sábado, 11 de junho de 2022

Magnólia, o travesti que escrachou a burguesia de Aracaju

Legenda da foto: Magnólia não esquece da noite em que se sentiu uma rainha, em seu vestido vermelho brilhante

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 11 de junho de 2022

Magnólia, o travesti que escrachou a burguesia de Aracaju
Por Adiberto de Souza *

No final da década de 70, o Iate Clube de Aracaju só aceitava a fina flor da sociedade sergipana. Além do enorme salão nobre, a casa oferecia aos distintos sócios a Boate Saveiros, com música ao vivo da melhor qualidade. Um luxo exclusivo para quem tinha poder e muito dinheiro. Há histórias de novos ricos que, mesmo insistindo, não foram aceitos como sócios do Iate, clube localizado às margens do Rio Sergipe, na ainda não poluída Praia Farmosa, zona sul de uma cidade com ares provincianos.

Para se ter uma ideia do preconceito reinante em Aracaju naquela época, durante o horário comercial as prostitutas dos cabarés famosos, como Alabama, Vaticano, Miramar, Xangai e Shell, não podiam circular pelas ruas do centro da capital. Na Praia de Atalaia, só as famílias frequentavam o lado sul, a partir de onde é hoje Hotel Beira Mar. Prostitutas e homossexuais assumidos – poucos à época – só podiam tomar banho de sol e mar na banda norte do balneário, na direção da Coroa do Meio. E ai daquela ou daquele que se aventurasse no “terreno proibido”.

Empresário da moda e farrista dos melhores, Wilson do Gavetão, dono de importante loja de roupas no centro da capital, resolveu escrachar a burguesia.

Numa noite de gala, Wilson chegou à Saveiros de braços dados com Magnólia, o primeiro travesti assumido de Aracaju. “Pra mim, a nossa entrada na boate foi coisa de cinema. Wilson no melhor terno e eu de peruca loira e linda, um vestido longo, vermelho brilhante e arrasando na maquiagem”, lembra Magnólia, hoje com 74 anos. Pense no buxixo… As dondocas subiram no salto alto, enquanto os homens queriam apunhalar Wilson com os olhos.

Magnólia, que passou quase toda a vida vendendo cuecas e meias masculinas nos mercados centrais de Aracaju, é quem conta o fim da história: “Lá pras tantas e muito dona de mim, cruzei as pernas de forma escandalosa e, com o braço apoiado na mesa, divinamente decorada, chamei o garçom, sem disfarçar a voz de homem: Luiz, me traga aí mais um uísque, porra! Foi um Deus nos acuda. Pararam a orquestra e nos ‘convidaram’ pra sair quase aos empurrões. No dia seguinte, a direção do Iate cancelou o título de sócio proprietário de Wilson. E ele nem ligou”, conta Magnólia, às gargalhadas. Supimpa!

* É editor do Portal Destaquenotícias

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

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