quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Sergipe Notícia Entrevista Terezinha Oliva.


“Cuidar do patrimônio é uma responsabilidade de todos”.
"Sergipe tem um patrimônio cultural riquíssimo”. (Terezinha Oliva).

Sergipe Notícias: Como tem sido a conservação do patrimônio de Aracaju?

Terezinha Oliva: Em Aracaju, não há ainda bens tombados pelo IPHAN. Tramita um processo que já tem o estudo justificando a proteção federal e está nas providências finais. O passo seguinte à fase atual será o envio à decisão do Conselho Consultivo do IPHAN. Mas a cidade já fez, em 2010, juntamente com o IPHAN, o seu Plano de Ação para Cidades Históricas, identificando a área que deseja ver protegida pelo Governo Federal e as ações de proteção que são necessárias, cuja primeira obra foi realizada com a reforma da Praça Camerino, executada em convênio com a Prefeitura Municipal de Aracaju e entregue em 2014. O que já tem a proteção do IPHAN são os bens do patrimônio ferroviário - o complexo ferroviário e a conhecida "estação da Leste". São bens valorados, o que é uma forma de proteção diferente do tombamento. As obras de restauração de todo o Complexo Ferroviário vão acontecer pelo Programa de Aceleração do Crescimento para Cidades Históricas e já foram licitados os projetos.

SN: Sergipe é um estado rico em patrimônio cultural. Quais são os mais importantes do estado e qual seu significado na formação da cultura de nosso povo?

TO: Sim, Sergipe tem um patrimônio cultural riquíssimo. Desde a década de 1940, o IPHAN, criado em 1937, tombou vários bens no nosso Estado. Hoje eles são 27, entre os quais dois sítios urbanos - os sítios históricos de São Cristóvão e de Laranjeiras com todas as edificações do perímetro. Além disso, temos mais de 130 sítios arqueológicos cadastrados, os bens do patrimônio ferroviário com declaração de valor em Propriá, Boquim e Aracaju e um bem registrado, o saber fazer renda irlandesa. Mas o Inventário Nacional de Referências Culturais já realizado em Laranjeiras, em Barra dos Coqueiros e em 13 municípios da região do São Francisco (1ª fase) identificou vários bens do patrimônio imaterial. Sabemos que há uma riqueza enorme de bens do patrimônio que ainda não têm proteção federal, mas muitos deles já têm tombamento estadual ou municipal.

SN: Quais as maiores dificuldades encontradas pelo Iphan na questão de administração do patrimônio histórico nacional em Sergipe?

TO: As maiores dificuldades dizem respeito à amplitude das questões de patrimônio e ao tamanho da equipe do IPHAN. Ela cresceu, nos últimos dois anos, mas o número de técnicos ainda não é suficiente para garantir a presença constante na fiscalização, na orientação, na identificação do patrimônio cultural e na educação patrimonial. As demandas são crescentes, porque patrimônio cultural hoje tem a ver com tudo: com ações de licenciamento ambiental, com desenvolvimento sustentável, com o crescimento urbano, com questões sociais, enfim, é praticamente impossível falar de algum tema que não envolva o patrimônio cultural. Isto exige muito da equipe em termos de estudos, de avaliações, de fiscalização, de educação patrimonial, exige ser multidisciplinar e, se fosse possível, ser onipresente. Nenhum órgão sozinho dá conta de tudo isso; por este motivo, a legislação prevê que a responsabilidade pelo patrimônio cultural é dos entes públicos e da sociedade. O grande desafio agora é o do compartilhamento desta responsabilidade, razão pela qual existem os convênios, os acordos de cooperação, as diversas ações nas quais o IPHAN se coloca como coordenador e isto fica claro na definição da sua missão. O IPHAN não se vê sozinho nesta missão, mas quer compartilhá-la com todas as instâncias do poder e da sociedade.

SN: Qual o significado da Praça São Francisco como patrimônio histórico da humanidade?

TO: Entrar na Lista do Patrimônio Mundial significou dizer que Sergipe tem um bem cuja preservação interessa a toda a humanidade. A Praça São Francisco foi alçada ao mesmo patamar em que estão as muralhas da China, as pirâmides do Egito e outras importantes realizações do engenho humano. Ela representa a fusão de padrões urbanísticos do período da União das Coroas portuguesa e espanhola, mantendo íntegro um ambiente em que, além da arquitetura significativa, se praticam manifestações culturais tradicionais como a Procissão de Senhor dos Passos. Este bem do patrimônio cultural projeta no mundo, a cidade de São Cristóvão, Sergipe e o Brasil. Cuidar da sua preservação é responsabilidade a ser compartilhada pelo Governo e pela sociedade. Por isso, no mês de dezembro, foi instalada a Comissão para a Gestão da Praça São Francisco, composta por representantes do IPHAN, do Estado de Sergipe, do Município de São Cristóvão e da sociedade civil. Esta Comissão vai elaborar um Plano de Gestão comprometendo nele todas as instâncias nela representadas.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Tereza Mércia Alves Oliva.

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