Publicado originalmente na Linha do Tempo do Perfil no
Facebook de Rangel Alves da Costa, em 17 de junho de 2020
ALCINO 80 ANOS – EM NOME DO PAI...
Por Rangel Alves da Costa
Longe se vão aqueles anos 40, quando o sertão passou a
acolher em seu solo um filho amado. Filho de Dona Emeliana e Seu Ermerindo,
então nascia Alcino Alves Costa. E nascia a 07 de junho de 1940.
Oitenta anos já se passaram desse primeiro encontro do filho
com sua terra. E mais de sete anos se vão que o eterno menino sertanejo
retornou a casa do Pai.
Viveu setenta e dois anos entre os seus, pouco perante a
esperança de vida do sertanejo, mas de forma tão grandiosa e construtiva que os
anos na terra vingaram uma eternidade pelos seus feitos.
Apenas setenta e dois anos vividos, mas quanta imensidão
gestada nos seus passos, nos seus escritos, em suas palavras, em suas ações.
Foi menino sertanejo traquina, foi rapaz sonhador, foi prefeito antes de ser
político, foi político de nomeada em seu Poço Redondo.
Mesmo não tendo formação acadêmica – ou quase nenhuma
formação educacional -, pois o ensino primário foi o seu limite de sabedoria
escolar, Alcino conseguiu ser doutor no que fez. Seu anel de formação, contudo,
apenas brilhando no olhar a sua lua e o seu sol. Como era apaixonado pelo
sertão!
Uma paixão tão indescritível que além de ser filho da terra
e conviver com seu chão, tudo o que na vida fez sempre teve o sertão como mote
de arte e criação. Na verdade, em Alcino o sertão corria nas veias, pulsava no
coração, guiava o seu passo, era seu sopro de vida e sua guia de viver.
Calçando havaianas, com a ponta da camisa num canto da boca,
tantas vezes cabisbaixo e cantarolando baixinho uma velha canção sertaneja, lá ia
Alcino pelas ruas e esquinas de sua Poço Redondo. Encontrava um banco de praça
e passava a dialogar com o mundo sertanejo, com suas histórias e suas memórias.
Pesquisador, escritor, poeta, compositor, radialista,
palestrante, apaixonado e divulgador da música caipira de raiz, Alcino deixou
um insuperável acervo de conhecimentos, principalmente sobre o sertão e seus
feitos históricos, sua geografia, suas tradições, suas riquezas culturais, o
seu povo.
Apaixonado pelo tema cangaço, sobrinho do cangaceiro Zabelê
e primo de Correnteza, foi amigo de ex-cangaceiros e ex-coiteiros, e daí ter se
tornado num dos maiores expoentes das lutas e vinditas cangaceiras sertões
adentro. Em letra miúda ou dedilhando em velha máquina de escrever, foi
construindo um sertão inteiro!
O Sertão de Alcino e tão bem descrito por Alcino, é o Sertão
dos canoeiros e comboeiros, dos cangaceiros e das volantes, dos coronéis e dos
jagunços, dos rezadores e benzedeiras, dos vaqueiros e das boiadas, dos
mateiros e caçadores, da religiosidade e da fé, mas primordialmente de um povo
que tira da secura da terra o verdor da digna sobrevivência.
E assim porque meu pai Alcino foi imenso, foi múltiplo, foi
diversificado, foi largo e longo demais pelas estradas de seu mundo e mais
além. Mesmo sempre fincado no seu chão amado, fez com que o mundo o
reconhecesse pela sua obra.
Alcino foi filho, foi esposo, foi pai, foi avô. Alcino foi
irmão, foi parente, foi amigo e conhecido. Mas gestou e conviveu com um mundo
maior: o mundo sertanejo. O sertão de sagas, de lutas, de sofrimentos e
alegrias.
Alcino foi tudo, e mais além do que certamente almejava ser.
Mas hoje é também uma imensa saudade. Oitenta anos de nascimento, setenta e
dois anos de vida, sete anos de partida, um calendário que alegra e faz doer.
E uma imensa saudade!
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Rangel Alves da
Costa
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