Publicado originalmente no site Destaque Notícias, em
26/01/2016.
Comissão da Verdade de Sergipe ouve ex-preso político
A Comissão Estadual da Verdade deu início nesta terça-feira
(26) as audiências públicas para ouvir ex-presos políticos e outras vítimas do
golpe militar em Sergipe. Realizada no auditório do Museu da Gente Sergipana, a
audiência contou, em seu primeiro dia, com o depoimento de Milton Coelho,
vítima de tortura durante a Ditadura Militar, e com a presença de expectadores
da população.
Milton, que perdeu a visão durante a tortura infligida pelos
militares participantes da Operação Cajueiro, contou relatos dos maus-tratos
aos quais foi submetido. “Eu fui levado para as dependências laterais do 28º
Batalhão de Caçadores aqui em Aracaju e fui estupidamente torturado. Tenho
marcas no pulso, pois fui algemado, tomei choques elétricos, pontapés nas
costelas, enfim, foi uma barbaridade inconfessável. Após 50 dias preso e depois
de passar uma semana sendo torturado, perdi a visão imediatamente quando saí de
lá”, pontuou.
História conhecida
Vítima das barbáries cometidas em 1976 durante a Operação, e
carregando as marcas até hoje, Milton enfatizou a importância de dar luz a uma
série de acontecimentos que nem sempre são tratados com o devido cuidado. “É
necessário que a história seja conhecida. É preciso que sejam debatidos os
fatos passados, que não puderam ser expostos e comentados, para que se criem
condições democráticas e que, assim, não haja reversão no clima de democracia
que estamos vivenciando hoje. É sabendo da história que se educa politicamente
a população”, destacou.
Os seis integrantes da Comissão ouvirão ainda, durante esta
primeira fase, cerca de 20 pessoas. As sessões públicas são, contudo, apenas
uma das estratégias de coleta de material. Haverá ainda, se necessário, novas
oitivas e o recolhimento de depoimentos daqueles que desejam depor de maneira privada
ou por escrito, além do acesso aos arquivos públicos, para que assim seja
construído um relatório final, como explica Antônio Bittencourt, coordenador
dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência
Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh), responsável por estabelecer
a interlocução entre o Governo de Sergipe e os membros da Comissão.
“Essas ouvidas caminham simultaneamente a todo processo de
levantamento de documentos, ou seja, toda a pesquisa documental. Ao tempo que
as audiências estão acontecendo, nós já temos informações de arquivos, como por
exemplo, o Arquivo Público do Estado de Sergipe, onde temos algo próximo a 750
fichas do antigo DOPS de pessoas de Sergipe ou de fora do estado que passaram
por aqui e eram fichadas pelos Órgãos de Repressão da Ditadura Militar”,
detalhou. Ainda de acordo com ele, o papel da Comissão é “sobretudo um papel
educativo e didático, já que são eles [testemunhas] que farão com que a
sociedade enxergue tais acontecimentos para que jamais sejam repetidos. São
tempos que nós precisamos conhecer para que não mais aconteçam”, pontuou.
As audiências públicas terão continuidade durante o decorrer
da semana, quando serão ouvidos Bosco Rollemberg, na quinta-feira, 28, e
Wellington Mangueira, na sexta-feira, 29. Para o presidente da Comissão, Josué
Modesto dos Passos Subrinho, a expectativa é que com o acervo de depoimentos
que serão colhidos, se forme um panorama sobre a repressão política em Sergipe,
especialmente nesse período da Operação Cajueiro. “A ideia é termos materiais
para a reflexão histórica. Na realidade, há uma lacuna muito grande, já que a
imprensa sergipana à época não noticiou a Operação, então é como se isso não
tivesse existido, mas ovorreu e foi muito importante. E é isso que queremos
preservar na memória para a reflexão das futuras gerações”, enfatizou.
Sobre a Comissão
Instituída pelo governador Jackson Barreto através do
decreto nº 30.030, em 26 de junho de 2015, a Comissão Estadual da Verdade visa
o levantamento de informações relativas ao período de 1947 a 1985, e tem
caráter independente, com a cooperação das Secretarias de Estado da Mulher
Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos e da Casa
Civil.
Fonte e foto: ASN.
Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário