Foto: seidh.
Infonet > Cidade > Noticias > 17/05/2016.
Comissão da Verdade ouve depoimento de Ilma Fontes.
A jornalista e escritora foi ouvida nesta terça-feira, 17.
Na quinta rodada de audiências públicas para oitiva das
testemunhas que foram vítimas do Regime Ditatorial Militar entre 1964 a 1985, a
Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa de Araújo” ouviu, nesta
terça-feira, 17, a jornalista, escritora cineasta, ativista cultural e médica
psiquiatra Ilma Fontes, que, apesar de não ter sido presa, sofreu fortes
perseguições e ameaças. A Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e
Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh) é responsável
pela interlocução entre os membros da Comissão e o Governo de Sergipe.
Em seu depoimento, Ilma relembrou a época que passou no
vestibular de Medicina, em 1967. “Eu estava presidente do CEU (Clube do
Estudante Universitário), momento em que nossos direitos estudantis foram
cassados. Não tinha mais participação no Diretório Central dos Estudantes (DCE)
e também não podia falar de política dentro da Faculdade de Medicina, mas
consegui permanecer estudando. Fui perseguida, humilhada, postergada. Fui
afastada dos meus projetos. Tive minha juventude roubada”, afirmou a vítima,
que também falou sobre a censura vivenciada.
“Aqui em Sergipe, o movimento era mais ameno. A luta era
mais intensa na Bahia. Em Salvador tinha os movimentos de rua. Era uma
temeridade. Aqui nós tínhamos algumas divergências de pensamento, talvez pela
característica rebelde da juventude. Nós éramos fichados e discriminados:
‘Fulano, beltrano e cicrano são comunistas’. Eu não era comunista. Até então
não era filiada a partido nenhum. Mesmo porque eu adorava rock’n roll. A
maioria dos comunistas não aceitava muito isso. Minha primeira filiação
partidária foi ao Partido dos Trabalhadores (PT), em 1981, para fundar o
diretório de Aracaju. E muito embora eu fosse amiga de Laurinha [Marques] e
Wellignton Mangueira, não me filiei ao Partidão”, contou Ilma.
Ilma destacou ainda, que estudou psiquiatria no Rio de
Janeiro e lá era outra realidade. “Havia características distintas. O movimento
secundarista era muito forte, mas era a reboque de movimento universitário.
Aqui em Sergipe era o contrário. Tínhamos muito mais estudantes ativistas,
conscientes e destemidos no movimento secundarista do que na Universidade. Na
faculdade de Medicina, quem partia para o enfrentamento era eu. Tinha mais
duas, três pessoas, no entanto, eram mais comedidas”.
Para o coordenador de Direitos Humanos da Seidh, Antônio
Bittencourt, o momento de repressão não se caracteriza apenas pela coerção de
natureza física, mas sobretudo, por ser uma violência de natureza cultural e
ideológica. “Ilma Fontes fez parte de um grupo de jovens ativos na prática da
contestação cultural e que se rebelavam nesse campo. Portanto, acredito que o
relato dela estimula a inserção de investigações voltadas à presença de
repressão às manifestações culturais sergipanas”, pontou.
Também o presidente interino da Comissão da Verdade,
Gilfrancisco, a participação de Ilma Fontes tem um caráter especial, devido à
sua atuação no segmento cultural, principalmente ligada ao cinema, literatura e
teatro. “Teremos outros, mas com militância político-partidária. Os próximos
que irão depor nesta rodada foram presos”, disse. Ainda esta semana, serão
ouvidos Manoel Pascoal Nabuco D’Ávila (18/05), Ana Maria Rolemberg Côrtes
(19/05) e Benedito de Figueiredo (18/05), em sessões públicas realizadas a
partir das 8h, no auditório do Museu da Gente Sergipana.
Sobre a Comissão
Instituída pelo governador Jackson Barreto através do
decreto nº 30.030, em 26 de junho de 2015, a Comissão Estadual da Verdade tem
caráter independente e visa o levantamento de informações relativas ao período
de 1947 a 1985.
Fonte: ascom Seidh.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cidade
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