Infonet > Blog Silvio Oliveira > 28/05/2015.
Tejupeba (SE): casa e colégio jesuíticos em Itaporanga.
Construções símbolos do período jesuítico em Sergipe.
Por Sílvio Oliveira/Infonet.
Historicamente Sergipe está apto a disponibilizar mais um
roteiro turístico para o país: “Caminhos dos Jesuítas”. Turisticamente,
necessita-se de um estudo de viabilidade. Mas é de conhecimento que as
construções da Companhia de Jesus em solo do Sergipe del Rei são dignas de
serem visitadas. Vale à pena percorrer o caminho dos jesuítas por Sergipe.
Tejupeba é a primeira da série.
Os jesuítas aportaram em Sergipe em 1575 por meio da missão
de São Tomé, de Santo Inácio e São Paulo, lideradas pelos padres Gaspar
Lourenço e João Salônio. O principal foco era levar a civilização cristã a essa
localidade, primeiramente, na região onde hoje é o município de Santa Luzia do
Itanhy. A capela de Santa Luzia era um marco do início do período dos jesuítas
no Estado, porém não mais existe.
Nas proximidades do rio Vaza-Barris, os jesuítas
instalaram-se na região hoje de domínio de Itaporanga D’Ajuda, com a construção
de um colégio, residência e igreja, complexo chamado à época de Tejupeba. Há
indícios de que lá também funcionou um estaleiro da Companhia de Jesus no
Brasil, com destaque além das terras de Sergipe del Rei.
Tejupeba também é um dos marcos das principais construções
do gênero no Estado por apresentar uma arquitetura bastante harmônica entre as
edificações, e por ter uma sofisticada arcada na parte externa da igreja. Ao
fundo, tem-se uma vista privilegiada do rio Vaza-Barris, o que denota que a
construção não estava ali por acaso, mas também por questões econômicas e
estratégicas.
Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1943, o
complexo arquitetônico abrange a edificação da casa-escola, a igreja, a casa
maior e o local onde eram as senzalas. Fica em propriedade particular da
família Mandarino,localizada hoje no povoado Nova Descoberta.
As partes artísticas e decorativas da igreja e do casarão já
não existem mais e a construção está em constante deteriorização. As paredes do
casarão são impregnadas de história, com andar térreo amplo, costumeiramente
dos colégios jesuítas. No andar superior, a sacada mostra uma visão da
propriedade e privilegiada da igreja. A divisão aparenta partes da residência,
com bastantes janelas.
Ao adentrar a igreja, partes do altar deteriorado motiva
certo descontentamento ao ver tamanho patrimônio ao chão. Na parte de trás,
onde provavelmente funcionou uma sacristia, os túmulos dos proprietários
pós-expulsão dos jesuítas também contam parte da história, mesmo que o piso
esteja completamente aos pedaços. São lápides indicando restos mortais da
tradicional família Dias Coelho e Mello. “Aqui jaz os restos mortais da
Baronesa de Estância”, diz um deles. No outro, restos mortais de Antônio Dias
Coelho de Melo, o Barão de Estância, filho de Domingos Dias Coelho e Melo
(Barão de Itaporanga) e de Michaela Coelho Dantas e Melo.
Para se ter uma ideia da história mais recente da fazenda,
em meados de 1920 o italiano Nicola Vibonatti Mandarino comprou a fazenda
Colégio (Tejupeba) aos herdeiros de Antônio Dias Coelho e Mellore batizando-a
com o nome de Iolanda, em homenagem a uma de suas filhas. A família Mandarino
detém a propriedade até os dias atuais. Houve restauro de parte da fazenda em
1953, 1955, 2004 e último em 2006, mas a família luta por uma reforma mais
ampla. Porém, a questão do tombamento e a falta de recursos os impedem de
retocar o patrimônio histórico.
A questão está na Justiça e é um exemplo clássico que o
tombamento não corresponde a garantia de conservação e proteção do bem
histórico e cultural. Enquanto isso, parte da história do Brasil cai em ruínas
e vira somente documentos e memória.
---------------------------
Fonte: Viagem realizada com participantes do III Ciclo de
Visita Técnica “Caminhos dos Jesuítas”, do Grupo de Pesquisas Culturas,
Identidades e Religiosidades – GPCIR, do Departamento de Histório da
Universidade Federal de Sergipe. Pesquisadores: Antônio Lindvaldo Sousa e
Josineide Luciano.
Texto e imagens reproduzidos do site:
infonet.com.br/silviooliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário