sábado, 14 de maio de 2016

Mercado de artes em Sergipe

Marcelus Fonseca (à esquerda) e artistas no evento Experimente, 
Galeria Zé de Dome.
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 09/05/2016.

Mercado de artes em SE: a sobrevivência comedida da diversa produção de obras.

Grupo seleto de apreciadores faz do negócio artístico uma atividade discreta no Estado.

Por: Gilmara Costa/ Equipe JC

“É um mercado do qual pouco se sabe”. É assim que o artista plástico Antônio da Cruz dá início à indagação sobre movimentação do mercado de artes em Sergipe, que tem entre os grandes nomes do segmento do andarilho J. Inácio; do ‘artevista’ José Fernandes; do santista Fábio Sampaio que pelo tempo e arte se faz um sergipano de alma; além do próprio Antônio da Cruz que, na sua obra, desafia a física e compõe esculturas instigantes ao público que olha, toca e sente. Entre uma inércia governamental para com os incentivos à arte e iniciativas pessoais de compra e venda de produção artística, o estado dá indícios de um discreto e seleto negócio artístico, com apreciadores locais e também por todo o país.

“De imediato, pode-se dizer que não ostenta grande movimento e muito menos existiu, em algum momento, que se tenha notícia, de algo que se possa chamar de bolha de consumo. As crises entram e saem e o que poderíamos chamar de “mercado de arte” em Sergipe permanece na sua crise crônica, com pequena variação. Fica evidente que se trata de um mercado bem discreto e que está fora, me parece, da contabilidade governamental. Conhecem-se os dados das diversas atividades dentro da agricultura, da indústria, do comércio atacado e varejo e dos serviços, menos dos diversos ramos da produção artística, entre elas as artes visuais. Possivelmente devido à informalidade e da pouca importância dada pelos diversos órgãos governamentais que poderiam se interessar. Muito embora o volume de produtos adquiridos no comércio local para a produção artística em geral seja significativo”, afirmou Antônio da Cruz.

Numa avaliação relacionada diretamente ao momento econômico vivenciado no país, o leiloeiro público Marcelus Fonseca aponta a queda, mas garante a colecionadores e público em geral que agora é a oportunidade de adquirir obras. “Devido à situação política e econômica que vive o País, teve uma grande queda no mercado de arte, artesanato e artigos decorativos. Com certeza o consumidor atual tem que priorizar, e então o segmento perde com isso. Apesar de que o momento está muito bom para comprar diante da queda do valor de mercado. Com a experiência que tive de galeria e hoje como leiloeiro público na área de artes plásticas, tenho aconselhado aos artistas, a aproveitar o momento para novas experiências, com novos estilos e materiais diferentes, sem a preocupação de venda, mas com a finalidade de mostrar o seu talento”, explicou Marcelus Fonseca.

Ainda segundo ele, a busca pela efetivação de um negócio artístico tem como marco inicial a visitação em exposições, daí o grande papel desenvolvido pelas galerias de arte, vitrine de virtuosos trabalhos. “A movimentação nas galerias geralmente ocorre na abertura de uma exposição, depois ficando apenas a os interessados retornar e adquirir uma obra de arte. A busca por obra consiste em um grupo seleto e pequeno entre colecionadores, decoradores, arquitetos ou amantes da arte. Aqui temos grandes colecionadores no estado, não só de artistas sergipanos como também em nível nacional e internacional”, destacou Marcelus.

Em reforço ao grupo seleto de consumidores de arte e numa perspectiva de quem é criador da obra, Antônio da Cruz fala que a aquisição, na maioria das vezes, está relacionada a motivações diversas da real contemplação, gosto e apreciação do trabalho artístico. “Há um segmento mínimo apreciador que adquire obras de arte. Temos neste, a figura do colecionador, ainda, mas não se pode dizer que este crie uma demanda constante e volume crescente. Há muitas compras avulsas e esparsas do público classificado de classe média, geralmente funcionário público que adquire para decoração. Há a reivindicação dos artistas que cobram do Estado, através das suas instituições, a aquisição de obras para formar acervos sob critérios técnico-artísticos e não baseados no clientelismo e no compadrio. No geral, há quem prefira uma cópia de ilustração qualquer a uma obra original. Para muita gente, obra de arte é artigo de luxo. Ainda não está inserida na cultura como um valor agregado à identidade sócio cultural e status intelectual.

Para outros, a arte só faz sentido se for utilitária, e o máximo de importância está apenas no simbolismo afetivo ou religioso, como um retrato, a figura de um ídolo, santo ou uma paisagem bucólica para a contemplação, longe das avaliações e discussões estéticas. A arte contemporânea, que tira as pessoas da chamada “zona de conforto” ou da mera contemplação, sofre ainda muita indiferença e até preconceito”, afirmou.

É possível viver da arte?

“Sim, desde que se esteja habilitado para sacrifícios; tenham-se recursos próprios para autofinanciamento; ou ainda disponha-se de um mecenas à moda antiga. Em tempos de retração dos editais da Funarte e do patrocínio das grandes empresas, a diminuição de possibilidades para aqueles que vivem a buscar oportunidades de financiamento dos seus projetos, viver de arte se assemelha mais ainda a aventura. Imagino que será pior se vir pela frente um suposto governo com o tal programa chamado de ‘Ponte para o futuro’ que, pelos sinais, será uma ponte para o retrocesso em geral, principalmente no que diz respeito ao patrocínio cultural”, responde o artista plástico Antônio da Cruz.

Ainda sobre o assunto, ele fala explica a necessidade de redenção do artista à demanda que pede a ‘arte encomenda’, numa perspectiva de criação monitorada não pelo sensorial do criador, mas pela escolha e desejo de quem paga. “O mundo mudou, porém muita gente ainda vê o artista como um indivíduo romântico, boêmio encrenqueiro que vive sob os auspícios de um mecenas, com todo o aparato de uma realeza antes existente e hoje apenas imaginária. No mundo real e suarento da sobrevivência, para grande parte dos artistas é necessária uma atividade paralela. No caso dos artistas visuais é ser desenhista de qualquer área, seja publicitária, gráfica ou técnica também com variedade enorme; produtor; marchand; moldureiro; ministrar aulas de artes plásticas no próprio ateliê ou em instituições; arquiteto; ter um emprego formal, às vezes bem diferente da atividade artística; ou viver sob a guarida da renda familiar. Viver da produção autoral é difícil. A saída mais comum é produzir em série. Outra saída é atender às encomendas, que visam mais o gosto ou as necessidades utilitárias dos clientes à concepção estética do artista. Isto, quando o artista é eclético. Nestas duas situações os artistas atuam praticamente como artesãos. Sem demérito. Afinal, navegar é preciso, sobreviver não é preciso. Diferente do ser romântico, o artista é um trabalhador que tem contas a pagar e responsabilidades sociais, para consigo, parentes e agregados”, disse.

Os mais procurados

Entre os artistas sergipanos mais procurados e valorizados, o leiloeiro Marcelus Fonseca destaca Jenner Augusto, sem deixar de ressaltar os talentos que continuam na atividade de expressão artística. “Com o contemporâneo em alta, vejo novos artistas se destacando bem em salões e eventos como exposições, dando assim uma movimentação artística na cidade, galerias e espaços culturais, inclusive fora do estado. Na atualidade, poderia dizer que o artista sergipano mais procurado e valorizado seria o Jenner Augusto. Mas, tirando os grandes nomes dos artistas sergipanos já falecidos, poderíamos destacar Cicero dos Santos (Véio), o qual representou o Brasil em Veneza; Fábio Sampaio, que está sempre sendo selecionado em grandes eventos em nível nacional; Caã, o próprio filho de J. Inácio; José Fernandes, que além de suas belíssimas obras em tela , é um artista que movimenta a arte como um todo em nosso estado; Leonardo Alencar, Adauto Machado, Pithyu, Melquiades, Joubert Morais, Ismael Pereira e Bené Santana, entre outros que para não me alongar estão sempre trabalhando em prol da arte sergipana”, disse Marcelus.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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