quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

'Carta aos Cedrenses', por Ailton Rocha

Artigo publicado originalmente no blog Cláudio Nunes/Infonet, em 5 de dezembro de 2022

Carta aos Cedrenses

Por Ailton Rocha

Rochinha – Decano da Humildade*

Com alegria, entusiasmo e curiosidade li o livro “Rochinha – Decano da Humildade” escrito por Antônio Camilo e publicado pela Editora Diário Oficial de Sergipe (Edise), que conta a trajetória de José Francisco da Rocha, carinhosamente conhecido como Dr. Rochinha, decano da advocacia de Sergipe. Trata-se de um dos mais respeitados juristas do nosso Estado, gozando, inclusive, de reconhecimento em nível nacional, tendo desenvolvido estudos em conjunto com renomados juristas do nosso país.

O professor emérito da Universidade Federal de Sergipe, Antônio Fontes Freitas, na apresentação do livro, lembra que Rochinha dentre as várias atuações maçônicas, foi o grande responsável pela reaproximação da Igreja Católica e a Maçonaria, levando o então Bispo Auxiliar de Aracaju Dom Luciano José Cabral Duarte a fazer, de forma legitimada pelo Vaticano, uma brilhante palestra para o povo maçônico de nosso estado, na Loja Capitular Cotinguiba, onde e quando se formalizou um convênio de ação conjunta para implantação de novas metas de trabalho dentro do programa pioneiro de reforma agrária, à época em execução pela Igreja Católica no interior do estado.

No prefácio, o jornalista e literato Luiz Eduardo Costa destaca: “o menino de que trata este livro teve a benção e a sorte de nascer numa choupana onde recebia os cuidados da mãe, terna e zelosa, e o pai nunca deixou que lhe faltasse a comida. Os dois, pai e mãe, acompanhavam com permanente atenção as idas e vindas do menino à escola, que ficava longe, mas ele fazia à caminhada estafante com o entusiasmo de quem tinha a prematura consciência do que representavam aqueles passos iniciais; caminho único para uma vida melhor, para ele e sua família”.

José Francisco da Rocha, nasceu em 7 de novembro de 1926, na cidade de Cedro de São João (SE), fruto da união de Juvenal Francisco da Rocha (tio Jovem) e Maria da Conceição Rocha (tia Iaiá). Era o primogênito de uma prole de dois filhos, pois quatro anos após nasceria Francisco de Assis Rocha.

Tio Jovem era irmão do meu avô paterno Mindon de nome José Francisco da Rocha, portanto tio de meu pai, também José Francisco da Rocha (Zé de Mindon), atualmente com 90 anos de idade, poeta e teólogo autodidata. Não cheguei a conhecê-lo (faleceu antes do meu nascimento), mas de Tia Iaiá tendo doces recordações das vezes em que vinha a Cedro ficar conosco alguns dias na casa dos meus avós ou então quando na minha fase infantojuvenil em passeio a praia de Pirambu passava em sua residência em Japaratuba, parada obrigatória, para nós, membros da família. Em ambas as ocasiões éramos brindados com doces e deliciosas frutas colhidas do sítio da família e da sua contagiante alegria, carinho e carisma. Desde a primeira vez que a conheci, apesar da minha tenra idade, percebi que estava diante de uma mulher bondosa, decidida, forte e exigente com os bons costumes e no respeito ao próximo.

José Francisco da Rocha (Dr. Rochinha), casou-se com Ana Macieira Aguiar (Anita). Em 62 anos de vida conjugal, tiveram cinco filhos – Maria da Conceição Rocha Sampaio (poliglota casada com Roberto Silveira Sampaio); José Sérgio de Aguiar Rocha (advogado e engenheiro civil, casado com Maria Eulina Nascimento Rocha); Maria do Socorro de Aguiar Rocha Ribeiro (defensora pública, casada com Antônio Eduardo Silva Ribeiro); Ana Teresa de Aguiar Rocha; e Juvenal Francisco da Rocha Neto (advogado, casado com Maria José Santiago Rocha) — e dez netos — Rodolfo Rocha Sampaio, Roberto Rocha Sampaio e Thalia Sampaio Lopes da Silva (casada com Wenderson Lopes da Silva), filhos de Conceição e Roberto; Marianna de Aguiar Rocha Ribeiro e Clarisse de Aguiar Ribeiro Simas (casada com Pedro Freitas Simas), filhas de Socorro e Eduardo; André Francisco Nascimento Rocha, Alícia Nascimento Rocha e Ana Carolina Nascimento Rocha (casada com Isaías Santana dos Santos), filhos de Sérgio e Eulina; e Anita Santiago Rocha e Otávio Santiago Rocha, filhos de Juvenal e Maria José. Atualmente, são cinco bisnetas — Júlia Sampaio Lopes e Isabela Lopes da Silva, filhas de Thalia e Wenderson; Anatália de Aguiar Ribeiro Simas, filha de Clarisse e Pedro; Maria Eduarda Ribeiro de Oliveira, filha do casamento de Marianna; e Laura Rocha Santana, filha de Ana Carolina Nascimento Rocha e Isaías Santana dos Santos.

