Publicado originalmente no site Grande Aracaju, em
12/07/2012.
Amando Fontes e a sua contribuição para a cultura sergipana.
A literatura sergipana tem vários escritores importantes,
desde poetas até os memorialistas, e que, inclusive, são conhecidos e
respeitados no âmbito nacional. Destaca-se, aqui, o romancista Amando Fontes
que produziu as obras “Os Corumbas”, publicado em 1933, e “Rua do Siriri”, que
foi publicado em 1937. O autor nasceu em 15 de maio de 1899, na cidade de
Santos, Estado de São Paulo; filho do farmacêutico Turíbio da Silveira Fontes e
de Rosa do Nascimento Fontes. Logo, com o pai falecido, ele veio morar em Aracaju
e ficou aos cuidados dos avós paternos, vivendo na Fazenda Aguiar e em Aracaju.
Ele frequentou o Ateneu Sergipense; aos quinze anos trabalhou como revisor do
Diário da Manhã (Aracaju); fez várias viagens pelo país; elegeu-se Deputado
Federal (1946); enfim, ele faleceu em 01 de dezembro de 1967[1].
Apesar de ter nascido em Santos, ele pertence à literatura
brasileira, principalmente pelo reconhecimento nacional das suas duas obras e
por ter apoio da famosa (década de 1930) Editora José Olympio, e, faz parte da
literatura sergipana, porque retrata a cultura e história dos aracajuanos, como
as fábricas e os antigos cabarés. O seu espírito de escritor é uma formação da
terra, ou seja, ele vivenciou e respirou a cultura sergipana. Segundo Jackson
da Silva Lima, para fazer parte e ser considerado literário sergipano, um
escritor deve ter uma formação cultural local e que se realizou desde os
primeiros anos de vida, participando de movimentos e manifestações culturais.
Em resumo: Amando Fontes não é sergipano de nascimento, mas de cultura; bem
como divulgador da identidade de Sergipe[2].
Amando Fontes tem a característica do estilo que teve grande
ênfase na década de trinta no cenário brasileiro: utiliza uma linguagem mais
simples, os personagens são populares e oprimidos, e tenta mostrar mais
veracidade nas suas obras. No “Os Corumbas”, o cotidiano dos personagens é
inspirado nas fábricas que realmente existiriam em Aracaju, como também nas
greves operárias, nas mortes dentro das fábricas e nos abusos dos industriais.
Em “Rua do Siriri”, a narrativa começa com a indignação das prostitutas, pois
tinham sido empurradas, pelo governo do Estado, para a famosa zona do Siriri –
um lugar que realmente existiu[3].
O autor faz parte do chamado “Romance Industrial”, pois se
refere a uma produção romanesca de 1930, que tem como foco a sociedade industrializada,
mostrando o mundo subalterno, isto é, os temas mais polêmicos. Se junta a isso,
o caráter de tentar, ao máximo, tornar a literatura mais verossímil com a
sociedade do leitor – a ficção seria uma representação das questões sociais,
políticas e econômicas[4].
Enfim, as obras de Amando Fontes ajudam a entender a antiga
Aracaju e como as pessoas viviam, no início do século XX. Ao mostrar, através
da literatura, um passado, que poderia ter ficado esquecido, ele entra para o
quadro dos literários sergipanos.
Sobre o autor: Graduado em História (UFS), Especialização em
andamento em Ensino de História: Novas Abordagens (FSLF), e recente aprovado no
Mestrado em História (UFS). Pesquisa sobre a cultura operária sergipana. Email:
wagneroficial@bol.com.br
[1] Para saber mais sobre a biografia de Amando Fontes, ver.
FONTES, Amando. Introdução. In: Os Corumbas. 25ª Ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003. Ver também NASCIMENTO, Jorge Carvalho Do. Literatura Sergipana
Prosa Antologia. Aracaju: SEER, 1998.
[2] Ver mais em SILVA LIMA, Jackson Da. História da
Literatura Sergipana. Volume Um. Aracaju: Livraria Regina, 1971.p. 33-37.
[3] O fragmento do romance é o seguinte: “LOCALIZAÇÃO DO
MERETRICIO. EDITAL. De ordem do Exmo. Snr. Dr. Chefe de Policia do Estado, ficam
intimadas todas as mulheres de vida facil que hoje residem nas ruas de Arauá,
Estancia, Propriá e Santa Luzia a se mudarem, no prazo improrogavel de 8 (oito)
dias, para a rua do Siriry, no trecho comprehendido entre as ruas de
Laranjeiras e Maroim. Aracajú, 1º de Dezembro de 1918. O Secretario. Manuel de
Barros Maciel.” (FONTES, Rua Do Siriry, 1937, p. 08 – grifos presentes no
original).
[4] SILVA, Maria Ivonete Santos. Romance Industrial:
aspectos históricos e sociológicos da obra de Amando Fontes. Brasília; Fundação
Universidade de Brasília; Aracaju: Governo do Estado de Sergipe/Fundesc, 1991;
ver também MELLO E SOUZA, Antonio Cândido de. A Revolução de 1930 e a Cultura.
São Paulo: Novos Estudos Cebrap, v. 2,4, p. 27-36, abril 84.
Texto reproduzido do site: grandearacaju.com.br
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