Tânia Maria interpreta Billie Holiday - A Canção,
primeiro monólogo musical do dramaturgo.
Crédito - Pedro Fontes/Divulgação.
Hunald de Alencar morreu aos 73 anos.
Crédito - Divulgação.
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em
24/05/2016.
A última ‘canção’ de Hunald de Alencar.
Billie Holiday foi o primeiro monólogo musical do dramaturgo
sergipano com maior número de obras encenadas.
Por: Gilmara Costa/Equipe JC.
Sob as críticas e aplausos direcionados ao musical ‘Billie
Holiday – A Canção’, que estreou a temporada no Teatro Lourival Baptista no dia
18, o dramaturgo sergipano Hunald Fontes de Alencar, autor do espetáculo, se
despediu de maneira fugaz do público na última sexta, 19, em virtude de um
infarto. Num apagar de luzes com atores ainda no palco, sob o peso do silêncio
e sem improvisos, o cenário do estado se tornou vazio pela ausência de quem
possui o maior número de obras encenadas em Sergipe, muitas das quais escritas
no período sombrio da ditadura, tornando-se referência histórica entre atores e
amantes da literatura. E assim permanecerá.
“Hunald Alencar é um dramaturgo conhecido em todo o país e
que nos últimos tempos se mantinha triste ante a falta de reconhecimento de
Sergipe para com a sua obra. E foi com ‘Billie Holiday’, cujo trabalho
começamos em 2014, que conseguimos ver a alegria de Hunald. Esse musical deu um
novo ânimo a ele. Na noite de estreia, ele mesmo falou comigo que já podia
morrer feliz, pois estava supercontente com o resultado, com o público. Na
segunda noite de espetáculo ele não foi, mas quis saber como tinha sido e foi
um sucesso, teatro lotado, o que o deixou mais feliz. Logo depois, ele foi
acometido por infarto dentro de casa, infelizmente. A obra de Hunald se manterá
viva, sem qualquer dúvida, e continuaremos com o espetáculo, pois temos a
certeza de que ele não deseja que paremos”, disse o diretor de teatro, Raimundo
Venâncio.
Nas redes sociais, muitos foram aqueles que utilizaram o
perfil de Hunald de Alencar para expressar o pesar de tê-lo ausente e o
“aconchego” de perpetuar o seu legado. “Eu que tanto fujo da tristeza, dou-me
hoje ao exercício da tristura. E dou-me por um cessamento: de repente, ‘a barba
e as unhas’ de Hunald Fontes de Alencar pararam de crescer. Um dos nossos
maiores poetas é hoje um homem a menos nesta feira-doida que é a vida. O
coração que tanto lhe impulsionou à criação e lhe deu cordas pelos caminhos
crespos da generosidade, resolveu dormir pra sempre na madrugada deste sábado.
Parodiando o bom e velho W. H. Auden, no poema à morte do poeta irlandês
William Yeats, eu também digo, nesta hora fria, ‘Terra, acolhe um hóspede
famoso: / Hunald de Alencar, e dá lhe repouso. / Fique a taça de Sergipe vazia
/ Do que continha de poesia’, escreveu o jornalista e poeta Jozailto Lima.
Em comentário às palavras dele, a atriz Tânia Maria, que dá
corpo e voz a Billie Holiday no musical sergipano, retribuiu o carinho,
rememorou o dramaturgo e falou sobre a saudade. “Que belo jardim de suntuosas
palavras plantadas pelo querido Jozailto Lima! Nosso Hunald Fontes de Alencar
ficaria orgulhoso desses escritos leves, suavemente puros e risonhos, mas
profundos! Se tinha a intenção de emocionar, assim o fez. Mais uma vez demonstrou
com tão bela homenagem o insigne poeta que é! Enquanto lia me deixei conduzir
pelas imagens. Visualizei nosso poeta sentadinho na frente do Lourival, sempre
com aquele sorriso brando para os amigos, para todos que iam em sua direção. A
forma de escrever do Jozailto Lima é muito visual, a gente se transporta para o
lugar dos acontecimentos narrados... O parabenizo por esse encantamento, e
agradeço pelo aconchego! Bateu saudade do Hunald”, escreveu.
Hunald de Alencar
O poeta, escritor, dramaturgo e diretor teatral Hunald
Fontes de Alencar nasceu na cidade de Estância-SE, em 10 de novembro de 1942.
Bacharel em Direito, licenciado em Letras Português, com pós-graduação em
Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, e ocupava a cadeira de número 10 da
Academia Sergipana de Letras. Como dramaturgo, escreveu inúmeras peças, entre
elas: Corpus, Uma Vez, o Amor (montada duas vezes), Cárcere de Outono e Minha
Vida, Meu Bolero.
Publicou vários livros, como Uma Vez, em Olduvai, Poema de
Kandor Ou a Escravidão dos Deuses e Morte no Estuário. É o autor sergipano mais
encenado em Sergipe. Seus textos, carregados de profundidade e politização,
servem de inspiração para muitos atores e amantes da literatura e da poesia. Em
2014, escreve seu primeiro monólogo musical: Billie Holiday, a Canção. Texto
contundente, que apesar da crueza de suas palavras, é poeticamente profundo.
Texto e foto reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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