sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Instituto Tobias Barreto,




Publicado originalmente no site ASN, em 14 de Julho de 2015.

Sergipe tem história e estórias à beça.

Comemorando os 195 anos da Emancipação Política de Sergipe, a Agência Sergipe de Notícias publicou uma série de reportagens contando nossa história e o que temos de mais genuíno, cultura, costumes e nossa gente

Camila Santos, repórter ASN.

História e estórias povoam o imaginário popular e dão eco a lendas e mitos repassados no tempo. Sergipe tem os seus causos, alguns contados e recriados até os dias atuais. Em seu nome, o estado traz a marca do povo nativo, o que mais sofreu com a colonização e praticamente extinto, mas nunca esquecido. A herança indígena está em todos os cantos do estado, mas o caso mais lembrado talvez seja o do Cacique Serigy e sua “maldição” que vem da segunda metade do século XVI. Transformado e adaptado, virou poesia, música e até cinema.

“Originário do tupi si’ri ü pe, quer dizer "no rio dos siris", tendo sido mais tarde adotado Cirizipe ou Cerigipe, que significa "ferrão de siri", nome de um dos cinco caciques que se opuseram ao domínio português”, explica o professor Adailton Andrade no site Fonte da história de Sergipe. Serigy comandou a resistência à colonização e liderou bravamente os guerreiros de sua tribo durante quase três décadas, até a conquista portuguesa em 1590 e a fundação da Capitania de Sergipe Del Rey.

Serigy era líder incontestável no território sergipano. Seu povo vivia entre os atuais rios Vaza-barris e Sergipe. Sua resistência a invasão deu origem à lenda de uma suposta maldição, que uma vez enfurecido por ter sido expulso de suas terras, teria praguejado que nada gerado ali daria bons frutos. Mas nos versos para a “Maldição do Cacique Serigy” de Vinícius Oliveira, que afirma ser descendente do índio, a maldição não foi para o território:

“(...) Mas é preciso pensar

que o amaldiçoado

não foi a terra não

foi o opressor pela opressão

Então é preciso invocar

Pela coragem do cacique Serigy

Uma magia convocar

E nossas orações os corações inspirar”

Bom à beça

Basta reconhecer o intelecto de tantos sergipanos que se fizeram ilustres e colocaram Sergipe no mapa nacional para esquecer de vez a tal maldição. Um deles, por seu talento argumentativo, teria sido a origem de uma expressão popularizada pelo país inteiro e que liga seu sobrenome como sinônimo de “abundância”. Está no dicionário Houaiss com o significado de "em grande quantidade", com os ss substituídos pelo ç e o b minúsculo. “À beça - Argumentar à Bessa”, ou seja, à maneira do advogado e jornalista sergipano, Gumercindo Bessa, nascido em Estância em 1859 e falecido em 1913.

A expressão teria surgido do embate entre o sergipano e o baiano Ruy Barbosa que debatiam sobre a região amazônica do Acre, logo após a compra do território pelo Brasil em 1903. Ruy defendia a incorporação ao Estado do Amazonas, enquanto Gumercindo Bessa defendia a elevação do Acre a território federal, desvinculado administrativamente do Amazonas. “Foi um pega pra capar dos bons, entre dois monstros do direito brasileiro. Os argumentos de Bessa, às dezenas, foram expostos durante horas e horas de falatório, com uma eloquência surpreendente. O sergipano levou a melhor, numa das poucas derrotas de Rui numa querela jurídica”, relata o Dicionário informal. Não apenas pela quantidade de argumentos, mas, sobretudo, por serem convincentes a expressão se popularizou.

A história é famosa, mas há quem a conteste. Em forma de lenda, estória ou história, o fato é que Sergipe tem muito a contar. Assim como Bessa, tantos outros notáveis sergipanos se destacaram, mostrando que o estado não sofreu nenhum tipo de mau agouro.

Imortais

Um bom exemplo desta sorte está nos imortais sergipanos que integram a Academia Brasileira de Letras (ABL): Tobias Barreto de Meneses talvez seja o mais ilustre entre os sergipanos que já ocuparam as suas cadeiras. Nasceu na vila de Campos, que é a atual cidade de Tobias Barreto, e faleceu em Recife, em 1889. Formou ao lado do conterrâneo Silvio Romero a Escola do Recife, em que se buscava uma renovação da mentalidade brasileira. Se destacou, entre outras coisas, por sua oratória de mestre qualquer que fosse o tema escolhido para debate.

Mas outros nomes podem ser lembrados: como o de João Ribeiro, jornalista, crítico, historiador, pintor e tradutor. Nasceu em Laranjeiras, SE, em 1860. Ele empresta seu nome a mais importante comenda da ABL que distingue pessoas ou instituições brasileiras que tenham se notabilizado no âmbito editorial ou cultural. E de Silvio Romero, folclorista, professor e historiador da literatura brasileira, nascido em Lagarto, SE, em 1851. Além destes, também integraram a ABL os sergipanos Gilberto Amado (Estância, SE), e seu irmão Genolino Amado (Itaporanga), Aníbal Freire da Fonseca (Lagarto) e Laudelino Freire (Lagarto). Fonte: ABL.

Instituto Tobias Barreto

É possível conhecer mais do trabalho destes intelectuais no Instituto Tobias Barreto, criado pelo jornalista e pesquisador Luiz Antônio Barreto e que desde 2011 tem seu acervo sob a guarda da Universidade Tiradentes (Unit). A diretora do Instituto, Raylane Navarro Barreto, ressalta que todo o acervo tem uma importância bem significativa para o pesquisador, mas se pudesse destacar algo seria a parte de história e literatura sergipana, por seus livros raros e documentos específicos.

“O acervo é um dos elementos que constitui o Instituto Tobias Barreto. Ele tem cerca de 25 mil títulos entre livros e periódicos, entre 20 e 25 mil imagens, fotografias, incluindo cartões postais, fotos de praças e personagens, políticos sergipanos. Uma boa parte trata da história de Sergipe, mas sobretudo um acervo que envolve a cultura latino americana. Luiz Antônio Barreto quando vivo adquiriu o acervo do diplomata sergipano Paulo Carvalho Neto, que foi diplomata em algumas cidades da América Latina e também nos Estados Unidos. Ele fez um grande recolha de livros, documentos, slides, algumas imagens sob determinadas tribos de nativos latino-americanos e este acervo se encontra aqui também”, informa a professora. Todo o material está aberto ao público e boa parte pode ser consultado pela internet.

Texto e imagens reproduzidos do site: agencia.se.gov.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário