Foto: Júnior Ventura
História sobre Emancipação de Sergipe é contada na Alese
Por Aldaci de Souza – Rede Alese
Os 200 anos da Emancipação Política de Sergipe, comemorados
nesta quarta-feira, 8 de Julho, foram destacados durante sessão remota na
Assembleia Legislativa, pelo professor doutor em História e Filosofia da
Educação, Jorge Carvalho do Nascimento. Ele fez um relato dos fatos registrados
entre os anos de 1808 e 1822, mostrando que o processo foi longo, difícil e
intenso.
Atendendo ao convite do presidente da Alese, deputado
Luciano Bispo (MDB), Jorge Carvalho participou de uma videoconferência na Sala
de Comissões, em que ressaltou a importância do decreto assinado por D. João
VI, em 8 de Julho de 1820, tornando Sergipe independente do estado da Bahia.
Luciano Bispo lembrou que mesmo na pandemia, a data
precisava ser comemorada
De acordo com o presidente Luciano Bispo, uma vasta
programação foi definida para comemorar a data, mas teve de ser modificada em
virtude da pandemia do novo coronavírus.
“Hoje Sergipe comemora os 200 anos de independência do
Estado da Bahia e nesse momento atípico, mesmo diante das dificuldades sociais
e econômicas não podemos esquecer a data.
A Assembleia Legislativa através de uma comissão de servidores vinha
programando desde o ano passado, as comemorações pela passagem do bicentenário,
mas o destino não quis e não permitiu. Tivemos que nos reinventar e através dos
recursos de mídias sociais e da TV Alese, o Poder Legislativo prestará as
devidas homenagens a Sergipe e aos Sergipanos”, destaca.
Aula
Jorge Carvalho cita nomes de defensores da emancipação
O professor Jorge Carvalho transformou a videoconferência em
uma verdadeira aula sobre a História de Sergipe, passando pela Revolução de
Pernambuco e por estudos divulgados em livros dos sergipanos Felisbelo Freire e
de Maria Thetis Nunes.
“O Poder Legislativo está celebrando o Bicentenário da
Emancipação Política de Sergipe e nada melhor do que lembrar o significado. O
bicentenário registra na verdade a celebração do momento fundador desse espaço
geográfico, que ganhou identidade, que imprimiu as marcas de uma cultura que
nos é própria, distintiva e que podemos designar de sergipanidade”, ressalta.
Jorge Carvalho explicou que o espaço chamado de Sergipe
nasceu institucionalmente como capitania do reino de Portugal.
“Se expandiu como província do Império do Brasil e se consolidou
na condição de um importante estado membro da República Federativa do Brasil.
Estudiosos da História de Sergipe costumam apontar a posição tomada por alguns
senhores de terra, quando da Revolução Pernambucana de 1817, como sendo a
principal causa para a criação da Capitania de Sergipe Del Rey, em 8 de Julho
de 1820”, entende.
O professor acrescentou ser inegável a contribuição desse
episódio na tomada de decisão pelo rei D.João VI, concedendo a autonomia a três
novas capitanias do reino de Portugal.
“A Capitania de Sergipe, a Capitania de Alagoas e a
Capitania do Rio Grande do Norte. Todas ganharam autonomia naquele mesmo
período e naturalmente pela influência que teve na História do Brasil, o
episódio da Revolução Pernambucana de 1817. Todavia, se a gente quiser entender
porque Sergipe se separou da Bahia, esse não é um fator único”, informa.
Estratégia
Jorge Carvalho destacou que a Revolução Pernambucana parou
no rio São Francisco.
“Conhecida como Revolta do Equador, ela não se alastrou pelo
território sergipano e Sergipe foi muito importante na estratégia de defesa do
rei D. João VI, organizada na Bahia pelo governante, o Conde dos Arcos. O
brigadeiro Luiz Antônio Machado era o capitão-mor de Sergipe, que colocou em
prática a estratégia do Conde dos Arcos, evitando que a Revolta de Pernambuco
ultrapassasse o rio São Francisco e aqui chegasse”, diz.
Na explanação, o historiador acrescentou que o início do
Século XX, em Sergipe não existia uma burguesia comercial forte que tivesse
interesse suficiente para abraçar uma revolução que defendia a República.
“Nossa economia era formada principalmente pelos grandes
proprietários de terra, plantadores de cana e proprietários de engenho de
açúcar. Posteriormente vieram os criadores de gado e comerciantes. Diante da
revolta, os proprietários de terra entraram em pânico; era uma situação
inquietante, com a escassez de gêneros alimentícios como a farinha de mandioca
em virtude da seca que dominou o nosso território até 1816. Com medo de que as
pessoas com fome, aderissem à revolução, os produtores rurais forneceram homens
e montarias à Bahia”, relata.
Estudos
O professor enfatizou que existem dois estudos que retratam
a História de Sergipe: o livro de Felisbelo Freire, publicado em 1891 (História
de Sergipe) e o livro de Maria Thetis Nunes, publicado no ano 2000 (Sergipe
Provincial).
“Esses dois livros são importantes, mas agora no começo do
Século XXI, outros estudos estão surgindo e eu gosto muito do livro sobre a
independência do solo que habitamos, da professora Edna Maria de Matos Antônio,
que estuda a situação de Sergipe entre 1750 e 1831”, afirma.
Poderio
Jorge lembrou que no início do século XIX era visível a
expansão dos canaviais nos vales dos rios Sergipe, Vaza Barris, Cotinguiba,
Piauí e Real, aumentando o poderio dos senhores de terra, transformando o
território sergipano em um estado ausente, ou seja, cada proprietário de terra
era autoridade máxima e os crimes eram abundantes, recorrentes e permaneciam
impunes.
“Em 1809, o capitão-mor Manoel Inácio de Morais Mesquita
Pimentel, enviou uma correspondência ao conde de Linhares, ministro da Guerra,
dizendo que a Capitania de Sergipe Del Rey deveria se separar da Capitania da
Bahia. Disse que Sergipe produzia muito, tinha um povo revoltado e uma economia
rica que poderia render muito ao tesouro brasileiro. A demanda da independência
de Sergipe vinha desde o Século XVIII”, entende.
Menos de 30 dias
Havia um grupo que desejava fazer do Brasil um estado que se
opunha a manter o Brasil na condição da colônia portuguesa. Na Bahia eram
grupos ligados aos portugueses e em Sergipe, grupos que defendiam a independência.
O primeiro governador de Sergipe antes da independência foi
Carlos Burlamaque, um português de nascimento que se identificava com os
brasileiros que defendiam a independência nacional.
A História conta que o governador Carlos Burlamaque fez uma
série de exigências ao conde da Palma na Bahia, a exemplo de 100 homens para
uma tropa de segurança, uma milícia sergipana, canhões e peças de artilharias,
uma Junta da Fazenda para fiscalizar a produção dos engenhos e arrecadar os
recursos do tesouro público, considerando a sonegação elevada.
“E ainda assinou com o conde da Palma, um pacto que
transferia para a Fazenda, toda a renda que a Bahia havia auferido com os
produtos de Sergipe e destacou a necessidade de uma secretaria de Governo e que
viesse pra Sergipe com ele, um médico cirurgião e um farmacêutico com a sua
botica. Ele não sabia que não ia conseguir executar seu plano e que seu governo
ia durar menos de um mês. A Câmara de São Cristóvão o recebeu com entusiasmo, o
deu um bastão de ouro em ambiente festivo, na igreja da Vitória, houve fogos de
artifícios e menos de 30 dias, foi enviado uma tropa da Bahia com 200 anos para
depô-lo”, relata.
O primeiro governador por Sergipe após a independência foi
Manoel Fernandes da Silveira (nomeado por D. Pedro I), que destacou a sorte de
ser governador de homens que nunca tinham sido governados por ninguém; uma
missão muito difícil.
