segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O escritor Antônio Carlos Viana morre aos 72 anos.


Publicado originalmente no site do Portal A8/SE., em 15/10/2016.

O escritor Antônio Carlos Viana morre aos 72 anos.

Redação Portal A8.

O escritor e professor sergipano Antônio Carlos Viana morreu na madrugada deste sábado (15), ele lutava contra um câncer, teve complicações com uma anemia profunda e não resistiu. O escritor estava internado no Hospital Unimed, desde último sábado. Ele nasceu em Aracaju, é mestre em teoria literária pela PUC-RS e doutor em literatura comparada pela Universidade Nice, França. Foi autor de Jeito de matar Lagartas, da Companhia de Letras atual editora do escritor. Brincar de manja(Cátedra, 1974), Em pleno castigo (São Paulo, Hucitec, 1981), O meio do mundo (Libra & Libra, 1993) e Roteiro de redação: lendo e argumentando (São Paulo, Scipione, 1997). Recebeu o prêmio APCA 2009 de melhor livro de contos por Cine privê.

O escritor morre aos 72 anos, deixa um filho, o também escritor André Viana e sua atual companheira Maria Carolina Barcellos. O corpo será levado para a Biblioteca Epifânio Dórea, onde a partir das 14 horas estará aberto ao público que quiser prestar as últimas homenagens ao escritor. O velório segue até a manhã deste domingo (16), quando o corpo será levado para Salvador, na Bahia, onde será cremado.

O jornalista e amigo Josailto Lima divulgou um poema sobre a morte do escritor:

“O mano véio escritor e professor Antônio Carlos Viana não mais brincará de manja por aqui, entre nós. Acaba de morrer. Ou de se encantar.

O velório do cabra vai ser na Biblioteca Epifânio Dória. Mas a família pede que o seja sem choros nem velas.

Quer que tudo soe como num conto dele: cheio de vida e de pulsação. Alguns leros, sambas e pingas - no ritmo de uma alegria que ele adotou entre o se deparar com um mieloma, afastar-se da enfermidade e voltarem a se desentender.

Cada um poderá se manifestar do jeito que bem quiser: vale música, recitar poemas e trechos de contos dele ou de qualquer outro, malabarismo, festa.

Celebremos, pois, esta passagem daquele cuja barba cessou de crescer! (Depois de velado na Epifânio, o corpo será levado para ser cremado em Salvador, Bahia).”

Jozailto Lima.

Texto reproduzido do site: a8se.com/sergipe

Entrevista com Antonio Carlos Viana

Foto: Divulgação.

Publicado originalmente na Revista Literatura.

Entrevista com Antonio Carlos Viana.

"Fica difícil ser otimista num mundo em que não há muitas saídas para quem está à margem de tudo, sobretudo da educação. Porque, no nosso país, a educação que se dá ao pobre é tão ruim que no futuro não vai lhe abrir porta alguma. Enquanto não repararem esse mal, continuarei desacreditando no Brasil.".

Por Rafael Rodrigues

O contista sergipano Antonio Carlos Viana escreve sobre o inevitável e o inusitado da vida. Mas também sobre o risível, o ridículo, o irremediável. Cine Privê, seu terceiro livro de contos, é uma obra de rara qualidade e simplicidade. Não obstante a diversidade e as virtudes da literatura brasileira, poucos são os escritores que conseguem realizar obras tão coesas e harmoniosas. E tão sóbrias. Há, nos contos de Cine privê, temas e situações que os autores menos experientes adoram abordar em seus livros, como sexo e violência gratuita. Viana, no entanto, os retrata por outros prismas: sexo se transforma em sensualidade; violência em crueldade. O que falta à maioria dos nossos escritores - seja pela pouca idade, pela inexperiência ou mesmo pelo pouco talento - sobra em Antonio Carlos Viana: classe.

Apontado por muitos como um dos mestres do conto contemporâneo, sendo suas obras anteriores, Aberto está o inferno e O meio do mundo e outros contos, elogiadíssimas, Antonio Carlos Viana, apesar de criar personagens pobres e sofridos, diz não ser um escritor engajado. Na entrevista a seguir, realizada por e-mail, Antonio Carlos Viana fala sobre sua carreira, sobre Cine Privê e sobre a literatura brasileira contemporânea.

CP literatura - Nascido em Aracaju, o senhor hoje é doutor em Literatura Comparada pela Universidade de Nice, na França. Como isso aconteceu? Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória?

Sempre gostei muito de estudar, sobretudo Teoria Literária, mesmo antes de pensar em ser escritor. Acho que quem se dispõe a escrever precisa entender bastante de teoria para saber por que caminhos está andando. Eu me formei em letras em Aracaju, depois fiz mestrado em Teoria Literária na PUC do Rio Grande do Sul, onde encontrei uma verdadeira mestra, a professora Regina Zilberman. Foi ela que me incentivou a continuar escrevendo. Dois anos depois de terminar o mestrado, eu nem pensava em fazer o doutorado, mas me foi oferecida uma bolsa para fazê-lo, na França. Escolhi Nice porque conheci um professor da universidade de lá que se colocou à minha disposição para ser meu orientador. Além do mais, a cidade era muito convidativa. Não tive dúvida e me mandei pra lá com família e tudo. Foi um tempo de muitas descobertas, inclusive da obra de Paul Valéry, que eu jamais havia lido no Brasil. Foi sobre a poética dele e de João Cabral que fiz minha tese.

CP literatura - O senhor já morou em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Paris, mas sua literatura está repleta de personagens interioranos. Por que essa preferência?

Quando começo a escrever, não escolho o tema, nem personagem, nem lugar. Deixo que as coisas venham da forma mais livre possível, sem censura. Acredito que o mais forte mesmo para quem escreve é a memória, a infância. Então meus contos falam de um lugar interiorano porque passei grande parte de minha infância num lugar afastado de todo contato urbano, em que a luz era de candeeiro, o contato com a terra era o principal. Convivi com pessoas simples, trabalhadores rurais, seres sem futuro, como ainda acontece hoje, no País. Muitos contos buscam nessa memória matéria para virem à luz, mas nada planejado. Alguns dão certo, outros não. Mas também escrevo sobre personagens urbanos, haja vista o do conto Cine Privê - mais cidade grande, impossível. O ponto de contato maior entre esses dois mundos, o rural e o urbano, é o de sempre; falo de seres à margem, os esquecidos pelo sistema.

CP literatura - Boa parte dos contos de Cine Privê tem personagens que estão à margem da sociedade, quase todos passando por dificuldades financeiras. Não se pode dizer que sua obra seja de denúncia, mas muitos problemas são ali expostos. Dito isso, o senhor diria que é um escritor engajado?

Nunca me senti um escritor engajado, nem escrevo com essa pretensão. Escrever sobre personagens que estão à margem tem muito a ver com o fato de eu ter vivido minha vida cercado por eles. Me lembro da miséria dos trabalhadores, da falta de perspectivas, da degradação moral de suas famílias. Eu era muito observador. Minha família também não era de grandes posses, tinha um sitiozinho de onde tirava parte de sua subsistência. A gente escreve com mais verdade sobre mundos que conhece... Claro que a imaginação também tem a sua parte. Aproveito o que a memória me traz, mas, para chegar a ser literatura, esse material precisa ser retrabalhado. Não existe nenhum conto meu que seja autobiográfico, mas há personagens que nasceram de pessoas que conheci, com as quais convivi. Aproveito pedaços de um, de outro, e monto a personagem, que passa a ter vida ficcional, independente daquela que lhe deu origem. Algumas situações também aconteceram, mas não daquele jeito, como conto.

CP literatura - O que o senhor acha da expressão "literatura regionalista"? Não seria um termo mesquinho, visto que os conflitos humanos ocorrem em qualquer lugar do mundo?

Essa me parece uma marca com que todo escritor do Nordeste vai ter de conviver ainda por muito tempo. Sempre digo que aquela "literatura regionalista" a que se referem não existe mais, a do pitoresco, dos tipinhos engraçados que falam errado. Quem ainda a faz não encontra lugar na literatura. Não estou dizendo que esses tipos desapareceram, mas, ao colocá-los numa obra de ficção, é preciso dar-lhes outra dimensão, torná-los mais complexos, em situações que os revelem como seres perdidos de si mesmos. Acho que nenhum escritor pode fugir do regional e sua dimensão de humanidade. Se olharmos bem, todo escritor fala do que está a sua volta. Calha de eu estar no Nordeste, e é disso que posso falar com mais verdade. A gente parte do local, mas precisa ampliá-lo até alcançar ressonâncias maiores. Se o escritor não faz isso, falha.

CP literatura - Em algumas histórias os personagens conseguem ver algo de bom mesmo nas tragédias, nas situações difíceis. É a isso, essas pequenas fagulhas de esperança, que devemos buscar? Seus contos são, no fundo, otimistas? O senhor é um otimista?

Eu sou um pessimista até o último grau. Se algumas personagens, como o menino do conto Santana Quemo-Quemo, que abre Cine Privê, descobre algo de bom no meio da desgraça, não significa para mim a esperança, mas um elemento de humor - humor ácido, é verdade - que faz ainda maior o drama. Fica difícil ser otimista num mundo em que não há muitas saídas para quem está à margem de tudo, sobretudo da educação. Porque no nosso País, a educação que se dá ao pobre é tão ruim que no futuro não vai lhe abrir porta alguma. Enquanto não repararem esse mal, continuarei desacreditando no Brasil.

CP literatura - O conto é um gênero ainda subestimado? O senhor pensa em escrever algo maior, como uma novela ou mesmo o romance?

O conto passou um tempo meio esquecido das editoras, mas hoje vejo que há uma aceitação maior. Confesso que nunca entendi por que acham que o romance dá mais trabalho que o conto, porque o trabalho de um é tão árduo quanto o do outro. Um bom conto pode levar anos para ser feito. É que o romance precisa de fôlego, isso é que é decisivo. Fôlego e paciência. O conto já exige um poder de síntese, que também não é fácil. Poder de síntese e capacidade de surpreender o leitor. Eu não tenho vontade de escrever algo mais longo, não tenho o fôlego necessário e também sou muito impaciente. Se escrever um conto já me deixa sem dormir direito, imagine escrever um romance, com os mil caminhos que ele exige.

*Rafael Rodrigues (rafaelnikov@gmail.com) é editor-assistente e colunista do site Digestivo Cultural, além de colaborador de outros veículos. Mantém os blogs Entretantos (www.entretantos.com.br) e O Leitor (www.oleitor.blog.br). Mora em Feira de Santana, Bahia.

