Publicado originalmente no site de Silvério Fontes.
A Formação do Povo Sergipano.
Por Luiz Antônio Barreto*
É rica a bibliografia sergipana, no que diz respeito aos
estudos históricos e geográficos, mas é pobre, muito pobre, o capítulo da
formação da sociedade. A questão dos limites com a Bahia, que reduziu parte do
território de Sergipe nas fronteiras sul e oeste, serviu de mote inspirador,
por muito tempo, a que diversos autores vasculhassem os arquivos em busca de
documentos que servissem na defesa do bom direito sergipano. Autores e textos
que tomaram lugar na estante genuinamente sergipana, como é exemplo A Capitania
de Sergipe e suas Ouvidorias, de Ivo do Prado, monumenta que consagra a luta
intelectual dos autores sergipanos, dentre eles Carvalho Lima Júnior, Padre
João de Matos, Elias Montalvão, Manoel dos Passos de Oliveira Teles.
Aqui e ali alguns autores trataram, de passagem, do tema da
formação social sergipana, enquanto apresentavam argumentos em defesa da
autonomia territorial. Outros autores, com informações esparsas, contribuíram
para a compreensão do processo de ocupação territorial, ao longo dos séculos de
presença colonizadora. A sólida tentativa de colonização através da
distribuição de cartas de sesmarias, a partir das margens dos rios, Real, no
sul, ao São Francisco, no norte, ainda no século XVI, muito pouco estudada, é
um marco. Depois, os currais de gado, espalhados entre os vales dos rios
Sergipe e São Francisco. Por fim, os engenhos de açúcar, de todos os tamanhos,
plantados em quase todo o território. Tais aglomerados humanos, formados em
torno da economia ditada pela colonização, formataram a vida sergipana.
A emancipação política de 8 de julho de 1820 sedimentou o
processo econômico iniciado com a conquista de 1590, ampliando-o e
aperfeiçoando-o, inclusive com a participação de brasileiros e estrangeiros que
chegaram para atender as demandas locais. O século XIX consolidou, rapidamente,
os núcleos urbanos, exibindo as condições de vilas importantes, como Estância,
Laranjeiras, Maroim, e a cidade de São Cristóvão, capital da Província. Na
segunda metade do século XIX Aracaju, feita cidade e capital a um só tempo,
serviu de ponto de convergência da Província, adquirindo a condição de cabeça e
de caixa de ressonância da vida sergipana.
As estatísticas do Censo de 1890, o primeiro após a
proclamação da República, revelaram que o Estado de Sergipe tinha a população
mais mestiça do Brasil: 48.99% de mestiços e mais 6.52% de caboclos, contra
29.72% de brancos e 14.77% de pretos. Com tal população, Sergipe produzia, nas
primeiras décadas do século XX, açúcar, algodão, couros, especiarias, feijão,
milho, mandioca e farinha, peixes salgados, aguardente, álcool, melaço., fumo,
arroz, e mais os tecidos grossos, bulgarianas, produzidos pelas fábricas
instaladas em Aracaju, Estancia, Maroim, São Cristovão, Neópolis e Propriá, e
exportava mais do que importava.
José Silvério Leite Fontes, advogado, pensador e professor,
nascido em Aracaju, se propôs a estudar Sergipe e a formação do seu povo em
diversos trabalhos que são reunidos nesta edição, patrocinada pela Secretaria
de Estado da Cultura. São seis pequenos ensaios, escritos em épocas diferentes
e alguns para eventos de professores de história, que têm um núcleo comum, o de
buscar nas origens sergipanas a formação do povo. São, portanto, ensaios de
história, produzidos na prática recorrente do pesquisador.
Formação do povo sergipano, ensaio que dá título ao livro,
amplia a discussão sobre a sociedade sergipana, iniciada por Prado Sampaio em
Sergipe Artístico, Literário e Científico (Aracaju: Imprensa Oficial, 1928), e
seguida por José Calasans em Aspectos da Formação Sergipana, na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (Aracaju: Imprensa Oficial, 1942),
por Nunes Mendonça, em Introdução ao Estudo do Sergipano, também na Revista do
IHGS (Aracaju: Livraria Regina, 1960), Luiz Mott, principalmente em Brancos,
Pardos, Pretos e Índios em Sergipe: 1825-1830 (Assis, SP, Separata dos Anais de
História/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1974), Alexandre Diniz em
Aracaju – Síntese de sua Geografia Urbana (Aracaju: J. Andrade, 1963).
Sergipe Artístico, Literário e Científico é uma memória
feita para ser apresentada pelo Governo do Estado, na administração de Manoel
Correia Dantas, à Exposição Ibero – Americana de Sevilha e nela Prado Sampaio
estuda os Aspectos etno – psicológicos do povo sergipano, tratando ainda da
criação cultural e científica dos sergipanos.
José Calasans trata sobre os franceses em Sergipe nos
primeiros tempos da colonização. Nunes Mendonça divide o seu trabalho do
seguinte modo: I – Características Psicológicas; II – Usos, costumes e crenças;
II – Quadro étnico e relações inter – raciais; IV – Tipos de habitação; V –
Atividades econômicas; VI – Condições de vida.
Luiz Mott faz estudo da população sergipana logo após a
Emancipação política e a instalação do Governo, enquanto Alexandre Diniz
focaliza a capital sergipana, na sua Tese de concurso para Catedrático de
Geografia do Ateneu.
Os ensaios de José Silvério Leite Fontes são todos da década
de 1970 e estão ligados, intimamente, a Universidade Federal de Sergipe, como
ativadores da pesquisa histórica da instituição, que permitiu fossem produzidos
novos e bons textos de autoria da professora Maria Thétis Nunes, e de muitos
outros, destacando-se, nos últimos tempos, Maria da Glória Santana de Almeida,
Maria Matos, Diana Diniz, Ibarê Dantas, Francisco José Alves, Lenalda Santos,
Terezinha Oliva e Jorge Carvalho do Nascimento, dentre muitos.
Os ensaios de história de José Silvério Leite Fontes
retratam, por isto mesmo, os diversos momentos da pesquisa e do debate sobre
Sergipe e sobre os sergipanos e sua publicação preserva levantamentos e fontes
preciosos, como roteiro para as novas e mais abrangentes pesquisas. Graças aos
esforços do Secretário da Cultura José Carlos Teixeira os textos do professor
José Silvério Leite Fontes estão disponíveis aos interessados na formação do
povo sergipano.
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
Texto e imagem reproduzidos do site: silveriofontes.com.br
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