Legenda foto - Imagem extraída de vídeo do Canal YouTube/Pascoal
Maynard e postada pelo blog “Isto é SERGIPE”, para ilustrar o presente artigo.
Texto publicado originalmente no site da UFS, em 26 de
setembro de 2011
Antigos carnavais de Aracaju
Saber Ciência /Samuel Barros de Medeiros Albuquerque
Na tarde do último dia 27, o Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe recebeu a visita de uma equipe da TV Sergipe envolvida na
produção de uma matéria sobre os antigos carnavais aracajuanos. Buscavam
registrar imagens de documentos que remetessem aos festejos de outrora.
No rico acervo da “Casa de Sergipe”, como é carinhosamente conhecido o Instituto, a equipe se interessou por alguns objetos, fotografias e notícias de jornais, além de alguns escritos legados por renomados autores sergipanos.
Inspirado pela produção da referida matéria, tratei de revisitar um dos mais primorosos textos da memorialística sergipana, o encantador “Roteiro de Aracaju”, obra de Mário Cabral, publicada em 1948.
Dialogando com autores como Corinto Mendonça, Mário Cabral informa que, em Aracaju, o carnaval surgiu ainda no século XIX, em princípios da década de 1890. Fomentado, sobretudo, pelo tenente Henrique Silva, surgiram os primeiros grupos de foliões, ao som de clarins e zabumbas, usando máscaras e fantasias. Mário trata com riqueza de detalhes dos desfiles dos primeiros clubes: o Mercuriano, o Cordovínico e, depois, o Baco e o Arranca. Segundo ele, “os carros alegóricos formavam grandiosos préstitos, procedidos, majestosamente, pelos clarins dos arautos” (Roteiro de Aracaju. 3ª ed. Aracaju: Banese, 2002, p. 55).
Entre as décadas de 1910 e 1930, o carnaval aracajuano passou por muitas transformações. O corso de automóveis na Rua João Pessoa, o uso generalizado de fantasias, confete e lança-perfume são marcas desse período. Mário também rememorou os concorridos bailes de carnaval. Segundo o poeta, “o povo dançava nos famosos bailes do Cinema Rio Branco. A grã-finagem se divertia no Clube dos Diários. O Recreio Clube, posteriormente, passou a ser o quartel general da folia carnavalesca, sendo o seu baile da terça-feira, um verdadeiro acontecimento social e mundano” (Roteiro de Aracaju. 3ª ed. Aracaju: Banese, 2002, p. 55).
Sob o ritmo do frevo, o nosso carnaval ganhou novo fôlego na década de 1940, após a Segunda Guerra Mundial. “Durante quatro dias e quatro noites, na Rua João Pessoa, na Praça Fausto Cardoso e na Travessa Benjamim Constant, ao som de grandes e de poderosos amplificadores, o povo aracajuano realiza[va] um carnaval animadíssimo. Os estandartes, como coisas vivas, oscilam sobre o estranho mar de cabeças humanas”, informa Mário (Roteiro de Aracaju. 3ª ed. Aracaju: Banese, 2002, pp. 55-56).
Ele afirma ainda que as ruas eram “decoradas por meio de luzes, cartazes, bandeirolas, figuras e gigantes painéis carnavalescos”. Sem contar com os famosos bailes dos clubes Sergipe, Cotinguiba, Aracaju e Associação. O poeta também caracterizou os antigos carnavais aracajuanos como um “maravilhoso espetáculo de igualdade e democracia”, congregando “velhos e moços, pretos e brancos, ricos e pobres” na festa pagã.
Nesse sentido, o “Rasgadinho”, um dos mais tradicionais blocos no carnaval de rua da cidade, criado na década de 1960, ressurgiu com força em 2003, animando os foliões do Cirurgia e bairros próximos.
Mesmo vivendo em Salvador, Mário Cabral sempre esteve atento aos acontecimentos de sua amada Aracaju. Certamente, antes do seu falecimento, em abril de 2009, o poeta teve notícias do renascimento do tradicional carnaval aracajuano.
É possível que Mário tenha se deixando tomar por um súbito sentimento de satisfação ao constatar que os antigos carnavais inspiraram os foliões do século XXI, promovendo um vibrante encontro do passado com o presente, resignificando uma memória que teima em sobreviver.
Currículo
Professor da Universidade Federal de Sergipe. Presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Texto reproduzido do site: ufs.br
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