Texto e imagem reproduzidos do site: literatura.uol.com.br

Entrevista | Antonio Carlos Viana


Entrevista | Antonio Carlos Viana

O João Cabral do conto

Em novo livro, Antonio Carlos Viana reafirma sua escrita concisa, emocionalmente contida, mas também cruel e forte, que lhe valeu comparações com o poeta pernambucano

Luiz Rebinski

Com 40 anos de vida literária e uma obra enxuta, Antonio Carlos Viana é candidato a se tornar um escritor (re)descoberto por um número grande de leitores em um futuro próximo. Ainda pouco conhecida fora do circuito literário, a prosa vigorosa e de extremo rigor que produz acaba de ganhar reforço: trata-se de Jeito de matar lagartas, sexto livro de um dos poucos contistas brasileiros que permanece fiel ao gênero.

Presente em seus livros anteriores com grande intensidade, o sexo na nova coletânea dá lugar a outros temas, como morte, solidão e velhice. A influência rodriguiana é nítida na galeria de viúvas criada por Viana. Mulheres que procuram os caminhos mais descabidos para aplacar a solidão da terceira idade, em geral em empreitadas mal-sucedidas, que trazem à tona o lado cruel da velhice.

O retrato impiedoso da torpeza do ser humano, uma das marcas de Viana, volta em contos como “Cara de boneca” e “Maria Montez”, ambos sobre inocência e perversidade. “Quando estudei teoria literária, aprendi que quanto maior é a inocência do personagem, maior é o trágico”, diz.

Na entrevista que segue, o escritor também fala sobre sua amizade com o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, o período em que morou na França e da concepção literária que empreendeu em sua obra desde o início dos anos 1970.

aO conto-título do seu livro mais recente, Jeito de matar lagartas, destoa um pouco, tematicamente, da maioria das outras histórias do livro, que tratam de temas como solidão, medo da morte, etc. Mas, por outro lado, é um conto que tem uma estrutura onde você demostra uma técnica refinada de escrita: um personagem aparentemente secundário, que é citado apenas uma vez, no início da história, torna-se o protagonista ao final do conto, dando sentido à narrativa. Essa foi a razão para dar ao livro o nome do conto?

O nome do livro ia ser “Batata brava”, que é um conto que está no final do volume. Inclusive a Elisa von Randow, designer, gostou muito porque ia ser um título em que ela poderia brincar bastante na hora de bolar a capa. Aí o Paulo Henriques Britto, que é o primeiro leitor do que escrevo, foi ler os contos e me disse que tinha gostado muito da história “Jeito de matar lagartas”. Foi uma sugestão dele a mudança. Apresentei esse novo título para a Vanessa Ferrari, minha editora na Companhia das Letras, e ela achou que “Jeito de matar lagartas” era mais atraente, então acabou ficando assim. Como tem a palavra matar no título, e a morte está presente em várias histórias, isso acabou ajudando na escolha. Além de ser um título meio brincalhão, mas que tem o verbo matar no meio. O primeiro conto, “Muralha da China”, já fala da morte. Já esse conto a que você se refere, levei muito tempo para terminar. Achava-o meio infantil, terminava de um jeito que eu não gostava. Então fui retrabalhando- -o até que coloquei uma pitada de sexo e a história se resolveu. Aprendi com a escritora americana Carson Mccullers que,no conto, é sempre interessante quando o autor joga com um elemento que ninguém espera, que estava no começo da história e reaparece de surpresa. É o que acontece nesse conto, quando o personagem Laurentino reaparece para dar sentido à história.

O sexo é, talvez, o grande tema de sua literatura. Mas neste livro, a solidão parece predominar, não?

Escritor escreve sempre sobre as mesmas coisas. E solidão é um tema muito caro a mim. Assim como o sexo, a morte, sempre estou recorrendo a esses assuntos. Mas nesse livro acho que entrei em um território novo, que é o da velhice. Talvez pelo fato e eu estar vivendo essa fase da vida. Os meus colegas da Universidade envelheceram. E nas conversas que tenho com eles, sinto essa solidão, a vontade de ter alguém e não conseguir, apesar de o desejo não estar morto. Isso cria um conflito terrível. Você querer e o corpo não corresponder. Há sempre essa angústia sexual dos personagens, que pensam mais do que fazem.

Como nasceu a nova coletânea de contos?

Foi interessante a maneira como esse livro foi feito. Eu havia dito aos jornais aqui de Aracaju que não iria mais publicar. Aí, ano passado, eu estava em Curitiba e comecei a enviar uns contos para o Paulo Henriques. E ele foi pedindo para eu enviar mais e mais, porque achou que eu estava com um material bom, o que acabou me incentivando. Mas não havia um livro pronto. O que havia eram diversos textos que mantenho em um arquivo de ficção. Na época eu escrevia todos os dias, das 9h ao meio-dia.Então fui tirando esses contos e enviando pro Paulo e pro André, meu filho, que também é escritor. Juntei tudo e mandei para a minha editora, Vanessa, mas sem pretensão nenhuma, apesar da opinião do Paulo. Duas semanas depois a Vanessa me escreveu dizendo que havia gostado muito dos textos. Mas não chegou a falar nada da publicação. E eu deixei a coisa quieta. Tenho uma doença chamada mieloma, que afeta o sangue. A partir de maio de 2014, minha doença se agravou e acabei esquecendo do livro, porque a doença te toma tudo. Quando eu estava internado no hospital, disse a um amigo que só gostaria de estar vivo para ver meu livro. Em dezembro a editora mandou as provas para leitura, mas claro que não tinha condições, porque estava de cama, na base da morfina. Aí o André foi para o hospital e ficou lendo os contos que a editora achava que tinham uma ou outra revisão a fazer. Então o livro saiu em fevereiro deste ano. Como não havia gostado muito da primeira capa, tivemos que refazer, com uma foto que foi tirada do sítio onde passei a infância e fui alfabetizado, porque lá ficava também uma escola. E tem tudo a ver com a história das lagartas. Lá existia muita lagarta.

