Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em
29/01/2016.
“Anistia não deveria valer para torturadores”.
Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram sequestrados e
torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por quase cinco anos.
Por: Valter Lima/Da equipe JC.
A Comissão Estadual de Verdade ouviu ontem Bosco Rollemberg
no segundo dia de depoimentos de pessoas que sofreram tortura, em Sergipe,
durante o período da ditadura militar. Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram
sequestrados e torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por
quase cinco anos. Ao JORNAL DA CIDADE, ele definiu o tempo em que foi alvo das
agressões dos militares como “um inferno” e se disse contrário à anistia dos
torturadores.
“Vivemos o inferno. Como o ser humano é capaz de coisas
maravilhosas e atos de amor e solidariedade, o ser humano também é capaz de muitos
crimes, de muita maldade. Fui amarrado, espancado. Eles me encapuzaram,
algemaram meus braços, colocaram uns óculos de borracha que apertava muito a
cabeça, me deram murros, pontapés, choques elétricos na orelha, na língua, no
pênis e nas nádegas, além da tortura psicológica. Me ameaçavam de morte.
Torturaram minha esposa que estava grávida”, relatou Bosco.
Ele pontuou que não perdoa os torturadores. “O perdão o
Estado já me pediu, mas eu não perdoo os torturadores. Acho um erro da
experiência do povo brasileiro a Lei de Anistia ter perdoado esses animais
bárbaros selvagens. Acho que é um erro que ainda deve ser reparado. Vamos lutar
para mudar isso”, disse.
Para Bosco Rollemberg, o depoimento prestado ontem tem como
principal significado tirar lições para os dias atuais. “Não tem aqui o
espírito de mágoa, revanchismo ou sofrimento. Mas de tirar lições, pois um País
que tem um projeto autônomo de desenvolvimento só alcançará êxito se fizer o
balanço das suas experiências. Qualquer cidadão com menos de 35 anos não tem a
consciência crítica nem informação do que foi o período da ditadura e por isso
não consegue ter a noção exata da importância da liberdade democrática, da
liberdade política, do direito e segurança de opinar livremente, de organizar
um partido, disputar eleições, respeitar os mandatos”, afirmou.
Comissão.
Os depoimentos para a Comissão Estadual da Verdade foram
iniciados na última quarta-feira, 26, quando Milton Coelho apresentou o seu
relato. Hoje será a vez de Wellington Mangueira. Pouco mais de 20 pessoas
falarão à comissão estadual. “Todos aqueles que foram presos durante a Operação
Cajueiro, processados ou não, e até quem participou e conviveu, será chamado
para prestar depoimento”, explica o coordenador do grupo, Josué Modesto.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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