sábado, 15 de julho de 2017

Professores de antigamente


Publicado originalmente no site da PMA, em 11/03/2010.

Professores de antigamente
Por Ivan Valença*

O lançamento do livro da professora Carmelita Fontes, "Sementes na Calçada", ao qual por um infortúnio do destino (não estava me sentindo bem, por conta da minha velha e querida diabetes, no dia da festa) não pude comparecer, trouxe-me a mente os mestres que fizeram a escola dos anos 50, quando, a partir de 1957, comecei a estudar no Colégio Tobias Barreto.

Só fui aluno da professora Carmelita na segunda metade dos anos 60, quando a "redentora" já tinha se instalado e eu já cursava o primeiro ou segundo ano da Faculdade Católica de Filosofia. Mas, ela não me era estranha: acompanhava-a pelas páginas do jornal "A Cruzada", onde semanalmente escrevia sob o pseudônimo de Gratia Montiel.

Ela lecionava português, mas não posso dizer que fui bom aluno ou ao menos aplicado. Na verdade, era até um pouco relapso, porque já carregava nas costas o peso da responsabilidade de editar o jornal "Gazeta de Sergipe". Era salvo, quase sempre, pelas anotações de colegas como Alva Virginia e Cacilda que entendiam o meu trabalho e procuravam colaborar comigo.

Mas, no velho Tobias Barreto não tinha disso não. Costumava-se dizer que lá valia o slogan "papai pagou, passou". Podia até ser, mas comigo não funcionava. Eu tinha que estudar mesmo. A obrigação, porém, mais das vezes, era fator de alegria. Por exemplo: uma aula da professora Ofenisia Freire, de tão bem explicada, eram 50m de informações preciosas, era uma delicia de assistir. Aliás, menos de 50m, porque ela abria a aula, chamando um dos 30 alunos da classe para ler, em voz alta, um conto ou uma poesia.

Tive dois ótimos professores de matemática, e só lamento hoje a minha falta de interesse para com o assunto. Não tenho porém do que me queixar: professores Gesteira e Misael dominavam a ciência como poucos. Eu é que era relapso mesmo. O Professor Misael mal cumprimentava os alunos, fazia a chamada, voltava-se para o quadro e começava a decifrar equações complicadíssimas.

De repente, virava-se e mandava este ou aquele que estivesse em pé para fora. Fui o escolhido certa vez. Fiquei tão triste com isso que fui tomar satisfação com ele. "Professor, não era eu que estava a conversar". "Mas, era você que estava de pé"... Gostava, porém, das aulas de geografia do professor Thiers Gonçalves que, mesmo na sala de aula, não largava o inseparável cigarro. Será que, depois que se tornou juiz, ela fazia audiências também fumando? Outro que fumava à beça era o dr. Monteirinho, também professor de geografia. Usava uma piteira, da qual não largava nunca

Por essa época tive uns dois ou três professores que estavam se lixando para as conversas paralelas dos assuntos. Um deles ensinava história. De memória, ditava, com pontos e vírgulas, textos que estavam na sua memória. Memória prodigiosa. Não me recordo bem o nome dele, agora que digito esse texto. Eu, e meus colegas - principalmente o hoje drº Fedro Portugal e José Luiz, um gaúcho - prestávamos bastante atenção e ficávamos até impressionados com os detalhes e as minúcias que ele revelava. Outra ótima professora de história, talvez uma das melhores que tive no período, foi a professora Zamor. Ela hoje está com 102 anos. Viva ela, portanto.

Fedro era filho do professor Portugal, que nos ensinava inglês. Gordo ao extremo, o que tinha de gordura tinha de brincalhão. Mas era um dos melhores mestres que eu jamais tive. A convite dele, passei a acompanhar as aulas de língua estrangeira que ele ministrava nos domingos pela manhã, das 7h ao meio-dia - e meio-dia em ponto começava a última classe, de russo... - na sua própria residência. O que sei de francês e italiano devo a ele.

Não posso deixar de lembrar do professor de química, Caetano Quaranta. Torcedor doente do Sergipe, suas aulas eram um misto de química... e futebol. Os colegas torcedores do Confiança ficavam doentes, ter que agüentar aquela gozação de um torcedor do Sergipe. Caetano era também um amante de teatro. No TECES, o Teatro do Colégio Atheneu Sergipense, ele encenou várias peças, descobrindo em seus alunos talentos extraordinários para a arte cênica, como Francisco Varela e Washington Camillo.

O professor de Física era Esmeraldino Casali, cuja dicção me parecia diferente. Sei hoje que ele tinha a língua presa, mas na época a gente ficava intrigado. A professora Lindinalva (ou era Lindalva?) lecionava ciências e, algumas vezes, íamos para um quartinho onde ficavam os apetrechos de química e física, mais os de ciências naturais...

Simpatia e competência misturavam-se na figura do professor Sérgio, que nos ensinava desenho. Os colegas, porém, não gostavam das aulas de latim, ministradas pelo professor João Cajueiro. É que este não era de falar muito, mas exigia um bocado. Já o Padre Pedro era querido por todos. Aquela estória de declinações - a, ae, ae, am, a, a - era recitada por eles, a todo início de aula.Havia muito mais professores, evidentemente. Estes, porém, formavam a nata do Colégio Tobias Barreto, na época sob a direção do professor Alcebíades Vilas Boas.

*Ex-aluno do Tobias Barreto e da Faculdade Católica de Filosofia, jornalista da Gazeta de Sergipe, crítico de cinema e co-fundador do Jornal da Cidade.

Texto e imagem reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

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