Um dos contos mais fortes do livro (“Cara de boneca”) é uma história de perversão em que meninos se aproveitam sexualmente de um homem aparentemente muito inocente. De onde tirou uma história tão cruel?

Ele me surgiu meio do nada. Eu estava assistindo ao programa eleitoral e tinha um personagem aqui em Sergipe que se chamava seu Lila. Achei que ficaria interessante em um conto um personagem com esse nome. Quando fui para o computador escrever, o programa não aceitou “Lila” e colocou acento, então ficou seu “Lilá”. Pensei, melhorou. A partir daí o conto me veio inteiro, com aqueles adolescentes que se valiam de um velhoe se achavam homens. Fato que, anos depois, quando essas crianças e jovens se encontram, já adultos, acarreta um sentimento de culpa, pois ninguém nem mesmo toca nesse assunto. É um conto forte e muito cruel. Quando estudei teoria literária, aprendi que quanto maior é a inocência do personagem, maior é o trágico. O seu Lilá é um inocente, pois se entrega para fazer o bem, mas os outros não veem dessa forma.

Sua literatura tem alto grau de erotismo, mas ao mesmo tempo é impregnada por referências religiosas. Esse aparente paradoxo é proposital?

A teoria do conto, para mim, é muito clara: onde não tem conflito é difícil haver um bom conto. O que vale para a ficção em geral. Nesse caso, quando o sexo aparece, vem junto um sentimento sagrado, religioso, que é de onde tiro o conflito da história. No livro novo, tem um conto que acho bem emblemático disso que estou falando, que se chama “Missa de sétimo dia”. É a história de uma velha prostituta. Ela morre e na missa de sétimo dia um de seus clientes vai à igreja. A família não queria a presença dele lá, porque isso recordava a ideia de que ela, a prostituta, não era tão santa quanto o sermão do padre dava a entender. Eu estudei em colégio de padre. Se formos psicanalisar o autor, isso viria à tona. Porque a ideia de sexo em um colégio religioso é sempre maldita. E durante muito tempo fiquei com isso na cabeça. Só que todas essas referências que tenho, transferi para as personagens. Creio que superei esses traumas incutidos pela educação religiosa. Não tenho mais nenhuma culpa. Demorei a me libertar, mas depois de uma terapia, melhorei. Sempre quis escrever contos eróticos, mas não conseguia, então fui fazer análise. Quando terminei de fazer análise, escrevi O meio do mundo. E eu mesmo me surpreendi com a carga de erotismo que havia represada em minhas histórias. E que eu não sabia.

aVocê estudou a poesia de João Cabral de Melo Neto, que era o antipoeta no sentido lírico, do sentimentalismo. Seus contos são sempre muito sucintos, dizem apenas o necessário para que a história seja contada. Consegue ver relação entre a sua prosa e a poesia de João Cabral?

No doutorado eu estudei a obra do João Cabral de Melo Neto, mas acho que minha literatura tem muita influência do Nelson Rodrigues, que estudei no mestrado. Herdei muito o humor do Nelson. Mas sou um leitor que gosta de tudo, principalmente de poesia. Talvez seja frustrado por não ser poeta. Fiz meu doutorado comparando as poéticas de João Cabral e Paul Valéry. Mas o que a poesia me deu foi o ouvido, o ritmo da prosa. Acho que é impossível escrever prosa se não tiver um ouvido bom. Pro ritmo, a cadência. Às vezes fico procurando uma palavra para um texto como se estivesse escrevendo um poema. Analiso a sonoridade entre essa palavra e as anteriores e posteriores. E também acho que a gente não se afasta muito daquilo que estuda. Certa vez o Paulo Henriques me falou o seguinte: “Acho que você é João Cabral do conto”. Pela secura, martelada das palavras. Pela busca da palavra contida, que não se derrama muito. E realmente sinto que isso é influência de João Cabral. E como estudei muito Paul Valéry, que é um poeta muito cerebral também, acho que os dois me deram essa carga de escrita em que a emoção pode nascer, mas ela nasce em um plano semântico secundário, nunca em primeiro lugar. Não há palavras líricas no meu texto.

Você foi professor durante muitos anos na Universidade e é um escritor que acompanha de perto o que seus pares estão escrevendo, ou seja, a literatura que é feita hoje. Como professor, conseguia levar a prosa e poesia contemporâneas para a sala de aula em um ambiente acostumado a debater quase que exclusivamente os clássicos?

Eu levava os autores mais modernos possíveis. Se eu levasse um Maupassant, por exemplo, junto ia um contemporâneo. Lembro de estudar com os alunos muito a Márcia Denser, o Marçal Aquino, o João Carrascoza. Sempre falava deles e achava que tinham um mundo a ser escrito. E não decepcionaram. Mas, conversando com colegas professores, eles me diziam que esse ranço com autores mais jovens surge do medo de apostar em determinados autores e eles não darem certo. Eles preferem ir nos clássicos para não errar. De repente você aposta em um autor e o cara simplesmente some.

Houve algum conflito entre o escritor e o acadêmico em seu período na Universidade?

A Universidade me deu muita coisa. Acontece que quando se entra na academia, dentro da gente, o crítico começa a brigar com o escritor. Dessa luta, um dos dois vai sair machucado. E isso foi um dos entraves por eu parar de escrever durante um longo período. Mal colocava uma frase no papel, eu já estava criticando a mim mesmo. Foi quando resolvi fazer o que meu terapeuta me falou, para eu ir em frente e esquecer o crítico que havia dentro de mim. Mas os estudos literários me foram de grande serventia na minha carreira de escritor, porque a partir desse conhecimento, passei a ter noção se o conto estava bem estruturado, se havia palavra sobrando ou faltando. Enfim, foi importante. Não abriria mão da teoria.

Nos últimos anos muito se falou no Brasil em termos como autoficção. Em uma entrevista, você disse que não consegue escrever sobre o real. De onde sua ficção sai?

Acho que é uma coisa mais técnica.Escrevo uma frase e analiso as possibilidades de explorá-la, como conflito. Às vezes essa frase fica quieta no arquivo uns três meses, mas inconscientemente eu fico trabalhando aquilo. Quando retomo o trabalho, parece que a história já estava pronta. Aconteceu isso com o primeiro conto de Jeito de matar lagartas, que se chama “Muralha da China”. Escrevi a primeira frase (“Nossa mãe tinha avisado: ‘Façam de conta que Lelo ainda está vivo’”) e guardei. Não sabia o que faria com aquilo. Até que um dia a história veio inteira.

No conjunto de sua obra, seus contos têm uma estrutura muito definida, não apenas em relação à extensão deles, mas também em como são executados, todos guiados pela ideia de síntese, que denotam um rigor grande na hora da escrita. Quando e como você definiu esse padrão para sua literatura?

Para mim, a teoria do conto é muito simples: ele precisa ter unidade de tempo, espaço e ação. Porque se você começar a dispersar muito a ação, o conto perde o que para mim é muito importante, que é a ação. A tensão tem que ser mantida a todo custo. Sempre digo que o contista não deve fazer o leitor respirar muito. Respira no começo e só solta o ar no final. Que ele seja levado pela força da linguagem. Por isso acho que o conto precisa ter, no máximo, seis páginas. Tudo que não for essencial, deve ser eliminado. A palavra certa é cortar. Quero que o leitor seja arrastado por um conflito, e tudo que não fizer parte desse conflito, é cortado.

De seus três livros mais recentes, Aberto está o inferno (2004) parece ser o mais erótico, e os dois livros subsequentes, Cine Privê (2009) e Jeito de matar lagartas (2015), mais afinados com uma crítica social e de costumes. Essa leitura faz sentido para você?

É interessante porque só agora, mais de 10 anos depois da publicação, as pessoas estão descobrindo este livro, Aberto está o inferno. Muita gente me escreve para falar sobre esses contos. Lembro que na época, quando a coletânea saiu, o Luiz Schwarcz implicou com o título, que é um pouco longo e invertido, com o sujeito depois do verbo. Tudo isso dificulta que a pessoa grave o nome. Desde os tempos em que morei na França e li o Livro de Jó, essa frase ficou na minha cabeça. Quando eu publicar um livro, o título vai ser esse, pensava. Aí juntei todos os contos em que as personagens estavam em situação extrema, e fiz o livro. Então o inferno está aberto para todos os personagens, por isso eu gostei do título. Mas hoje colocaria “Barba de arame”, que é um conto forte que está no livro. É a história de uma menina que é enganada por um homem que promete construir uma latrina em troca de sexo.

No final dos anos 1990, você começou a aparecer mais, após sua ida à Companhia das Letras. Como foi esse caminho?

Durante os anos 1990, parei de publicar ficção e me dediquei mais à academia, ao ensino de como ensinar redação. E depois publiquei o trabalho pela editora Scipione (Guia de redação: escreva melhor). Também parei de publicar porque estava muito decepcionado com as editoras. Em 1993 ganhei um prêmio no Rio Grande do Sul com a coletânea O meio do mundo, mas a edição que fizeram do livro era muito ruim. O livro era tão miserável, tão malfeito, que pensei: “Não quero publicar mais nada”. Foi quando apareceu a oportunidade de fazer uma coletânea com meus trabalhos anteriores, que acabou saindo pela Companhia das Letras. Devo isso ao meu padrinho lá, o Humberto Werneck. Foi ele que me apresentou na editora. Eu, sinceramente, já havia desistido de publicar.

O poeta e tradutor Paulo Henriques Britto é uma das pessoas para quem você sempre recorre quando vai lançar um novo livro. É o chamado primeiro-leitor. Como vocês se conheceram e que tipo de afinidade mantêm?

