quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Homenagem de Ivan Bezerra a Marcelo Déda


Ao companheiro de lutas políticas em uma época de chumbo e de incertezas, Marcelo Deda:
Por Ivan Bezerra.

Poderia, nesse momento, escolher uma prece, uma mensagem filosófica, mas as palavras poéticas, muitas vezes, quando rabiscadas por mãos que moldam o talento, possuem o dom da transcendência e de uma suspeita do devir dialético. É um momento difícil, companheiro, a encruzilhada da incerteza se aproxima, sem que você imagine o que vai acontecer ou que caminho vai trilhar. Com a sua inteligência é bem possível que não acredite em ideias ingênuas, como, por exemplo, o Paraíso ou outros conceitos similares, mas, possivelmente, você tem a intuição que vai caminhar. Para onde? Bem, isso você vai descobrir e que bom que seja assim, não é? A descoberta, a novidade e a procura sempre foram motivações permanentes para você e agora não vai ser diferente.

Nesse momento, não posso ser hipócrita, nem oportunista, companheiro e você sabe disso. Tenho grandes e boas recordações das nossas lutas, no período do movimento estudantil, na época em que era um garoto adentrando à Faculdade de Direito e eu me preparando para sair. No entanto, nesse breve momento, lembro- me da sua ajuda aguerrida, da sua coragem e dos seus sonhos. Entretanto, algo me preocupava, um atributo que emergia disfarçado, porém, esse algo era uma coisa chamada vaidade. E triste, dizia em diálogo interno: "Essa vaidade pode torná-lo refém de oportunistas, de políticos descarados que poderiam acariciar o seu ego e com isso, obstruir sua inteligência e sepultar seus sonhos".

No entanto, nada disso importa, nesse momento. Penso que a morte é um radical retorno às situações preconstituidas, onde a consciência retorna para uma avaliação com a finalidade de escrever um novo futuro. Como não acredito na reencarnação, acho que o retorno é a volta da consciência para motivar uma nova caminhada que não sabemos o porquê e para que lugar. Não importa, não é? Acho que nesse momento deve desconfiar que o importante é o caminho e não a chegada.

Poderia lhe presentear com alguma poesia feita por companheiros que faziam as palavras gritarem em busca de justiça, como é o caso de Neruda. No entanto, segue em anexo uma poesia de uma pessoa que fez das palavras, instrumentos da transcendência.

Boa viagem, companheiro

"A MORTE é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir com eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho."

(Fernando Pessoa).

Texto reproduzido do Facebook/Linha do Tempo/Ivan Bezerra Bezerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário