Marcelus Fonseca (à esquerda) e artistas no evento Experimente,
Galeria Zé de Dome.
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação.
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em
09/05/2016.
Mercado de artes em SE: a sobrevivência comedida da diversa
produção de obras.
Grupo seleto de apreciadores faz do negócio artístico uma
atividade discreta no Estado.
Por: Gilmara Costa/ Equipe JC
“É um mercado do qual pouco se sabe”. É assim que o artista
plástico Antônio da Cruz dá início à indagação sobre movimentação do mercado de
artes em Sergipe, que tem entre os grandes nomes do segmento do andarilho J.
Inácio; do ‘artevista’ José Fernandes; do santista Fábio Sampaio que pelo tempo
e arte se faz um sergipano de alma; além do próprio Antônio da Cruz que, na sua
obra, desafia a física e compõe esculturas instigantes ao público que olha,
toca e sente. Entre uma inércia governamental para com os incentivos à arte e
iniciativas pessoais de compra e venda de produção artística, o estado dá
indícios de um discreto e seleto negócio artístico, com apreciadores locais e
também por todo o país.
“De imediato, pode-se dizer que não ostenta grande movimento
e muito menos existiu, em algum momento, que se tenha notícia, de algo que se
possa chamar de bolha de consumo. As crises entram e saem e o que poderíamos
chamar de “mercado de arte” em Sergipe permanece na sua crise crônica, com
pequena variação. Fica evidente que se trata de um mercado bem discreto e que
está fora, me parece, da contabilidade governamental. Conhecem-se os dados das
diversas atividades dentro da agricultura, da indústria, do comércio atacado e
varejo e dos serviços, menos dos diversos ramos da produção artística, entre
elas as artes visuais. Possivelmente devido à informalidade e da pouca
importância dada pelos diversos órgãos governamentais que poderiam se
interessar. Muito embora o volume de produtos adquiridos no comércio local para
a produção artística em geral seja significativo”, afirmou Antônio da Cruz.
Numa avaliação relacionada diretamente ao momento econômico
vivenciado no país, o leiloeiro público Marcelus Fonseca aponta a queda, mas
garante a colecionadores e público em geral que agora é a oportunidade de
adquirir obras. “Devido à situação política e econômica que vive o País, teve
uma grande queda no mercado de arte, artesanato e artigos decorativos. Com
certeza o consumidor atual tem que priorizar, e então o segmento perde com
isso. Apesar de que o momento está muito bom para comprar diante da queda do
valor de mercado. Com a experiência que tive de galeria e hoje como leiloeiro
público na área de artes plásticas, tenho aconselhado aos artistas, a
aproveitar o momento para novas experiências, com novos estilos e materiais
diferentes, sem a preocupação de venda, mas com a finalidade de mostrar o seu
talento”, explicou Marcelus Fonseca.
Ainda segundo ele, a busca pela efetivação de um negócio
artístico tem como marco inicial a visitação em exposições, daí o grande papel
desenvolvido pelas galerias de arte, vitrine de virtuosos trabalhos. “A
movimentação nas galerias geralmente ocorre na abertura de uma exposição, depois
ficando apenas a os interessados retornar e adquirir uma obra de arte. A busca
por obra consiste em um grupo seleto e pequeno entre colecionadores,
decoradores, arquitetos ou amantes da arte. Aqui temos grandes colecionadores
no estado, não só de artistas sergipanos como também em nível nacional e
internacional”, destacou Marcelus.
Em reforço ao grupo seleto de consumidores de arte e numa
perspectiva de quem é criador da obra, Antônio da Cruz fala que a aquisição, na
maioria das vezes, está relacionada a motivações diversas da real contemplação,
gosto e apreciação do trabalho artístico. “Há um segmento mínimo apreciador que
adquire obras de arte. Temos neste, a figura do colecionador, ainda, mas não se
pode dizer que este crie uma demanda constante e volume crescente. Há muitas
compras avulsas e esparsas do público classificado de classe média, geralmente
funcionário público que adquire para decoração. Há a reivindicação dos artistas
que cobram do Estado, através das suas instituições, a aquisição de obras para
formar acervos sob critérios técnico-artísticos e não baseados no clientelismo
e no compadrio. No geral, há quem prefira uma cópia de ilustração qualquer a
uma obra original. Para muita gente, obra de arte é artigo de luxo. Ainda não
está inserida na cultura como um valor agregado à identidade sócio cultural e
status intelectual.