O autor estruturou a obra em 10 capítulos. No Capítulo I – Ilustre Filho de Cedro, narra a origem do biografado, de uma gente aguerrida, prendada e inteligente. E relata o movimento pela restauração política de Cedro de São João, que teve como líderes Antônio Batista do Nascimento, Manoel da Rocha, Antônio Santana e João de Deus da Rocha, afirmando que as pesquisas nos brindaram com a descoberta de que este último é primo em segundo grau de Juvenal Francisco da Rocha, genitor do doutor Rochinha. O Capítulo II – Nascimento, Infância e Adolescência; o Capítulo III- Início da Vida Profissional; o Capítulo IV – A Família; o Capítulo V – Ascenção Profissional; o Capítulo VI – O Maçom; o Capítulo VII – Cargos e Funções Públicas; o Capítulo VIII – Amigos e Histórias; Capítulo IX – Um Decano Que Foi Homenageado Como Merecia; Capítulo X – Um Homem Que Soube Homenagear Como Poucos. Incluindo a Apresentação, Prefácio, Prólogo e Epílogo.

Ainda criança, José Francisco da Rocha foi com os pais residir na cidade de Japaratuba (SE), eis a cronologia: 1926 – Nasce em Cedro de São João o primogênito de Maria da Conceição Rocha e Juvenal Francisco da Rocha; 1932 – Inicia os estudos na Escola Isolada I, no município de Japaratuba/SE, frequentando até 1935; 1936 – Passa a estudar no Colégio São José, onde permanece por 2 anos; 1938 – Matricula-se no Externato Jesus Cristo Rei, lá estudando por 4 anos; 1941 – Conclui os estudos primários; 1942 – Consegue vaga para matricular-se no Colégio Salesiano em Aracaju, onde estuda por 1 ano; 1943 – Assume seu primeiro emprego como caixeiro na Ótica Barrett o em Aracaju; 1943 – Inicia os estudos na Escola de Comércio Conselheiro Orlando; 1945 – Deixa o emprego da Ótica Barrett o e começa a trabalhar na Companhia Nordeste de Seguros; 1949 – Casa-se com Ana Macieira Aguiar (Anita);1949 – Inicia na Maçonaria pela Loja Simbólica Cotinguiba;.1950 – Passa a ocupar o cargo de Gerente da Companhia Nordeste de Seguros; 1950 – Forma-se em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio de Sergipe; 1950 – Inscreve-se no 1º Vestibular da recém-criada Faculdade de Direito de Sergipe, obtendo aprovação; 1951 – Participa da aula inaugural da 1ª Turma da Faculdade de Direito de Sergipe realizada no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe; 1952 – Deixa a Companhia Nordeste de Seguros e toma posse como escriturário do Banco do Brasil S/A, após aprovação em concurso público; Cola grau como Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Sergipe; 1966 – Funda o Lions Clube Aracaju-Atalaia; 1968 – Coordena a 1ª Visita de Dom Luciano José Cabral Duarte à Loja Simbólica Cotinguiba; 1968 – Assume a presidência da OAB/SE para o biênio 1968/1969; 1968 – Preside a Junta Comercial do Estado de Sergipe (JUCESE) no período de 1968 a 1976; 1969 – Exerce o cargo de Vice-Presidente Regional do Lions Clube Aracaju-Atalaia para o biênio 1969/1970; 1972 – Coordena a 2ª Visita de Dom Luciano José Cabral Duarte à Loja Simbólica Cotinguiba; 1972 – Assume o cargo de Coordenador Regional de Projetos na Comunidade do Lions Clube Aracaju-Atalaia para o ano leonístico de 1972/1973; 1973 – Ingressa no quadro de advogados do Banco do Brasil S/A, após aprovação em concurso interno, passando a ser Assessor Jurídico da instituição; 1975 – Toma posse como Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1975/1977; 1975 – Começa a lecionar Direito Comercial nas Faculdades Integradas Tiradentes (FITS) no mês de fevereiro; 1975 – Passa a ensinar Direito Comercial na Universidade Federal de Sergipe (UFS) no mês de agosto, após aprovação em concurso público de provas e títulos; 1980 – É reconduzido ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1980/1982; 81982 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1982/1984; 1983 – Encerra  suas atividades como catedrático da UFS; 1984 – Encerra suas atividades como professor da UNIT; 1989 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1989/1991; 1992 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1992/1994; 1995 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1995/1997; 1995 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 1995 a 2003; 2003 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 2003 a 2007. 2007 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 2007 a 2011; 2020 – Encerra suas atividades como advogadas durante o período de restrições impostas pela pandemia do coronavírus.

