Foto: Mário Sousa
Publicado originalmente no site do GOVERNO DE SERGIPE, em 08 de Julho de 2020
Os dois séculos em tempos de pandemia
As terras de Cerezipe entram na história nos primórdios da
colonização, quando, a ferro e fogo, foram dizimados os índios, seus primitivos
habitantes. Exterminados ou escravizados os gentios; em pouco tempo, entre as
barras do Vaza Barris e do Sergipe, ultrapassando as serranias de Itabaiana ou
seguindo, bem ao norte, o curso do São Francisco, surgiram os currais. Ao
terminar o primeiro século da existência do Brasil, as povoações da Bahia e
Pernambuco já eram abastecidas com o gado dos pastos de Cerezipe. Dos primeiros engenhos, instalados nas terras
de massapês, já eram enviadas à Europa uma considerável quantidade de caixas de
açúcar, e aqui, foram aumentando,
continuadamente, os povoadores e os seus empreendimentos.
Cerezipe era, contudo, um apêndice da grande Bahia, mas,
passado algum tempo, os aqui nascidos estariam a exigir a sua própria
identidade.
Não foi fácil extrair da Corte a Carta Régia datada de 8 de
julho de 1820, que atendia aos sergipanos, e dava autonomia a um Sergipe
del Rei, separado da Bahia, cuja
influência política fora um permanente obstáculo às nossas pretensões.
Mas, enfim, chegamos aos duzentos anos de vida independente.
Coube ao destino que eu estivesse à frente do governo de Sergipe por ocasião
dessa grande efeméride.
Coube também, ao
destino, que eu estivesse, no governo, a enfrentar a maior crise já vivida pelo
nosso estado nesses duzentos anos de existência.
Havíamos programado um elenco de atividades comemorativas,
entendendo que iríamos viver o momento exato para fortalecer o nosso sentimento
de sergipanidade. O objetivo principal era fazer conhecer revisitando a nossa história, oferecendo ao nosso povo, através de variados
eventos culturais, o resumo pedagógico dessa afanosa trajetória de dois
séculos.
Constituímos uma comissão, dialogamos com intelectuais, artistas,
empreendedores, militares, e isso nos fez traçar um roteiro de eventos que se
transformariam em atração turística, e gerariam emprego e renda.
Seria uma espécie de ano de ouro de Sergipe.
Para aqui viriam grandes orquestras, grupos de teatro e folclóricos, bandas; teríamos desfiles,
shows, atividades escolares alusivas e permanentes, seminários, conferencias,
lançamentos de livros, enfim, seria a festa do nosso bicentenário de
independência, a festa por excelência de
exaltação a Sergipe e aos sergipanos; uma homenagem às gerações que
atravessaram o tempo, o passado a ser
rememorado, também estudado, analisado com pertinência, para que, conhecendo a
nossa história, pudéssemos melhor projetar o futuro.
A pandemia, essa tragédia que vive o Brasil, acabou a nossa
festa, e nos trouxe sofrimento, dor, agonias.
Como ente federativo de uma República que vimos nascer, pela
qual lutamos, e que desejamos vê-la sintonizada com os princípios que a
inspiraram, somos partícipes e solidários, na tarefa desafiadora lançada agora
diante de todos nós brasileiros. Por isso, concentrados no mesmo esforço, o
nosso bicentenário que não se comemora com luzes e sons, vem sendo o ano em que
os valores da gente sergipana mais intensamente estão sendo postos à
prova. Dois séculos de história nos
ensinaram muita coisa, e a lição maior é a de que, quando nos dividimos em
confrontos desnecessários, perdemos a perspectiva de futuro, e nos desviamos da
rota para alcançá-lo.
Passada essa quadra de tormentos, lágrimas, e perdas, iremos
nos retemperar, valorizar ainda mais a vida, reverenciando os que se foram,
homenageando a todos que se desdobraram para amenizar a dor, preservar vidas, e
ter a certeza de que, no nosso tricentenário, as crianças sergipanas, nas escolas exemplares do futuro,
debruçando-se sobre a nossa história, dirão: “ Nossos bisavós, há cem anos
construíram uma bela página de solidariedade, resistência e amor; aquele vírus
mortal, foi um dos últimos a causar pandemias, a matar as pessoas. Hoje, eles
não mais existem, como todas aquelas outras graves doenças que causavam tantas mortes.
A ciência abriu caminho para que nós, jovens do ano 2120, tenhamos uma
perspectiva de vida segura e longa, por isso, poderemos assistir o quarto
centenário de Sergipe, sem maiores sobressaltos “.
Agora, o que temos
pela frente, é a necessidade de
refazer o ritmo da vida, consolidar a esperança, acreditar no futuro e voltar intensamente a tentar construí-lo, da
melhor forma possível. Espero em Deus, que, como governador de todos os
sergipanos, estejamos, o mais rapidamente possível empenhados na grande missão,
que será recuperar o que foi perdido, e
com mais discernimento e fé, prosseguir na caminhada rumo ao PORVIR,
aquela palavra chave, que está caracterizada no nosso símbolo, o balão simples
sustentado por dois índios, nossos ancestrais. Aquele aeróstato, quando nem
ainda se conhecia a possibilidade da dirigibilidade dos balões, era uma alusão
futurista ao sonho de voar entre as nuvens.
Trabalho, realismo e sonho, são essenciais para que o
Sergipe del Rey, o nosso Sergipe, atravesse
os séculos comemorando com luzes a sua existência.
Que Deus esteja com este Sergipe del Rey, com o seu povo,
neste bicentenário, e nos centenários que virão.
BELIVALDO CHAGAS
Governador de Sergipe
Texto e imagem reproduzidos do site: se.gov.br
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