São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe
Cópia do Decreto de Emancipação Política de Sergipe,
datado de 1820. (Fotos: Maexwlle Cristinne/Arquivo/Supec)
Publicado originalmente no site do GOVERNO DE SERGIPE, em 08 de Julho de 2020
Sergipe celebra 200 anos de emancipação política
“Comemorar o Bicentenário da Emancipação Política do nosso
estado, num momento especial como estamos atravessando, é um misto de
privilégio e desafio. Privilégio, porque podemos celebrar aqueles que lutaram
com garra e determinação, há 200 anos, pela independência do nosso território
da Bahia; desafio, pelo fato de estarmos sendo diariamente estimulado a buscar
as soluções para as várias demandas que a nova realidade do nosso estado nos
apresenta”. A afirmação é do governador Belivaldo Chagas, ao celebrar a principal
data política de Sergipe.
“A lição que aprendemos com a história é rica em exemplos de
homens e mulheres que construíram um estado vencedor, nos deixando um grande
legado. É graças a estas pessoas que o 8 de julho é um marco valioso na
história de Sergipe. Saberemos honrar e celebrar os nossos valorosos
antepassados, que se empenharam em lutar pela liberdade e pelo desenvolvimento
do nosso estado”, destacou.
Há 200 anos, no dia 08 de julho de 1820, os sergipanos
receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política
de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi
marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da
Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da
emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em
seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania
independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a
participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução
Pernambucana de 1817.
O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão
de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de
dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital
baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as
famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a
historiadora.
Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII
a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da
atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações
sergipanas pelos portos baianos.
Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com
mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da
Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio
de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados
pela sociedade açucareira.
Contestação
Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom
João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro
Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho
de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São
Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia
que determinavam que ela não se realizasse.
Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade
ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador
foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo
apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José
Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.
Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a
emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não
queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores
de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em
defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela
Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta
Terezinha Oliva.
A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da
Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia
de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma
província do Império”, diz a historiadora.
Independência econômica
A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a
economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo
Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e
incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de
Salvador. Segundo ele, a base da
economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade açucareira
com um grande número de engenhos em funcionamento.
“As principais lideranças políticas e econômicas eram
vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do
território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade
principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de
casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da
atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na
zona canavieira”, destacou.
De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se
consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução
industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de
algodão causado pela guerra civil norte-americana.
A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da
indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão
dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do
século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com
a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e
mais adiante a produção de fertilizantes.
Duas datas
Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho
de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e
pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para
festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se
deu no dia 24 de outubro de 1836.
“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto
do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de
Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como
feriado da Emancipação”, conta.
As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da
elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da
recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década
de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de
outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da
Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de
Sergipe.
Sergipe celebra 200 anos de emancipação
“Comemorar o Bicentenário da Emancipação Política do nosso
estado, num momento especial como estamos atravessando, é um misto de
privilégio e desafio. Privilégio, porque podemos celebrar aqueles que lutaram
com garra e determinação, há 200 anos, pela independência do nosso território
da Bahia; desafio, pelo fato de estarmos sendo diariamente estimulado a buscar
as soluções para as várias demandas que a nova realidade do nosso estado nos
apresenta”. A afirmação é do governador Belivaldo Chagas, ao celebrar a
principal data política de Sergipe.
“A lição que aprendemos com a história é rica em exemplos de
homens e mulheres que construíram um estado vencedor, nos deixando um grande
legado. É graças a estas pessoas que o 8 de julho é um marco valioso na
história de Sergipe. Saberemos honrar e celebrar os nossos valorosos
antepassados, que se empenharam em lutar pela liberdade e pelo desenvolvimento
do nosso estado”, destacou.
Há 200 anos, no dia 08 de julho de 1820, os sergipanos
receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política
de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi
marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da
Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da
emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em
seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania
independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a
participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução
Pernambucana de 1817.
O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão
de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de
dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital
baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as
famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a
historiadora.
Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII
a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da
atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações
sergipanas pelos portos baianos.
Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com
mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da
Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio
de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados
pela sociedade açucareira.
Contestação
Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom
João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro
Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho
de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São
Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia
que determinavam que ela não se realizasse.
Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade
ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador
foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo
apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José
Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.
Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a
emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não
queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores
de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em
defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela
Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta
Terezinha Oliva.
A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da
Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia
de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma
província do Império”, diz a historiadora.
Independência econômica
A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a
economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo
Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e
incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de
Salvador. Segundo ele, a base da
economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade
açucareira com um grande número de engenhos em funcionamento.
“As principais lideranças políticas e econômicas eram
vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do
território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade
principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de
casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da
atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na
zona canavieira”, destacou.
De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se
consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução
industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de
algodão causado pela guerra civil norte-americana.
A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da
indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão
dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do
século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com
a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e
mais adiante a produção de fertilizantes.
Duas datas
Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho
de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e
pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para
festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se
deu no dia 24 de outubro de 1836.
“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto
do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de
Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como
feriado da Emancipação”, conta.
As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da
elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da
recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década
de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de
outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da
Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de
Sergipe.
Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br
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