus espetáculos.

Revisão Geral do Artigo:  Isabel Santos Atriz, Produtora e ex-integrante do grupo Imbuaça.

Texto e imagens reproduzidos do blog: francisoliveiraa.blogspot.com.br

Tobias Barreto de Menezes, jurista, poeta e filósofo


Tempo e História - Tobias Barreto.

Jurista, poeta e filósofo, Tobias Barreto de Menezes é o personagem do 3º documentário da série de documentários "Tempo e História". Totalmente filmado em câmeras de alta definição, o programa traz detalhes sobre a biografia e a produção escrita do autor, contextualizadas no momento histórico do Brasil e do mundo. Para tanto, a equipe da TV Justiça passou por Recife e pelas cidades sergipanas de Tobias Barreto e de Aracaju, onde colheu depoimento de escritores, juristas, filósofos e admiradores de Tobias, além de reunir imagens especiais sobre cada um dos locais visitados. A vida de Tobias Barreto - desde o início em uma pequena Vila no Sergipe -, a participação no Condoreirismo brasileiro, os embates com Castro Alves, a importância de suas ideias no desenvolvimento do pensamento filosófico brasileiro, o legado escrito e sua contribuição para a história do Brasil no século XIX são destaques neste documentário.

Texto e vídeo reproduzidos do site:[ youtube.com] Canal do STF.


Os passos da poesia sergipana



Publicado originalmente no site Zona Autoral, em 05.11.2016.

Os passos da poesia sergipana
Por Hugo Arcanjo

Em dias de revelação diária, a poesia sergipana se encontra em um grande momento, carregado de soldados armados de poemas cada dia mais poderosos, surgindo no encantamento do leitor curioso que os buscam nos saraus, nos eventos musicais, e, principalmente, nas redes sociais. Para começar a falar dessa nova geração de poetas, é preciso analisar possíveis variáveis que a levaram a eclodir: a) Ao contrário do que se pensa, nunca na história da humanidade se escreveu e leu tanto na vida; b) Redes sociais como espaço para publicação do pensamento em conexão com o mundo; c) Escrever poesia sem moldes metodológicos tradicionais; d) Ótimo momento artístico sergipano; e) Portas abertas para (quase) todos; f) Acesso a editoras facilitando publicações independentes.

“Sério”?! Juro pra você, embora seja apenas um ponto de vista de um cabra retado que ainda tem muito que ver – e conhecer. Vou tentar explicar misturando as variáveis (desculpem, não sou tão organizado).

Atualmente, em características gerais, não só em Sergipe, nunca se leu e escreveu tanto, especialmente nas redes sociais, o que não necessariamente significa que quantidade é qualidade. Nesse sentido, apesar de já termos vivido na história períodos de lutas de poetas contra as formalidades estéticas da poesia, justo no momento mais forte dos hipertextos da linguagem na web, parece ser mais fácil escrever poesia, e muitos acreditam que escrever qualquer pensamento possa vir a ser poesia. A gente lê merda pra caralho todos os dias, inclusive textos objetivos, retos, de características forçadas (poesia à moda Temer, ou pior – sic), e até algumas coisas que parecem ser uma nova máscara do escritor e não o desnude de uma alma. No entanto, a qualidade está inclusa no meio dessa bagunça. Tem gente boa de te deixar de queixo caído, de ganhar o dia lendo duas linhas, de se sentir preenchido com uma poesia forte de te tirar (ou repor) o lugar, sem precisar seguir metodologias estéticas rígidas, mas sem esculhambar com a língua, o juízo e/ou a própria arte.

Todavia, é importante ressaltar que dentro do turbilhão de informações, ficou mais fácil juntar as peças e obter conhecimento, ler vida e obra de consagrados autores de dentro (sim, mesmo a história e a arte sergipana não sendo enfatizadas ou sequer mencionadas no ensino normal das escolas) e de fora do estado de Sergipe, arrancando raízes e referenciais fortíssimos para uma vanguarda consistente. Sendo assim, é justo observar que a internet nos deu esse poder e que as redes sociais e, mais um conjunto de fatores humanos de relação social, nos empoderaram a escrever, e tendo uma ferramenta capaz de empoderar e instigar a escrita que são os aparelhos/”membros” eletrônicos e as redes sociais, é possível elaborar pensamento crítico acerca do mundo que o cerca e de qualquer lugar. E dessa maneira, podendo postar numa rede social, num blog ou fazendo um vídeo no Youtube, pode-se atrair e alcançar mais gente interessada, conhecer mais gente que faz o mesmo e realizar intercâmbios poéticos, troca de público, troca de experiências, convites a eventos – e a publicações coletivas –, enfim, criar um elo que envolve a arte e a vida pessoal (que eu, como poeta, ainda não consigo nem enxergar alguma linha que separe as duas, mas enfim).

E dentro desse universo, ficou mais fácil conseguir publicar também através de uma editora. Muitas delas oferecem promoções e pacotes de publicação na qual – geralmente funciona assim – a produção sai “por conta da editora”, no entanto o escritor comprará os livros a ela mesma ou indicará uma livraria revendedora pagando menos que o preço final de venda – eu publiquei meu primeiro livro, o Delimitação de Amores Infinitos, em 2013, assim. Outro método utilizado são as coletâneas, publicações coletivas, como queira, nas quais escritores se unem, repartem o valor, e pagam uma produção independente e limitada de textos e unidades por escritor – em 2014 participei da obra Poesias Escolhidas Vol.II: O Melhor de Mim, junto a poetas de todos os cantos do país e também brasileiros residentes fora do país, sem dúvidas, um excelente intercâmbio poético.

Além disso, Sergipe passa por um momento artístico independente muito forte e muito brilhante na música (vide matéria de Carlo Bruno Montalvão –  http://screamyell.com.br/site/2016/10/06/o-grande-momento-da-musica-sergipana/) participando de grandes eventos e festivais, levando o nome das cidades para todo estado, do estado para o país e até fora dele, produzindo materiais de altíssima qualidade (como nunca antes), vencendo concursos a nível nacional, e etc. Isso acarreta em maior incentivo e, não obstante, apoio a outras manifestações artísticas, a exemplo de intervenções poéticas em apresentações musicais, discos e videoclipes. E dentro desse contexto, os espaços para a arte independente autoral sergipana estão abrindo as portas cada vez mais nos âmbitos privados como bares, galerias e casas de show – o que significa uma demanda de público interessado –, e arduamente nos espaços públicos, especialmente em praças públicas - o ponto alto do assunto. Nessa ótica, podemos destacar os grandes saraus dos interiores e da capital sergipana que exaltam a arte autoral e sua essência trazendo o contato imediato entre público e artista numa troca incalculável de experiências.
  