Dentre inúmeras homenagens que lhe foram prestadas, destaca-se a mais alta condecoração concedida pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a Medalha Pontes de Miranda. O então presidente do TRF-5, desembargador Vladimir Carvalho, como sergipano que é, destacou a trajetória do seu conterrâneo: “José Francisco da Rocha não é só um advogado com 93 primaveras, mas é, antes de tudo, um pedaço vivo da história jurídica de Sergipe. Mais do que uma rocha, simboliza uma cordilheira de montanhas, dessas que engrandece o meio em que nasceu e em que vive”.

O atual Presidente do Asilo Rio Branco e Venerável da Loja Simbólica Cotinguiba, Orlando Mendonça, no seu depoimento acerca do  amigo e irmão maçom: “Rochinha é um homem íntegro, honesto acima de tudo, um amigo fiel, dedicado e atencioso com todos os que têm a oportunidade de convivência com ele. No Asilo Rio Branco ocupa até hoje a presidência de seu Conselho Diretor com relevantes serviços prestados à instituição, tendo como destaque a sua atuação quando a maçonaria assumiu a direção da instituição até os dias atuais. E continua: “Seu jeito afável, sereno e inteligente inspirou e inspira diversos colegas e amigos, servindo como parâmetro não só à advocacia, mas a outros segmentos profissionais, pois o equilíbrio, a sabedoria e o respeito, atributos inerentes a Rochinha, devem sempre nortear nossa convivência social. A sua capacidade de dialogar fraternalmente com todas as matizes sociais o faz uma grande referência para várias gerações da advocacia. Dentre as inúmeras qualidades de Dr. Rochinha, o seu maior exemplo é de honradez e trabalho”.

Flamarion D’Ávila Fontes apresenta o seguinte depoimento de admiração: “a sua inabalável postura ética, o seu compromisso com a verdade e a sua inquebrantável autoridade moral, qualidades que somente os grandes homens cultuam como modo de vida”.

Na opinião do escritor Antônio Camilo: “José Francisco da Rocha é mais um desses grandes homens que tenho a honra e a felicidade de perpetuar suas histórias e que particularmente me inspiram e encantam porque na simplicidade são grandes e na grandeza se fazem humildes… Procurei elaborar um texto leve, prazeroso, em muitos momentos divertido e bem humorado, assim como é José Francisco da Rocha, mas sem deixar de mergulhar na essência, ressaltando os fatos significativos de sua admirável história, que teve como pilares a humildade, a competência e o desejo de sempre realizar, quer como homem público quer como maçom, professor ou jurista”.

Para Rochinha, essa descrença na política que vivemos hoje, essa falta de esperança, mostra-nos que o momento atual é realmente muito difícil. Nunca vi tanta ausência de dignidade e vergonha no final das contas. Sou daqueles que defendem que mais vale um grama de exemplos do que uma tonelada de palavras.

O primogênito de Juvenal e Conceição, atualmente com 96 anos de vida terrena, além de ser uma pessoa bem humorada e detentor de uma admirável oratória, revelou-se um atento ouvinte e grande narrador quando se trata de uma boa história. Portanto patrimônio do povo sergipano e orgulho da gente cedrense.

(*) Com informações extraídas do livro “Rochinha – Decano da Humildade” escrito por Antônio Camilo.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

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