quinta-feira, 12 de maio de 2016

Turismo: Caminho dos jesuítas em Sergipe.

 Fazenda Tejupeba - Marco jesuítico.

 Igreja.

  Antiga escola.

 Complexo.

Igreja de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro,
Tomar do Geru - Simplicidade e adornos de ouro.




 Igreja de Comandaroba, no município de Laranjeiras/SE.

Igreja de Comandaroba – Laranjeiras - Símbolos.
Créditos - Sílvio Oliveira.

Infonet > Blog Silvio Oliveira > 05/05/2016.

Turismo: Caminho dos jesuítas em Sergipe.

Roteiro a ser desbravado

Carmelitas, franciscanos, jesuítas são algumas das ordens religiosas que marcaram a história da colonização e expansão do povo brasileiro. Em solo sergipano não foi diferente e prédios históricos contam parte do período áureo (1575 – 1759) da Companhia de Jesus, a exemplo da igreja de Comandaroba e do Retiro, (Laranjeiras), do Complexo Histórico Tejupeba (Itaporanga D’Ajuda) e da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Tomar do Geru).

Historicamente Sergipe está apto a disponibilizar mais um roteiro turístico para o país: “Caminhos dos jesuítas”. Turisticamente o roteiro não existe e necessita de um estudo de viabilidade, até por ser parte das edificações construídas em áreas particulares. Vale a pena visitá-los.

Tejupeba (SE): residência e colégio jesuítas

Os jesuítas aportaram em Sergipe em 1575 por meio da missão de São Tomé, de Santo Inácio e São Paulo, lideradas pelos padres Gaspar Lourenço e João Salônio. O principal foco era levar a civilização cristã a localidade, primeiramente, onde hoje é o município de Santa Luzia do Itanhy.

A capela de Santa Luzia era um marco do início do período dos jesuítas em Sergipe, porém não mais existe.

Nas proximidades do rio Vaza-Barris, os jesuítas instalaram-se na região de domínio de Itaporanga D’Ajuda, com a construção de um colégio, residência e igreja, complexo chamado à época de Tejupeba. Há indícios de que lá também funcionou um estaleiro da Companhia de Jesus no Brasil, com destaque econômico além das terras do então Sergipe del Rei.

Tejupeba também é um dos marcos das principais construções do gênero no Estado por apresentar uma arquitetura bastante harmônica entre as edificações, e por ter uma sofisticada arcada na parte externa da igreja. Ao fundo do templo, tem-se uma vista privilegiada do rio Vaza-Barris, o que denota que a construção não estava ali por acaso, mas também por questões econômicas e estratégicas.

Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1943, o complexo arquitetônico abrange a edificação da casa-escola, a igreja, a casa maior e o local onde eram as senzalas. Fica em propriedade particular da família Mandarino, localizada hoje no povoado Nova Descoberta, em Itaporanga.

A divisão do edifício da antiga escola aparenta partes de uma residência, com bastantes janelas, com andar térreo amplo, costumeiramente dos colégios jesuítas. No andar superior, a sacada mostra uma visão privilegiada da igreja e da propriedade no geral.

Ao adentrar na igreja, partes do altar deteriorado motiva certo descontentamento ao ver tamanho patrimônio ao chão. Na parte detrás, onde provavelmente funcionou uma sacristia, os túmulos dos proprietários pós-expulsão dos jesuítas também contam parte da história, mesmo que o piso esteja completamente aos pedaços. São lápides indicando restos mortais da tradicional família Dias Coelho e Mello. “Aqui jaz os restos mortais da Baronesa de Estância”, diz um deles. No outro, restos mortais de Antônio Dias Coelho de Melo, o Barão de Estância, filho de Domingos Dias Coelho e Melo (Barão de Itaporanga) e de Michaela Coelho Dantas e Melo.

As partes artísticas e decorativas da igreja e do casarão já não existem mais e a construção está em constante deterioração.

