Publicado originalmente no site ASN, em 14 de Julho de 2015.
Sergipe tem história e estórias à beça.
Comemorando os 195 anos da Emancipação Política de Sergipe,
a Agência Sergipe de Notícias publicou uma série de reportagens contando nossa
história e o que temos de mais genuíno, cultura, costumes e nossa gente
Camila Santos, repórter ASN.
História e estórias povoam o imaginário popular e dão eco a
lendas e mitos repassados no tempo. Sergipe tem os seus causos, alguns contados
e recriados até os dias atuais. Em seu nome, o estado traz a marca do povo
nativo, o que mais sofreu com a colonização e praticamente extinto, mas nunca
esquecido. A herança indígena está em todos os cantos do estado, mas o caso
mais lembrado talvez seja o do Cacique Serigy e sua “maldição” que vem da
segunda metade do século XVI. Transformado e adaptado, virou poesia, música e
até cinema.
“Originário do tupi si’ri ü pe, quer dizer "no rio dos
siris", tendo sido mais tarde adotado Cirizipe ou Cerigipe, que significa
"ferrão de siri", nome de um dos cinco caciques que se opuseram ao
domínio português”, explica o professor Adailton Andrade no site Fonte da
história de Sergipe. Serigy comandou a resistência à colonização e liderou
bravamente os guerreiros de sua tribo durante quase três décadas, até a
conquista portuguesa em 1590 e a fundação da Capitania de Sergipe Del Rey.
Serigy era líder incontestável no território sergipano. Seu
povo vivia entre os atuais rios Vaza-barris e Sergipe. Sua resistência a
invasão deu origem à lenda de uma suposta maldição, que uma vez enfurecido por
ter sido expulso de suas terras, teria praguejado que nada gerado ali daria
bons frutos. Mas nos versos para a “Maldição do Cacique Serigy” de Vinícius
Oliveira, que afirma ser descendente do índio, a maldição não foi para o
território:
“(...) Mas é preciso pensar
que o amaldiçoado
não foi a terra não
foi o opressor pela opressão
Então é preciso invocar
Pela coragem do cacique Serigy
Uma magia convocar
E nossas orações os corações inspirar”
Bom à beça
Basta reconhecer o intelecto de tantos sergipanos que se
fizeram ilustres e colocaram Sergipe no mapa nacional para esquecer de vez a
tal maldição. Um deles, por seu talento argumentativo, teria sido a origem de
uma expressão popularizada pelo país inteiro e que liga seu sobrenome como
sinônimo de “abundância”. Está no dicionário Houaiss com o significado de
"em grande quantidade", com os ss substituídos pelo ç e o b
minúsculo. “À beça - Argumentar à Bessa”, ou seja, à maneira do advogado e
jornalista sergipano, Gumercindo Bessa, nascido em Estância em 1859 e falecido
em 1913.
A expressão teria surgido do embate entre o sergipano e o
baiano Ruy Barbosa que debatiam sobre a região amazônica do Acre, logo após a
compra do território pelo Brasil em 1903. Ruy defendia a incorporação ao Estado
do Amazonas, enquanto Gumercindo Bessa defendia a elevação do Acre a território
federal, desvinculado administrativamente do Amazonas. “Foi um pega pra capar
dos bons, entre dois monstros do direito brasileiro. Os argumentos de Bessa, às
dezenas, foram expostos durante horas e horas de falatório, com uma eloquência
surpreendente. O sergipano levou a melhor, numa das poucas derrotas de Rui numa
querela jurídica”, relata o Dicionário informal. Não apenas pela quantidade de
argumentos, mas, sobretudo, por serem convincentes a expressão se popularizou.
A história é famosa, mas há quem a conteste. Em forma de
lenda, estória ou história, o fato é que Sergipe tem muito a contar. Assim como
Bessa, tantos outros notáveis sergipanos se destacaram, mostrando que o estado
não sofreu nenhum tipo de mau agouro.
Imortais
Um bom exemplo desta sorte está nos imortais sergipanos que
integram a Academia Brasileira de Letras (ABL): Tobias Barreto de Meneses
talvez seja o mais ilustre entre os sergipanos que já ocuparam as suas
cadeiras. Nasceu na vila de Campos, que é a atual cidade de Tobias Barreto, e
faleceu em Recife, em 1889. Formou ao lado do conterrâneo Silvio Romero a
Escola do Recife, em que se buscava uma renovação da mentalidade brasileira. Se
destacou, entre outras coisas, por sua oratória de mestre qualquer que fosse o
tema escolhido para debate.
Mas outros nomes podem ser lembrados: como o de João
Ribeiro, jornalista, crítico, historiador, pintor e tradutor. Nasceu em
Laranjeiras, SE, em 1860. Ele empresta seu nome a mais importante comenda da
ABL que distingue pessoas ou instituições brasileiras que tenham se
notabilizado no âmbito editorial ou cultural. E de Silvio Romero, folclorista,
professor e historiador da literatura brasileira, nascido em Lagarto, SE, em
1851. Além destes, também integraram a ABL os sergipanos Gilberto Amado
(Estância, SE), e seu irmão Genolino Amado (Itaporanga), Aníbal Freire da
Fonseca (Lagarto) e Laudelino Freire (Lagarto). Fonte: ABL.
Instituto Tobias Barreto
É possível conhecer mais do trabalho destes intelectuais no
Instituto Tobias Barreto, criado pelo jornalista e pesquisador Luiz Antônio
Barreto e que desde 2011 tem seu acervo sob a guarda da Universidade Tiradentes
(Unit). A diretora do Instituto, Raylane Navarro Barreto, ressalta que todo o
acervo tem uma importância bem significativa para o pesquisador, mas se pudesse
destacar algo seria a parte de história e literatura sergipana, por seus livros
raros e documentos específicos.
“O acervo é um dos elementos que constitui o Instituto
Tobias Barreto. Ele tem cerca de 25 mil títulos entre livros e periódicos,
entre 20 e 25 mil imagens, fotografias, incluindo cartões postais, fotos de
praças e personagens, políticos sergipanos. Uma boa parte trata da história de
Sergipe, mas sobretudo um acervo que envolve a cultura latino americana. Luiz
Antônio Barreto quando vivo adquiriu o acervo do diplomata sergipano Paulo
Carvalho Neto, que foi diplomata em algumas cidades da América Latina e também
nos Estados Unidos. Ele fez um grande recolha de livros, documentos, slides,
algumas imagens sob determinadas tribos de nativos latino-americanos e este
acervo se encontra aqui também”, informa a professora. Todo o material está
aberto ao público e boa parte pode ser consultado pela internet.
Texto e imagens reproduzidos do site: agencia.se.gov.br
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