terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O homem que me ensinou a ser bispo, por Dom Edvaldo

Foto: arquivo Lineu Lins.

Publicado originalmente no jornal Gazeta de Alagoas, em 01/01/2016.

O homem que me ensinou a ser bispo.
Por Dom Edvaldo G. Amaral*

O homem que me ensinou a ser bispo foi Dom Luciano José Cabral Duarte, figura exponencial do episcopado brasileiro nos anos 1970 a 2005. O ser Arcebispo Metropolitano de sua terra natal, Aracaju, é caso mais único que raro na história dos Bispos do Brasil. Quando padre, doutorou-se em filosofia pela Sorbonne de Paris, com brilhante tese escrita em francês que, infelizmente, só recentemente, após sua doença, foi publicada por sua irmã Carminha Duarte, com a tradução portuguesa. Grande Arcebispo, foi notável no campo da educação, como membro do Conselho Federal de Educação e presidente do MEB (Movimento de Educação de Base), criado pela Igreja do Brasil no combate ao analfabetismo, nos difíceis tempos do regime militar. Empenhou-se com todas as veras e conseguiu, após muita luta com o Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, a criação da Universidade Federal de Sergipe que, infelizmente, nunca soube reconhecer e ser-lhe devidamente grata por esse seu esforço decisivo para a educação em Sergipe.

O seu clero estava bem unido e solidário com sua ação pastoral. Alguns, de outras nacionalidades, que o combateram antes de sua promoção de bispo auxiliar para Arcebispo, retiraram-se quando ele assumiu o governo pastoral pleno de Aracaju. Cada ano tinha a grande alegria de promover pessoalmente a tradicional romaria a Divina Pastora, cuja igreja matriz era o santuário mariano da Arquidiocese. Na sua esclarecida ação social, criou a PROHCASE (Promoção do Homem do Campo de Sergipe), com terras de cinco fazendas, compradas ou recebidas em doação e nas quais número expressivo de agricultores trabalhavam para seu honesto sustento, mediante pequena contribuição para a Arquidiocese. Depois da experiência de alguns anos, as terras destas fazendas foram doadas aos que as cultivavam. Foi autêntica e sábia reforma agrária, tão apregoada e mal realizada pela esquerda brasileira.

Dom Luciano exerceu como poucos o ministério da Palavra. Suas homilias aos domingos, na igreja de São Gonçalo, transmitidas pela Rádio Cultura, eram autênticas lições de sábia teologia pastoral. O mesmo se pode dizer de seus programas na mesma rádio da Arquidiocese ao meio-dia dos domingos, seguidos por imenso número de ouvintes em todo o Sergipe.

Fui nomeado seu bispo auxiliar pelo Beato Paulo VI, que me elegeu bispo titular de Zallata, cidade antiga da Algéria. Foi Dom Luciano quem me sagrou bispo em Natal, em 20 de abril de 1975. Trabalhei ao seu lado por cinco anos e foi ele com sua experiência quem me reintroduziu na pastoral. Eu vinha do trabalho na educação, como diretor de escola, membro do Conselho Estadual da Educação e presidente da Associação de Educação Católica e do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Norte.

Muito aprendi de sua inquebrantável fidelidade ao Papa, sua irrestrita adesão ao ensinamento da Igreja de Jesus, sua decidida defesa do ensinamento pontifício, nos tempos difíceis, em que ele viveu e exerceu seu ministério. Tempos difíceis na política nacional e tumultuados dentro da Igreja, com posições teológicas equivocadas.

Enfim, foi Dom Luciano Duarte o homem que me ensinou a ser bispo...

* Arcebispo Emérito de Maceó

Texto reproduzido do site: gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas

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