Destaque para os saraus da Caixa D’Água e Som na Praça em Lagarto, Ensaio Aberto, Ocupe a Praça e Som de Calçada em Aracaju, Sarau de Fora, Som da Praça e Pela Arte em Tobias Barreto, Sarau do Coreto em Simão Dias, e Sarau do Calçadão em Itabaiana, que são fomentadores de estado puro de arte envolvendo além da poesia e música, teatro, dança, artesanato, pintura, e até culinária, mágica, e debates políticos, além de ações sociais como doação de donativos, dentro de uma interação contextualizada ao momento político-sócio-econômico-artístico da localidade.

Correlatamente às cidades supracitadas, talvez (creio) mediante haver espaços para manifestações artísticas livres e haver incentivo dos artistas locais – que definitivamente são os organizadores dos movimentos, maioria sem patrocínio ou apoio nenhum do governo, feito na raça mesmo –, são os locais onde mais se conhecem poetas na região, com grande destaque a Lagarto, Tobias e Aracaju, mostrando que a poesia sergipana vai além das lendas in memorian Hermes Fontes, Fausto Cardoso, Tobias Barreto, Mário Jorge, Silvio Romero, Garcia Rosa, Gizelda Santana de Morais, Araripe Coutinho, Antônio Carlos Viana, Pedro Amaro (esse ainda vivo), etc., porém não deixa de mostrar as influências e enaltecer a importância de uma base forte formada por esses mitos que nomeiam, inclusive, espaços onde ocorrem as manifestações artísticas. Sendo assim, a poesia sergipana atual já se faz consagrada através do mestre Assuero Cardoso Barbosa, que desde o final dos anos 1980 já traz obras lindas e atemporais – e lançou recentemente A Saga de Zefa Ninguém –, perpassando por gênios da escrita (especialmente em redes sociais) e das performances recitadas em palco como Pedro Bomba, Allan Jonnes, Jaflety Pedro, o transtorno poético João Victor Fernandes, a tiradora de fôlegos Horas Rubras Emanuella Tarquínio, o multiartista Afonso Augusto, e o enérgico baiano de Irará, mas pertencente ao mundo, e uma veia pulsante de Sergipe, Danilo Lumiano.

Além desses, podemos citar alguns nomes que a poesia sergipana conta, que são brilhantes, como o Ramon Diego – que lançou recentemente a obra Argamassa do Silêncio –; o mestre na poesia regionalista atual, Di Graveto; o doce André Lucas Oliveira; o intrínseco Arteiro Rafael Martins; o sensual Lobão Lucas Victor Vieira; o multiartista (gênio da pintura e desenho) Flávio Antonini; o mestre dos haicais Edinando Vieira; os “punks” Alef Souza e Danilo Reis; o ácido Marcus Joseph; e o morador do plano-avião brasiliense, mas tão encabruncado como os outros, o existencialista Anderson Ribeiro.

E o que dizer das mulheres? Ah! Elas são o clímax desse movimento. Acredito que nunca na história de Sergipe se teve tantas mulheres escrevendo tanto e tão bem (ou pelo menos não era divulgado no passado – bem provável, mediante o machismo). Ressalto a poesia das mulheres sergipanas em suas faces lindas, de almas desnudas que perambulam por sentimentos, sensualidades, e críticas sociais, em jogos de metáforas geniais, em construções textuais instigantes – muitas vezes descritivas –, enfim... Além da supracitada Emanuella Tarquínio, cito a tradutora de almas Eu Quis Ser Sofia (todos queríamos/queremos – leia, tu verás que vai querer também!) Carol Maciel; a sensível Thalía Leal; a instigante multiartista Thamyres Dayanne; a intimista Histeria Poética Veronika Noya; a flor Dani Costa (Daniflor); a encantadora Débora Arruda; as fortíssimas Lua Nascimento e Amanda Reis; a grandiosa Fátima Basto; o Girassol de Dentro Larissa Galvão; a leveza da baiana Bruna Nuvem; etc. Sinceramente, se for parar pra contar os poetas e poetisas, a lista é enorme e a matéria não termina mais – e para comprovar isso, ressaltar a qualidade, e ainda citar sobre os intercâmbios poéticos, posso citar poetas como o pessoal do Coletivo Poesia Além das 7 Praças, de Salvador, e o mineiro Poesfera Felipe Escobar, que sempre que passam por aqui se encantam com a riqueza poética sergipana e carregam algum(s) poeta(s) para suas jornadas.

De certo, a sensação é de que saímos de dentro de uma caverna e nos deparamos com um mundo repleto de arte, e esta está tomando as redes sociais e as ruas (isso me lembra do lendário Sarau de Baixo, em Aracaju, que reunia e revelava grandes artistas, e, obviamente, poetas. Talvez tenha sido o grande marco desse movimento independente). De fato, a importância dos movimentos artísticos na formação cultural da região é essencial para uma saúde social e uma construção fortalecida da identidade da gente, e isso deve permanecer e se fortalecer cada vez mais. Imagina que louco todo mundo lendo, escrevendo, recitando, curtindo e partilhando poesia por aí. Imaginou? Então confere essa galera, confere os eventos, os saraus, os materiais produzidos pelos artistas, enfim. Tenham a visão de vocês.

Nota: Alguns podem perguntar onde eu estou nisso, por que não me citei, e eu já vos respondo: eu achei melhor não me colocar, pois acredito não ser capaz o suficiente pra me julgar e me eleger uma peça fundamental como todos os poetas e poetisas que citei anteriormente. Eu me conheço bem, e quem me conhece sabe de meus dotes, porém quero deixar para vocês leitores esse papel. Afinal, entre tantos nomes, eu realmente caberia aí?

Texto e imagens reproduzidos do site: zonaautoral.com

Severo D’Acelino e a produção textual afro-brasileira


Publicado originalmente no site Geledes, em 24/10/2009.

Severo D’Acelino e a produção textual afro-brasileira.

in: Afro-brasileiros e suas lutas.

Por Rosemere Ferreira da Silva*

Resumo: 

O artigo em questão procura discutir, sob o ponto de vista de formação da literatura afro-brasileira, a produção cultural e textual do intelectual Severo D’Acelino na contemporaneidade. De que maneira, os textos de Severo podem ser lidos e relacionados às discussões que envolvem a participação de afro -descendentes na sociedade brasileira? Parte, do perfil biográfico do escritor, foi traçada para que o leitor conheça a sua trajetória de formação intelectual e de intervenções nas atividades culturais em Sergipe. A discussão sobre as atuações do intelectual hoje procura levantar questionamentos, principalmente, sobre: Que papel o intelectual assume na sociedade contemporânea como articulador da cultura? Quais são os dilemas do intelectual na sua política de cultura em relação ao poder hegemônico no Brasil?

Uma leitura crítica da poética de Severo D’Acelino busca relações crítico -literárias com outros escritores da literatura afro-brasileira. E a publicação do jornal Identidades é destacada, com o objetivo de problematizar as discussões em torno das questões sociais, culturais e políticas que envolvem a afro-descendência no Estado.

A produção cultural do escritor Severo D’Acelino em Sergipe está voltada para a discussão da afro-descendência como uma das principais formas de questionamento, na sociedade contemporânea, que envolve a participação direta de afro -descendentes nos mais diferentes setores sociais do Estado. A poesia escrita por D’Acelino bem como os artigos publicados e os projetos educacionais coordenados pelo escritor refletem uma preocupação constante em educar os sergipanos na direção de uma cultura produzida para marcar a importância da literatura afro-brasileira como um lugar de expressão significativo que problematiza as hierarquias sociais construídas, as relações de poder disseminadas socialmente, a formação de identidades, o combate ao preconceito e a discriminação racial e de gênero e ainda, a valorização da auto -estima como principal ponto de partida na luta contra a formulação de estereótipos.

O trabalho de Severo D’Acelino começa em fins da década de 60 do século XX, mais precisamente em 68, no Estado de Sergipe e na Bahia com o seu envolvimento na militância do Movimento Negro e em atividades teatrais, o que acabou rendendo -lhe participações em dois filmes: Chico Rei e Espelho D’Água e no seriado Teresa Batista Suas atividades culturais sempre estiveram ligadas à Casa de Cultura Afro-Sergipana, Instituição comprometida com as representações culturais e sociais da afro -descendência no Estado. Durante quase 40 anos de trabalho em torno das questões sociais, políticas e educacionais direcionadas à causa do negro, Severo publicou em 2002, apenas um livro de poemas, Panáfrica África Iya N’la e editou de 2001 a 2002 o jornal Identidades, considerado um dos principais veículos de comunicação pensado para incentivar o intercâmbio de idéias entre a comunidade e o poder público em Sergipe.

O jornal tratava de informar a população sobre um conteúdo, cuja abordagem não observamos nas edições dos jornais convencionais. A leitura da afro -descendência em Sergipe, associada ao cenário das discussões nacionais sobre as populações minoritárias, era mediada pelo trabalho de pesquisadores sergipanos e de outros estados do país. O Identidades constituía, desta forma, um fórum riquíssimo de debates entre intelectuais, população e alguns segmentos de poder no Estado. Em 2004, Severo D’Acelino coordenou o projeto “João Mulungu vai às Escolas”, com auxílio da Lei 10.639, destinado a discutir nas escolas públicas a inserção do afro -descendente na sociedade sergipana, através do exercício da cidadania de uma comunidade, que busca uma articulação de cultura negra fundamentada na discussão da questão étnico -racial, como prioritária no que entendemos como cultura afro -brasileira. Atualmente Severo se dedica a escrever o seu segundo livro de poemas chamado Quelóide.

Pelas pesquisas realizadas em arquivos, através de levantamento de fontes bibliográficas, entrevistas, leituras, empreitadas em bibliotecas, livrarias e principalmente discussões em torno da questão da formação de identidades do afro -descendente em Sergipe, tenho convicção de que só podemos nos referir a uma produção literária, intelectual e cultural voltada para uma inserção e um diálogo com a formação da literatura afro-brasileira em Sergipe, a partir do trabalho realizado por Severo D’Acelino.

No estudo realizado da historiografia da literat ura sergipana, escrita por Jackson da Silva Lima1, há registro de poetas que contribuíram literariamente apenas por usarem a temática do negro como um elemento de referência. Estes textos foram escritos no século XIX e a forma de abordagem do negro geralmente se debruçava sobre o lamento, o pranto, a lamúria da escravidão, a escravidão como castigo, a saudade dos negros escravizados de sua terra natal, a exploração da sexualidade da negra escravizada, o ímpeto pela defesa da abolição, marcados à distância p ela observação de um olhar do poeta deste século praticamente externo a toda essa problemática.

Os autores sergipanos citados por Jackson da Silva Lima são: Moniz de Souza, Constantino Gomes, Pedro Calasans, Bittencourt Sampaio, Oliveira Campos, Tobias Barreto, Silvio Romero, Severino Cardoso, Jason Valadão, Alves Machado, Antônio Diniz Barreto e Prado Sampaio. Os textos desses poetas ou estão compilados na História da Literatura Sergipana ou em Os Palmares Zumbi & Outros textos sobre a escravidão . O primeiro publicado em dois volumes em 1986 e o segundo em 1995. A história da literatura sergipana não abrange textos contemporâneos. Ou seja, falta a esta história uma leitura mais significativa sobre o modo de representação do afro -descendente sob o ponto de vista de formação de uma identidade cultural.

Não posso falar em literatura afro-brasileira em Sergipe sem antes voltar a estes escritores para mostrar que não houve, ainda que superficialmente, uma continuidade de escrita historiográfica sobre um contexto de abordagem que envolva o negro/ o afro – descendente. Observo que existe um espaço vazio entre os textos desses escritores do século XIX e a literatura afro-brasileira que veio a fortalecer-se no século XX. Não considero que os textos dos autores citado satisfaçam um estudo mais representativo da 1 LIMA, 1996

“presença” do negro na literatura, como muitos críticos denominam. São escritos concentrados num contexto político, histórico, social e cultural totalmente de desvantagens à leitura do afro-descendente como parte de uma identidade nacional.

Esses textos são fundamentais para a historiografia literária, mas não atendem a leitura de representações literárias voltadas para o estudo da literatura como produção cultural realizada em Sergipe, cuja abordagem esteja destinada a discutir questões relativas à preservação da cultura negra no Estado e, ainda a levantar problemas sobre a participação mais direta do afro-descendente no processo sócio-cultural, político e econômico, de modo que as diferenças étnico -raciais sejam percebidas como necessárias ao reconhecimento de uma sociedade multicultural.

Já no século XX, identifiquei na literatura sergipana alguns poetas que continuaram a escrever sobre a temática do negro, a exemplo: João Silva Franco (o João Sapateiro) e Santo Souza. A produção literária deles, embora mais crítica e mais de acordo com os questionamentos sociais trazidos pelas representações contemporâneas de afro-descendentes, ainda não abarcam uma leitura que discuta as relações étnico – raciais dentro do processo de formulação da identidade afro-brasileira em Sergipe.

Para falarmos de literatura afro-brasileira, de suas articulações de sentido com a literatura brasileira, da maneira como alguns conceitos e determinadas leituras foram ressignificadas neste universo de construções e desconstruções da imagem do afro – brasileiro na sociedade contemporânea, é necessário nomearmos as produções culturais e literárias que buscaram na própria polêmica sobre a existência de uma literatura negra dar visibilidade cultural e política a uma comunidade, até então, supostamente representada por alguns discursos legitimados socialmente. A forma como esses discursos eram “autorizados” pelo poder de uma hegemonia cultural branca, fixada em bases ocidentais, excluía toda e qualquer tentativa de manifestações culturais e literárias que tendessem a buscar na nossa herança africana elementos da história e da memória de afro-descendentes ou ainda a trabalhar a própria representação do negro a partir de um contexto de valorização de suas contribuições à nação brasileira.

Da década de 70 do século XX para cá, com a abertura da democracia no Brasil e conseqüentemente com os olhos voltados para um contexto político e cultural mais suscetível a questionamentos, os intelectuais afro -brasileiros buscam no país um espaço de expressão voltado para uma representação de valorização da cultura negra nas discussões sobre cultura, expressões artísticas, comunicação e formação de identidades.

A dinâmica das trocas culturais2 baseadas na negociação dos contatos culturais entre negros, brancos e índios, traduziriam alterações significativas no processo civilizatório ocidental.

A proposta da intelectualidade negra era de pensar a articulação da cultura negra, na sua forma de comunicação com a literatura, a partir da revisão historiográfica do ser negro no Brasil. Estabelecer uma problematização mais intensa da participação do afro-descendente na sociedade brasileira dependia da releitura e da desconstrução das antigas representações destes sujeitos sociais, construídas sob uma forma de poder hegemônico, que sempre excluiu as expressões minoritárias inviabilizando o reconhecimento social, político e cultural da diferença.

Ao assumir a condição de um “enunciador”, o escritor afro -descendente desestabilizou as bases da tradição literária brasileira, acostumada a ver o negro num lugar marcado pela condição inferior, subalterna a ele atribuída. A condição de negro no discurso da enunciação, fez com que o escritor afro -descendente trouxesse para o campo de análise teórica um discurso que problematiza os anseios e angústias de uma coletividade. E que leva o sentimento coletivo a reconhecer a sua total e plena condição de assumir papéis sociais mais definidores do ser negro na sociedade contemporânea, completamente diferente daqueles “naturalizados” pelo discurso colonial.

Foi possível abrir, através da proposta diferenciada dos estudos sobre cultura, mais especificamente a dos Estudos Culturais, um espaço de diálogo entre o que já consideramos literatura afro-brasileira e as produções culturais levantadas mais contemporaneamente em estados  distintos do Brasil. Isso reforça a ideia de que a cultura pode e deve ser entendida a partir das tensões criadas pelo conhecimento, nas suas múltiplas influências ideológicas com o saber cultural em processo, como afirma Florentina da Silva Souza:

Efetivam-se trânsitos e intercâmbios entre os conceitos construídos pelos escritores negros (na verdade pelos movimentos negros) e aqueles gerados pelos estudos e reflexões acadêmicas . Trocas marcadas pelo fato de, mais intensamente a partir dos fins da década de oitenta, crescer o número de afro -descendentes que investem nas pesquisas e estudos sobre cultura, tradição e história afro -brasileira.

Sem assumir qualquer posição essencialista, acredito que o fato de disputarmos posição de sujeitos e objetos dos estudos introduz uma outra perspectiva de análise da questão racial no universo acadêmico e enriquece a produção de reflexões e estudos sobre a questão racial no 2 SANTIAGO, 1998, p. 16 Brasil. Por outro lado, penso também que a proliferação de entidades e grupos negros no País nas últimas décadas evidentemente que aliada a outros fatores, muito contribuiu para a inserção do tema na agenda acadêmica e nas discussões políticas.

Considero literatura afro-brasileira toda produção cultural voltada para a afirmação de uma identidade negra de inclusão, questionamentos políticos, auto -estima, em constante tensão com o legado cultural da literatura instituída sempre em busca de ampliação e renovação de seu campo de saber através dos diálogos com escritores, intelectuais que pensam suas atividades culturais como forma constante de preservação cultural afro-brasileira e também de problematização das forças de poder que são exercidas na marcação de políticas que efetivam a diferença. A releitura das manifestações populares brasileiras se torna fundamental para a revisão do conceito de literário.

É neste contexto que o trabalho do intelectual orgânico 4 Severo D’Acelino começa a ser desenvolvido em Sergipe com o propósito, segundo ele, de dar visibilidade à cultura negra. Seu trabalho concentra ações diversificadas em torno da afro – descendência. Diferente de outros escritores de sua geração no Estado, Severo se projeta para um campo de saber que movimenta na contemporaneidade não só escritas sobre a temática do negro, mas, sobretudo a discussão pela participação direta no âmbito das políticas que inserem afro-descendentes no campo cultural, político e social brasileiro.

Sergipe tem, de acordo com as informações do senso de 2003 realizado pelo IBGE5, um percentual de 68,6 % de afro-descendentes. O município brasileiro com o maior contingente populacional de afro -descendentes é Nossa Senhora das Dores com 3 SOUZA, F. 2005, p. 97-98 4 utilizo o conceito de intelectual orgânico proposto por Gramsci, ou seja, aquele que se coloca a serviço de classes ou empreendimentos para organizar interesses, disputar e obter expansão dos espaços de poder.5

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), “os indicadores, elaborados principalmente a partir dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de D omicílios realizada em 2003, estão apresentados em tabelas e gráficos, para o Brasil, grandes regiões e unidades da federação e, para alguns aspectos, também para regiões metropolitanas. A publicação apresenta um glossário com termos e conceitos considerados relevantes”. Os percentuais de 68,6% (pardos), 27,4% (branca), 3,8% (preta) e 0,2 (amarela ou indígena) foram retirados da tabela 11.1 – População total e sua respectiva distribuição percentual, por cor segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas-2003. O percentual de pardos está sendo lido aqui como o de afro -descendentes. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ . Acesso em: 08 de set. de 2005.

98,7%6, sob o ponto de vista proporcional. As cidades de Monte Alegre, 93,7%, Indiaroba, 89,2% e Pinhão, 89,2% também reúnem uma população significativa neste sentido. No município de Porto da Folha a população “sarará” é interpretada como branca, mesmo apresentando características afro-brasileiras. Gilberto Gil na letra da música Sarará Miolo define o que vem a ser sarará: “como doença de branco, de querer cabelo liso, já tendo cabelo louro, cabelo duro é preciso, que é pra ser você crioulo”. 7 O cabelo duro, na letra da música, é interpretado como uma das marcas identitárias do afro-brasileiro, ao passo que o cabelo liso seria a reprodução de uma marca que não é a sua e, sim aquela atribuída por um padrão estabelecido de leitura estética e social branca. Na verdade, pelo percentual total de afro-descendentes no estado de Sergipe, percebemos claramente que as cidades do interior influenciam na leitura da capital como predominantemente branca.

Incoerente pensar que Aracaju seja uma capital branca.

O percentual de brancos em Sergipe é de 27,4%, de pretos, 3,8% e de cor amarela ou indígena é de 0,2%. Se somarmos os números de pardos, considerados aqui afro -descendentes mais o percentual de pretos, já constatado pelo IBGE, teríamos um total geral de 71,4% de afro -descendentes. Portanto, não deveria haver motivos para que a população de afrodescendentes não seja percebida como um contingente populacional significativo na leitura de afro-descendência no Estado. Acho que a problemática sobre as relações raciais em Sergipe tem suas raízes plantadas principalmente nesta leitura mal feita. Os índices são claros e não deixam dúvidas sobre a caracterização da população quanto à cor. A política governamental do Estado não é uma política voltada para os indicadores sociais desta população. O discurso político em Sergipe fortalece uma identidade e branca, momentânea e que não contribui para que as diferenças raciais sejam seriamente pensadas.6

Este percentual está baseado em Estudos e Pesquisas/ Nota de Estudos 02/203 – Ranking dos cem (100) maiores municípios negros do Brasil.
Fonte: Microdados da Amostra de 10% do Censo Demográfico de 2000. Programação: Luiz Marcelo Carvano. Disponível em: http://www.observatórioafrobrasileiro.org.br . Acesso em: 08 de set. de 2005. 6GIL, Gilberto. Sarará Miolo, Intérprete: Gilberto Gil. Realce. Warner Music, p. 1979. Faixa 7.

Os versos da letra da música de Gilberto Gil ilustram uma definição de “sarará” que está diretamente relacionada com a crítica à rejeição de características que c circulam socialmente como definidoras de um padrão de beleza estética branco. O “sarará” já traz naturalmente a cor dos cabelos loura, o que se aproxima desta construção de padronização criada pela sociedade. Portanto, o “duro” seria enfatizar que o “louro -duro” é a diferença que existe entre o branco louro de cabelo liso e o branco louro de cabelo duro, diferença esta que quando assumida reforça muito mais a identidade afro -brasileira do que uma identidade branca.

O afro-descendente em Sergipe incorpora mais a ideia de ser branco do que a ideia de não-branco. Mesmo a população do interior do Estado é levada pelas condições de inferioridade racial, formação de estereótipos e invisibilidade à política de ações afirmativas, a pensar que um tom de pele mais claro, ou o cabelo forçosamente liso, embora com características fenotípicas negras, seja branca.

O discurso da brancura é uma forma de esconder os problemas étnico -raciais, para que eles não venham à tona como uma problematização que possa repercutir no que entendemos como diversidade cultural e identidades múltiplas na formação étnica nacional. As pessoas são levadas a mascarar uma ideia de “branqueamento” para tentar com isso evitar a exclusão.

Penso a identidade do afro-descendente em Sergipe como um conceito que opera, como afirma Stuart Hall 8, “sob rasura”. A identidade cultural na contemporaneidade é estudada como identidades. A pluralidade retira do conceito a predominância de uma identidade única no reconhecimento da diferença. O sujeito se percebe socialmente pelo conjunto de identidades que possui e pela não fixidez da construção do conceito de identidade sob uma historicidade em processo. As identidades do afro-descendente na contemporaneidade não podem ser entendidas sem que haja recorrência ao seu passado histórico, como discute Stuart Hall:

As identidades parecem invocar uma origem que residiria em passado histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa  correspondência. Elas têm a ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo no qual nos tornamos. Têm a ver não tanto com as questões “quem nós somos” ou “de onde viemos”, mas muito mais com as questões “quem nós podemos nos tornar”, “como nós temos sido representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós próprios.”9

Não se trata de atribuir culpas pela lentidão do debate racial em Sergipe, apenas pretendo dizer que a representação do afro -descendente deve ser reavaliada e que de uma forma muito clara e objetiva políticas devem ser implementadas para resgatar um pouco da auto-estima e da capacidade de intervenção social do afro – descendente como sujeito que se pensa como tal. Por isso, o nome de Severo D’Acelino e seu trabalho desenvolvido tornam-se importante para o Estado.

8 HALL, 2005, p. 104

9 HALL, op cit, p. 108-109

Severo D’Acelino é o intelectual em Se rgipe que contemporaneamente vem trabalhando com questões relacionadas com a formação de identidades, com o combate aos estereótipos, usados na caracterização da comunidade afro -descendente e denunciando textualmente, seja através de sua poesia ou de artig os, a necessidade de inclusão social desta população, com as atividades direcionadas a projetos de uma pedagogia de educação voltada para a reflexão e para o conhecimento de conteúdos específicos da cultura negra nos municípios.

Os textos de Severo D’Acelino podem ser lidos como uma produção da literatura afro-brasileira porque seu conteúdo literário discute a problemática do ser negro no Brasil. O sujeito negro é colocado em primeiro plano. Neste sentido, falar do cotidiano desta comunidade acaba sendo o fio condutor que direciona a organização de sua escrita, objetivando uma expressão mais definida, do entender -se negro no nosso país.

As experiências vivenciadas como negro estão traduzidas em cada linha de sua poesia.

Experiências estas que no passado foram menosprezadas por uma literatura instituída que sempre buscou excluir o afro dos afro -brasileiros. Não estamos tratando aqui de uma temática, como já estamos cansados de ouvir. Estamos ampliando nossos conhecimentos, nossos saberes de uma maneira geral para tratar de uma literatura afrobrasileira.

De uma forma de escrever que procura se despir dos moldes ortodoxos da nossa língua portuguesa. A qualidade literária da literatura afro -brasileira não está nas formas rebuscadas de escritas, nas classificações , conceituações e etc, ela está concentrada indiscutivelmente na experiência poética, artística, cultural e política de saberes que representam o qualificativo afro de afro -descendentes e de afrodescendência no Brasil.

No início do livro Panáfrica África Iya N’la Severo D’Acelino cria uma certa expectativa em contar uma história de afro -descendência fragmentada pela dispersão de informações que remetam a construção de uma trajetória de ascendência africana.

Mesmo sem a recorrência aos documentos, a história a merece ser contada e remontada com base nos relatos e tradições da ancestralidade africana que vive, embora modificada na diáspora pela aproximação com a cultura ocidental, para que o passado possa ser reinventado no presente, através de uma representaçã o literária que assume a história da cultura afro-brasileira como um legado de informações que fortalece a identidade afro – brasileira.

Na primeira parte do livro, que corresponde ao primeiro manifesto, o sentido de “Panáfrica” é de resistência cultural e política. A resistência da cultura afro -brasileira conseguiu manter as tradições africanas ressignificadas nos rituais do candomblé, nos enredos das escolas de samba e na forma de viver dos quilombolas. “Panáfrica” corresponde à preservação de uma memória pronta a ser ativada na reconstrução do arquivo cultural e humano, no qual as expectativas do grupo étnico -racial sejam usadas a repercutir uma ideia de cultura voltada para a visibilidade à diferença.

O poema que abre o primeiro manifesto é “Rito de abertu ra, saudação a Exu”. O poeta escolhe iniciar suas escritas com este texto, talvez porque de acordo com a tradição do candomblé no Brasil o Orixá sempre convocado à abertura dos trabalhos é Exu. Metaforicamente, o Orixá tem a função de abrir toda reflexão d e “Panáfrica”, e como mensageiro indicar o caminho que os textos poéticos irão percorrer na sua forma de abordagem da cultura afro-brasileira em Sergipe.

(…)
O que sempre segue

Na frente e quem primeiro
É servido, Saravá
Leva meus rogos e preces
Ao meu Orixá.
Minhas preces em cantos
E prantos do meu povo
Diasporizando, nesta revisitação
A memória ancestral
Para que nosso pranto e cantos
Sejam a partir de agora
Canções de regozijo pela revisitação
Do meu axé10
(…)

Recorrer à figura de Exu é comum aos es critores afro-brasileiros para explicar na tradição afro-brasileira a presença do Orixá como metáfora de atividade crítica da interpretação. Leda Maria Martins, em A Cena em Sombras, ao explicar o código da duplicidade que instaura o jogo da aparência e da representação, escolhe Exu como um “operador semântico de alteridade africana na sua interseção cultural nos Novos Mundos”. Exu, na leitura de Leda, “é o princípio dinâmico de comunicação e interpretação que se configura como elemento mediador de sentido” .11

10 D’ACELINO, 2002, p. 74
11 MARTINS, 1995, p. 56-57

Já Henry Louis Gates12 associa o Macaco Significador do discurso a Exu, figura segundo Gates, trapaceira na mitologia ioruba. As figuras trapaceiras são “mediadoras” na leitura do autor. Assim como para a maioria dos escritores afro -brasileiros Exu domina o campo das trapaças, das ambigüidades, da inversão, do jogo discursivo, sempre brincando com as palavras e criando imagens, muitas vezes, irônicas do que repete e inverte.

“Aquele que segue na frente e em primeiro lugar”, assim Exu é definido por D’Acelino. O que segue primeiro é, em consonância com o discurso dos autores citados, o dono da notícia, da comunicação direta do ato de comunicar na representação do significado de “Panáfrica”.

A poética de Severo D’Acelino é o esboço de uma literatura afro -brasileira escrita para ser conhecida como o início de uma “caligrafia” que pensa o afro – descendente em Sergipe num contexto histórico de representações que enfatizam a necessidade de reconhecimento e visibilidade deste grupo étnico-racial. Tradição africana, cultura popular brasileira, identidade, religiosidade, representações e diferenças étnicas, historicidade, intervenções culturais e políticas são alguns dos aspectos que podemos levantar através de sua abordagem literária como forma de problematizar a participação do sergipano, mais especificamente a do afro -sergipano na vida cultural e política de seu Estado.

É neste contexto do debate político e étnico-racial contemporâneo que analiso a atuação direta do intelectual Severo D’Acelino em Sergipe. Destaco seu trabalho como fundamental para pensarmos o diálogo de sua produção cultural com a de artistas e outros intelectuais da literatura afro-brasileira. Acredito também que a diversidade do trabalho de Severo tenha impacto em todos os setores da opinião pública, gerando

polêmica com o poder hegemônico sergipano. Na efetivação de seu discurso, ele se vale da condição e do papel de intelectual, para criar estratégias de intervenção na política 12 GATES, 1992, p. 206-207 cultural e, na estrutura educacional, buscando uma representação do afro-descendente mais emancipatória, sob o ponto de vista da reconstrução da história e da memória do afro-descendente em Sergipe em consonância com as leituras da literatura contemporânea.

*Doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos – Universidade Federal da Bahia
Centro de Estudos Afro-Orientais

REFERÊNCIAS:
BHABHA, Homi. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, et al. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
D’ACELINO, Severo. Panáfrica África Iya N’La. Aracaju: MemoriAfro, 2002.
GATES Jr. Henry Louis. A escuridão do escuro: uma crítica do signo e o Macaco
significador. In: HOLLAND, Heloísa Buarque. (Org.). Pós-modernismo e política. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. p. 205-216.
GILROY, Paul. Atlântico Negro. São Paulo: Editor 34, 2001.
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura . Trad. Carlos Nelson Coutinho. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.
HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. SOVIK. Liv (Org.). [Trad.
Adelaine La Guardia Resende…[et al]. Belo horizonte: UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
_______. &WOODWORD, Kathryn. Identidades e Diferença: A perspectiva dos Estudos Culturais. SILVA. Yomaz Tadeu da (Org. & Trad). 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
LIMA, Jackson da Silva. História da literatura sergipana. Aracaju: FUNDESC, 1986.v.2.
_______. (org.). Os Palmares Zumbi & Outros textos sobre escravidão. Aracaju:
Sociedade Editorial de Sergipe, 1995.
MARTINS, Leda Maria. A cena em sombras.São Paulo: Perspectiva, 1995.
SANTIAGO, Silviano. Democratização no Brasil – 1979-1981 (Cultura versus Arte). In:
ANTELO, Raul et al (Org). Declínio da arte, ascensão da cultura . Florianópolis: Letras
Contemporâneas/ ABRALIC, 1998. p. 1 -24.
SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
SOUZA, Florentina da Silva. Afro-descendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU.

Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

Texto e imagem reproduzidos do site: 
geledes.org.br/severo-dacelino-e-a-producao-textual-afro-brasileira

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A festa dos 66 anos da SCAS









Fotos: Solange Gomes e Eva Souza.
Reproduzidas do Facebook de: Eva Souza e Edson Júnior.
Postadas por Isto é SERGIPE, para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no blog Ivan Valença/Infonet, em 22 de maio de 2017.

A festa dos 66 anos da SCAS.
Por Ivan Valença.

As chuvas que caíram na tarde de sexta-feira em Aracaju motivaram a ausência de boa parte dos homenageados pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS) no coquetel comemorativo dos 66 nos de existência da entidade. Mesmo assim foi o reencontro bonito de muitos que se conheceram ao tempo em que a SCAS era uma referência na vida artística da cidade. Quem não pode comparecer, até por já não estar mais entre nós, foi representado por seus herdeiros. Assim, por exemplo, o jornalista Claudio Nunes recebeu uma placa destinada ao seu pai, o jornalista Célio Nunes. Amaral Cavalcante, que ainda hoje vive de fomentar a cultura sergipana, chegou quase todo molhado ao 4º andar do edifício da SCAS, na esquina da Rua de São Cristóvão e Avenida Rio Branco. Um painel com fotos dos ex-dirigentes da entidade foi inaugurado na ocasião enquanto se projetavam slides de grandes espetáculos da SCAS. O atual presidente da SCAS, o ator e diretor teatral Isaac Galvão está de parabéns pelo reencontro de grandes nomes das Artes sergipanas.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/ivanvalenca

SCAS comemora 66 anos homenageando dirigentes e sócios


Publicado originalmente no blog Cláudio Nunes/Infonet, em 22 de maio de 2017.

SCAS comemora 66 anos homenageando dirigentes e sócios. 
Por Cláudio Nunes.

Na última sexta-feira (19), a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS) reuniu em sua sede, no Edifício Cultura Artística, no calçadão da Rua São Cristóvão, personalidades da cultura sergipana e ex-dirigentes para comemorar os 66 anos da entidade, fundada em 19 de maio de 1951. Uma noite de encontro de gerações que trabalharam pela cultura sergipana.

O atual presidente, o ator Isaac Enéas Galvão, considerou importante marcar a data fazendo um resgate da história da entidade e homenageando a todos que ajudaram a construir essa importante instituição de apoio e fomento à cultura sergipana. “É importante comemorar mais um ano de vida da SCAS e valorizar as pessoas que fizeram parte dela. Hoje, mais que a celebração de um aniversário, é um dia de reconhecimento às pessoas que dedicaram parte de suas vidas à cultura sergipana. Temos que reconhecer o valor desse trabalho de amor à cultura que essas pessoas prestaram e hoje estamos dando o primeiro passo no sentido de resgatar essa bonita história que elas escreveram na SCAS”.

Isaac fez uma apresentação aos convidados contando a história da SCAS, desde sua fundação. Um passeio pelo tempo revelando presidentes, diretores, sócios e mostrando espetáculos nacionais e internacionais trazidos pela entidade, entre eles o humorista Chico Anísio, a cantora Ângela Ro-Ro, o pianista Arthur Moreira Lima, o fagotista Noel Devos e a pianista Maria Lúcia Pinho, Festival de Arte de São Cristóvão, espetáculos de dança do Grupo Studium Dança, da eterna Lu Spineli, e o renomado Balet de Câmara Stagium. Recentemente, apoiou o espetáculo “Bibi Ferreira Canta Frank Sinatra”, trazido pela produtora cultural e jornalista Solange Gomes, e iniciativas em parceria com o Sindicato dos Artistas de Sergipe (SATED) através do seu presidente, o ator Ivo Adnil, e o coletivo artístico Penarte.

Pelo quadro de sócios da SCAS passaram juristas, empresários, políticos, jornalistas, professores, agentes culturais e profissionais de diversas áreas do conhecimento como o ex-prefeito de Aracaju e ex-governador de Sergipe, João Alves Filho, os empresários Antônio Carlos Franco e Luciano Barreto Franco, o atual Presidente do Tribunal de Contas do Estado, Clóvis Barbosa, as professoras Maria Thétis Nunes e Teresa Prado, dirigente da entidade entre os anos de 1977 a 1997. Sua filha, Fátima Prado, recebeu homenagem póstuma da professora Teresa Prado e falou do amor de sua mãe pela cultura. “Além dos filhos, a cultura era a coisa mais prioritária na vida de minha mãe e esse reconhecimento sempre vai ser maravilhoso, porque ela merece”.

Uma das convidadas para esse encontro cultural foi a assistente social Sonia Marlene Matos , que destacou o aspecto plural da entidade, “a diversidade de representações sociais no universo da cultura”.