Para outros, a arte só faz sentido se for utilitária, e o
máximo de importância está apenas no simbolismo afetivo ou religioso, como um
retrato, a figura de um ídolo, santo ou uma paisagem bucólica para a
contemplação, longe das avaliações e discussões estéticas. A arte
contemporânea, que tira as pessoas da chamada “zona de conforto” ou da mera
contemplação, sofre ainda muita indiferença e até preconceito”, afirmou.
É possível viver da arte?
“Sim, desde que se esteja habilitado para sacrifícios;
tenham-se recursos próprios para autofinanciamento; ou ainda disponha-se de um
mecenas à moda antiga. Em tempos de retração dos editais da Funarte e do
patrocínio das grandes empresas, a diminuição de possibilidades para aqueles
que vivem a buscar oportunidades de financiamento dos seus projetos, viver de
arte se assemelha mais ainda a aventura. Imagino que será pior se vir pela
frente um suposto governo com o tal programa chamado de ‘Ponte para o futuro’
que, pelos sinais, será uma ponte para o retrocesso em geral, principalmente no
que diz respeito ao patrocínio cultural”, responde o artista plástico Antônio
da Cruz.
Ainda sobre o assunto, ele fala explica a necessidade de
redenção do artista à demanda que pede a ‘arte encomenda’, numa perspectiva de
criação monitorada não pelo sensorial do criador, mas pela escolha e desejo de
quem paga. “O mundo mudou, porém muita gente ainda vê o artista como um
indivíduo romântico, boêmio encrenqueiro que vive sob os auspícios de um
mecenas, com todo o aparato de uma realeza antes existente e hoje apenas
imaginária. No mundo real e suarento da sobrevivência, para grande parte dos
artistas é necessária uma atividade paralela. No caso dos artistas visuais é
ser desenhista de qualquer área, seja publicitária, gráfica ou técnica também
com variedade enorme; produtor; marchand; moldureiro; ministrar aulas de artes
plásticas no próprio ateliê ou em instituições; arquiteto; ter um emprego
formal, às vezes bem diferente da atividade artística; ou viver sob a guarida
da renda familiar. Viver da produção autoral é difícil. A saída mais comum é
produzir em série. Outra saída é atender às encomendas, que visam mais o gosto
ou as necessidades utilitárias dos clientes à concepção estética do artista.
Isto, quando o artista é eclético. Nestas duas situações os artistas atuam
praticamente como artesãos. Sem demérito. Afinal, navegar é preciso, sobreviver
não é preciso. Diferente do ser romântico, o artista é um trabalhador que tem
contas a pagar e responsabilidades sociais, para consigo, parentes e
agregados”, disse.
Os mais procurados
Entre os artistas sergipanos mais procurados e valorizados,
o leiloeiro Marcelus Fonseca destaca Jenner Augusto, sem deixar de ressaltar os
talentos que continuam na atividade de expressão artística. “Com o
contemporâneo em alta, vejo novos artistas se destacando bem em salões e
eventos como exposições, dando assim uma movimentação artística na cidade,
galerias e espaços culturais, inclusive fora do estado. Na atualidade, poderia
dizer que o artista sergipano mais procurado e valorizado seria o Jenner
Augusto. Mas, tirando os grandes nomes dos artistas sergipanos já falecidos,
poderíamos destacar Cicero dos Santos (Véio), o qual representou o Brasil em
Veneza; Fábio Sampaio, que está sempre sendo selecionado em grandes eventos em
nível nacional; Caã, o próprio filho de J. Inácio; José Fernandes, que além de
suas belíssimas obras em tela , é um artista que movimenta a arte como um todo
em nosso estado; Leonardo Alencar, Adauto Machado, Pithyu, Melquiades, Joubert
Morais, Ismael Pereira e Bené Santana, entre outros que para não me alongar
estão sempre trabalhando em prol da arte sergipana”, disse Marcelus.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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