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Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em
18/08/2014.
A escrita de Maria Lígia Madureira Pina
Por: José Anderson Nascimento
A escritora, poeta, professora e acadêmica Maria Ligia
Madureira Pina, falecida em 14 de agosto de 2014, era uma ilustre sergipana que
se dedicou ao ensino e às letras, tanto na composição de belíssimos poemas,
como na escrita de ensaios historiográficos e de crônicas. Filha de Affonso
Pinna e de D. Alexandrina Madureira Pina, Lígia Pina, como era mais conhecida
no meio acadêmico, nasceu em Aracaju, Sergipe, a 30 de setembro de 1925. Fez as
primeiras letras com a Professora Carlota Sales de Campos, no Colégio Frei
Santa Cecília, em Aracaju, transferindo-se depois, para o Grupo Escolar Manuel
Luiz e, em seguida, para o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde concluiu o
curso primário. Cursou o secundário no Instituto de Educação Rui Barbosa,
quando iniciou com as suas atividades literárias, muito incentivada pelas
professoras Maria Conceição Melo Costa, Julia Teles e Dalva Costa.
Já professora, graduada pela Escola Normal, tentou fugir do
magistério, para atuar como comerciária, na firma Cabral Machado & Cia.,
tentativa esta frustrada diante da sua vocação pelo magistério, principalmente
porque havia conquistado no curso do Instituto de Educação Rui Barbosa, um
amadurecimento social e cultural, capaz de transmitir aos adolescentes
aracajuanos, os conhecimentos obtidos naquela modelar instituição de ensino
público, formadora de uma plêiade de profissionais do ensino, que se destacaram
no cenário educacional do Brasil.
No curso superior, muito incentivada pelos professores José
Silvério Leite Fontes, Maria Thetis Nunes, Josefina Leite, Lucilo Costa Pinto,
Felte Bezerra, Gonçalo Rollemberg Leite e D. Luciano Cabral Duarte, Lígia Pina
dedicou-se ao estudo da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia, da
Geografia, da Literatura e, principalmente da História, dando início, assim,
aos ensaios publicados nesse campo, além de outras pesquisas com o foco na
Pedagogia.
Graduada em História e Geografia, na Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe, firmou-se no magistério, por mais de três décadas,
lecionando aulas de História, Geografia e Sociologia, com atuação, desde 1959,
em colégios da capital sergipana, entre eles o Colégio Nossa Senhora de
Lourdes, o Instituto de Educação Rui Barbosa, o Colégio de Aplicação da
Universidade Federal de Sergipe; e, também, no Colégio Estadual de Sergipe e no
Colégio Tobias Barreto.
No decorrer da sua carreira no magistério estadual, a
intelectual que subitamente nos deixou, transferindo-se deste Oriente para o Oriente
Eterno, participou de vários eventos educacionais, tanto no Brasil, como no
exterior, valendo destacar as suas experiências internacionais no Curso de
Sistemas Educacionais a que frequentou em Israel, no ano de 1989.
Paralelamente à sua atividade no magistério, Lígia Pina,
muito produziu textos literários e trabalhos didáticos para a orientação de
adolescentes, como: As Riquezas do Brasil, em 1969; O Poema Histórico da Ordem
Sacramentina, em 1970; O Viajante do Tempo, em 1977; o Ponto Ômega, 1979; Patrícios
e Plebeus, entre outros, que tiveram grande repercussão nos meios educacionais
do Estado de Sergipe.
Ao lado de tudo isso, a intelectual aqui referenciada, no
seu livro de poemas Flagrando Vida, publicado pela Sociedade de Cultura
Artística de Sergipe, em 1983, demonstrou os seus pendores literários,
despertando o sentimento do belo. De igual forma, no seu livro Satélite Espião,
produziu poemas com extrema qualidade lírica.
Mas, foi na prosa, especialmente no livro A Mulher na
História, que a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina veio a se notabilizar, no
cenário intelectual de Sergipe.