“Durante a bela apresentação feita por Isaac Galvão, me impressionou a diversidade de atores sociais em torno da cultura. Foi bastante revelador. Gente que eu jamais imaginaria ter um dia pertencido a uma entidade de cultura. Isso mostra o vigor e importância desse setor na vida da sociedade e que, infelizmente, não recebe um melhor tratamento dos nossos organismos públicos. Os orçamentos destinados à cultura e a falta de cuidado com as pessoas que fazem cultura em Sergipe mostram esse abismo”, criticou Sonia Matos.

Em um momento de especial agradecimento, Isaac Galvão registrou a importância do ex-prefeito de Aracaju e ex-deputado federal José Carlos Teixeira para a cultura sergipana e para a SCAS. “José Carlos Teixeira é um dos mais importantes mecenas da cultura sergipana. Sergipe deve muito a esse homem público e refinado amante das artes. Particularmente, sobre a SCAS, ele, com trabalho obstinado na Câmara Federal, conseguiu trazer grandes espetáculos para Sergipe e colocar nosso estado em um circuito cultural nunca antes visto, aliás, um dos objetivos que constam na Ata de fundação da SCAS. Além disso, através de uma emenda parlamentar junto ao Ministério da Educação, José Carlos Teixeira conseguiu realizar um sonho dos fundadores da SCAS, que era ter uma sede própria. Graças a ele, hoje, a SCAS tem essa sede, um patrimônio para a cultura sergipana”, reconheceu Isaac, mostrando foto do prédio de 5 andares e do seu idealizador, José Carlos Teixeira.

No final da apresentação, foram entregues placas de agradecimento a todos os ex-presidentes e diretores pelos préstimos à cultura sergipana. Um dos homenageados foi o jornalista Célio Nunes (in memorian), pai do também jornalista e blogueiro Cláudio Nunes, que recebeu a placa de homenagem póstuma ao pai. Antes de colaborar como diretor social na SCAS, o jornalista já atuava no setor cultural. Fundou uma casa de cultura no sul da Bahia, o Instituto de Cultura de Itabuna, além de sua atuação como jornalista e ativista político no Partido Comunista do Brasil, o partidão (PCB).  Esse justo reconhecimento da SCAS a Célio Nunes passa a integrar o acervo de diversas medalhas e placas de homenagem que ele recebeu em vida. Para o jornalista Edson Júnior, colaborador da SCAS, Célio Nunes simboliza a importância do jornalismo na cultura, “ao sonhar sempre com um mundo melhor e justo”.

“O papel do jornalista é ajudar a sociedade a tomar decisões a partir de informações corretas e também sonhar com um mundo justo, feliz e solidário. Célio Nunes fez isso, como um cuidadoso e sensível contista da realidade, jornalista e militante político preocupado com o seu semelhante. Seu legado é a decência; uma biografia inspiradora. Sempre sonhou com um mundo melhor. E o que é a cultura, senão, o fantástico mundo dos sonhos possíveis? ‘Seu’ Célio acreditou e trabalhou na construção desse mundo possível”, declarou o jornalista Edson Júnior.

Os jornalistas Amaral Cavalcante e Ivan Valença receberam placas de agradecimento, registrando importantes momentos da SCAS em Sergipe. Também receberam o reconhecimento da entidade o ex-prefeito de Aracaju, João Augusto Gama, os secretários Luciano Correia e Jorge Carvalho, o professor Antônio Joaquim, o ator Orlando Vieira, o arquiteto Ricardo Nunes e o ex-governador Seixas Dória, falecido em 31 de janeiro de 2012.

Mozart Santos, superintendente da Tv Sergipe nas décadas de 70, 80 e 90, foi diretor social da SCAS entre 1991 a 1997. Não pode comparecer para receber sua homenagem em virtude de compromissos no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, mas enviou emocionado depoimento sobre o período em que esteve em Sergipe e na SCAS. Mozart agradeceu aos sergipanos pela acolhida que teve durante o tempo em que trabalhou no estado - recebendo, inclusive, título de cidadão sergipano - e enalteceu o papel da SCAS como fomentadora cultural. Prometeu que em visita que pretende fazer a Sergipe para rever amigos, irá na sede da SCAS para um encontro com o passado e receber sua placa de homenagem.

Como parte do aniversário de 66 anos da SCAS, Isaac Galvão inaugurou a Sala Antropólogo Felte Bezerra, primeiro presidente da entidade (1951/1953), que servirá de espaço para cursos e debates culturais. Também anunciou ações em andamento em sua gestão.  Por meio de um blog, fanpage, twitter e instagram, lançados no evento, será sistematizado um cadastro geral de entidades e profissionais que atuam na cultura sergipana, para servir de consulta aos associados e sociedade em geral. “O objetivo é fazer com que os profissionais da cultura sejam facilmente localizados. Quem faz cultura sabe a dificuldade de encontrar profissionais específicos para uma área, seja técnica ou artística. Queremos encurtar essa distância. Também há dificuldade de saber quais entidades de classe, associações e entidades do terceiro setor que atuam na área. Pretendemos ser o endereço de consulta para quem faz cultura e para a sociedade, que procura cultura”, destacou Isaac.

Isaac pretende realizar com sua equipe e agentes da diversidade cultural, um grande fórum de discussão sobre os rumos da cultura em Sergipe e instituir o “Prêmio SCAS de Cultura”, uma premiação anual a todos que fazem a cultura em Sergipe, tendo como data indicativa do prêmio o dia 5 de novembro, quando é comemorado o Dia Nacional de Cultura. A data foi instituída por meio de decreto presidencial em homenagem ao jurista e jornalista Rui Barbosa, que nasceu nesse dia.

O encontro foi finalizado com um coquetel, muitas confraternizações e encontros, e a abertura da Galeria dos Presidentes, na Sala Antropólogo Felte Bezerra. Um mural com fotos de todos os presidentes e seus períodos de gestão frente à entidade, que ficará permanentemente aberto para visitas.

Um renascimento para a SCAS.

O titular deste espaço participou da comemoração dos 66 anos da SCAS e viu a disposição da diretoria em propiciar um renascimento para a entidade no sentido de atuar com mais amplitude no fortalecimento da cultura em Sergipe. Apesar das dificuldades e do momento atual, a SCAS pode, com algumas ações, com a edição do prêmio cultural e o fórum, ajudar na construção efetiva para a cultura sergipana, atraindo novos sócios e parceiros, principalmente da área privada para efetivação destes projetos.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/claudionunes