terça-feira, 22 de julho de 2014

Uma cidade que vive no futuro.


Publicado originalmente pela Infonet/Reportagem, em 17/03/2005

Uma cidade que vive no futuro.

Aracaju tem uma marca? Uma cara? Muito já se discutiu, se especulou, concordou e discordou sobre isto. Mas, ainda, está longe de se chegar a um consenso. Será que as araras, os cajus, o caranguejo, até os arcos da Orla (todos estes já utilizados como símbolos aracajuanos) realmente representam a capital? Representam a sua cultura, a sua tradição, a sua identidade? Para muitos a resposta seria sim. Entretanto, há também quem diga que não. Encontrar algo que simbolize a capital sergipana não é tarefa fácil. Mas o professor Lindvaldo Sousa propõe uma resposta, singular, para a questão.

Para ele deve-se partir, antes de tudo, de outra questão: Aracaju foi construída em que período da história do Brasil? Tendo este ponto de partida, o historiador observa que, através do tempo, a cidade acabou criando uma marca. “Quando a capital foi transferida, era o período da Lei Euzébio de Queiroz, do processo de abolição da escravatura. Um paralelo da situação peculiar que nossa nova capital vivia, naquela época, junto a população pobre (principalmente junto daqueles que não estavam mais sob o jugo da escravidão), é com a São Paulo do século XX, que se tornou um refúgio para aqueles que fugiam da seca e da fome. Aracaju, quando foi construída, era uma esperança”, analisa.

“E foi este povo pobre que ajudou a construí-la. Então eu pergunto: o que é a marca de Aracaju? Acredito que é esconder a favela, a pobreza. Aracaju sempre cria a idéia de que é uma cidade moderna, nova, que vai acontecer. Por outro lado, esta mesma cidade nunca se pergunta onde estão os outros. Não os heróis, mas os homens pobres, a população anônima que também foi responsável por sua existência”, alerta o historiador.

Ele continua: “Aracaju tem passado? Parece que quando você abre os jornais o que se vê é apenas a nova Aracaju. Então, a marca de Aracaju é a idéia de que ela tem sempre um futuro promissor. Que tem futuro e que não tem passado. O passado é São Cristóvão e Laranjeiras”, ressalta. Por mais chocante que pareça a afirmação, não deixa de ser um ponto de vista que vale ser analisado. Enquanto explica a análise tão crua que faz da cidade, o professor não deixa de se cercar de argumentos. Entre eles o de que a capital não só surgiu sob a égide da modernidade – com o traçado do projeto de Pirro e tudo mais – mas que também guarda em si um elemento de colônia, que é a igreja. E esta também é outra marca da cidade.

“A Igreja Nossa Senhora da Conceição, hoje a Catedral Metropolitana, também foi pensada. Sendo assim, reforça que a marca de Aracaju, em plena modernidade, abriga elementos da religiosidade. E não só a católica. Por isso a cidade também pode ser pensada através da festa de Bom Jesus, da festa de Santo Antônio, das praças que eram sempre ocupadas para festas de final do ano, de Reis. Desse modo, Aracaju é uma cidade que, por mais que a historiografia não revele isso, une o novo e o velho”, destaca o professor. Segundo ele, fatos pequenos, de um cotidiano que se afasta mais e mais da memória popular, são os verdadeiros traços que formam a fisionomia da cidade. “Se analisarmos bem, Aracaju ainda simboliza prédios, mas é um lugar onde a pessoas convivem e andam. E eu acredito que esta é uma marca importante”, defende Sousa.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias

Nenhum comentário:

Postar um comentário