A Mulher na História é um repositório de preciosas e
importantes informações, pois adotando o método de pesquisa bibliográfico, com
algumas incursões no método empírico, ela narra toda a trajetória da mulher,
desde a mais longínqua Antiguidade até aos dias atuais.
Nesse livro, começa por analisar as origens da discriminação
da mulher, a partir da função biológica, própria do sexo feminino; dos tabus
que passaram de geração a geração e a sua segregação bíblica. Mostra, ainda, a
submissão da mulher na Antiguidade Clássica, sob o regime do patriarcado,
quando era submetida a uma capitis iminutio perpétua: o marido podia repudiar a
mulher; era legal a subordinação total da mulher à autoridade marital.
Ao recebê-la na Academia Sergipana de Letras, quando tomou
posse na Cadeira número 27, numa memorável sessão acontecida em 13 de maio de
1998, concentramo-nos na análise do seu livro, A Mulher na História, que
apresenta um elenco importantíssimo das representantes do sexo feminino, em
todas as áreas do conhecimento humano, valendo destacar Rosa de Luxemburgo,
líder socialista e uma das grandes expressões da Economia Política; Simone de
Beauvoir, romancista e feminista, autora do livro O Segundo Sexo, que trata da
emancipação feminina; Coco Chanel, que revolucionou o mundo da moda; Agatha
Christie, romancista mundialmente conhecida; Virgínia Wolf, escritora que
introduziu o romance psicológico e lutou contra os padrões literários da Era
Vitoriana; Dolores Ibárruri (La Passionara), líder operária espanhola, que
lutou contra a opressão do Generalíssimo Francisco Franco; Golda Meir,
fundadora do Estado de Israel e Madre Tereza de Calcutá, que dispensa
comentários, diante da sua trajetória em benefício dos menos afortunados.
A Lígia Pina, na sua obra literária, exibe-nos um formidável
painel das mulheres que se projetaram no balé, no teatro, no cinema, nas artes,
e focaliza as mulheres brasileiras que tiveram uma maior participação na
política, na literatura, na música, nas artes plásticas, na aviação, na
filantropia e beneficência, exemplo de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, Joana
Angélica de Jesus, Ana Néri, Anita Garibaldi, Princesa Isabel, Cecília
Meireles, Raquel de Queiroz, Dinah Silveira de Oueiroz, Cora Coralina, Madalena
Tagliaferro, Bidu Sayão, Chiquinha Gonzaga, Alice Tibiriçá, Tarcila do Amaral,
Carmem Miranda, Anésia Pinheiro Machado, Irmã Dulce.
Na sua escorreita escrita, a professora Lígia Pina dedicou
um especial capítulo à mulher sergipana, dando ênfase especial às educadoras
laranjeirenses Possidônia Bragança e Zizinha Guimarães. Ressalta a atuação das
intelectuais Etelvina Amália de Siqueira, Leonor Teles de Menezes e Cezartina
Régis, ex-alunas da Escola Normal e pioneiras do Movimento Cultural Feminino,
em Sergipe.
Nesse mesmo sentido, a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina,
abriu páginas indeléveis fincando a participação de Quintina Diniz de Oliveira
Ribeiro, professora e política; da jurista Maria Rita Soares de Andrade e da
poetisa Carlota Sales de Campos.
Genésia Fontes (D. Bebé), na filantropia; Flora do Prado
Maia, no romance; Leyda Regis, na contabilidade, Rosa Faria nas artes plásticas
e Yvone Mendonça e Celina de Oliveira Lima, no magistério, receberam especial
registro no livro A Mulher na História.
No destaque final da sua obra, Lígia Pina dedicou-se ao
estudo da vida e da obra das acadêmicas Ofenísia Freire, Maria Thetis Nunes,
Núbia Marques, Carmelita Pinto Fontes e Gizelda Morais, escritoras, cientistas
sociais, poetisas e romancistas, todas elas dedicadas, também, ao magistério e
responsáveis pelo desenvolvimento moral e cultural do homem sergipano.
Texto reproduzido do site:
jornaldacidade.net/artigos-leitura
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