Antônio Freitas, morador mais antigo da rua.
Festejos na Rua São João.
Casamento caipira na Rua São João.
Atual espaço da Rua São João.
Créditos fotos antigas: Arquivo pessoal de Antônio Freitas*
Créditos das fotos atuais: Portal Infonet.
Infonet - São João - Notícias - 22/06/2015.
Rua São João completa 105 anos de história e tradição
Morador mais antigo da rua, conta um pouco dos festejos
Rua de areia, algumas casas de taipa e telhado em palha de
coqueiro. Foi com esse cenário que surgiram, em meados de 1910, os festejos
juninos da Rua São João, no Bairro Santo Antônio, zona norte da capital.
Historiadores e antigos moradores relatam que duas irmãs idosas moradoras de um
sítio, uma localidade chamada na época de “Matinha dos Caboclos”, que faziam
novenas para homenagear os santos do ciclo junino, deram o pontapé inicial para
o berço das festas juninas na Rua São João, que em 2015 completaram 105 anos.
“As ruas eram enfeitadas de bandeiras de papel coladas com
goma de tapioca e as fogueiras iluminavam as ruas”, recorda Antônio Freitas,
92, que foi morar na Rua São João quando tinha apenas 14 anos de idade. E lá se
vão quase 70 anos apreciando as mudanças na famosa rua. “Meus avós moravam
aqui, desde os sete anos que eu frequentava a Rua São João. No início lembro
que os poucos moradores se uniam e compravam papel manilha para as mulheres
fazerem as bandeirinhas durante a noite, sentadas nas calçadas. Logo em seguida
nos juntávamos para enfeitar a rua, colando as bandeirinhas em pedaços de
cordão com goma de tapioca”.
Antônio Freitas lembra ainda que a comunidade fazia
banquetes com comidas típicas que qualquer morador podia saborear, e todos
dançavam até o amanhecer do dia com as danças folclóricas. “Era interessante
como as pessoas se ajudavam. Uma dava uma coisa, outro dava outra, e cada um
contribuía de alguma forma para a realização da festa. No final tínhamos uma
mesa repleta de comidas típicas e todo mundo comia. Também tínhamos o sistema
de dança, onde dançávamos o Samba de Coco, a Grande Roda... Era uma alegria só
até amanhecer o dia”.
Com o objetivo de organizar ainda mais os festejos da Rua
São João, foi criada em 1910 a 1ª comissão que coordenava os eventos do local.
Ela durou 36 anos, sendo a segunda comissão criada em 1946. Durante esse
período, a ornamentação da rua era dividida em dois grupos, onde cada um
procurava a perfeição na decoração, formando assim uma competição sadia entre a
comunidade. Com o tempo a Rua São João começou a mudar sua cara. As casas de
palha passaram a ser de alvenaria, a energia elétrica chegou ao local, e
pessoas com melhor poder aquisitivo começaram a povoar a localidade e mudar a
cara da festa.
A mudança.
Com o passar dos anos, a comunidade da Rua São João começou
a crescer e trazer para o seio da comunidade pessoas que não tinham a tradição
junina no sangue, fazendo mudar as características da festa, como lembra
Antônio Freitas. Ele diz que sente saudades do tempo em que a festa da Rua São
João era uma confraternização da comunidade, e garante que atualmente as coisas
não se parecem com a época em que soltava fogos de artifício com seus colegas,
correndo pelas ruas de arreia. “Hoje está tudo modificado, e nada lembra aquele
tempo. Hoje as pessoas não se confraternizam mais. É cada um na sua casa, é
muita violência, falta de respeito e jovens que se preocupam apenas em
bagunçar. Na época em que eu organizava as festas ninguém dançava quadrilha com
um copo de bebida alcoólica, e hoje é a maior baderna, o que gera muitas brigas
e discussões”.
Centenário às escuras.
Mas nem tudo sempre foi alegria na Rua São João. No ano do
seu centenário, em 2010, não existiu nenhum tipo de comemoração no local,
deixando os moradores com um sentimento de luto e muita tristeza, como
recordou, emocionado, Antônio Freitas. “Foi uma tristeza, uma dor sem tamanho.
Passamos de 2006 a 2010 sem ter uma festa ou evento aqui em virtude de uma
ingerência da comissão organizadora, mas o pior foi a Rua São João completar
100 anos e não termos nem o mastro que é nosso maior símbolo colocado no seu
lugar de direito. Nesse ano alguns meninos pegaram um galho de mamona e
colocaram no lugar do mastro. Foi de cortar o coração ver esse lugar sem aquela
animação dos anos anteriores, e perceber que a Rua de São João tinha morrido
nos deixou com um intenso sentimento de luto”.
Atual gestão.
Em fevereiro de 2015, foi empossada a nova diretoria da Rua
São João, onde foi eleito presidente José Ronaldo Alves. Ele ficará à frente do
cargo até o ano de 2019. O presidente afirma que a gestão atual da comissão de
organização de eventos da Rua São João vem desempenhando um trabalho de
reestruturação para resgatar a tradição dos festejos juninos da localidade.
De acordo com José Ronaldo, desde o inicio da sua gestão,
que em parceria com a Funcaju, foi desenvolvido o projeto “Esquenta Forró”, que
durante 10 sábados consecutivos, levou trios-pé-de-serra para a Rua São João,
com objetivo de movimentar a cultura e comércio local, já fazendo uma
preparação para os festejos juninos. “Nós queremos movimentar a Rua São João
durante o ano inteiro, temos um espaço legal, e temos vários projetos para que
isso aconteça. Durante o mês de junho vamos ter muito forró e concursos de
quadrilhas. Fica aberto o convite para todos que gostam de presenciar o melhor
da cultura sergipana”, salientou.
Mesmo com tantas mudanças e evoluções, permanece ainda de
forma clara e lúcida na lembrança de Antônio Freitas, morador mais antigo da
Rua São João, a recordação de um tempo onde ser feliz era estar junto com
familiares e comunidade. Todos se confraternizando com dança, comidas e bebidas
até o raiar do dia. Aos 105 anos de existência, a Rua São João mostra que mesmo
diante de muita dificuldade vem passando por gerações e tentando carregar as
características dos antigos festejos juninos, ainda por muitos anos, não
deixando morrer uma tradição secular.
Por Adriana Meneses.
Texto e imagens reproduzidas do site:
infonet.com.br/saojoao/2015
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