sexta-feira, 25 de julho de 2014

Insaite por Marcelo Déda


(Insaite por Marcelo Déda)

Das certezas

Na última mesa onde nos encontramos, de você, esquálido, mas brilhante como sempre, acho que o ouvi dizer:
– Perdi todas as certezas.

A frase ricocheteou na louça, ofendeu o arranjo florido que enfeitava a mesa, tirou fino na minha conveniente circunspecção e penetrou lancinante bem aqui no coração do poeta.

Digo-lhe que as certezas de várias gerações se embaralham com as suas, cabra!
Nossos ganhos morais, a inteligência que nos resta e o épico de nós,
são as certezas que enriquecem a nossa história e que lhe foram confiadas.
Guardamos em você a preciosa certeza de que temos de mudar o mundo, haja na vida, ou na morte, o que houver!

Como então, companheiro, as declara perdidas?
Você não diga mais isso, poeta, pelo menos em minha presença.

Entrelaçamos bilros frágeis no travesseiro da história, linhas sensíveis, beleza arisca que se destina a contemplações futuras.

Fico aqui, tranquilo, adereçando babados, porque lhe confiei a guarda dos meus trançados, a paz da minha janela, a água fresca no pote,
a guarda dos meus sonhos mais revolucionários.

Você é o nosso único Marcelo Deda, lembre-se sempre.

Amaral Cavalcante -16/12/2009

Post migrado da página do Facebook/MTéSERGIPE

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