É uma relação interessante. Todo mundo se assusta um pouco quando falo, mas o Paulo foi meu aluno no Rio de Janeiro, no segundo grau. Nos conhecemos quando ele tinha 17 anos e eu 23. Ele já era um aluno brilhante, acima da média. Já havia lido quase tudo de importante. Ele me apresentou a livros de autores como Clarice Lispector. A partir daí começamos a trocar ideia sobre literatura e não paramos até hoje. Nunca nos perdemos de vista. Lembro quando ele foi morar nos Estados Unidos, ainda assim nos correspondíamos por carta. Ele mandava os poemas que fazia para eu ler, depois eu enviava meus contos. Até hoje é assim. Ele é um intelectual competentíssimo. A opinião dele vale muito pra mim. Por isso ele lê tudo que escrevo antes de publicar.

Você é um escritor que surgiu nos anos 1970, quando o conto dominou a literatura brasileira. Por que o entusiasmo com o gênero arrefeceu nas décadas seguintes? O que houve?

Na época havia muito incentivo ao conto, muitos concursos, por exemplo, o que despertou interesse, vontade de escrever, inclusive em mim. Comecei a escrever conto por causa dos concursos literários. Aí comecei a ganhar uns desses prêmios e achei que eu realmente era contista. Mas muitos pararam. Às vezes eu pego a revista Ficção e fico pensando onde foram parar todas aquelas pessoas que escreviam. Depois dos anos 1980, deu uma esfriada, nos anos 1990 a coisa melhorou e hoje eu percebo que o número de contista é que diminuiu muito. O que tenho lido de conto, como jurado de concursos, não tem me animado muito.

O essencial de ACV

O meio do mundo e outros contos

Com seleção e apresentação de Paulo Henriques Britto, a coletânea reúne histórias dos três primeiros livros de contos de Antonio Carlos Viana — Brincar de manja (1974), Em pleno castigo (1981) e O meio do mundo (1993) —, títulos que sofreram com a falta de distribuição, o que justifica a seleta, pois apresenta ao público um escritor talentoso até então pouco conhecido. Nessas histórias, Viana já empreende o padrão literário que reafirmaria em livros posteriores, como a concisão e o relato, muitas vezes devastador, de cenas cruéis do cotidiano.

Aberto está o inferno

Alguns dos melhores contos do autor sergipano se encontram nesta coletânea escrita ao longo de uma década. É o caso de “Barba de arame”, em que um homem promete a uma menina pobre construir uma latrina em troca de sexo, e “Ana Frágua”, relato de uma prostituta que transa com um jovem minutos depois de ter arrancado três dentes da boca. Tirado de uma passagem da Bíblia (“Aberto está o inferno e não há véu algum que descubra a perdição”), o título resume bem os eventos que envolvem os personagens dessas histórias que refletem de forma original a torpeza e crueldade do ser humano.

Cine Privê

Livro mais conhecido de Viana, Cine Privê dedica-se em grande parte à infância, com toda complexidade que essa fase da vida apresenta. Mas, como é comum em sua literatura, Viana mais uma vez é econômico até mesmo em histórias memorialísticas. Mesmo se atendo apenas ao essencial para empreender a narrativa, o autor revela uma gama imensa de detalhes ao leitor a cada conto. Destaque também para históras mais “pesadas”, como “Cine Privê”, em que um idoso ganha a vida limpando cabines de cinema pornô, e “Duas coxinhas e um guaraná”, sobre um rapaz que mata a própria mãe.

Jeito de matar lagartas

Mais recente livro de contos do escritor, traz 27 narrativas sobre sexo, morte e, principalmente, solidão. Viúvas, descasados e outros tipos solitários estão sempre à procura de alento para algum tipo de perda que tiveram ao longo da vida. Muitos deles na velhice. Viana mais um vez constrói histórias fortes que passam longe do pólen da pieguice.

Texto e imagem reproduzidos do site: candido.bpp.pr.gov.br

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Folclore Sergipano


Desfile pelas ruas da cidade histórica de Laranjeiras/SE.
Fotos: Gauthier B.
Reproduzidas do blog: francabresil.blogspot.com.br

Folclore Sergipano

Clique na foto para aumentar.















Desfile pelas ruas da cidade histórica de Laranjeiras/SE.
Fotos: Gauthier B.
Reproduzidas do blog: francabresil.blogspot.com.br

Lambe-sujos e Caboclinhos



Lambe-sujos e Caboclinhos é considerada uma
das maiores manifestações culturais do Brasil.
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Domingo (9 de outubro), o município de Laranjeiras, distante 20km de Aracaju, realizou a tradicional festa de Lambe-sujos e Caboclinhos que é considerada uma das maiores manifestações culturais do Brasil. Todos os anos, o ato reúne milhares de visitantes, entre eles estudantes e pesquisadores... (Do G1 SE).
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Foto: Evaldo Moura/PML.
Reproduzida do site: g1.globo.com/se

Imbuaça e Mamulengo de Cheiroso são homenageados...



Publicado originalmente pelo site SERGIPE CULTURAL, em 07/10/2016.

Imbuaça e Mamulengo de Cheiroso são homenageados no Corredor Cultural.

Mamulengo de Cheiroso.

O Corredor Cultural Irmão, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), lança na próxima terça-feira, 11, a exposição “Imbuaça e Mamulengo de Cheiroso: teatro sergipano em cena”. O evento acontecerá a partir das 10 horas, reunindo telas e fotografias dos artistas Adauto Machado, Pythiu, Marcel Nauer, Everton Aragão, Mamute Teixeira, Fernando By, Ricardo Pimentel, Lucas Lima, Paloma da Silva Santos, João Gordo e Hanna Miranda.

Os homenageados desta vez serão os grupos sergipanos Imbuaça e Mamulengo de Cheiroso. Na ocasião o público também poderá ver fotografias e objetos que relembrem a história de ambos os grupos, além apresentações de canções de alguns dos espetáculos produzidos pelos dois grupos.

Ao longo do evento, serão destinadas menções honrosas aos fundadores do Grupo Imbuaça Antonio Alves do Amaral, Virgínia Lúcia da Fonseca Menezes, Cícero Alberto Bento dos Santos, Francisco Carlos Santos, José Iradilson Bonfim Bispo, José Alves do Amaral, Manoel Luiz Cerqueira, Maria das Dores, Pierre Feitosa e os fundadores do Mamulengo do Cheiroso Aglaé Fontes, Pedro de Jesus Freitas, Cláudia Endlein, Marlene Barreto, Meire Barreto e Ronilson Barbosa da Silva Santos (Mimi do Acordeon).

Sobre os Homenageados

Grupo Imbuaça foi fundado em 28 de agosto de 1977, o grupo é fruto de oficinas realizadas em Aracaju, principalmente a de teatro de rua ministrada por Benvindo Siqueira a partir da sua experiência no “Teatro Livre da Bahia” em Salvador. Reconhecido como uma Associação de Utilidade Pública Municipal, Estadual e pelo Conselho Estadual de Cultura, o grupo tem procurado ao longo da sua história criar um envolvimento com a comunidade do bairro Santo Antônio- local onde fica sua sede- e adjacências. No seu currículo, o Imbuaça traz importantes conquistas conferindo-lhe uma posição de referência como um dos grupos de teatro de rua mais antigos do Brasil. Passou por mais de 500 cidades dos 25 estados brasileiros e por quase todos os 75 municípios sergipanos. Esteve também em Portugal, Equador e México.

Mamulengo de Cheiroso foi fundado em 1978 pela teatróloga Aglaé DÁvila Fontes, sergipana, autora de várias peças de teatro e de vários trabalhos sobre folclore e educação. A missão do grupo é o desenvolvimento artístico, a promoção da cultura popular e a valorização do teatro de animação, a realização de cursos e oficinas, além da preparação de conferência para formação de atores. Na sua trajetória de 35 anos o grupo participou de festivais, mostras, encontros, seminários, tendo recebido prêmios dentro e fora do Estado de Sergipe além de participar do Festival Ibérico nas cidades de Torres Vedras, Caldas da Rainha, Lisboa, Povoa do Lanhoso.

Texto e imagens reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

Legendas fotos:
F/1 - Mamulengo de Cheiroso.
F/2 - Teatro - Chamado - Cordel -1978 - Imbuaça.

domingo, 9 de outubro de 2016

Mestre Sales do São Gonçalo morre aos 75 anos.


Publicado originalmente no site A8SE. em 06/10/2016.

Mestre Sales do São Gonçalo morre aos 75 anos.

Redação Portal A8.

Na tarde desta quarta-feira (05), o Mestre Sales do São Gonçalo morreu no Hospital de Urgência de Sergipe. Segundo informações do genro dele, Valdo Souza Siqueira, ele estava internado há três meses no HUSE, após descobrir um coágulo na cabeça.

Ele havia se queixado de uma tontura e foi levado ao hospital, onde precisou fazer uma cirurgia após Acidente Vascular Cerebral e ficou internado por três meses, mas não resistiu e faleceu.

Mestre Sales fazia parte do folguedo São Gonçalo e matinha viva essa tradição do município de Laranjeiras, José Sales dos Santos deixa esposa e seis filhos. O velório acontece no povoado Mussuca, em Laranjeiras e o enterro será no cemitério do mesmo povoado.

São Gonçalo

Dança em homenagem a São Gonçalo do Amarante, que segundo a lenda, teria sido um marinheiro que tirou muitas mulheres da prostituição, através da música alegre que fazia com a viola. A dança é acompanhada por violões, pulés (instrumentos feitos de bambu), e caixa. A caixa é tocada pelo "patrão" - homem vestido de marinheiro, como alusão a São Gonçalo do Amarante. O grupo dança em festas religiosas e pagamento de promessas. É composto em suas maioria por trabalhadores rurais, que se vestem de mulher, representando as prostitutas. Um dos grupos mais apreciados pela singeleza da dança e da música.

Apesar de louvar um Santo católico, a dança lembra movimentos de rituais afro. Mais uma vez isso fica comprovado também na letra das músicas. Um dos versos mais conhecidos do São Gonçalo diz: "Vosso reis pediu uma dança, é de ponta de pé, é de 'calcanhá'. Onde mora vosso reis de Congo..."

Texto e imagem reproduzidos do site: a8se.com

Rosa Faria.




Publicado originalmente no site da PGE/SE., em 01/09/2013.

Rosa Faria.
Por Mário Britto.

