terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sergipana de Aracaju lança livro sobre o estanciano Graccho Cardoso.


Sergipana de Aracaju lança livro sobre o estanciano Graccho Cardoso.

A professora e escritora, Crislane Azevedo, de Aracaju, lançou recentemente um livro sobre a vida do estanciano Graccho Cardoso, e que a partir de hoje estará publicando com exclusividade no site A Tribuna Cultural semanalmente e que também mensalmente esses artigos serão publicados no jornal impresso. Acompanhe a primeira publicação sobre Graccho Cardoso.
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Graccho Cardoso: Formação e Vida Política.
Por Crislane B. Azevedo*

Maurício Graccho Cardoso nasceu na cidade de Estância-SE em 1874. Em sua família já havia quem se dedicasse a atividades intelectuais. Seu pai, Brício Cardoso, tornou-se um conceituado professor do Atheneu Sergipense. Seu avô, Joaquim Maurício Cardoso, foi, além de advogado, professor de Matemática e Geografia. Seu tio, Severiano Cardoso, era professor e escritor. O professor José de Alencar Cardoso, de quem Graccho era primo, foi o fundador do Colégio Tobias Barreto e Diretor da Instrução Pública no governo Pereira Lobo (1918-22).

Os primeiros estudos de Graccho Cardoso, iniciados com o seu pai, tiveram prosseguimento em Aracaju, depois no Rio de Janeiro, onde estudou na Escola da Praia Vermelha. Finalmente, ingressou na Escola Militar do Ceará, estado onde depois, em 1907, concluiu o curso de Direito.

No Ceará atuou também como jornalista. A experiência como proprietário e redator de “O Republicano” contribuiu para o seu envolvimento com a vida política. Naquele estado trabalhou com os Accioly, ocupando vários cargos públicos: diretor da Secretaria da Assembleia Legislativa Estadual, professor concursado do Liceu do Ceará, professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito, deputado estadual por duas legislaturas, secretário da Fazenda no 2º Governo Accioly e deputado federal, momento em que foi eleito também vice-presidente do Ceará para o quadriênio de 1908 a 1912.

Acrísio Torres de Araújo recordava, em 1973, que Graccho já havia atuado em jornais em Aracaju, ao redigir em “O Operário” e em “O Caixeiro” no ano de 1891. Assim como, posteriormente, ao retornar a Sergipe, após deixar a política cearense, e colaborar no “Correio de Sergipe” com o pseudônimo G. Osodrac e na “Gazeta de Sergipe” com o de Jambographes.

Após a queda dos Accioly, em 1912, o sergipano distanciou-se por três anos da vida pública, retornando em 1915 com a nomeação para o cargo de Secretário do Ministro da Agricultura, Dr. José Bezerra. No ano seguinte, o presidente Wenceslau Braz o nomeou como professor de Legislação Rural da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, na qual lecionou até 1921. Nesse momento, Graccho Cardoso aproximou-se de parlamentares influentes e integrou-se aos acordos políticos de oligarcas sergipanos como Manuel Prisciliano Oliveira Valladão e Joaquim Pereira Lobo, sendo eleito deputado federal por Sergipe em 1921 e ocupando em 1922 o cargo de senador da República, eleito para preencher a vaga deixada devido à morte do general Oliveira Valladão. Após somente dois meses, Graccho foi novamente levado a outro cargo público. Desta vez, ao de presidente eleito para o estado de Sergipe no quadriênio de 1922 a 1926.

Na sequência de Oliveira Valladão e seu genro, Pereira Lobo, foi indicado para disputar a eleição à Presidência do Estado, como candidato do Partido Republicano Conservador Sergipano, o nome de Graccho Cardoso. Ao aceitar a sugestão, lançou à sociedade sergipana uma plataforma presidencial, largamente difundida pela imprensa local, sobretudo, no Diario Official do Estado de Sergipe e no Sergipe Jornal. O fato é que, em sua plataforma de governo, o presidente eleito (como era chamado o cargo de governador na época), de acordo com o historiador Ariosvaldo Figueiredo, realizou, como nenhum outro governante, um retrato fiel do estado de Sergipe, seus problemas, dramas e anseios. Ao mesmo tempo, indicava rumos e sugeria soluções.

Foi em um cenário político intrigante que Graccho Cardoso assumiu o governo de Sergipe. O panorama caracterizado pela ausência de oposição política estabelecida ou sistemática no período de 1909 a 1921, responsável pelo comando do Partido Republicano Conservador no estado, anunciava mudanças no final do governo Pereira Lobo (1918-1922), alvo de contínuas críticas na imprensa da época, a qual fora, inclusive, reprimida na sua administração.

No último ano do governo Pereira Lobo, a inquietação que marcava o País refletia em Sergipe, fruto dos eventos que ficaram conhecidos como “Reação Republicana”. O resultado disso foi que ex-governantes do estado como Siqueira de Menezes e José Rodrigues Dória, oficiais do Exército e civis, chefes políticos do interior e da capital aderiram ao movimento formando uma dissidência no Partido Conservador e nesse sentido, apoiaram para o governo de Sergipe, o aristocrata e senador, Gonçalo Rollemberg, em oposição à candidatura situacionista de Graccho Cardoso. Gonçalo Rollemberg rompeu com o Partido Conservador no momento da escolha dos candidatos à Presidência da República ficando ao lado de Nilo Peçanha e José J. Seabra, enquanto o Partido Conservador apoiava Arthur Bernardes e Urbano Santos.

A vitória de Graccho Cardoso sob Gonçalo Rollemberg foi expressiva. Apesar de inexistir no Brasil, na época, uma fiscalização apurada dos processos eleitorais e do reduzido número de eleitores, a diferença na quantidade de votos entre os candidatos evidenciava a aceitação da sua candidatura. Graccho venceu com 8.693 votos, contra 366 de Gonçalo Rollemberg. Ainda assim, porém, no momento de sua posse, em 1922, apesar do seu próprio entusiasmo, perceptível na sua plataforma de governo, Graccho Cardoso não conseguiu ocultar sentimentos de incerteza e medo.

O novo governante herdava tensões do governo Pereira Lobo, considerado por parte da imprensa, autoritário e centralizador. Entretanto, a vivência política no Ceará junto aos membros da oligarquia Accioly, inclusive no momento da queda destes, contribuía para a consciência da necessidade do apaziguamento de comportamentos no seio político. Sabia Graccho Cardoso das dificuldades de governar Sergipe. Por isso, em seus discursos fazia referência à necessidade de que as relações entre os políticos e os partidos humanizassem-se, perdendo o seu caráter agressivo. Em sua plataforma de governo, afirmava Graccho Cardoso que desejava um quadriênio fundado na paz, na ordem e na cultura democrática.

Apesar de representar um Partido Conservador, Graccho Cardoso defendia reformas e mudanças que se tornaram alvo de contestação por reacionários, o que, por sua vez, não o impediu de executar um projeto político-administrativo progressista. Além de experiência e habilidade, o governante contou com um período de prosperidade econômica em Sergipe. O fato é que, para além da ligação com a oligarquia local e conivente com ditames do Governo Federal, Graccho Cardoso pôs em prática uma administração modernizadora em Sergipe, cenário em que se destacaram, por exemplo, os assuntos educacionais.
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* Licenciada e Bacharel em História, Mestre e Doutora em Educação.
Fonte: AZEVEDO, Crislane B. A modernidade no Governo Graccho Cardoso (1922-1926) e a reforma educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EdUFRN, 2013.

Foto e texto reproduzidos do site: atribunacultural.com.br

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