Igreja de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro - Tomar do Geru

Nas proximidades dos rios Piauí e Real, sul de Sergipe, os jesuítas tiveram a missão de catequizar os índios Kiriris, fixando-se na região em 1683 com a compra de um sítio da companhia religiosa dos Franciscanos.

A Missão Geru era uma povoação indígena administrada por padres jesuítas, muito próspera com a criação de gado. Essa missão é considerada a única em Sergipe que passou a ser vila e depois cidade, hoje Tomar do Geru, já que com a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas, em 1759, a igreja não foi a leilão.

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi construída em 1688 por iniciativa do padre italiano Luís Vincêncio Mamiani. Ela difere em sua estrutura externa dos demais templos jesuítas de Sergipe por ser simples e não apresentar os famosos arcos de outras construções. O cruzeiro à frente na área externa onde acontecia todos os eventos festivos e religiosos e o pórtico de entrada em pedra sabão assemelham-se aos outros templos, esse com a inscrição MDCLXXXVIII na porta.

Há alguns estudos que a construção da igreja foi cheia de segredos e lendas, mas tudo indica que sofreu grande influência da cidade de Tomar, em Portugal. Os templários tiveram costumes tidos como pagãos, vindo a influenciar também os jesuítas da época, ou seja, o templo tem simbologias templários-jesuítas, a exemplo de adornos proveniente do Egito Antigo, onde adorava-se o deus Amon-Rá e Ísis, além da flor de Isis encontrada em vários locais da igreja e no anagrama jesuíta no teto da igreja.

A presença de flores, galhos e espinhos são sinônimos da devoção à Maria. Os sete tipos de anjos têm várias conotações: sete pecados capitais, sete dias da semana, sete sacramentos. O altar reluz ouro em meio às imagens de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier. As imagens sacras não são originais. Mesmo assim, a harmonia entre elas e os três altares, além do ouro enchem os olhos de pesquisadores, católicos e visitantes, tornando a igreja de Nossa Senhora do Socorro um símbolo do período jesuítico em Sergipe.

Parte do púlpito localizado à esquerda apresenta sinais indígenas e no teto há o grande símbolo da Companhia de Jesus: o sol com vários raios, os cravos, a cruz e a inscrição JHS (Jesus Hominum Salvatori,) nome de Cristo em grego.

Mas não são somente os altares que chamam atenção na igreja de Geru. Na sacristia ficam imagens de Jesus Morte, bastantes presentes nas igrejas Carmelitas da Bahia. Não se sabe a origem das imagens lapidadas em terracota e madeira, mas há indicações de quem são de origem portuguesa. Outra imagem chama atenção por estar presente nas igrejas da região centro-sul do Estado: Nossa Senhora Santana.

Tesouros escondidos, lápides mortuárias datadas de 1750, que mais parecem com uma porta para um túnel, além de indícios de passagens secretas são algumas das fascinantes histórias encontradas no templo. Suas paredes são estranhamente largas para tão pouco compartimentos acessíveis, o que a torna uma das mais belas igrejas missionárias do século XVII.

Igreja de Comandaroba – Laranjeiras

Além de ser um dos símbolos da cidade histórica de Laranjeiras (SE), a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba é um dos marcos da passagem jesuítica por Sergipe, provavelmente a última construção por essas terras.

A igreja data de 1734, (documentos dizem que ela existia antes em formato precário), período final da Companhia de Jesus em solo brasileiro (1759), em que foram expulsos das colônias portuguesas, acusados de promoverem um “Estado dentro do Estado”.

O templo apresenta as características das demais construções jesuíticas no Nordeste, com cruzeiro em frente à igreja, pórtico de pedra calcariana na entrada com data da construção. Dos dois lados, muitas janelas adornam os amplos corredores com diversos arcos, concedendo a arquitetura um harmonioso contraste entre luz e sombra.

Os adornos exteriores não são tão trabalhados como em outras construções jesuíticas, mas dentro do templo o altar é esculpido em madeira com adereços marianos, especificamente nesta igreja, em homenagem à Virgem da Conceição.

Comandaroba foi erguida com dois andares e o púlpito do lado esquerdo com detalhes orientais. Não há mais o símbolo principal da Companhia de Jesus no teto como acontece na igreja de Tomar do Geru (SE), mas as evidências jesuíticas estão presentes na imagem de São Benedito e nos adornos marianos talhados no altar.

Documentos mostram que os jesuítas construíram Comandaroba para catequizar os índios da região do Cotinguiba e para marcar presença numa outra região sergipana, já que estavam presentes também na região de Santa Luzia do Itanhy. Eles tinham habilidades da navegação, do comércio, da criação de gado, da agricultura, além de diversas artimanhas militares. Em Sergipe, foram prósperos artesão da construção de navios, além de criadores de gado, principalmente nas regiões dos rios Vaza-Barris, Cotinguiba, São Francisco e Piauí-Real.Mas Comandaroba não foi a primeira construção jesuíta em solo laranjeirense. O primeiro delas foi a igreja do Retiro, construção às margens do rio São Pedro, datada do fim do século XVII. Inaugurada em 1701, hoje instalada em terras de uma indústria de fertilizantes do grupo Votorantim.

Comandaroba, Tejupeba, Retiro, Igreja do Perpétuo Socorro são algumas das edificações do grande legado deixado pelos jesuítas para os brasileiros. Muita história ainda há de ser contada, conhecida e desbravada. Turismo e história são aliados quando as edificações contam um passado, através do qual todos se sentem parte dele. As construções jesuíticas em Sergipe são a história dos brasileiros ainda a ser desbravada turisticamente para o mundo.

Fonte: Viagem realizada como participante do III Ciclo de Visita Técnica “Caminhos dos Jesuítas”, do Grupo de Pesquisas Culturas, Identidades e Religiosidades – GPCIR, do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe. Pesquisadores: Antônio Lindvaldo Sousa e Josineide Luciano.

Dicas de viagem

A fazenda Iolanda, também denominada de fazenda Colégio e antiga Tejupeba, está localizada a cerca de 40 km de Aracaju, no município de Itaporanga d’Ajuda, às margens da rodovia estadual SE 228, que liga a BR 101 à praia da Caueira). A visita é feita com a autorização dos proprietários, que não refutam em concedê-la.

Tejupeba sempre manteve as características de um local eminentemente rural, diferente de outras construções que de uma igreja ou escola formaram povoados no entorno.

Laranjeiras fica no Vale do Cotinguiba, a pouco mais de 33km de Aracaju, partindo pela BR 101 no sentido Alagoas. Não precisa adentrar a cidade para ter acesso à igreja. Na entrada do centro urbano, há uma sinalização para virar à esquerda e logo se avistamos torres da igreja.

A igreja fica em solo da atual fazenda Boa Sorte, de propriedade da família Sobral. Há um caseiro que toma conta e uma zeladora que mantém a limpeza da igreja. Ainda há celebrações na igreja e é aberta à visitação pública com o consentimento dos proprietários.

Vale a pena agregar a visita à Comandaroba com outros monumentos da cidade. São pontos turísticos: a igreja matriz do Sagrado Coração de Jesus, Casa do engenho Retiro e igreja de Santo Antônio, capela do engenho Jesus, Maria e José, igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, gruta da Pedra Furada, terreiro Filhos de Obá, Trapiche, Mercado Municipal, museus de Arte Sacra e Afro-brasileiro de Sergipe, entre outros.

Tomar do Geru fica na região sul de Sergipe, a poucos 130km distante de Aracaju, percorrendo a rodovia BR 101, sentido Bahia. Após a cidade de Umbaúba, há um entroncamento à direita. Não tem errada.

O bate e volta partindo de Aracaju é o suficiente. A cidade não possui infraestrutura turística e o ponto principal a ser visitado é a igreja do Perpétuo Socorro.

Como a igreja pertence à diocese de Estância, missas, casamentos, batismo são realizados e há um pároco que toma conta do templo. Não há horário de visitação definido.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/silviooliveira

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