João Gilberto.
Infonet - Cultura - Noticias - 01/08/2012.
Joãzinho da Patu - Artigo do professor Dilton Maynard *
Era 1944 quando Joãozinho chegou a Sergipe com 13 anos
Os anos 1940 foram férteis para a música sergipana. A Rádio
Difusora Aperipê de Sergipe (prefixo PRJ-6), até então a única emissora local,
recebia cartas escritas por admiradores de várias partes do Brasil com
manifestações que empolgavam os seus cantores e músicos.
Dirigindo o Conjunto Regional da PRJ-6, o violonista Ursino
Gois, o “Carnera”, era convidado a realizar espetáculos nos grandes clubes da
cidade – Sergipe, Cotinguiba. Não faltavam apresentações também no Recreio Club
e no Cine Teatro Rio Branco, nem garotos interessados em aprender a tocar
violão, mesmo “fugindo” das famílias que não queriam ver os seus filhos metidos
com “coisa de malandro”. Um destes moços era Joãozinho da Patu.
Joãozinho estudava em Aracaju. Longe da terra natal,
Juazeiro, na Bahia, e da família, "Joãozinho da Patu" (uma referência
à sua mãe, D. Patu) divertia-se formando conjuntos vocais com os amigos. O
futebol também ajudava a afastar a saudade. O pai de Joãozinho, Juveniano de
Oliveira, próspero comerciante, enviou o filho para a capital sergipana a fim
de cursar o ginasial no Colégio Jackson de Figueiredo (na época, Juazeiro só
possuía o curso primário).
Era 1944 quando Joãozinho chegou a Sergipe. Tinha 13 anos de
idade. A Guerra fervia na Europa. Durante o tempo em que esteve na cidade, o
garoto teve os primeiros contatos com o violão. Naquela época, tocar este
instrumento era algo ainda muito rotulado como "coisa de boêmio". Mas
em segredo, o menino teimava em praticar e recebia preciosa ajuda externa. O
primeiro professor de Joãozinho foi Carnera.
À noite, quando saía para fazer seus programas, não era
difícil que o músico levasse Joãozinho a tiracolo. É que, na época, o moço, que
morava na casa dos tios, era vizinho do violonista. E no estúdio da PRJ-6 o
menino nem lembrava da Guerra ou dos avisos da família. Atento, Joãozinho da
Patu observava os artistas locais: Dão, João Melo, Guaracy Leite França,
Bissextino (baterista que muito o impressionava) João Lopes. Dali, de um
estúdio diminuto, aquela turma realizava esforçadas interpretações das canções
de Sílvio Caldas, Francisco Alves, Carmem Miranda, Orlando Silva e tantos
outros. Vez ou outra alguém mandava ao ar alguma composição própria.
Por estas e outras se dizia que o rádio em Sergipe vivia um
grande momento. O menino olhava a tudo e aprendia. Depois, voltava contente
para casa sob a guarda cuidadosa de Carnera. Mas os tempos mudaram. Joãozinho
da Patu cresceu. E, de violão debaixo do braço, virou João, João Gilberto,
cantor da bossa nova, tornou-se conhecido no mundo inteiro.
* Dilton Maynard é professor do Departamento de História e
do Mestrado em História da UFS. Coordena o projeto Memórias da Segunda Guerra
em Sergipe (CNPq/edital 07/2011;PRONEM/FAPITEC). O artigo integra as
colaborações feitas à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente
(GET/CNP/UFS).
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura
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