“Além disso, a Bahia reagia à independência política de
Sergipe, pois significava para o Tesouro, a perda anual de 120 contos de reis,
uma riqueza considerável no período. A mesma Câmara de São Cristóvão que
recebeu Burlamaque com festa, jurou os olhos para a sua prisão por 30 dias em
Salvador e depois mandado para o Rio de Janeiro. Isso fez com que Sergipe
perdesse a sua autonomia menos de 30 dias da Carta Régia, colocando no lado
oposto dos que defendiam a emancipação”, explica.
Defensores
Entre os que defendiam a independência de Sergipe da Bahia,
estavam os pequenos comerciantes, os donos de tabernas, os pequenos
proprietários, boa parte dos pecuaristas. “Era um grupo liderado por Joaquim
Martins Fontes, da Vila de Lagarto e José Matheus Leite Sampaio, capitão-mor
das ordenanças da Vila de Itabaiana, que lutaram com muita bravura pela
emancipação, além de Bento Antônio da Conceição Matos, Pedro Cristino de Souza
Gama, José Manoel Machado Araújo e o padre Antônio Fernandes da Silveira”,
ressalta.
Carvalho enfatizou que institucionalmente o lugar onde se
fez a maior defesa da Emancipação foi a Câmara de Vereadores de Itabaiana.
“Os parlamentares itabaianenses propuseram às demais
câmaras, que se organizassem uma reunião para eleger o governador de Sergipe.
No processo de emancipação haviam três grupos: um que desejava a permanência
como colônia de Portugal, ligados à Bahia; um que desejava que declarasse a
independência do Brasil, mas mantivesse uma boa relação com Portugal,
organizando uma monarquia constitucionalista e o terceiro pretendia a
independência e a implantação imediata da República. Ou seja, blocos em
conflito no Brasil e em Sergipe entre 1808 e 1822”, completa.
Emancipação
No dia 5 de dezembro de 1822, D. Pedro I já imperador do
Brasil decretou que a Carta Régia de 8 de Julho 1820 estaria em vigor e que
Sergipe tinha autonomia e era uma das províncias do Império do Brasil. “Esse
processo de luta é longo, difícil e tenso. Os sergipanos tiveram um papel
importante e a gente percebe que valeu à pena a luta dos sergipanos. Com isso
podemos construir essa bela pátria, essa identidade cultural e política, que
nos orgulha e hoje estamos comemorando essa conquista”, afirma Jorge Carvalho
agradecendo a oportunidade à Alese.
“Quero parabenizar o deputado Luciano Bispo por mesmo com a
pandemia, ter assumido a responsabilidade de comemorar o bicentenário do Estado
de Sergipe e a iniciativa do deputado Iran Barbosa em apresentar propositura,
aprovada por todos os deputados, para que fosse definida uma programação
alusiva ao bicentenário da Emancipação Política de Sergipe, ao diretor da
Alese, Roberto Bispo, ao coordenador da comissão em comemoração ao Bicentenário
da Emancipação Política de Sergipe, Igor Albuquerque e a Irineu Fontes,
representante da Escola do Legislativo”, finaliza Jorge Carvalho.
Participações
A videoconferência contou com a participação dos deputados,
que interagiram com o palestrante, a exemplo de Iran Barbosa (PT), Francisco
Gualberto (PT), Goretti Reis (PSD), Maria Mendonça (PSDB), Dr. Samuel Carvalho
(CIDADANIA), Garibalde Mendonça (MDB) e Zezinho Sobral (PODE), Todos elogiaram
a explanação do historiador e destacaram a importância da data em comemoração à
independência de Sergipe, mostrando orgulho por serem sergipanos.
Na sessão comemorativa foi exibido um vídeo da TV Alese,
sobre a data, com destaque para os símbolos de Sergipe, a exemplo do hino
ressaltado pela historiadora Aglaé Fontes, como o mais importante do estado.
“Está na hora de o Hino de Sergipe voltar a ser cantado nas escolas, passando
para os nossos alunos, a importância de ser sergipano”, entende.
Texto e imagem reproduzidos do site: al.se.leg.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário