sábado, 29 de novembro de 2014

Catálogo de Renda Irlandesa é lançado em Aracaju com presença das rendeiras


Fotos: Priscila Reis/Secult

Publicado originalmente no site Sergipe Cultural, em 27/11/2014.

Catálogo de Renda Irlandesa é lançado em Aracaju com presença das rendeiras

O modo de fazer renda irlandesa em Sergipe é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O título, concedido em 2008, só fez aumentar o interesse de pesquisadores culturais e da indústria da moda e do design pelo produto feito a mão por mulheres sergipanas. Para melhor divulgar essa arte e turbinar a economia nesses municípios, foi formatado um Catálogo de Produtos da Renda Irlandesa em Sergipe, lançado na noite de quarta-feira, 26, no Museu da Gente Sergipana.

O catálogo é uma iniciativa da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Sergipe, em parceria com o Instituto Banese, o Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e outros órgãos, e da Prefeitura Municipal de Divina Pastora. “Trata-se de uma iniciativa no contexto Plano de Salvaguarda de Bens Registrados, que compreende ações de proteção a esses bens, organizadas em eixos e tipos pré-estabelecidos, com metas de curto, médio e longo prazo e resultados sistematicamente monitorados”, explica a superintendente do Iphan/SE, Terezinha Oliva.

Representando o governador Jackson Barreto no evento, a secretária da Cultura, Eloísa Galdino, parabenizou todos os envolvidos no projeto. “É uma iniciativa importantíssima, tanto do ponto de vista patrimonial quanto da economia criativa. São peças riquíssimas produizidas no interior do nosso Estado que estão ganhando o mundo da moda e do design. Quero aqui felicitar todos pela iniciativa, mas, especialmente, as rendeiras aqui presentes”, discursou Eloísa.

Dona Alzira Menezes, uma das rendeiras presentes, mostrou-se orgulhosa com o catálogo. “Estou muito feliz de ver o zelo que todos têm com o nosso trabalho e tenho certeza de que essa felicidade também está presente em todas as minhas amigas que aqui estão, pois vai aumentar o interesse de gente de todo o Brasil pelos nossos produtos”, declarou.

Sobre a renda irlandesa

O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora, no Estado de Sergipe, é relacionado ao universo feminino e vinculado, originalmente, à aristocracia. A partir, especialmente, da metade do século 20, a confecção da renda surgia como uma alternativa de trabalho, e hoje essa tarefa ocupa cerca de trezentas artesãs, além de ser uma referência cultural. O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora/SE, foi inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2009.

Constitui-se de saberes tradicionais que foram re-significados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade. Trata-se de uma renda de agulha que tem como suporte o lacê, cordão brilhoso que, preso a um debuxo ou risco de desenho sinuoso, deixa espaços vazios a serem preenchidos pelos pontos. Estes pontos são bordados compondo a trama da renda com motivos tradicionais e ícones da cultura brasileira, criados e recriados pelas rendeiras.

O “saber-fazer” é a qualidade mais característica da produção da Renda Irlandesa, a qual é compartilhada pelas rendeiras sob a liderança de uma mestra reconhecida pelo grupo. As mestras traçam o risco definidor da peça, que é apropriado coletivamente. Fazer Renda Irlandesa é, portanto, uma atividade realizada em conjunto, o que permite conversar, trocar ideias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidades, são reafirmados sentimentos de pertença e de identidade cultural, possibilitando a transmissão da técnica e o compartilhamento de saberes, valores e sentidos específicos.

A cidade de Divina Pastora se tornou o principal polo da renda irlandesa em razão de condições históricas de produção vinculadas à tradição dos engenhos canavieiros, à abolição da escravatura e às mudanças econômicas que culminaram na apropriação popular do ofício de rendeira, restrito originalmente à aristocracia. A renda irlandesa é um tipo de renda de agulha, dentre as muitas existentes no Brasil. Combina uma multiplicidade de pontos executados com fios de linha tendo como suporte o lacê, produto industrializado que se apresenta sob várias formas, sendo o fitilho e o cordão os mais conhecidos na atualidade.

Texto e imagens reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

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