Rosa Moreira FariaRosa Moreira Faria, professora, artista, pesquisadora, telegrafista, jornalista, taquígrafa e poeta, nasceu no dia 28 de abril de 1917, em Capela/SE e faleceu no dia 1º de maio de l997, em Aracaju/SE
Descendente de portugueses, filha de pai artista, Rosa Faria, autodidata, desde tenra idade já manifestava vocação para as artes. Em sua terra natal, cursou o primário no grupo Escolar Coelho e Campos e o ginásio no Colégio Imaculada Conceição, onde recebeu o diploma de normalista. Em 1942, iniciou sua careira de professora no povoado de Boa Vista, em Capela/SE.

No ano de l946, mudou de sua terra natal para Aracaju/SE e, em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ, onde fez curso de artes plásticas no Departamento Nacional do Serviço de Aprendizagem Industrial e de Extensão Universitária Sobre Psicologia do Adolescente na Universidade do Brasil. Em l952, fez curso de desenho para ensino. Em l953, ministrou, em Petrolina/PE, curso Nacional Para Jovens de Artes Aplicadas. Em 1956, concluiu curso didático pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe.

Em 1955, Rosa Faria foi laureada com o primeiro lugar em concurso realizado pela Prefeitura de Aracaju em comemoração ao Centenário de cidade. Admirada pelo povo sergipano em razão do seu relevante trabalho na preservação de nossa história, recebeu diversas comendas e medalhas, como Honra ao Mérito, da Prefeitura de Aracaju, Medalha Amiga da Marinha, Medalha Amiga do Exército, Mérito Serigy, nos graus de Cavaleiro e Comendador e o Título de Cidadã Aracajuana, concedido pela Câmara Municipal de Aracaju.

Membro fundadora da Associação Sergipana de Imprensa, Rosa Faria presenteou a entidade com uma importante coleção de pinturas óleo sobre tela e sobre madeira. Poeta, pesquisadora e escritora, constam, ainda, em seu curriculum, as seguintes publicações: em 1947, a biografia de Dom José Thomaz Gomes da Silva, em forma de calendário; em 1948, Sinopse Biográfica do Monsenhor Carlos Costa e, em 1995, o álbum histórico, composto por 122 placas de cerâmicas, intitulado: “Sergipe Passo a Passo pela sua História”. É autora das comendas “Gumercindo Bessa”, feita para o Tribunal de Contas e a “Tobias Barreto”, para a Procuradoria da Justiça.

Em 17 de março de l968, foi fundado o “Museu de Arte e História Rosa Faria” para albergar a sua obra composta por pinturas em azulejos, em porcelanas, em pratos, alguns bordados com fio de ouro e óleo sobre tela e sobre madeira que retratam, através de pesquisa de documentos, em fatos e fotos a história de Sergipe.

Desde l997, após a morte de Rosa Faria, o acervo do museu foi transferido para o Memorial de Sergipe, pertencente à Universidade Tiradentes-UNIT, em Aracaju/SE. Pelo seu legado à cultura, à arte e à história de Sergipe, declarou o magnífico reitor da Universidade Tiradentes, Professor Jouberto Uchoa: “Rosa Faria dedicou toda a sua vida a preservar a memória do Estado, essa pessoa, que era de uma situação econômica e financeira pequena, deixou e renunciou aos prazeres, para que a história de Sergipe ficasse registrada e marcada por esse monumento que nós temos aqui”.

Texto e imagem reproduzidos do site: pge.se.gov.br

Joseval Soares Silva Feitosa, o Jo’k





Publicado originalmente no site PGE/SE., em 06/07/2015.

Joseval Soares Silva Feitosa, o Jo’k
Por Mário Britto*

Jo'k artista de julhoJo’k, um artista do Sertão.

Filho de José Alves Feitosa e Maria José Soares Silva Feitosa, Jo’k nasceu na cidade de Propriá/SE, no dia 25 de dezembro de 1970. O primeiro contato com a arte ocorreu quando, vindo de uma pescaria, encontrou Florival Santos, artista de grande influência em sua carreira, pintando às margens do Rio São Francisco.

Autodidata, Jo’k descobriu-se artista aos doze anos. Iniciou os estudos do ensino fundamental em Propriá, e, posteriormente, morou nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Salvador e Belo Horizonte, onde teve contato com diversos artistas, a exemplo de Cahã, mineiro de descendência polonesa, que muito o incentivou.

Em 1989 e 1990, participou do Salão de Arte do Encontro Cultural de Propriá. Em 1990, realizou a sua primeira exposição na Galeria Álvaro Santos, em Aracaju/SE. Nessas últimas duas décadas tem realizado e participado de diversas exposições.

Possuidor de um estilo próprio, de sua paleta surgem tons sempre mais quentes, em especial, o vermelho veronês, que está presente em quase toda a sua iconografia. Para o artista o desenho é apenas um caminho espontâneo. Não se considera desenhista. Rabisca apenas o suficiente para pintar e para expressar toda a sentimentalidade de que é revestida a sua arte.

Em sua pintura, os motivos são variados, contudo o tema predominante é o sertão. Jo’k retrata a sua gente, faz uma pintura de raiz, mostrando a labuta diária dos agricultores que, em seu silêncio, contribuem para a grandeza do país. Suas paisagens apresentam a beleza da vida no campo, inobstante as mazelas da fome, da falta ou do excesso de água. Exibem um sol que castiga famílias, queima plantações e mata animais, mas que também ilumina e dá vida ao seu sertão. Esse é Jo’k, um artista do Sertão!

* Curador de Arte.

Texto e imagem reproduzidos do site: pge.se.gov.br