sábado, 12 de fevereiro de 2022

As mãos que criam, criam o quê?



Publicação compartilhada do site ARTESOL ARTESANATO SOLIDÁRIO 

Associação dos Artesãos de Santa Luzia do Itanhy 
Localização: Rua Francisco Costa - Santa Luzia do Itanhy (Amorzão)

Santa Luzia Do Itanhy/SE - CEP 49230-00

 

As mãos que criam, criam o quê? 


No encontro do Rio Piauí com o oceano as abundantes palmeiras colorem de verdes a paisagem. São muitas as fibras trabalhadas aqui, entre elas buri, dendê e capim estrela, taliça de piaçava, ouricuri, junça, junco e talo de coqueiro. O tratamento de cada uma respeita suas características de maneira a deixá-las maleáveis e próprias para a produção artesanal.  


O junco e a junça são espécies que crescem em áreas alagadas. Para garantir que a planta torne a crescer, corta-se o caule na base, não arrancando do solo. Colhidas, as hastes são mantidas em feixe até que comecem a amarelar, momento em que são espalhadas no chão para secarem a sombra. 

 

Do dendezeiro retira-se o olho, ou seja, a folha mais fechada que nasce no topo da planta. Daí risca-se a palha tirando a o talo mais fino que fica no meio da folha, que deve também secar a sombra. Já a fibra de ouricuri é retirada da palmeira somente no verão, pois a fibra deve secar ao sol. Assim como a fibra do dendê, rica-se as folhas do olho retirando o talo central.  


Após preparadas, iniciam a confecção das peças que é feita em trançados manuais e teares. Com primazia produzem luminárias, persianas, revestimento de parede, cachepôs, tapetes, chaveiros, etc. 

  

Quem cria? 


Felícia dos Santos Souza já viveu da pesca e da agricultura, mas hoje é artesã, como sempre sonhou. Ela junto dos outros três integrantes do grupo, Alda, Marli e José Raimundo dominam todo o processo produtivo, desde a colheita ao beneficiamento das fibras até a criação das peças. 

 

A formação e fortalecimento do grupo estão diretamente ligados aos trabalhos realizados pelo Instituto de Pesquisa em Tecnologia e Inovação (IPTI), com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Desde o início o trabalho é coordenado por Renata Piazzalunga, consultora na área de economia criativa. Decorrente da metodologia implementada desde 2008, viu-se necessário criar um canal de comercialização para viabilizar a continuidade da produção. Assim, em 2011 surge a marca Fellicia, cujo nome homenageia a artesã luziense. Coordenada pelas irmãs Renata e Alessandra Piazzalunga, atua no fortalecimento da cadeia. 


Nessa parceria de mais de uma década, muito se construiu. Ainda que os conhecimentos relacionados às fibras fossem em certo nível comuns ao local, por suas origens ancestrais, a população desconhecia as técnicas de beneficiamento e fabricação. Segundo Renata, quando realizaram os primeiros levantamentos na região identificando oportunidades locais, a população relatava queimar as fibras, vistas até então como mato sem valor. Através de inúmeras oficinas aprenderam desde identificar as espécies até gerir o próprio negócio. Com a presença do designer Kelley White é que aprenderam a tecer e desenvolveram os principais produtos.  


Para Alda, o mais importante do artesanato é o papel de geração de renda, por isso o ideal é que tivessem mais pedidos, para que mais pessoas da comunidade pudessem estar envolvidas. 


Onde Criam? 


Santa Luzia do Itanhy é uma das povoações mais antigas do estado do Sergipe. Localiza-se no litoral sul, no estuário do Rio Piauí, a cerca de 86 quilômetros de Aracaju. Sua paisagem é constituída por abundantes rios, mangues e coqueirais. 


Em meados do século XVI houve a primeira investida de jesuítas portugueses no território, mesmo período em que a colonização foi reforçada com a cessão de terras pela coroa portuguesa. No século XVII estabeleceu-se o primeiro grande engenho de açúcar, porém somente no XIX a cultura da cana alcançou seu auge e Santa Luzia do Itanhy chegou a ter mais de 60 engenhos.  


Neste período, um terço da população do Sergipe era constituída por escravos e este contexto originou as condições para a formação do território quilombola luziense. O quilombo localiza-se a poucos quilômetros da sede do município e está distribuído em sete povoados: Bode, Pedra D’Água, Taboa, Cajazeiras, Rua da Palha, Pedra Furada, e Crasto 


Está entre os 50 municípios mais pobres do Brasil e tem como principais fontes de subsistência a agricultura e a pesca. Por isso o artesanato apresenta-se como importante fonte de renda para a população, que através dos trabalhos com a palha resgatam suas origens e conectam-se com o território.  


Texto e imagens reproduzidos do site: artesol.org.br/artesaosdesantaluzia 

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